domingo, 19 de maio de 2013

Domingo com Padre Otair!!!!!!!!!


A CAPACIDADE DE REORIENTAR-SE

  Pe Otair Cardoso da Cruz

Entre os ditos populares, encontramos muitas expressões que apontam para a realidade comportamental como sendo algo imutável, isto é, impossível de ser modificado; por exemplo: “Pau que nasce torto nunca se endireita”, ou ainda, “Burro velho não pega trote”. Esse tipo de compreensão, oriundo da sabedoria popular, sinaliza para uma descrença na mudança do sujeito, em razão da reprodução contínua de comportamentos inadequados na sua atuação social.

Não há dúvidas de que nessa forma de saber popular encontram-se aspectos de extrema relevância para a vida em sociedade. No entanto, não podemos desconsiderar o fluxo livre do desenvolvimento e as novas conquistas científicas que ampliam nossos horizontes e nos permitem encontrar outros significados para a compreensão das expressões de comportamento, manifestados socialmente.

Diante do exposto, e em posição de discordância com os jargões populares supracitados, compreendemos que a “crença” ou a ideia cristalizada de que é impossível a mudança de pessoas contraventoras, não se ajusta na sua totalidade ao ser humano. Pensar assim é desconsiderar o potencial existente, em cada pessoa, bem como as possibilidades de reorientação e ressignificação de sua estrutura comportamental.

Não é incomum encontrarmos pessoas que aparentam ter desistido de si mesmas e que se consideram um “caso perdido”. Entretanto, não podemos esquecer que, no decorrer do desenvolvimento dessas pessoas, inúmeros direitos lhes foram negados, tais como o afeto e o carinho necessários, a estimulação adequada para o descobrir e aprender, um ambiente harmonioso e não hostil e turbulento, a paz e a tranquilidade, ao invés de agressões e violências, o incentivo à autonomia, ao contrário dos rótulos seguidos de palavras de baixo calão, a  que normalmente estiveram expostos.

Desse modo, entendemos que a percepção negativa que o sujeito elaborou sobre si mesmo, ratificada no embate com os diferentes núcleos sociais, reforça a falsa ideia de que ele “nasceu assim, cresceu assim e vai ser sempre assim”. Isso não é verdade! A mudança é um aspecto inerente ao ser humano e não há possibilidade de pensá-lo, senão dentro desta dinâmica de mudança impelida pela natureza.

Não queremos, com essa maneira de tratar o problema, descartar as dificuldades de ordem psiquiátrica existentes, como um fator complicador na implementação das mudanças. Ao contrário, sabemos que elas inspiram cuidados; porém, até mesmo nestes casos a busca é pela melhora do sujeito, cujo intuito é explorar ao máximo o que ele é capaz de oferecer dentro de um processo de intervenção.

A decisão de mudança impele o sujeito a tomar posse de suas habilidades e limitações. E a consciência de que ela é necessária, o leva a empreender esforços para não reincidir nas mesmas atitudes ou comportamentos que lhe causaram transtornos.

É possível, sim, desenvolver um estilo de vida eficiente de interação social e estabelecer relações construtivas e assertivas quando, da parte do sujeito, há o desejo de mudança. Não podemos assumir o papel de protagonistas na história e na vida de nenhuma pessoa, mas, também não sejamos antagonistas, manifestando nossa pouca credibilidade na transformação do mesmo. Sejamos coadjuvantes, no sentido de dar suporte para que elas brilhem e apresentem, para nós, o que eles possuem de melhor. Deixemos de olhar para as nossas transgressões, como sendo o fim último, e valorizemos, antes, o poder que temos para reorientar e resinificar - mesmo que a duras penas - a nossa maneira de olhar, compreender e atuar no palco da vida.

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