quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Bomba-relógio` de suicídios: como uma mescla de agrotóxicos, depressão e dívidas abala grupo de agricultores gaúchos


 


Simone Rovadoski encontrou o corpo do marido na plantação de tabaco da família
Paula Sperb
De Porto Alegre

O Rio Grande do Sul tem 73.430 famílias (mais de 577 mil pessoas) que colhem 255 mil toneladas de tabaco anualmente, de acordo com a Afubra (Associação dos Fumicultores do Brasil).

A Afubra alega que as empresas fumageiras orientam os agricultores quanto à aplicação correta dos defensivos e o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs). Segundo o Sinditabaco, "alguns produtores ainda resistem à utilização correta do EPI".

Mas "o agrotóxico, para fazer efeito, tem que ser aplicado quando tem sol, naqueles calorões infernais de novembro. O suor embaça os óculos (do equipamento), a máscara sufoca, falta ar. A luva prejudica a coordenação motora fina", conta Mateus Rossato, 35 anos, que trabalhou na lavoura da família dos 12 aos 20 anos, em Nova Palma, a 224 km da capital gaúcha.

Rossato avalia a falta de ergonomia dos equipamentos de segurança porque hoje entende sobre o corpo humano: é professor de Educação Física na Universidade Federal do Amazonas. Para ele, os equipamentos não são adequados às necessidades reais dos agricultores. E, mesmo quando são usados, não impedem que o veneno, que é carregado nas costas, escorra pelo corpo no momento da aplicação.

Doença da folha verde

Os danos à saúde relatados pelos próprios agricultores, porém, não são somente psíquicos.

Do total de entrevistados no estudo da UFRGS, 67% apresentaram os sintomas da doença da folha verde do tabaco (DFVT), causada pela intoxicação por nicotina através do contato da planta úmida com a pele. Os principais sintomas são vômito, tontura, dor de cabeça e fraqueza, de acordo com o Ministério da Saúde.

Antes de se suicidar, Osbel chegou a ser internado para tratar a depressão. Mas antes foi diagnosticado por diferentes médicos com sinais da doença da folha verde.

"Ele ia para a roça e logo tinha que procurar atendimento porque desmaiava", relembra Simone.

Ela conta que, depressivo e intoxicado, Osbel também abusava do álcool.

"Os agricultores acabam tratando seus problemas com o álcool. É mais um fator de risco", afirma o médico psiquiatra Rafael Moreno de Araújo, coordenador do Comitê de Prevenção do Suicídio da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS).

O médico ressalta que o histórico familiar, influenciado tanto pela herança genética como pela cultura local, também colabora para o suicídio. Além de tudo, Osbel tinha um avô que havia se suicidado.

"É uma bomba-relógio", diz o psiquiatra ao enumerar os fatores de risco aos quais os fumicultores estão expostos: genética, baixa escolaridade, histórico familiar, estilo de vida estressante e intoxicação.

Dívidas com as fumageiras

A questão financeira é o principal gatilho para o estresse entre fumicultores. Eles precisam organizar o dinheiro que recebem apenas uma vez por ano para sustentar a família pelos 12 meses seguintes.

Além disso, a maioria deles tem dívidas com as próprias empresas que compram sua produção. Não é raro que os processos movidos pelas companhias terminem com a tomada das terras dos agricultores.

"A perda das terras é a perda da vida deles", analisa o advogado Mateus Ferrari, que atende diversos casos de agricultores endividados.

A dívida inicia quando o agricultor se compromete a entregar sua produção a uma empresa específica. A empresa fornece sementes, venenos e equipamentos de segurança e muitas vezes exige a construção de galpões. Mas tudo isso é descontado do valor a ser pago pela produção.

Quando esta é entregue, a empresa classifica as folhas através de uma amostra: quanto mais qualidade, mais será pago. Muitas vezes os agricultores recebem menos do que o planejado e ainda precisam pagar suas dívidas dos insumos.

"Eles não têm como argumentar, a maioria tem escolaridade baixa. É o tempo todo sob ameaça: ´vamos cancelar o pedido, colocar teu nome no SPC e acionar a Justiça`", relata Ferrari.
Sob ameaça de perderem suas terras e querendo receber os insumos da próxima safra, os agricultores acabam assinando sua confissão de dívida, não raro com juros sobre juros, sem estarem completamente cientes das consequências.

"A gente tenta salvar as terras, mas não há como combater os contratos. Então, tentamos um acordo para que os agricultores consigam pagar", explica Ferrari.

Depois que o marido se suicidou, Simone ficou um ano sem plantar porque, endividada, não conseguia adquirir insumos. Só retomou a lavoura porque fez novos créditos no nome "limpo" da filha, de 19 anos.

Falta de apoio

Alguns dos processos contra os agricultores são iniciados pela própria Afubra, em teoria representante deles. A entidade alega que só entra na Justiça contra os fumicultores "quando o individual se sobrepõe ao coletivo", mas não especificou os casos.

A entidade tampouco respondeu se ajuda os agricultores a entenderem seus contratos ou se atua de alguma maneira na prevenção de suicídios.

O Sinditabaco, questionado se auxilia os agricultores na prevenção do endividamento ou contabiliza o número de casos na Justiça, diz apenas que "trata dos assuntos comuns às empresas associadas e, portanto, não dispõe desse tipo de informação".

O pai de Júlio Selbach, 47 anos, do município de General Câmara, perdeu 22 hectares de suas terras na Justiça. "A causa está perdida, não conto mais com isso. Continuo lutando, mas vai ser muito difícil reverter", comenta Selbach.

Seu pai era seu fiador de uma dívida de R$ 150 mil que a família considera "inexplicável". "No final das contas tudo é legal. O orientador técnico da empresa traz um monte de folhas e manda tu assinar. Eles dizem ´não adianta nem tu ler que tu não vai entender. Se não quiser assinar o negócio termina aqui`", relata.

Por causa da dívida e da perda das terras do pai, Selbach largou a plantação de tabaco e agora produz leite. Ele conta que histórias como essa muitas vezes acabam em suicídio porque o "chefe" da família sente culpa por envolver a família em uma situação de conflito.

Diogo Zanatta

O Rio Grande do Sul tem 73.430 famílias (mais de 577 mil pessoas) que colhem 255 mil toneladas de tabaco anualmente

O psiquiatra coordenador da APRS corrobora a tese. "Nessa região o suicídio é um problema que atinge os homens, que têm essa responsabilidade de ser o provedor da família e acabam ficando com a culpa pela (má) safra, pela dívida", diz Araújo. Segundo ele, poucos desses homens procuram ajuda psicológica.

Há também, segundo ele, negligência no atendimento do sistema de saúde. "Às vezes o paciente chega (após ter tentado) suicídio, passa por uma lavagem no estômago e é liberado, sem avaliação psiquiátrica", relata.

Intoxicação infantil

O problema se torna ainda mais complexo porque a entrada de muitos agricultores na lavoura ocorre muito cedo. O marido de Simone, que se suicidou em 2013, trabalhou na lavoura de fumo por 34 anos, desde criança. Rossato, o professor de Educação Física, também trabalhou na roça quando era pequeno.

Por causa da presença constante das crianças no campo, casos de intoxicação e alergias são comuns.

O filho mais velho de Luciana Pereira da Rosa, 44 anos, de General Câmara, apresentou sinais de doença da folha verde quando tinha apenas 12 anos. "Ele ia para a roça colher fumo e vomitava direto", relembra a mãe.

O filho agora tem 28 anos e recentemente abandonou a atividade, junto com os pais. Todos se mudaram para Taquari, cidade próxima, por causa da alergia da irmã mais nova, hoje com sete anos. "A pele ficava vermelha, saía sangue e levantava uma casca. Era horrível", lembra Luciana.

Os médicos não davam um diagnóstico preciso sobre a causa, mas Luciana notava que as crises ocorriam logo depois que o glifosato era aplicado nos pés de fumo da família ou de vizinhos.

Com a mudança de cidade, a filha não ficou mais doente.

O Ministério Público do Trabalho do RS não dispõe de estatísticas sobre trabalho infantil nas lavouras. De acordo com a procuradora Erinéia Thomazini, de Santa Cruz do Sul, na região fumageira, "em muitos casos a denúncia de trabalho infantil sequer chega".

Uma pesquisa do IBGE aponta que 39.659 crianças de 10 a 13 anos trabalhavam no Rio Grande do Sul em 2010.

O Sinditabaco diz combater a prática, mas agrega que "temos ainda um caminho a percorrer para a completa erradicação do problema". A entidade aponta a necessidade de mais escolas rurais para auxiliar na prevenção.

Quem deixa a plantação de fumo diz que a sensação é de alívio. Mas notícias sobre suicídios de vizinhos e conhecidos sempre chegam.

"Lá na minha região tem uma expressão: ´só se vende corda com receita médica´. Isso porque é alta a incidência de suicídio dos agricultores. Você junta a depressão com a dívida, a frustração de perder uma safra. É o contexto perfeito para se suicidar", comenta Rossato sobre os conterrâneos.

Além disso, o silêncio dos agricultores sobre o tema agrava o quadro. " O suicídio parece que é tratado como um tabu, quase proibido ou até vergonhoso de falar. Claro que dói. Mas preciso falar porque quero que menos gente tire a própria vida, como meu marido fez", alerta Simone.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

É assim que o seu pulmão fica após fumar 20 cigarros


 


Exame.com - Nicolas Gunkel
Thinkstock
São Paulo – Você já parou para pensar quanto tempo de vida uma pessoa perde quando fuma um cigarro? Segundo um estudo publicado na U.S. National Institutes of Health’s National Library of Medicine (NIH/NLM), a resposta é aproximadamente 11 minutos.

Apesar de ser obviamente grosseira, a conta realizada pelos pesquisadores segue uma lógica interessante. Partindo do pressuposto de que o fumante médio consome cerca de 3 quartos de um maço por dia, ele comprará cerca de 5,7 mil cigarros por ano.

Como o usuário normalmente começa a fumar com 17 anos e a expectativa média de vida no planeta (à época da pesquisa) era de 71 anos, chega-se ao impressionante número de 311 mil cigarros fumados ao longo de 57 anos. Acompanhou até aqui?

Pois bem, assumindo que o fumante médio morre, em média, 6,5 anos mais cedo do que o não fumante, isso significa que sua vida será 3,4 milhões de minutos mais curta.

Agora, basta dividir esse tempo (3,4 mi) pela quantidade de cigarros fumados durante a vida (311 mil), o que nos leva aos 11 minutos citados anteriormente.

Para as pessoas que preferem visualizar a questão com mais clareza, um vídeo produzido recentemente pela organização anti-tabagista MEDInspiration mostra como um par de pulmões humanos fica após o consumo de 20 cigarros, isto é, aproximadamente um maço.

No começo da produção, os médicos mostram dois órgãos saudáveis dentro de uma caixa absorvendo a fumaça de um cigarro por meio de um tubo. O mesmo procedimento é, então, repetido 20 vezes.

Para dar algum parâmetro ao espectador, um médico mostra uma traqueia saudável, totalmente branca. Por último, ele recorta a traqueia dos pulmões que sofreram a exposição à fumaça para que elas possam ser comparadas. Como você pode ver, o resultado é impressionante.

A OMS estima que 5 milhões de pessoas morram por ano em decorrência de doenças causadas pelo cigarro, número que deve aumentar para 10 milhões até 2020. Segundo o Instituto do Câncer, o fumo faz 200 mil vítimas por ano apenas no Brasil.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

Cerveja e vinho tinto: alguns efeitos sobre a pressão arterial


 

Alguns consumidores de bebidas alcoólicas acreditam que os agentes antioxidantes presentes no vinho tinto podem agir contra as consequências do aumento da pressão sanguínea. A fim de estudar tal relação, Zilkens e colaboradores avaliaram uma amostra de 24 homens saudáveis, não tabagistas, com idade variando entre 30 e 65 anos e que faziam uso diário de bebidas alcoólicas. Vale ressaltar que todos os indivíduos apresentavam pressão sanguínea normal e não apresentavam histórico de problemas cardiovasculares.

O experimento começou com uma abstinência de duas semanas seguidas por um mês de abstinência, ou de ingestão diária de 375 ml de vinho tinto, ou 375 ml de vinho tinto sem álcool ou de 1125 ml de cerveja. Todos os sujeitos foram monitorados durante 4 meses de experimento.


O consumo de cerveja esteve associado a aumento da pressão arterial sistólica em 2,9 mmHg. Os indivíduos que ingeriram vinho tinto, apresentaram um aumento na ordem de 1,9mmHg na pressão sistólica. A cerveja aumentou o batimento cardíaco em cinco batimentos por minuto e o vinho em 4 batimentos cardíacos por minuto.

Os autores advertem que pessoas hipertensas ou com história familiar de hipertensão não devem consumir mais do que duas unidades de bebida alcoólica por dia independente do tipo de bebida (destilados ou fermentados).
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool 

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Pesquisa sobre estupro ignora bebida e outras drogas


 


O Estupro e as Drogas
Izilda Alves
Não entendi. Como uma pesquisa nacional sobre estupro não cita entre as causas bebida alcoólica, drogas como ecstasy e GHB , bailes funk, pankadões e cracolândias? Estou me referindo à pesquisa “Polícia precisa falar de estupro”, divulgada hoje pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e realizada com 3.625 entrevistas em 217 municípios pelo Datafolha.

Estupro representa pesadelo para as mulheres no Brasil. Não sei como foram os critérios para as perguntas desta pesquisa. Mas é inacreditável ignorar nesse estudo o maior problema de saúde pública hoje no Brasil, a dependência de drogas, a banalização do uso , facilitando portanto casos de estupro em todo o país. Segundo a polícia de São Paulo, uso do ecstasy aumentou o número de estupros de jovens em São Paulo. Segundo o Instituto Médico Legal, 70% do atendimento a pessoas vivas para exames são de mulheres que sofreram violências como agressões e estupros por companheiros ou parentes bêbados ou drogados.

Um catálogo cada vez mais amplo de drogas vêm sendo usadas para se cometer abusos sexuais. O objetivo é sempre o mesmo: anular a vontade da vítima e transformá-la em um "brinquedo" na mão no agressor. Drogas que apagam lembranças do ataque.
Como mostra a maioria das reportagens sobre estupro, as vítimas contam que:

-estavam bêbadas

-foram sedadas com drogas como ecstasy, GHB e em golpes como o Boa noite Cinderela

-foram violentadas por pais ou parentes bêbados

-nos bailes funk ,foram estupradas quando estavam sob efeito de bebida e outras drogas

-nos pankadões , estupradas nas ruas após beberem e consumirem drogas

-nas cracolândias, estupradas como pagamento da droga
Mas a pesquisa não perguntou e não cita estes preocupantes fatos que marcam todo o país.A pesquisa do Fórum cita dois fatos inacreditáveis como causas de estupro:

-“a mulher se comportou de forma inadequada” e aí fica a pergunta o que é se comportar de forma adequada?

-“a mulher anda sozinha na rua ou em certos locais considerados inapropriados”, quer dizer que há locais onde só homens podem andar nas cidades? Que são lugares inapropriados? Como prefeituras admitem lugares onde mulheres não podem andar no Brasil?

Estupro é crime violento. A vítima sofre lesões nos órgãos genitais, contusões e fraturas. Outras consequências são gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis. Causa também fobias, ansiedade e tentativas de suicídio. Não sei como foram os critérios para as perguntas desta pesquisa. Mas ao que tudo indica foi feita como se no Brasil houvesse rigoroso controle da bebida alcoólica e cumprimento das leis que proíbem tráfico de drogas em todo o país.
Izilda Alves
Jornalista da Rádio Jovem Pan
Consultora do Amor Exigente

Álcool: da prevenção ao tratamento


 

Por Arthur Guerra de Andrade
Psiquiatra e Presidente Executivo do CISA

O consumo de álcool faz parte da cultura humana há milhares de anos, muito atrelado a relações de socialização e não costuma causar problemas para a maioria dos consumidores. Inclusive, pode até levar a potenciais benefícios para o sistema cardiovascular, quando consumido de forma leve a moderada. Entretanto, não podemos relevar o fato de que uma minoria das pessoas desenvolve situações graves, cujos danos para a saúde individual, coletiva e econômica são expressivos. Portanto, é importante nos atentarmos a este tema, tanto em termos de prevenção como tratamento – e para isso a informação é ferramenta essencial.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não existe um limite considerado seguro para consumo de álcool. Os riscos de problemas de saúde aumentam especialmente se o indivíduo bebe mais de 2 doses* por dia e não deixa de beber ao menos 2 dias na semana. Alguns adultos, mesmo com consumo moderado, estarão mais vulneráveis aos problemas decorrentes do beber ao longo da vida, assim como algumas pessoas em situações nas quais o álcool pode ser prejudicial em qualquer quantidade – por exemplo, menores de 18 anos, gestantes, quem pretende dirigir ou quem faz uso de medicamentos que interagem com o álcool.

O Brasil tem avançado bastante em termos de prevenção – a exemplo da Lei nº 13.106/2015, que tornou crime vender ou entregar bebidas alcoólicas a crianças ou adolescentes, e as mudanças na legislação sobre álcool e direção somadas à fiscalização da chamada “Lei Seca” (Lei nº 12.760/2012). Além de estabelecer tolerância zero para o consumo de álcool por motoristas em todo país, aumentou a punição e ampliou as possibilidades de provas para a infração.

Em relação à dependência de álcool (alcoolismo), é importante esclarecer que é uma doença crônica e multifatorial; isso significa que diversos fatores contribuem para o seu desenvolvimento, incluindo a quantidade e frequência de uso do álcool, a condição de saúde do indivíduo e fatores genéticos, psicossociais e ambientais.

Dados divulgados pela OMS indicam que, em 2010, 5,6% da população brasileira apresentava algum transtorno relacionado ao uso de álcool e 2,8%, dependência. Alguns de seus sintomas podem ser: forte desejo de beber, perda do controle, uso continuado apesar das consequências negativas, maior prioridade dada ao uso da substância em detrimento de outras atividades e obrigações, tolerância (necessidade de doses maiores de álcool para atingir o mesmo efeito anterior) e abstinência (sudorese, tremores e ansiedade quando a pessoa para de beber).

A dependência do álcool causa grande impacto na vida do indivíduo e também daqueles que estão ao seu redor. A família, em especial, é peça-chave tanto na prevenção do uso nocivo, como nos casos em que o problema já está instalado. Inclusive, não são poucas as vezes em que o tratamento inicia-se pela família, principalmente porque o indivíduo não aceita seu problema, não reconhece que o uso de bebidas alcoólicas lhe traz prejuízos ou está desmotivado para buscar ajuda.

Felizmente, a maioria das pessoas com transtornos por uso de álcool que busca tratamento é capaz de reduzir ou até cessar seu consumo. Ainda, estima-se que um terço das pessoas não apresenta sintomas após um ano em tratamento. Entender as opções disponíveis, como terapias comportamentais e medicamentosas, é o primeiro passo e a adesão ao método de escolha será fundamental. No Brasil, os mais conhecidos tratamentos gratuitos especializados são os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD) e Hospitais públicos e conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

De maneira geral, estamos construindo ferramentas para prevenir o uso nocivo do álcool e temos linhas de tratamento cada vez mais eficazes. Contudo, é importante frisar que nenhuma ação isolada ou a implementação de novas leis poderá resolver este sério problema enquanto a população também não se envolver e apoiar. Somente com um trabalho em conjunto, que contemple governantes, pais e familiares, profissionais da saúde, academia, educadores, instituições privadas e a sociedade como um todo, poderemos nos aproximar de uma solução eficaz para este desafio que permeia o Brasil e o mundo.

* Uma dose padrão contém aproximadamente de 10 g a 12 g de álcool puro, o equivalente a uma lata de cerveja (330 ml) ou uma dose de destilados (30 ml) ou ainda a uma taça de vinho (100 ml).
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool 

Crack: Como acabar com essa epidemia que devasta o país


 


VEJA
Blog Letra de Médico - Por: Ronaldo Laranjeira
(Foto: Ivan Pacheco)
É seguro dizer que o problema do crack não está mais localizado apenas em grandes centros. Na verdade, o consumo crescente de drogas em municípios de todos os portes é um fenômeno registrado pelo mundo. Apesar de não ser uma exclusividade brasileira, há aproximadamente uma década o país vivencia um estrondoso aumento de pontos de vendas de drogas, sendo cada vez mais comuns as notícias de aumento do consumo, ou de apreensões, em seu território, inclusive no interior.

Recentemente, virou notícia o fato de o número de apreensões de crack ter aumentado 206% na região de Jundiaí, em São Paulo, nos sete primeiros meses de 2016, em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo a Delegacia Seccional local. No fim de agosto, um grupo de quatro pessoas foi preso em flagrante na cidade de Jaú, também em São Paulo, com 496 pedras de crack e até uma pedra bruta da droga, em um terminal rodoviário da cidade. Esses são apenas dois exemplos, de tantos que temos atualmente, que demonstram o alcance da enorme rede de distribuição de substâncias psicoativas existente no Brasil. Diversos fatores contribuem para isso, entre eles o fato de sermos vizinhos de países produtores de cocaína, além do baixo preço do crack traficado em terras brasileiras.

Dados como esses nos mostram que, apesar das apreensões, aparentemente a maioria dos governantes ainda não se deu conta da gravidade da situação que vivemos. Claramente existe uma dificuldade dos diversos níveis de governo em criar e adotar políticas públicas efetivas, que englobem enfrentamento, prevenção e tratamento contra as drogas.

O problema começa na produção e entrada de entorpecentes em território nacional. Como dito anteriormente, estamos ao lado de grandes produtores de cocaína, como Peru, Colômbia e Bolívia. Caso não seja criada uma rigorosa política, que culmine em ações que impeçam a importação e o abastecimento da rede distribuição atual, a epidemia do consumo de drogas continuará. Para evitar tal situação, é necessária uma interface entre os governos federal, estaduais e municipais, articulando ações conjuntas de saúde, na área social e de segurança.

Além disso, é necessário considerar abordagens realistas, baseadas nas melhores evidências científicas disponíveis, humanas, que ofereceram tratamento adequado e eficaz contra a dependência, resultando em um atendimento de qualidade para o dependente químico e sua família, muito afetada pelo problema.

Um exemplo de iniciativa que adota tais medidas com sucesso é o programa Recomeço, realizado no Estado de São Paulo. O programa tem estruturada uma linha de cuidados que adota ações de baixa até alta complexidade, contando com linhas na lógica de redução de danos e uma rede de clínicas e comunidades terapêuticas, com cerca de 3 000 vagas pelo estado, para desintoxicação ou prestação de apoio social aos usuários de drogas e familiares, combinando ações de prevenção, assistência social e tratamento. Tendo tal fato em mente, oferecer uma estrutura de tratamento adequada (inexistente em grande parte do país hoje) por meio do Sistema Único de Saúde a todos é de extrema urgência. Para isso é fundamental o financiamento adequado por meio do Ministério da Saúde e dos governos estaduais e municipais, assim como a adoção de políticas de tratamento eficazes e o abandono de técnicas ultrapassadas de atendimento.

O caminho é longo, mas, investindo em educação e esclarecimento da população sobre o uso de drogas e na criação de uma estrutura de atenção social e de saúde, é possível mudar positivamente o panorama no que diz respeito à epidemia do consumo de drogas no Brasil.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas