quinta-feira, 30 de junho de 2016

Misturar analgésicos com bebidas alcoólicas: quais os riscos?



 

O uso de medicamentos para controle de dores, conhecidos como analgésicos, é uma prática comum. Inclusive, um dos medicamentos mais vendidos no Brasil é um analgésico, composto de dipirona, cafeína e orfenafrina. Muitos deles podem ser comprados sem a necessidade de receita médica, enquanto outros mais potentes, especialmente aqueles derivados de opioide, exigem prescrição controlada, tendo em vista seu maior potencial de efeitos colaterais, incluindo quadros de dependência da substância.

Diante disso, o CISA alerta sobre os riscos do consumo de bebidas alcoólicas por pessoas que utilizam estes medicamentos. Em linhas gerais, o álcool pode interagir negativamente com muitos medicamentos, prescritos ou até naturais. Entretanto, como cada medicamento tem um perfil particular de efeitos colaterais e metabolização, é preciso analisar como cada analgésico especificamente interage com bebidas alcoólicas.



*A interação de álcool com esta substância é especialmente arriscada para problemas no fígado

Vale lembrar que os efeitos do álcool para as mulheres podem oferecer mais riscos, considerando que, devido a sua composição corporal com menos água que os homens, a concentração de álcool no sangue alcança níveis mais elevados. Da mesma forma, pessoas idosas também ficam sob particular risco para os prejuízos destas interações, ainda mais se fizerem uso de outros medicamentos. Assim, estão mais vulneráveis para potenciais efeitos de sonolência ou danos hepáticos de tais interações.

O intervalo de tempo entre a ingestão do medicamento e a de álcool capaz de induzir a interação é variável, entre poucas horas a dias. Portanto, a recomendação para quando uma pessoa precisa usar um medicamento que sabidamente interage com álcool, é para não consumir bebida alcoólica. Para saber mais sobre os riscos em relação ao medicamento em uso, procure seu médico.
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool

O que acontece no seu corpo quando você ingere bebida alcoólica?


 



Beber com os amigos para comemorar uma conquista, uma vitória ou apenas mais um dia de missão cumprida, pode parecer um hábito saudável, mas não é.

O assunto é sério. Mais de dois bilhões de pessoas no mundo consomem bebida alcoólica e o fato de ser uma droga lícita na maioria dos países influencia muito no seu impacto: cerca de 4% de todas as mortes no planeta envolvem o uso de álcool, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o que representa algo entre 2,3 milhões de mortes ao ano diretamente ocasionadas pelo uso, ou abuso, de bebida alcoólica.

“Não existe uma fórmula para consumo seguro, já que são vários os fatores que influenciam em uma experiência etílica, como idade, peso corporal, quantidade de gordura no organismo, ritmo do metabolismo do fígado. Porém, estudos indicam que para um homem adulto há baixo risco de desenvolver dependência quando ele consome duas doses de álcool em um dia, seguidas de dois dias de abstinência. No caso da mulher, falamos de uma dose por dia, seguida pelo mesmo período sem consumo”, explica Claudio Jerônimo, psiquiatra e diretor da Unidade Recomeço Helvetia.

Vamos partir do princípio de que, genericamente, uma dose tem em média de 10 ml de etanol puro, que demoram cerca de uma hora para metabolizar, quer dizer, sair do organismo. Devemos ainda considerar a variação da concentração de álcool das bebidas, que pode chegar até a 40%. Com isso em mente, te convidamos a uma pequena viagem para conhecermos o que acontece no seu corpo quando você ingere álcool. Preparado?

O começo

Logo nos primeiros goles, o álcool ingerido vai para o estômago, é absorvido e começa a viajar pelo corpo por meio da corrente sanguínea, passando pelos órgãos e até o cérebro. O tempo que demora essa viagem pelo sangue depende de vários fatores, como quantidade de bebida ingerida, volume de gordura no corpo, etc.

“As mulheres ficam mais suscetíveis aos efeitos do álcool exatamente porque, fisiologicamente, têm mais gordura retida no organismo, o que acaba por repelir a absorção do álcool pelas células, fazendo com que ele permaneça por mais tempo na corrente sanguínea, o que chamamos de biodisponibilidade do álcool. Isso faz com que seus órgãos passem mais tempo expostos aos seus efeitos nocivos, principalmente os mais sensíveis, como cérebro, fígado e coração, por exemplo. Esse é um dos motivos pelos quais as mulheres adoecem mais rápido por conta de bebida: elas têm alterações no Sistema Nervoso Central antes, demência. A cirrose, por exemplo, aparece em média cinco anos antes na mulher que no homem”, explica o psiquiatra.

Os idosos também são mais suscetíveis aos efeitos do álcool, principalmente porque eles já têm pequenas alterações fisiológicas no organismo, ou algumas doenças como hipertensão e diabetes.

Nos primeiros dez minutos, seu corpo vê o álcool se transformar em veneno, o acetaldeído, e tenta se livrar dele o mais rápido possível. Essa substância é resultado da ação de uma enzima chamada álcool-deidrogenase, presente no fígado, que destrói a molécula do álcool.

Se apenas algumas doses forem consumidas, o período de ação do acetaldeído é curto e os estragos são menores, pois ele é atacado por outra enzima, o aldeído-desidrogenase, junto com outra substância, a glutationa, que transformam o acetaldeído em acetato, uma espécie de vinagre, não tóxica.

Mas a glutationa armazenada no fígado não é suficiente para uma grande quantidade de bebida alcoólica, deixando o supertóxico acetaldeído por mais tempo no organismo. O que ele causa? Além de aumentar a pressão arterial, pode causar derrame, mas, mais comumente, causa fadiga, náuseas, irritação do estômago, dor de cabeça. Reconheceu? É a chamada ressaca. Voltaremos a ela mais adiante.

Enquanto o álcool passa por esse processo químico no fígado, já nos primeiros 20 minutos você começa a se sentir mais solto, eufórico, como se pudesse fazer e ser tudo no mundo. É aqui que geralmente aparece o conquistador que existe em você: sua libido aumenta e você se sente mais ousado, irresistível e paquerador. A felicidade e a excitação nesse momento são comuns, mas essas sensações passam muito rápido.

Embriaguez

Enquanto que para chegar a esse estado bastam uma ou duas doses, para chegar à embriaguez é um pulinho, ou mais alguns goles. E assim, com trinta a quarenta minutos de ingestão contínua, você já não tem mais controle do seu senso crítico. Seu julgamento fica comprometido e você fica sensível ao ambiente, rindo ou chorando ao sabor do vento.

“O álcool tem ação direta no sistema límbico, do Sistema Nervoso Central, e age como um depressor das funções cerebrais, diminuindo o centro da crítica da pessoa, que fica mais expansiva. A ansiedade, a variação de humor e a depressão são consequências da ingestão de bebida alcoólica”, explica Claudio Jerônimo.

Entre os 45 e 90 minutos, o nível de álcool no seu corpo atinge o ápice e a ação diurética começa a funcionar: pode demorar para que você se levante pela primeira vez para urinar, mas esse passeio vai ser frequente até o fim da farra.

Você está bebendo bebida alcoólica, que tem apenas uma pequena parte de água, mas seu organismo não está entendendo a presença de tanto líquido, então aumenta a diurese. Mas, como não é água o que você está colocando pra dentro, pode ocorrer desidratação, que não chegará a um quadro grave, mas é responsável pela sonolência que pode se apresentar se você parar de beber nesse momento – o que não quer dizer, de forma nenhuma, que a qualidade de um possível sono seja perto da adequada. Muito pelo contrário, o consumo de álcool é um enorme perturbador do sono.

Para evitar a desidratação, é indicado que se tome, a cada hora, ao menos um copo de água. Essa dica funciona ainda para retardar a absorção do álcool, dilui a bebida e ainda faz com que bebamos menos, o que acaba por resultar em uma diminuição da ressaca.

Ah, a ressaca!

Voltamos ao tema, já que, entre 12 e 24 horas após a ingestão de bebida alcoólica, você provavelmente acordou com ela: dor de cabeça, tontura, náusea, sede, palidez e tremores são alguns dos sintomas mais frequentes.

“São os primeiros sinais da síndrome de abstinência, é o organismo pedindo mais bebida. Essas sensações desagradáveis são efeitos da intoxicação”, explica o psiquiatra.

E dá para prevenir? A dica para evitar a ressaca é: não beba! Mas, para diminuir os sintomas, existem alguns truques:

- Beber menos.
- Beber espaçadamente, devagar.
- Beber de estômago cheio.

A má notícia mesmo é que, além da ressaca física, resultado da ação tóxica do acetaildeído (lembra dele?) e da desidratação, tem ainda a “ressaca moral”, que nada mais é que “O arrependimento! Com a diminuição da crítica, a pessoa se dá o direito de fazer coisas que, de outro modo, não faria. O álcool pode causar o esquecimento, o que traz a insegurança pelo fato de não saber até que ponto a pessoa se expôs. Não é uma reação física, é puramente psicológica”, explica Cláudio Jerônimo.

Gravidez e bebida não combinam

Nem um pouquinho. Se não há uma quantidade segura de álcool para uma pessoa adulta saudável, imagina para uma mulher que está gerando outra pessoa! “O álcool ultrapassa a placenta e atinge o feto em desenvolvimento, afetando principalmente o Sistema Nervoso, ou seja, a primeira coisa desenvolvida no bebê. E, apesar de a fase mais perigosa ser nos primeiros três meses, em qualquer época da gravidez o álcool pode afetar de tal maneira a gestação que causa a síndrome alcoólica fetal (SAF), uma condição que impacta a formação do bebê, causando retardo no desenvolvimento psicomotor, aumentando a distância entre os olhos do bebê, microcefalia, dificuldades de aprendizagem, entre outros problemas”, afirma o psiquiatra.

Isso coloca por terra a ideia de que vinho e cerveja preta, durante a gestação, aumentam a produção de leite. Isso, além de não ter nenhum tipo de comprovação científica, coloca em risco o bebê.

Danos internos

O uso frequente de bebida alcoólica pode levar a situações de abuso e dependência química. Quando os sintomas do uso do álcool começam a demorar em aparecer, ou ficam amenizados, isso significa que o organismo está se acostumando à substância, ou seja, quando achamos que estamos ficando mais fortes para a bebida, ou seja, mais tolerantes, isso quer dizer que já nos adaptamos a ela. É uma péssima notícia, e uma enorme desvantagem.

Além da preocupação com a dependência, temos ainda os danos que o uso frequente de álcool causa aos órgãos internos. Os mais vulneráveis são:

Cérebro – o álcool afeta o Sistema Nervoso Central e pode causar perda de reflexo, problemas de atenção, perda de memória, sonolência e coma, que pode levar à morte.

Coração – o álcool libera adrenalina, que acelera a atividade do sangue no coração, aumentando a frequência dos batimentos cardíacos.

Fígado – altera a produção de enzimas, mudando o ritmo do metabolismo do álcool consumido, ocasionando inflamação crônica, hepatite alcoólica e cirrose.

Estômago – irrita as mucosas do estômago e esôfago, ocasionando esofagite, gastrite e diarreia.

Rins – o efeito diurético do álcool acaba por sobrecarregar os rins, comprometendo a eficácia do processo de filtragem das substâncias que ocorre nesse órgão.
Fonte:SPDM - Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina

29 milhões de adultos dependem de drogas, aponta relatório do UNODC


 

Relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) calcula que cerca de 5% da população adulta, ou 250 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos, usou pelo menos algum tipo de droga em 2014. Transtornos relacionados ao consumo registraram crescimento preocupante.

Cerca de 5% da população adulta, ou 250 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos, usou pelo menos uma droga em 2014, de acordo com o último Relatório Mundial sobre Drogas divulgado nesta quinta-feira (23) pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).

Embora substancial, esse número não sofreu elevação, ao longo dos últimos quatro anos, na mesma proporção da população mundial. O relatório, contudo, sugere que o número de pessoas que apresentam transtornos relacionados ao consumo de drogas aumentou desproporcionalmente pela primeira vez em seis anos.

A publicação do Relatório Mundial sobre Drogas acontece em um momento marcante, após uma Sessão Especial da Assembléia Geral da ONU sobre o problema mundial das drogas e a primeira após a adoção dos novos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.

Neste ano, a Assembléia Geral da ONU adotou um conjunto abrangente de recomendações para lidar com a questão das drogas. Este relatório resultou em uma série de recomendações operacionais concretas. Coletivamente, esse olhar promove políticas e programas de controle de drogas sustentáveis, equilibradas e orientadas para o desenvolvimento.

Como observa o diretor-executivo do UNODC, Yury Fedotov, é fundamental que a comunidade internacional se una para garantir que os compromissos assumidos na Sessão Especial da Assembleia Geral sejam atingidos — e o Relatório Mundial sobre Drogas oferece uma ferramenta importante para ajudar nessa tarefa.

“Ao fornecer uma visão abrangente dos principais desenvolvimentos nos mercados de drogas, rotas de tráfico e o impacto do uso de drogas na saúde, o Relatório Mundial sobre Drogas de 2016 realça o suporte às abordagens abrangentes, balanceadas e baseadas nos direitos, como refletido no documento final preparado pela Sessão Especial da Assembleia Geral.”

Uso de drogas e suas consequências para a saúde

De acordo com os dados apresentados no relatório, uma a cada 20 pessoas entre 15 e 64 anos fez uso de pelo menos algum tipo de droga no mundo em 2014. Embora substancial, esse número não sofreu elevação ao longo dos últimos quatro anos, na mesma proporção da população mundial.

O relatório, contudo, sugere que o número de pessoas que apresentam transtornos relacionados ao consumo de drogas aumentou desproporcionalmente pela primeira vez em seis anos. Existem hoje mais de 29 milhões de pessoas dentro dessa categoria — em comparação aos 27 milhões divulgados anteriormente.

Além disso, cerca de 12 milhões de pessoas usam drogas injetáveis e 14% destes vivem com HIV. Esses dados revelam que o impacto do uso de drogas na saúde continua preocupante.

Enquanto a mortalidade relacionada ao uso de drogas manteve-se estável em todo o mundo, em 2014 ainda havia cerca de 207 mil mortes relatadas: um número inaceitavelmente elevado de mortes que teriam sido evitadas se intervenções adequadas fossem tomadas.

Cerca de um terço destas mortes ocorreram por overdose. A taxa de mortalidade por overdose é bem mais alta entre egressos que recentemente saíram do sistema prisional, se comparada com a população em geral.

O sistema prisional continua representando um grande desafio em relação às políticas de drogas e agravos associados ao uso de drogas. Em grande parte dos países, as prisões representam ambientes de grande vulnerabilidade para doenças infecciosas. O uso de drogas no sistema prisional continua elevado, assim como a prevalência de HIV, hepatites e tuberculose, principalmente se comparado com a população em geral. Mesmo com esses dados alarmantes, serviços de prevenção e tratamento continuam escassos e de difícil acesso nas prisões ao redor do mundo.



O consumo de heroína — e as mortes por overdose relacionadas — parece ter aumentado drasticamente nos últimos dois anos em alguns países da América do Norte e Europa Ocidental e Central.

Fedotov observou que, embora os desafios colocados pelas novas substâncias psicoativas continuem sendo uma séria preocupação, “a heroína permanece como a droga que mata mais pessoas e esse ressurgimento deve ser abordado com urgência”.

No geral, os opióides continuam a apresentar os maiores riscos de danos à saúde entre as principais drogas.

A maconha, por sua vez, continua a ser a droga mais usada ao redor do mundo. Dados de 2014 mostram que cerca de 183 milhões de pessoas fizeram uso da droga nesse ano, enquanto anfetaminas ocupam o segundo lugar.

Os efeitos de opioides e o aumento do uso de heroína, entretanto, mostram que essas duas drogas continuam preocupantes para os serviços de saúde. Ao se analisar as tendências ao longo de vários anos, o relatório mostra que, com a mudança das normas sociais no tocante à cannabis — predominantemente no Ocidente — ,seu consumo subiu em paralelo à maior aceitabilidade em relação à droga. Em muitas regiões, mais pessoas iniciaram tratamentos para transtornos relacionados ao uso de cannabis, ao longo da última década.

O acesso a serviços de tratamento, com base em evidência, representa outro grande desafio apontado pelo relatório, pois somente uma em cada seis pessoas que necessitam de atendimento tem acesso aos serviços.



O relatório também destaca a associação entre o uso de drogas e uma maior vulnerabilidade às doenças sexualmente transmissíveis. Por exemplo, a ligação entre o uso de estimulantes —entre eles, as novas substâncias psicoativas que não estão sob controle internacional — por via injetável e não injetável e sexo desprotegido, o que pode resultar em uma maior vulnerabilidade à infecção pelo HIV.

Estima-se que 29 milhões de pessoas que fazem uso de drogas sofram de algum transtorno relacionado a esse uso. Entre elas, 12 milhões usam drogas injetáveis. Destas, 1,6 milhão vivem com HIV e 6 milhões vivem com hepatite C. Esses dados revelam que o impacto do uso de drogas na saúde continua preocupante.

Na América do Sul, é importante destacar que, após um período de estabilidade em relação ao uso da cocaína, desde 2010 houve um aumento no uso droga. O consumo de anfetaminas se mostra estável. O relatório chama a atenção para o fato de que pessoas que fazem o uso de drogas, de forma regular ou ocasional, têm feito o uso de mais de um tipo de substância ao mesmo tempo, de forma combinada ou sequencial, dificultando a distinção entre os tipos de droga utilizados.

Em geral, homens são três vezes mais propensos a usar maconha, cocaína ou anfetaminas, enquanto mulheres estão mais inclinadas a fazer uso de opioides e tranquilizantes não receitados. Diferenças de gênero no uso de drogas são mais atribuídas a oportunidades sociais de uso e menos a homens ou mulheres serem mais ou menos suscetíveis ou vulneráveis ao seu uso. Apesar de mais homens usarem drogas do que mulheres, o impacto do uso é maior nas mulheres do que nos homens, porque as mulheres tendem à falta de acesso à prestação de cuidados continuados na dependência do uso de drogas.

No contexto familiar, parceiras e filhos de usuários de drogas são também mais propensos a serem vítimas de violência relacionada ao uso de droga. Ainda que muitos estudos mostrem uma maior prevalência do uso de drogas entre pessoas jovens do que em adultos, a divisão de gênero não se mostra mais tão presente.

O problema mundial de drogas e o desenvolvimento sustentável

Por ser 2016 o primeiro ano de adoção dos novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o relatório foca em especial no problema mundial da droga dentro deste contexto. Ao analisar essas ligações, os ODS foram divididos em cinco grandes áreas: Desenvolvimento Social; Desenvolvimento Econômico; Sustentabilidade Ambiental; Sociedades Pacíficas, Justas e Inclusivas; e Parcerias.

O relatório destaca uma forte ligação entre pobreza e vários aspectos do problema de drogas. Na verdade, o impacto do problema do uso de drogas é corroborado por pessoas que são pobres em relação às sociedades em que vivem, como pode ser visto em termos austeros nos países mais ricos.

A forte associação entre desvantagem social e econômica e transtornos devido ao uso de drogas, pode ser vista quando se analisam diferentes aspectos da marginalização e exclusão social, como desemprego e baixo nível educacional.

O relatório também esclarece um pouco as diferentes formas em que o problema mundial de drogas resulta em diferentes manifestações de violência. Embora a intensidade da violência relacionada ao uso de droga seja maior quando associada ao tráfico e à produção, estes não produzem necessariamente violência, como ilustram os baixos níveis de homicídio em países de trânsito afetados pelas rotas de tráfico de opiáceos na Ásia.

O tráfico de drogas geralmente prospera onde a presença do Estado é fraca, onde o Estado de direito é desigualmente aplicado e onde existem oportunidades de corrupção.

O relatório analisa a influência do sistema de justiça criminal nos mercados de tráfico de drogas e medicamentos, bem como no uso de drogas e nas pessoas que usam drogas. Por exemplo, ele observa que, globalmente, 30% da população prisional é composta de prisioneiros não-condenados ou em pré-julgamento. Entre os presos condenados, 18% estão na prisão por delitos relacionados à droga.

O uso excessivo da pena de prisão por crimes relacionados às drogas de natureza menor é ineficaz na redução da reincidência e sobrecarrega os sistemas de justiça penal, impedindo-os de lidar de forma eficiente com crimes mais graves. Prestação de serviços de tratamento e cuidados baseados em evidências para os infratores consumidores de drogas, como alternativa ao encarceramento, demonstrou aumentar consideravelmente a recuperação e reduzir a reincidência.

Sobre o Relatório Mundial de Drogas 2016

O Relatório Mundial de Drogas 2016 fornece uma visão global sobre a oferta e a demanda de opioides, cocaína, cannabis, estimulantes do tipo anfetamina e novas substâncias psicoativas, bem como sobre o seu impacto na saúde. Ele também analisa as evidências científicas sobre o consumo múltiplo de drogas, sobre a demanda por tratamento por uso de cannabis e sobre outras tendências , como a legalização da cannabis para uso recreativo em algumas partes do mundo.

Além disso, as relações entre o problema mundial das drogas e todos os aspectos do desenvolvimento sustentável tendo em vista os ODS são levantados e analisados de maneira aprofundada.

Para o relatório completo e conteúdo de mídia, acesse: www.unodc.org/wdr2016
Para mais informações, por favor entre em contato: comunicacao@unodc.org
Fonte:UNODC - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Portos brasileiros são principal caminho da cocaína para Europa


 


Jornal O Estado de S. Paulo
JAMIL CHADE - CORRESPONDENTE DE O ESTADO DE S. PAULO
5% da população adulta mundial - 250 milhões de pessoas - consumiu alguma droga ilegal em 2014; maconha é a mais popular

De acordo com o estudo anual, a quantidade de cocaína confiscada pelas autoridades mais do que dobrou na América do Sul entre 1998 e 2014, quando atingiu 392 toneladas

GENEBRA - Traficantes e organizações criminosas transformaram o Brasil no maior porto de trânsito da cocaína que abastece o mercado europeu e africano. Os dados fazem parte de um estudo publicado nesta quinta-feira, 23, pelo Escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Drogas e Crimes, que também aponta que o País é o principal local de saída de drogas da América Latina para a Ásia.

Os dados apontam que a produção vem de Colômbia, Equador, Peru ou Bolívia. Mas são os portos brasileiros que servem de trampolim para o mercado europeu.

Segundo o levantamento anual da ONU, cerca de 5% da população adulta do mundo - 250 milhões de pessoas - consumiram pelo menos uma vez drogas em 2014. O volume tem se mantido estável nos últimos quatro anos. Mas a entidade aponta que o número de pessoas sofrendo com "desordens relacionadas ao consumo de droga" aumentou pela primeira vez em seis anos. Hoje, são 29 milhões de pessoas nessa situação, contra 27 milhões um ano antes.

De acordo com o estudo anual, a quantidade de cocaína confiscada pelas autoridades mais do que dobrou na América do Sul entre 1998 e 2014, quando atingiu 392 toneladas. Esse volume teria se estabilizado.

Entre 2009 e 2014, a Colômbia representou 56% de todo o confisco na região e mais de um terço do mundo. No segundo lugar, vem o Equador, com 10%, contra 7% para o Brasil e Bolívia.

"No Brasil, o aumento da quantidade confiscada é atribuída à combinação de maiores esforços da polícia, de um mercado doméstico em expansão para a cocaína e o aumento de carregamentos para mercados estrangeiros", indicou a ONU.

De acordo com o informe, o Brasil de fato se transformou no principal ponto de partida da cocaína que chega até o mercado europeu. A referência não aponta o País como maior produtor. Mas, entre 2009 e 2014, os portos nacionais teriam sido os principais pontos de trânsito, seguido pela Colômbia, pela Equador e pela República Dominicana.

Outra constatação da ONU é de que o Brasil é citado como o principal ponto de partida da cocaína que vai para a África, com mais de 51% dos casos e bem acima de todos os demais mercados. No caso africano, entre 2014 e 2016, pelo menos 22 toneladas de cocaína foram confiscadas na rota entre a América do Sul e a Europa, passando pelo oeste africano.

O Brasil também aparece como o maior local de trânsito da droga na América Latina, que chega até a Ásia.

Mortes

De acordo com a ONU, cerca de 270 mil pessoas morreram por algum tipo de complicação no consumo de drogas, um volume considerado como "inaceitável" e que pode ser evitado se medidas forem aplicadas. Pelo mundo, existiriam 12 milhões de usuários de drogas injetáveis, dos quais 14% vivem com HIV.

"O impacto geral do uso de drogas em termos de saúde continua sendo devastador", alertou a ONU. Na Europa e na América do Norte, o número de overdoses por conta da heroína registrou um "forte aumento" nos últimos dois anos.

Já a maconha é a droga mais popular do mundo, com cerca de 183 milhões de pessoas que tenham consumido em 2014. O informe da ONU ainda apontou que a mudança de normas sociais com relação à maconha gerou um aumento de seu consumo, em paralelo à maior aceitação social de seu uso.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

Cerca de 250 milhões de pessoas já usaram drogas no mundo




Cerca de 29 milhões de vítimas sofrem transtornos associados ao consumo; droga mais usada é a canábis, com 182,5 milhões de consumidores; documento menciona casos de Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique.


Usuário de drogas no Afeganistão. Foto: Unodc/A.Scotti
Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.*

As Nações Unidas revelaram que cerca de 5% das pessoas com idade entre 15 e 64 anos usaram pelo menos uma droga em 2014. São cerca de 250 milhões de pessoas, segundo o Relatório Mundial Sobre Drogas 2016.

O estudo destaca que mais de 29 milhões de pessoas sofrem de transtornos relacionados ao uso de drogas. O documento publicado esta quinta-feira, em Genebra, revela haver mais 2 milhões de casos em relação há um ano.

Consumo

O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, Unodc, indica que uma das razões é o aumento do consumo de heroína na América do Norte e em algumas partes da Europa ocidental e central.

Falando à Rádio ONU, na cidade suíça, a chefe da Divisão de Prevenção, Vulnerabilidade e Direitos do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/Sida, Mariângela Simão, disse haver dados essenciais para países lusófonos.

“Alguns dados são bastante importantes para vários países entre os quais os de língua portuguesa nos quais a via da droga injetável não é tão importante mas o aumento substantivo no uso de anfetaminas e estimulantes que está sendo observada em todos os países. É um tipo de comportamento no uso de drogas que inclui a adoção de comportamentos de risco como relações sexuais não protegidas e muitas vezes casos de violência.”

Moçambique

O documento revela que a canábis continua a ser a droga mais usada em todo o mundo com 182,5 milhões de consumidores. O Brasil destruiu mais de 1,3 milhão de plantas em 2014 e Moçambique mais de 1 mil.

Cerca de 207 mil mortes relacionadas às drogas foram relatadas em 2014. O Unodc defende que, apesar de estável, o número é “inaceitável” porque estas podiam ser evitadas se fossem tomadas as medidas adequadas.

Brasil

Entre 1998 e 2014, duplicou a quantidade de cocaína apreendida na América do Sul. No Brasil foram capturados 7% das 392 toneladas em toda a região em 2014.

Mas o país é o ponto de origem mais citado entre as nações latino-americanas que exportam cocaína para mercados não-europeus. O destaque vai para os continentes africano e asiático.

O documento menciona um estudo sobre o uso do crack no Brasil que revela que mais de um terço dos usuários passou mais tempo nas ruas. Menos de um quarto deles tinha ido à escola secundária, embora mais de 95% tenha estudado em algum momento da vida.

Além disso, a prevalência do HIV entre esses usuários foi de 5%, oito vezes maior comparado à população geral do Brasil, estimada em 0,6%.

Lusófonos Africanos

A Guiné-Bissau é citada no relatório pelo aumento das reservas cambiais de US$ 33 milhões em 2003 para US$ 174 milhões em 2008. O aumento foi reflexo de lavagem de dinheiro que teve origem nas drogas.

Cabo Verde teve o maior número de apreensões de cocaína na África Ocidental entre 2009 e 2014. Mas a Itália e a França registaram as maiores apreensões, no que sinaliza o aumento do transporte da droga para a Europa.

Derivados do ópio

Apesar da queda de 38% na produção mundial de ópio, a heroína continua bastante disponível porque os seus traficantes armazenaram grandes stocks das colheitas abundantes dos últimos anos.

Cerca de 17 milhões de usuários de drogas são viciados em opiáceos, que incluem a heroína, ópio e morfina. As substâncias derivadas do ópio continuam a representar a maior ameaça para a saúde dentre as drogas principais.

A Ásia manteve-se o maior mercado de opiáceos do mundo, com cerca de dois terços dos utilizadores que vivem na região.
A continuação do baixo consumo da cocaína nos Estados Unidos e na Europa reduzem o mercado global da droga, enquanto a produção aumenta na Colômbia, o maior produtor mundial da coca.
*Apresentação: Michelle Alves de Lima.
Fonte: Noticias e Mídia Radio ONU

Jaú registra 4 afastamentos por álcool e drogas por mês


 


Comércio de Jaú
Dependência química é entrave para vida profissional dos trabalhadores
MATHEUS ORLANDO

O uso abusivo de álcool e drogas traz consequências graves para a vida das pessoas nos âmbitos pessoal, familiar e afetivo – e não é diferente com a vida profissional do trabalhador. A dependência química dificulta e até inviabiliza o prosseguimento regular da carreira, e retornar ao mercado de trabalho pode não ser tarefa das mais fáceis.

A agência da Previdência Social em Jaú concedeu, em 2015, 45 auxílios-doença motivados por uso de álcool, fumo e drogas. Nos quatro primeiros meses deste ano, foram 18 benefícios. Nesse período, portanto, a média mensal foi de 3,93 auxílios. Os dados foram informados à reportagem pela assessoria de imprensa do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Em nível nacional, o ano de 2014 teve média de 125 pessoas afastadas do trabalho por dia por problemas de saúde relacionados a álcool e drogas. Em que pese provável subnotificação, pois os dados não contemplam trabalhadores informais, abre-se margem para essencial discussão acerca do assunto.

O próprio empregado pode solicitar o benefício pelo telefone 135 ou pelo site www.mtps.gov.br. A empresa faz o requerimento quando tem convênio com o INSS para este fim. Na data agendada, o trabalhador vai a uma unidade do INSS para ser avaliado pela perícia médica, que define se o segurado está incapacitado para o trabalho e qual o período de afastamento.

Paralelamente, é fundamental que a pessoa busque ajuda. Em Jaú, o Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) oferece apoio e tratamento gratuitos. A unidade funciona na Avenida Zezinho Magalhães, 1.660, e interessados podem procurar os serviços de forma espontânea, sem necessidade de encaminhamento. O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h. A psicóloga Margareth Camargo, do Caps, enfatiza que dependentes têm grandes dificuldade em manter seus empregos (leia texto).

Preconceito

A adicção em álcool e drogas é realidade em grande parte das famílias brasileiras, mas quando se trata de mercado de trabalho o preconceito em relação a usuários e ex-usuários é notável, tanto que trabalhadores recuperados precisam esconder o passado para obter recolocação.

O especialista em recursos humanos Carlos Augusto de Oliveira preocupa-se com esse tabu no ambiente profissional. Ele diz que o preconceito em relação a contratar ex-dependentes químicos existe em grandes centros urbanos e é ainda mais acentuado no interior.
“Algumas vezes, o profissional que recruta não tem o preparo ou equilíbrio para ver que a pessoa está apta a trabalhar”, pondera o especialista. “Nossa sociedade precisa abrir a cabeça, todos merecemos uma segunda chance”, finaliza.






Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Tráfico de drogas na cracolândia vende ao menos 100 kg por mês



 


Joel Silva/Folhapress
Jornal Folha de S. Paulo
EMILIO SANT´ANNA DE SÃO PAULO

Atrás de uma das tantas lonas estendidas na alameda Dino Bueno, uma mulher corta pedras de crack e as coloca em um prato sobre uma mesa, ao lado de uma vela. É uma parte ínfima dos cerca de 100 quilos da droga que irrigam todos os meses a região da cracolândia, na Luz, centro de São Paulo, de acordo com o que a Folha apurou com a segurança pública.

Isso pode render aos traficantes cerca de R$ 1 milhão por mês, arrecadados no bairro e no "fluxo" —quarteirão onde está a jovem, fechado por 250 usuários e traficantes durante o dia e até 500 à noite. Três vezes por dia a via é liberada para ser limpa.

As lonas tentam impedir que se registre a venda da droga. Apesar das ações da prefeitura e do Estado no local, que já chegou a reunir até 1.500 pessoas, a "cena de uso" permanece.

O Denarc (departamento de narcóticos), da Polícia Civil, mapeou a ação do tráfico na Luz. O Estado, porém, não divulga os resultados obtidos "por motivos estratégicos".

À Folha, em janeiro, o diretor do departamento, Ruy Ferraz Fontes, afirmou que precisaria de mais dois anos, "no mínimo", para conseguir desmontar a rede de tráfico local, onde ao menos 40 grupos atuam simultaneamente.

Em 2015, foi preso um traficante responsável por fornecer ao menos 90 kg da droga, que lucrava cerca de R$ 1 milhão bruto por mês.

As pedras de crack têm peso variado —de 0,25 g a mais de 1 grama. A quantidade que entra todos os meses na região é capaz de produzir mais de cem mil unidades. O preço da pedra: R$ 10. Um trago no cachimbo alheio vale R$ 1.

Para o secretário municipal da Segurança Pública, Benedito Domingos Mariano, apesar de ser esta a parte mais evidente da cracolândia, o combate ao tráfico —atribuição do Estado— deve ser feito, prioritariamente, em toda a região da Luz, onde estão os "peixes grandes". "Qualquer ação dentro do fluxo só tem um nome: fracasso", diz.

Ações da polícia no local costumam terminar em confronto com os usuários.



Nesse universo do fluxo, 220 pessoas estão cadastradas pela prefeitura para fazer parte do De Braços Abertos. Criado em 2014 pela gestão Haddad (PT), o programa é baseado na redução de danos, em que o dependente é incentivado a diminuir gradativamente o uso, sem internação e com oferta de emprego e renda.

A gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB) tem visão e projeto diferentes. O Recomeço recorre a tratamentos que incluem internações.

PESQUISA

O perfil dos beneficiários do De Braços Abertos foi traçado pela Plataforma Brasileira de Políticas de Drogas. São pessoas com fragilidades sociais que as levaram até ali, diz o antropólogo e consultor do levantamento, Maurício Fiore, que afirma que o programa tem bons resultados.

A maior parte não terminou o ensino fundamental, já fez algum tratamento para o vício e diminuiu o uso de crack após ingressar no programa.

Os problemas: 19% têm tuberculose, 18%, hepatite e 12%, HIV. Além disso, 66% já passaram pela prisão e 25% pelo sistema socioeducativo.

O contato com regras da prisão é útil. Apesar de a droga não ser distribuída pelo crime organizado, ele está presente no fluxo com os "disciplinas", que mantêm a ordem.

Na noite de quarta-feira (8), fazia 13º C, mas o frio não espanta os usuários. Ali, a jovem, bem vestida, cabelos negros compridos, se destaca entre maltrapilhos. Mesmo assim, a situação dela não é tão diferente. Vende e usa. Assim é para boa parte deles. Vendem, usam, compram mais, voltam a usar. Ciclo sem fim.

Essa dinâmica é vista, em tempo real, em uma televisão na parede do gabinete de Mariano. "Passamos mensalmente as imagens mais importantes para o Denarc", diz.

A Secretaria da Segurança Pública afirma que o "patrulhamento e a investigação são ininterruptos e que foram 140 flagrantes de tráfico neste ano na região da rua Helvétia e das alamedas Dino Bueno, Cleveland, Barão de Piracicaba e Glete. Em 2015, foram presos 58 traficantes.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas 
Criminosos adicionam adrenalina à cocaína e deixam droga mais perigosa  Artigos sobre drogas e alcool - Site Antidrogas 
 


Polícia do Rio apreendeu 2 mil ampolas de adrenalina nos últimos dois meses.
Substância induz o usuário a consumir ainda mais a droga.
G1

A polícia do Rio descobriu uma estratégia dos traficantes para aumentar o lucro na venda de cocaína. Como mostrou o Bom Dia Brasil, eles estão adicionando adrenalina que potencializa os efeitos da droga e pode levar à morte quem usa.

O titular da Delegacia de Combate às Drogas disse que o fenômeno é recente, mas não só no Brasil. Felipe Curi afirmou que nos últimos dois meses, já foram apreendidas duas mil ampolas de adrenalina, provavelmente roubadas de caminhões que transportam medicamentos.

“Um quilo de cocaína após trabalhado dessa forma ele vira na verdade sete, oito quilos lá no final e isso gera uma grande margem de lucro para o traficante”, contou o delegado Felipe Curi.

A adrenalina é um hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais — ela aumenta os batimentos cardíacos, a frequência respiratória e coloca o corpo em sinal de alerta. Normalmente é liberada em situações de risco, em atividades esportivas ou sob forte estresse.

Sem ela, a cocaína inalada ou injetada já desperta euforia, desinibição, perda de apetite e insônia. Mas pode também provocar arritmia, infarto e derrame.

A mistura de adrenalina na cocaína potencializa os efeitos e torna a droga muito mais perigosa e mortal, mais até do que a cocaína com alto teor de pureza.

O chefe de laboratório de química biológica do Inmetro, Rodrigo Borges, explicou que a adrenalina induz o usuário a consumir mais. “Quando se adiciona adrenalina, você só vai ter aquele efeitos aumentados de excitabilidade e isso é perigoso, porque o usuário vai sentir falta desse efeito e vai acabar buscando mais droga”, afirmou.

Para o psiquiatra Jorge Jaber, a mistura é ainda mais perigosa para quem não usa regularmente a cocaína. “Ele pode ser alguém que esteja experimentando, esses são os mais perigosos porque eles ainda não sabem o efeito que essa droga, a cocaína ainda mais adicionada com adrenalina, pode causar no seu organismo”.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas


Jovens usam combustível com refrigerante para se embriagar

Jovens usam combustível com refrigerante para se embriagar   




De acordo com o CDC, a ingestão de metanol combustível pode causar náusea, vômito, diarreia, visão embaçada, danos na retina, cegueira, convulsão, coma e até morte – dependendo da quantidade ingerida.

VEJA
Autoridades americanas alertam para os perigos da ingestão da mistura após a morte de dois estudantes
Por Da redação

De acordo com o CDC, a ingestão de metanol combustível pode causar náusea, vômito, diarreia, visão embaçada, danos na retina, cegueira, convulsão, coma e até morte – dependendo da quantidade ingerida.

Jovens americanos estão bebendo uma mistura de combustível com refrigerante em busca do efeito da embriaguez. O hábito pode ser fatal. Em janeiro, dois estudantes morreram após ingerir a combinação e outros dois foram hospitalizados com intoxicação.

O caso mais emblemático aconteceu em janeiro, no estado americano do Tennessee. Dois adolescentes, ambos com 16 anos, morreram após ingerir a combinação de refrigerante e metanol (combustível utilizado em corridas de arrancada) durante uma festa. Outros dois jovens foram hospitalizados com sintomas de intoxicação, mas sobreviveram.

Segundo as autoridades locais, a mistura fatal, que recebeu o nome de “Dewshine” (uma alusão ao refrigerante Mountain Dew, utilizado no composto), é comumente consumida pelos jovens da cidade. Os adolescentes em questão teriam comprado um galão (1,9 litros) de combustível de corrida e misturado a dois litros do refrigerante. Os jovens que tiveram intoxicação relataram terem bebido cerca de 60 ml da mistura. Não se sabe a quantidade ingerida pelos adolescentes que faleceram.

Agora, autoridades de saúde do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) estão alertando sobre os perigos dessa mistura. De acordo com o CDC, o combustível de corrida é composto 100% por metanol – um solvente orgânico comumente encontrado em laboratórios, produtos residenciais e em indústrias e a ingestão de uma colher de sopa (15 ml) da substância já seria fatal. Ainda segundo o órgão, a mistura pode causar náusea, vômito, diarreia, visão embaçada, danos na retina, cegueira, convulsão, coma e até morte – dependendo da quantidade ingerida.

“Ao ser ingerido, o metanol é metabolizado em um ácido muito forte. O mecanismo faz com que o PH do sangue fique muito baixo, o que leva a morte. Um dos efeitos imediatos é a cegueira”, explicou Donna Seger, diretora do Centro de Envenenamento do Tennessee, em entrevista a um noticiário local.

A prática parece não ter chegado ao Brasil ainda, embora existam relatos de jovens que foram obrigados a beber álcool combustível (etanol) durante trote de faculdades.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas


terça-feira, 14 de junho de 2016

Deputados reagem com cautela a impactos da legalização da maconha





Agência O GLOBO
Arrecadação tributária aumentaria, mas efeito sobre a saúde dos usuários é motivo de preocupação
POR ISABEL BRAGA / RENAN XAVIER
Legalização da maconha traria arrecadação tributária anual de R$ 5 bilhões - Miguel Rojo/AFP/6-5-2014

BRASÍLIA — Líderes do governo Michel Temer reagiram com cautela ao estudo feito por profissionais da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados sobre o impacto econômico da legalização da maconha no Brasil. Mesmo impressionados com o valor elevado de arrecadação e economia apresentados pelo estudo — arrecadação tributária anual de R$ 5 bilhões e de redução de R$ 997,3 milhões de gastos anuais com o sistema prisional — eles afirmam que há outras consequências a serem consideradas, não apenas a econômica.

O líder do PSD, Rogério Rosso (DF), diz que para liberar a maconha no país é preciso levar em conta outros fatores e não apenas o econômico. Segundo ele, é preciso considerar os efeitos que o uso da maconha gera no âmbito da família, da sociedade, as consequências de liberar seu consumo.

— Esse estudo precisa ser complementado em razão do utilização do psicotrópico, a maconha. Eventuais acidentes provocados pelo uso dela junto com bebida alcoólica. Temos que ver se o custo benefício. O estudo é superficial, tem que saber os problemas que a maconha gera no âmbito da família, da própria sociedade, do tráfico, eu vejo com cautela — afirma Rosso.

Indagado se o governo deveria debater neste momento esse tema, Rosso foi categórico:

— O governo tem outras prioridades. É preciso aprofundar esse estudo e ver qual o custo que a liberação da maconha iria gerar na sociedade.

Líder do PMDB, maior partido na Câmara, o deputado Baleia Rossi (SP), diz que apesar do retorno financeiro, não acredita que seria uma pauta positiva para o governo Temer:

— Pessoalmente, eu não sou favorável. É algo que não trará benefícios, mas não sou contra o debate. Porém, acredito que não será uma pauta positiva para o governo, mesmo que haja um retorno financeiro. Temos outras maneiras de arrecadar. O governo tem que economizar e fazer o dever de casa.

O líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), preferiu não se posicionar sobre o tema.

— É uma discussão que ainda não posso adiantar aqui. É uma matéria que, pelo menos eu, não tenho a posição do governo. É uma questão que não posso dar uma posição nossa — afirmou Moura.

Autor de projeto que regulamenta o plantio, o uso recreativo e a comercialização da maconha no Brasil, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) diz que foi ele quem encomendou à consultoria da Câmara o estudo para trazer um novo argumento ao debate sobre a mudança na política de drogas do país. Ele minimiza a reação de líderes aliados do governo Temer e diz que quer debater com empresários e a própria sociedade os resultados obtidos pelo estudo.

— Já temos fortes argumentos relativos aos benefícios sociais. Da proibição, nasce o tráfico. Sem a proibição, haverá redução de mortes, do número de encarcerados, hoje somos a quarta população carcerária do mundo. A legalização permitiria o uso medicinal da maconha. Mas quis também buscar um argumento econômico para tentar sensibilizar os segmentos liberais da política e da sociedade — diz Jean Wyllys.

O deputado do PSOL disse que já tinha visto estudo sobre o impacto econômico da legalização da maconha na Califórnia, por isso pediu que os consultores levantassem dados sobre o Brasil. Além do aumento da arrecadação tributária, a regulamentação do uso também também traz consigo, Jean Wyllys, aumento de empregos.

— Se não querem legalizar pelas questões humanitárias, de saúde, pela questão das liberdades individuais, compreendam os impactos financeiros dessa legalização. Minha intenção é sensibilizar os liberais da sociedade. Quero dialogar com o empresariado, profissionais liberais — diz o deputado. — Hoje muitos fumam escondido. Será melhor fazer uso da maconha legalizada, fiscalizada, sem constrangimento. Além de deixar a hipocrisia de lado, tem um ganho para a sociedade.

Integrante da bancada evangélica, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) diz que nem mesmo o volume de recursos justifica a legalização do uso da maconha no país:

— Prefiro acreditar que não são soluções de governo, de setores que falam isolados, tanto isso quanto a jogatina, acho um dois absurdo, não são fontes que vão dar sustentação a nenhum governo no mundo, muito menos o nosso que passa por grande turbulência. Espero que isso não prospere nenhuma semana nos noticiários brasileiros.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

Maconha, os dois lados da moeda: o THC e o CBD

  



(imagem reprodução)

Por conter substâncias que atuam no Sistema Nervoso Central, a maconha tem um grande potencial para o bem e para o mal. Ela é composta de diversos tipos de canabinoides – os mais conhecidos são o Tetrahidrocanabinol (THC) e o Canabidiol(CBD). O THC se destaca para o mal: é responsável pelos efeitos psicoativos e neurotóxicos. Já o CBD funciona para o bem: possui diversas possibilidades terapêuticas e até efeitos protetores contra os danos do próprio THC, incluindo efeitos antipsicóticos. O problema é que os efeitos benéficos do CBD não compensam os maléficos do THC quando a maconha é fumada.

Além disso, nas últimas décadas, tem se observado aumento nos níveis de THC e diminuição nos níveis de CBD nas variedades de maconha consumidas. As consequências são desastrosas para os usuários, principalmente na esfera mental. Especificamente, usuários de variedades ricas em THC e pobres em CBD estão sob risco maior de quadros psicóticos, de diminuição volumétrica de áreas cerebrais responsáveis pela memória, planejamento e execução de tarefas e de diversos tipos de prejuízos cognitivos. Já o modo pelo qual o CBD protege os neurônios da degeneração induzida por THC permanece incerto, mas esse potencial tem despertado interesse em estudar o CBD para tratamento de várias doenças.

Sobre o THC, acumulam-se evidências de que é o responsável não apenas pela dependência, mas por todos aqueles diversos outros efeitos maléficos. Um estudo de revisão publicado em abril de 2016 naBiological Psyhicatry, uma das mais conceituadas revistas de Psiquiatria, ressaltou as principais alterações cerebrais encontradas em estudos com usuários de longo prazo de maconha. A maioria deles iniciou o uso entre 15 e 17 anos de idade, por períodos que variam entre 2 e 23 anos. As áreas cerebrais mais afetadas são aquelas também com maior densidade de receptores canabinoides CB1: ocorrem diminuições volumétricas e de densidade de matéria cinzenta no hipocampo (associado à memória), nas amígdalas, no estriado ( região cerebral ligada ao sistema motor e comportamento), no córtex orbitofrontal, no córtex insular e no cerebelo. São regiões cerebrais relacionadas à memória, à emoção, à tomada de decisão e ao equilíbrio motor.

Pode-se concluir que não é possível fumar maconha para obter os efeitos benéficos do CBD. É preciso separá-lo do THC. Exatamente por isso que a maconha não deve ser considerada remédio. O potencial efeito terapêutico está apenas no CBD .
Ref: Lorenzetti, V Solowij N, YucelnM.The role of cannabinoids in neuroanatomic alterations in cannabis users.Bio Psychiatrtry . 2016;79 (7): e17-31
Dr. Claudio Jerônimo Silva - Psiquiatra e Diretor da Unidade Recomeço Helvetia ( Com foto)
Dr.Marco Antonio N. Echevarria ( Psiquiatra especialista em dependência química – AME Psiquiatria Jandira Masur)

Brasil é um dos principais pontos de saída de cocaína






Cocaína: "A cocaína é embarcada da América Latina até Europa em navios que saem do Brasil e outros países, como o Equador e Venezuela"
Revista Exame
Da EFE
Carlos Jasso / Reuters

Lisboa - As redes de narcotraficantes utilizam grande variedade de métodos e rotas para transportar a cocaína da América Latina até a Europa, com o Brasil estando cada vez mais consolidado como um ponto de saída relevante.

Esta é uma das conclusões do estudo: "O tráfico de cocaína à Europa", elaborado pelo Observatório Europeu de Drogas e Toxicomanias (OEDT) e divulgado nesta terça-feira, no qual se analisa a rota que segue a droga até sua chegada ao continente.

Os especialistas lembram que a produção de cocaína tem lugar "quase exclusivamente" em três países sul-americanos: Bolívia, Colômbia e Peru.

No entanto, os laboratórios nos quais são processados também foram detectados em outros de seu entorno e em outras partes do mundo, incluindo a própria Europa.

O relatório aponta a que a cocaína é levada para o continente europeu por via aérea e marítima, embora este segundo trajeto é aparentemente o mais usado, já que entre 2011 e 2013 representou quase dois terços das apreensões.

"A cocaína é embarcada da América Latina até Europa em navios que saem do Brasil e outros países, como o Equador e Venezuela. O crescente uso do Brasil como ponto de saída reflete a cada vez maior importância da Bolívia e Peru como fonte da cocaína que é enviada para o continente europeu", revelou o documento.

O capítulo de pontos de partida alerta para a importância crescente da Venezuela, citando o Cone Sul - particularmente a Argentina -, e adverte que Colômbia seguirá sendo "um ponto importante de saída via marítima da cocaína" com direção ao Velho Continente.

Sobre as rotas, a análise do OEDT revela que os envios de cocaína para a Europa não costumam ser diretos e transitam por "duas áreas principalmente": pela região do Caribe e África Ocidental.

Do lado do Caribe, República Dominicana e Jamaica são os focos mais importantes, apesar das operações policiais "têm empurrado traficantes para usar a zona leste" na região.

"O aparente aumento do uso da rota caribenha pode ser um reflexo dos fortes medidas (legais e policiais) aplicadas no México e América Central", afirmam os especialistas.

Do Caribe, a cocaína é geralmente transferida para a Europa por via marítima, através do arquipélago português dos Azores, ou por via aérea "tanto com voos diretos como com diferentes escalas", afirmou.

A outra rota mais usada inclui países da África Ocidental, assim como as ilhas de Cabo Verde, Madeira e Canárias, embora nestas últimas foram registradas "uma redução das apreensões".

Do continente africano, a droga é enviada para a Europa por terra, mar ou ar. Os traficantes aproveitam as rotas que já existem para o transporte de cocaína no norte da África.

Os principais portos de entrada da cocaína são Espanha, Portugal, Holanda e Bélgica, de acordo com o Observatório.

Sobre os métodos de transporte, o estudo lembra que os narcotraficantes utilizam desde iates privados até contêineres em navios mercantes, o que dificulta sua detecção.

Além disso, sempre inovam na hora de esconder a droga, juntando a plásticos e outros materiais para que não se perceba a primeira vista, passando depois por um tratamento químico para "recuperar" sua forma original.

Os traficantes tentam disfarçar cada vez mais em envios de bens perecíveis, com o objetivo de passar pelos portos da forma mais rápida.

A cocaína transportada por via aérea chega através de aviões privados ou de pessoas físicas em voos comerciais.

Apesar da quantidade transportada é sensivelmente menor que quando se utiliza a via marítima, o elevado número de confiscos confirmam que é um método bastante utilizado.

A droga, nestes casos, costuma estar camuflada na bagagem, embora também há exemplos de pessoas que a levam presa em seu corpo, que engolem ou mesmo passam por uma cirurgia para escondê-la em suas próteses mamarias.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Pesquisa aponta que 1,8 milhão de jovens já experimentou cigarro


 


Ministério da Saúde gasta 23 bilhões de reais todos os anos para tratar doenças associadas ao fumo

Campo Grande, Porto Alegre e Florianópolis estão entre as capitais que concentram maior proporção de adolescentes que já fumaram
por Portal Brasil

O Ministério da Saúde divulgou, nesta semana, um estudo sobre o uso do cigarro entre jovens. A pesquisa constatou que 1,8 milhão de adolescentes entre 12 e 17 anos já experimentou cigarro ao menos uma vez, o que representa 18,5% dos jovens nessa faixa etária em todo o País.

Apesar do número ainda alto, o dado pode indicar uma tendência de queda na experimentação de cigarro entre os adolescentes do País. Estudos anteriores, como a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), de 2009, haviam detectado que 24% dos adolescentes de 13 a 15 anos nas capitais brasileiras tinham tido ao menos um contato com o cigarro.

“A redução no número de fumantes é um avanço nas políticas realizadas pelo Ministério da Saúde e pelo Inca. O dado do estudo destaca a importância de se cortar o mal pela raiz, já que quanto menos jovens estiverem fazendo uso do cigarro, menos adultos fumantes teremos no futuro e consequentemente menos doenças e mortes ocasionadas pelo tabagismo”, assinalou o ministro da Saúde, Ricardo Barros.

As capitais Campo Grande (26,8%), Porto Alegre (26,5%), Florianópolis (25,1%) e Curitiba (23,4%) estão entre as localidades onde foram registradas as maiores proporções de jovens que já haviam fumado alguma vez na vez.

O estudo mostrou também que, independente do sexo, as prevalências foram maiores em adolescentes que não moravam com os dois pais e que referiram ter tido contato com fumante em casa ou fora e que já trabalhavam. Outra constatação do estudo foi o de que as meninas estudantes de escolas públicas (5,7%) fumam mais do que as de escolas privadas (3,7%).

O Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica) ouviu 74.589 adolescentes de 1.251 escolas públicas e privadas em 124 municípios com mais de 100 mil habitantes, incluindo todas as capitais. É o primeiro levantamento feito com coleta de dados de jovens entre 12 e 17 anos para fornecer estimativas nacionais sobre a prevalência de fatores de riscos cardiovasculares, tais como hipertensão arterial, dislipidemia e de síndrome metabólica.

Fumo entre adultos

Entre os adultos, os resultados do mais recente levantamento do Ministério da Saúde, o Vigitel 2015, são otimistas. Segundo os dados da pesquisa, houve redução de 33,8% no número de fumantes adultos nos últimos dez anos: 10,4% da população das capitais brasileiras ainda mantêm o hábito de fumar. Em 2006, esse percentual era de 15,7% para o conjunto das capitais. Os homens continuam sendo os que mais fazem uso do tabaco (12,8%), ao passo que as mulheres fumantes são 8,3% dentro do total da população feminina das capitais. Há 10 anos, esse número era de 20,3% entre os homens e 12,8% nas mulheres.

“A redução na prevalência de fumantes nas últimas décadas tornou nosso País um caso mundial de sucesso no controle do tabagismo”, salienta o ministro Ricardo Barros.

Consequências

Apesar disso, de acordo com o ministério da Saúde, as doenças geradas pelo tabagismo são responsáveis por quase 200 mil mortes por ano no Brasil. No mundo, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são seis milhões de mortes anuais.

O tabaco é um fator importante no desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como câncer, doenças pulmonares e cardiovasculares. Ainda de acordo com o Inca, os custos para o sistema de saúde são de R$ 23 bilhões ao ano.
Fonte: Portal Brasil, com informações do Ministério da Saúde

Bebidas alcoólicas ajudam a combater o frio...MENTIRA!



O corpo humano é capaz de acionar diversos mecanismos para compensar as variações de temperatura externa e manter a temperatura corporal com a mínima oscilação possível. Por exemplo, o suor é uma forma de perder calor no verão, assim como tremores são uma forma de produzir calor no inverno.

É comum as pessoas acreditarem que o consumo de álcool é útil durante as estações mais frias para ajudar o corpo a se esquentar. Mito ou verdade? Mito. Apesar de parecer que o corpo está mais quente, o que acontece é um desvio de calor de órgãos vitais para a região mais superficial. Ao consumir bebidas alcoólicas ocorre vasodilatação, em que mais sangue e calor são levados à pele e extremidades, com a consequente elevação da sensação térmica. Dessa forma, acredita-se que houve aquecimento, mas o calor é facilmente dissipado, não apenas pela própria vasodilatação, mas pelo comportamento da pessoa, que ao perceber o aumento de calor, se desprotege e se expõe mais ainda ao frio.

No Brasil, a falta dessa informação pode não significar tanto em termos de saúde pública, pois o inverno é ameno de forma geral, mas em temperaturas mais baixas, o uso de álcool, principalmente em excesso, pode ser letal, ao aumentar o risco de hipotermia (esfriamento do corpo com a perda da capacidade de exercer a regulação necessária). Portanto, durante o inverno, corrija esta crença errônea para prevenir o abuso de álcool e se proteger do frio com sucesso!
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool


Efeitos do uso da cannabis no comportamento humano, incluindo cognição, motivação e psicose: uma revisão da literatura




 


(imagem reprodução)

Nora D. Volkow, MD; James M. Swanson, PhD; A. Eden Evins, MD; Lynn E. DeLisi, MD; Madeline H. Meier, PhD; Raul Gonzalez, PhD; Michael A. P. Bloomfield, MRCPsych; H. Valerie Curran, PhD; Ruben Baler, PhD

Tradução de Luís Guilherme Vieira Allegro
Tendo como pano de fundo o debate político sobre os riscos e benefícios potenciais do uso da cannabis, a onda da legalização e liberalização continua a se expandir. Quatro estados norte-americanos (Colorado, Washington, Oregon e Alaska) e o Distrito de Columbia promulgaram leis que legalizam a cannabis para o uso recreativo de adultos, e vinte e três outros estados, além do Distrito de Columbia, atualmente regulamentam o uso da cannabis para propósitos medicinais. Tais mudanças políticas podem implicar um amplo escopo de consequências imprevistas, com efeitos profundos e duradouros sobre os sistemas sociais e de saúde dos EUA. O uso da cannabis passa a constituir um dentre vários fatores em interação recíproca que pode afetar o desenvolvimento cerebral e as funções mentais. Com o objetivo de auxiliar o discurso político a partir de evidências científicas, a literatura sobre o assunto foi revista para que se identificasse o que se sabe e o que ainda é desconhecido acerca dos efeitos do uso da cannabis no comportamento humano, incluindo a cognição, a motivação e questões relativas à psicose. JAMA Psychiatry. doi:10.1001/jamapsychiatry.2015.3278 Publicado online em 3/2/2016.

Já é bastante conhecido que o uso da cannabis causa um comprometimento agudo da habilidade cerebral em reter informações (capacidade cognitiva). Assim, ocorrem déficits temporários na aprendizagem e na memória, na atenção e na memória operacional (ou de trabalho).

O USO DA CANNABIS AFETA A CAPACIDADE COGNITIVA?

O uso da cannabis causa um comprometimento agudo do aprendizado e da memória, da atenção e da memória operacional (1-3), mas não é tão evidente que o uso da cannabis esteja associado a comprometimentos neuropsicológicos duradouros. Estudos de caso-controle comparando usuários abusivos da substância que não estejam sob seu efeito e não-usuários revelou de modo bastante consistente que o usuário abusivo apresenta pior desempenho em testes neuropsicológicos. Por exemplo, os resultados de duas meta-análises separadas (4,5) revelou que, quando comparados com não-usuários, os usuários de cannabis que não estejam sob seu efeito apresentam pior desempenho em medidas da função neuropsicológica global, com tamanhos do efeito em domínios neuropsicológicos específicos (funções executivas, atenção, aprendizado e memória, habilidades motoras e habilidades verbais) de aproximadamente um terço do desvio padrão, ou menos. Quando análises na segunda meta-análise (5) foram limitadas para 13 estudos de usuários da cannabis com pelo menos 1 mês de abstinência, não houve diferença perceptível entre os usuários de cannabis e os não-usuários no que se refere ao desempenho em testes neuropsicológicos, o que sugere que as funções neuropsicológicas podem se recuperar com a abstinência prolongada. As evidências sugerem que a magnitude do comprometimento neuropsicológico e sua extensão após a abstinência podem depender da frequência e da duração do uso da cannabis, da extensão da abstinência, e da idade do indivíduo no início do uso. (6)

Vêm surgindo evidências que sugerem que os adolescentes podem ser particularmente vulneráveis aos efeitos adversos do uso da cannabis. A adolescência representa um período crítico do neurodesenvolvimento, caracterizado por uma pronunciada poda sináptica e pelo aumento da mielinização (7). Além disso, o sistema endocanabinóide parece estar envolvido na regulação de processos neurodesenvolvimentais cruciais (7), o que sugere que a introdução de canabinóides exógenos durante a adolescência pode comprometer o desenvolvimento cerebral normal. Pesquisas realizadas em animais corroboram a possibilidade de que a adolescência represente um período de vulnerabilidade aumentada à exposição à cannabis. (7). Por exemplo, ratos púberes tratados com um agonista canabinóide apresentaram déficits persistentes em tarefas de reconhecimento de objeto, ao passo que isso não ocorreu em ratos adultos. (8,9). Evidências crescentes em relação aos humanos apontam na mesma direção que as descobertas referentes aos animais. Por exemplo, alguns estudos mostraram que quanto mais precoce é a idade em que se inicia o uso da cannabis, maiores são as associações com o comprometimento neuropsicológico (10, 11). Um estudo longitudinal representativo da população, de 2012, (12) mostrou que usuários frequentes que iniciaram o uso de cannabis durante a adolescência (mas não os que se iniciaram na idade adulta) apresentaram declínio neuropsicológico entre as idades de 13 e 38 anos.

Investigações por neuroimagem de usuários adolescentes e adultos produziram resultados algo inconsistentes. Análises recentes demonstraram que há evidências bastante claras de alterações estruturais em regiões temporais mediais (amídala e hipocampo), frontais e cerebelares associadas à exposição à cannabis (13, 14). Contudo, outro estudo recente (15), que cuidadosamente comparou os participantes no que se refere ao consumo de álcool, não apresentou evidências de alterações morfológicas cerebrais entre os usuários adolescentes ou adultos, o que sugere a possibilidade de que o uso comórbido de álcool possa explicar algumas das alterações morfológicas observadas na pesquisa anterior. Existem, além disso, evidências de que os usuários da cannabis apresentem comprometimento da conectividade neural. Por exemplo, um estudo (16) de adultos com um longo histórico de uso abusivo de cannabis apresenta evidências de conectividade diminuída na fímbria direita do hipocampo (fórnix) e do esplênio do corpo caloso, e nas fibras comissurais. Finalmente, investigações realizadas por meio de imagens de ressonância magnética funcional sugerem que os usuários de cannabis apresentam atividade neural alterada tanto em estado de repouso quanto durante testes cognitivos (14). Por exemplo, usuários adolescentes masculinos apresentaram, nas imagens de ressonância magnética funcional, um aumento de atividade dependente do nível do oxigênio no sangue ocorrendo no córtex pré-frontal durante uma nova tarefa de memória operacional, o que foi interpretado como refletindo processamento ineficaz (17). Essa observação se coaduna com estudos medindo a conectividade funcional em repouso em usuários adolescentes da cannabis que apresentaram padrões alterados de conectividade afetando tanto o trânsito inter-hemisférico (18) como a rede fronto-temporal (19,20). Algumas evidências sugerem que o canabidiol, outro canabinóide encontrado na planta da cannabis (embora normalmente em concentrações muito baixas), pode oferecer proteção a alguns dos efeitos nocivos do tetrahidrocanabinol (THC) sobre a cognição (21,22).

Essas são áreas que necessitam de pesquisas complementares. Em primeiro lugar, diferenças observadas no desempenho de testes neuropsicológicos, bem como na estrutura e função cerebrais, podem refletir diferenças individuais pré-existentes ao uso da cannabis. O progresso das pesquisas vem sendo limitado pela recorrência de investigações transversais comparando os usuário da cannabis e os não-usuários. Dois estudos longitudinais (12,23), em que foram realizados testes neuropsicológicos anteriores e posteriores, apresentaram evidências que permitem associar o uso da cannabis e o declínio da função neuropsicológica no âmbito individual. Esses resultados não puderam ser explicados a partir de fatores como: uso de álcool ou outras drogas, transtornos psiquiátricos, baixo status sócio-econômico, ou toda uma gama de outros fatores complicadores. Entretanto, o número de usuários de cannabis nessas coortes foi pequeno, e o imageamento cerebral não foi realizado. Contudo, resultados de neuroimagem levantam a possibilidade de que volumes cerebrais regionais menores entre usuários da cannabis possam ser parcialmente explicados pela presença de diferenças pré-existentes. Por exemplo, um estudo longitudinal prospectivo (24) revelou que volumes do córtex orbitofrontal menores aumentavam o risco de que adolescentes se iniciassem no uso da cannabis, ao passo que um estudo (25) de gêmeos e irmãos revelou que volumes reduzidos da amídala entre usuários da cannabis poderiam ser explicados por fatores familiares. Considerados em conjunto, esses resultados ressaltam a necessidade de estudos longitudinais que acompanhem adolescentes do período anterior ao período posterior ao início do uso da cannabis e combinem testes neuropsicológicos e neuroimagens. O Estudo do Desenvolvimento Cognitivo do Cérebro do Adolescente (Adolescent Brain Cognitive Development Study) (26), uma ampla investigação prospectiva financiada pelos National Institutes of Health, de crianças entre 9 e 10 anos que serão acompanhadas por pelo menos 10 anos, está sendo iniciada para atender, em parte, a essa necessidade.

Uma segunda área propícia para investigações adicionais diz respeito à necessidade de reconciliação dos resultados de neuroimagem com o desempenho em testes neuropsicológicos. As evidências de neuroimagem atuais são inconsistentes, e alterações na estrutura e função cerebrais tendem a não se correlacionar com diminuições no desempenho em testes neuropsicológicos (27). São necessárias maiores amostras para o imageamento, juntamente com considerações cuidadosas acerca das características dos participantes, tais como o uso comóbido de álcool e outras drogas e a extensão da abstinência da cannabis.

Em terceiro lugar, são necessárias mais pesquisas para que se possa responder à questão “quando é que podemos falar em uso excessivo de cannabis?”. Uma vez que muitas amostras de estudo incluem uma grande parcela de indivíduos apresentando dependência da cannabis (conforme definido pelo DSM-IV), não está claro se os efeitos podem ser generalizados para indivíduos com transtornos ligados ao uso da cannabis menos severos e para usuários de caráter mais recreacional.

Em quarto lugar, devido ao efeito potencial de canabinóides exógenos sobre o desenvolvimento cerebral, mais pesquisas são necessárias para que se possa responder à pergunta “em qual idade a cannabis causa maior malefício?”. Além de estudar os efeitos do uso da cannabis em adolescentes, também são necessárias pesquisas que lancem luz sobre a suscetibilidade de adultos mais velhos para o comprometimento neuropsicológico associado à cannabis. Essa parcela da população experimenta mudanças na plasticidade cerebral e declínio cognitivo relacionados à faixa etária que podem torná-la mais vulnerável aos efeitos do uso da cannabis.

Em quinto lugar, evidências recentes sugerem diferenças relacionadas ao gênero em déficits neuropsicológicos associados ao uso da cannabis (1, 28). Assim, pesquisas futuras devem esclarecer os mecanismos na base dessas potenciais diferenças relativas ao gênero.

Em sexto lugar, fatores genéticos, tais como polimorfismos nos genes COMT (OMIM 116790) e AKT1 (OMIM 164730) podem também aumentar a suscetibilidade ao comprometimento neuropsicológico ligado a uso da cannabis (29). Outros exemplos incluem um estudo recente (30) que revelou que o THC causa o comprometimento agudo da memória operacional para portadores de COMTVal/Val (mas não para portadores de Met), além de um outro estudo (31) de três coortes de população que revelou que o uso da cannabis estava associado com a espessura cortical diminuída entre indivíduos masculinos com alto (mas não com baixo) risco genético de esquizofrenia conforme indexado por uma pontuação de risco poligênica. A possibilidade que diferenças individuais entre usuários da cannabis possam ter efeitos significativos e possam servir para prever a extensão de consequências adversas sugere que esforços recentes para incrementar informações genéticas com vistas a criar pontuações de risco poligênicas possam ser úteis no desenvolvimento dos estudos sobre uso de cannabis e funções neuropsicológicas.

O USO DA CANNABIS DIMINUI A MOTIVAÇÃO?

Já em fins do século XIX, a Indian Hemp Drugs Commission [Comissão de Drogas de Maconha] (32) relatava que o uso abusivo de cannabis estava associado à apatia, definida como motivação reduzida para comportamentos direcionados a um objetivo (33). Todavia, foi apenas após o pronunciado aumento no uso da cannabis durante os anos 60 que os efeitos motivacionais do uso crônico da cannabis foram ligados a comprometimentos no aprendizado e na atenção sustentada. O termo síndrome amotivacional da cannabis (cannabis amotivational syndrome) foi proposto por McGlothlin e West (34), que o definiram como apatia e capacidade reduzida para concentração, para a adoção de rotinas ou para a aquisição de novos conhecimentos. Embora sempre tenha havido alguma polêmica em relação à necessidade de se definir um fenótipo tão preciso, existem evidências que o uso abusivo de cannabis a longo prazo esteja associado a dificuldades no desempenho escolar e ao comprometimento da motivação, os quais, conforme se sugeriu, podem ser entendidos como mediadores potenciais de resultados funcionais piores (35).

Existem evidências pré-clínicas e clínicas que estão de acordo com a ideia de que o uso da cannabis esteja associado a estados amotivacionais. Entre os macacos resos, a utilização ou a administração crônica e abusiva de cannabis resultou na queda da motivação, conforme mensurado em testes operantes de relação progressiva e de resposta a posição condicionada (36). Existem evidências laboratoriais preliminares apontando uma relação entre usuários de cannabis e motivação reduzida para comportamentos relativos a recompensa, quando comparados com indivíduos-controle. (37). Como tais resultados parecem estar relacionados a doses repetidas de THC, é provável que a motivação reduzida possa ser um dos caminhos que conduzem ao comprometimento da aprendizagem, pois o THC pode obstaculizar o aprendizado baseado em recompensas (38). Coadunando-se a essa teoria, os usuários da cannabis apresentam capacidade reduzida de síntese da dopamina estriatal (39), com relacionamento inverso com a amotivação. Na medida em que a sinalização dopaminérgica apoia a motivação (40), o comprometimento da síntese de dopamina poderia estar na base do estado amotivacional entre os usuários da cannabis. Da mesma maneira, investigações por imagem apontaram uma reatividade diminuída ao estímulo de dopamina em usuários de cannabis, o que foi associado a emotividade negativa, e que também poderia contribuir para reduzir o empenho em atividades que não estejam relacionadas à droga (41).

A amotivação em usuários crônicos abusivos pode também refletir o fato de que a própria cannabis tenha se tornado um motivador principal, de modo que outras atividades (como, por exemplo, as tarefas escolares) se tornam diminuídas na hierarquia de recompensas do indivíduo. De fato, a dependência da droga ocorre em cerca de 9% dos usuários (42) que parecem mais vulneráveis do que outros em função de uma multiplicidade de variáveis, incluindo a idade no início do uso, o nível de uso e fatores ambientais e genéticos.

O que ainda precisa ser verificado é se mudanças na concentração dos ingredientes ativos da cannabis podem afetar o risco da amotivação ou de adição. A planta da cannabis contém aproximadamente 100 ingredientes canabinóides exclusivos, sendo que os mais pesquisados são o THC e o canabidiol. Ao longo dos últimos 30 anos, o nível de THC presente na cannabis de rua aumentou (43). Entre esses dois compostos, apenas o THC determina o nível do “barato” subjetivo. Juntamente com um sistema de dopamina com eficácia reduzida (blunted) (41), o uso crônico abusivo da cannabis é associado a mudanças no sistema endocanabinóide, incluindo níveis reduzidos de anandamida (um ligante endógeno dos repectores canabinóides) no fluído cérebro-espinhal humano (44) e níveis diminuídos de receptores canabinóides 1 (45). De fato, toda uma literatura pré-clínica crescente tem apontado o envolvimento dos receptores canabinóides 1 e seus ligantes endógenos com os efeitos motivacionais decorrentes do uso da cannabis (46). Assim como ocorre com a associação do uso da cannabis ao comprometimento cognitivo, é possível estabelecer, de modo inequívoco, se o uso da cannabis é causa, consequência ou correlato da motivação alterada. Pesquisas adicionais são necessárias para que se determine se os efeitos amotivacionais potenciais se relacionam com os transtornos do uso da cannabis em vez de estarem ligados ao uso da cannabis per se.

O USO DA CANNABIS AUMENTA O RISCO DE PSICOSE?

Uma das maiores controvérsias relacionadas ao uso da cannabis diz respeito ao seu efeito sobre o risco de transtornos psiquiátricos, em especial transtornos psicóticos e a esquizofrenia plenamente desenvolvida. Investigações longitudinais revelam uma sólida associação entre o uso de cannabis por adolescentes e a psicose. O uso da cannabis é considerado um fator de risco evitável para a psicose (47). A ligação entre o uso da cannabis e a esquizofrenia pode derivar de uma causalidade direta, de interações genético-ambientais, de etiologias compartilhadas ou da auto-medicação para sintomas pré-morbidos, embora alguns pesquisadores tenham sugerido que apenas as três primeiras hipóteses permaneçam questões em aberto (48-50). A emergência esporádica de dados conflitantes não deve surpreender, tendo-se em vista a natureza desse problema biológico específico. Por exemplo, os efeitos da exposição à cannabis podem ser modestos na população total e dependentes da presença de múltiplas variáveis genéticas e ambientais. Por outro lado, persiste uma polêmica duradora e legítima em relação a que proporção do risco de psicose pode ser atribuída ao uso da cannabis e, também, em relação a até que ponto indivíduos sem predisposição genética podem desenvolver a doença.

Apesar dessa ambiguidade, existem fortes evidências fisiológicas e epidemiológicas sugerindo uma ligação mecânica entre o uso da cannabis e a esquizofrenia. O tetrahidrocanabinol (principalmente em altas doses) pode causar psicose aguda, transitória e dependente da dose (sintomas positivos e negativos similares aos esquizofrênicos) (51). Além disso, estudos epidemiológicos, longitudinais e prospectivos apontam uma associação recorrente entre o uso da cannabis e a esquizofrenia, em que o uso da cannabis antecede a psicose (52) independentemente do consumo de álcool (53) e mesmo após a remoção (52, 54) ou o controle (55, 56) daqueles indivíduos que utilizaram outras drogas. Embora o período prodrômico anterior à doença plenamente instalada crie dificuldades para que se determine se o uso da cannabis precede os sintomas, ou se reflete uma tentativa de tratá-los, o uso da cannabis precedeu a psicose nesses estudos (52, 54, 57). Além disso, o uso persistente da cannabis após o primeiro episódio está associado com piores prognósticos (58) mesmo após o controle de outros usos de substâncias (59).

Embora o uso da cannabis possa ter sido interrompido muito tempo antes do surgimento da psicose, a idade em que se dá o início do uso da cannabis parece se relacionar com a idade em que eclode a psicose, o que sugere uma relação causal em relação ao início da psicose que independe do uso de fato (49, 60, 61). A associação entre o uso da cannabis e a psicose crônica (incluindo um diagnóstico de esquizofrenia) é maior naqueles indivíduos que fizeram uso abusivo ou frequente da cannabis durante a adolescência (53, 54, 60, 62, 63) ou em períodos anteriores (52), ou que utilizaram cannabis com THC de alta potência (60, 62). A partir desses estudos, estima-se que o uso constante da cannabis aumente em aproximadamente duas vezes o risco de esquizofrenia, o que explica de 8% a 14% dos casos (55), enquanto o uso frequente ou o uso de cannabis com THC altamente potente aumentam o risco de esquizofrenia em seis vezes (53). Coadunando-se a essa ideia, a maior disponibilidade do receptor canabinóide tipo 1 que teria sido encontrada em alguns pacientes com esquizofrenia (64, 65), e que se correlaciona com sintomas negativos (66), pode também contribuir para uma sensibilidade aumentada aos efeitos psicotogênicos do uso da cannabis. Nesse contexto, é importante ressaltar que a maioria dos indivíduos que usam cannabis não desenvolve esquizofrenia. Portanto, embora o uso de cannabis não seja necessário nem suficiente para o desenvolvimento da esquizofrenia, evidências disponíveis sugerem que o uso da cannabis pode dar início ao surgimento de doenças psicóticas duradouras em algumas pessoas (mais provavelmente indivíduos com vulnerabilidade genética) (67), e esse resultado nos convida a sérias reflexões do ponto de vista das políticas públicas de saúde.

Tem se tornado cada vez mais claro que a psicose aguda, os transtornos esquizofreniformes e a esquizofrenia são o resultado da interação de múltiplos fatores diversos operando em vários níveis. Por exemplo, a presença de um membro familiar próximo que seja portador de esquizofrenia é o mais poderoso fator de risco para a esquizofrenia; contudo, poucos investigadores associando o uso da cannabis e a esquizofrenia controlaram especificamente o risco de esquizofrenia familiar. Os resultados de um estudo (68) sugerem que o uso da cannabis pode levar à esquizofrenia em indivíduos com um histórico familiar da doença, quando comparados com indivíduos sem esse histórico. Todavia, o controle do risco familiar em um grande estudo epidemiológico (69) atenuou consideravelmente, embora não tenha completamente eliminado, a associação do uso da cannabis e a esquizofrenia, com razão de chances de 3,3 e 1,6 com atrasos temporais de 3 e 7 anos respectivamente.

Possíveis interações de três vias entre genótipo, uso da cannabis e psicose também foram analisadas. O genótipo DRD2 (OMIM 126450) influenciou na probabilidade de transtorno psicótico em indivíduos que usavam cannabis (70). Entre usuários ocasionais e usuários diários de cannabis, portadores do DRD2, rs 1076560, alelo T tiveram 3 vezes e 5 vezes maiores probabilidades de transtorno psicótico, respectivamente (70). Relatou-se, também, que o polimorfismo funcional COMTVal-158 modera o efeito do uso de cannabis durante a adolescência sobre a psicose adulta, de modo que era mais provável que os portadores desse alelo desenvolvessem transtornos esquizofreniformes se eles usassem cannabis do que os indivíduos não-portadores desse alelo (67). Em um estudo experimental sobre o THC (71), portadores do COMTVal apresentaram maior comprometimento cognitivo após exposição ao THC, e maior número de sintomas psicóticos, do que portadores do COMT Met/Met. Também foi relatado um genótipo AKT1 por interação com o uso da cannabis, sendo que aqueles indíviduos que apresentavam genótipos C/C rs 2494732 e que também utilizavam cannabis apresentaram o dobro das chances de apresentar um transtorno psicótico (72). Em outro estudo (73), os participantes portadores do genótipo AKT1C/C que faziam uso constante ou uso diário da cannabis apresentaram, respectivamente, probabilidades duas e sete vezes maiores de desenvolver transtorno psicótico quando comparados com usuários e usuários diários que fossem portadores T/T.

Os resultados que apoiam a hipótese que algumas variantes genéticas influenciam na probabilidade do desenvolvimento da esquizofrenia, mediante a exposição a certos aspectos ambientais (por exemplo, o uso de cannabis), refletem tentativas, ainda iniciais e hesitantes, de encontrar resultados dentro de um pequeno número de indivíduos, e que necessitam ser repetidas. (74). Uma explicação alternativa seria a de que indivíduos com alto risco genético de esquizofrenia tenham maior propensão a usar a cannabis através de um risco genético compartilhado de esquizofrenia e de transtornos do uso de cannabis. De fato, o relatório recente de um estudo de associação genômica ampla (75) de uma associação entre alelos de riscos de esquizofrenia e uso da cannabis sugere que uma parte da associação entre a esquizofrenia e o uso da cannabis pode se dever a uma etiologia genética compartilhada. Contudo, em um estudo (63), o uso de cannabis com THC de alta potência foi fortemente associado ao desenvolvimento posterior de esquizofrenia, ao passo que a recentemente apresentada pontuação de risco poligênica de esquizofrenia (76) não foi relacionada ao uso de cannabis ou à potência da cannabis utilizada (77).

Finalmente, assim como ocorre com usuários crônicos ou abusivos de cannabis (78), pacientes com esquizofrenia também apresentam volumes reduzidos da amídala e do hipocampo (79). Essa observação pode contribuir para explicar os piores resultados clínicos em indivíduos esquizofrênicos que usam cannabis, pois é provável que essas mudanças morfológicas estejam na base da exacerbação dos sintomas esquizofrênicos associada à cannabis, ou contribuam para tal exacerbação (80).

CONCLUSÃO

Décadas de legislações mal-informadas ou condescendentes em relação às drogas legais e ilegais impuseram à nossa sociedade um terrível preço a ser pago em termos de saúde. Está claro que o efeito cumulativo da exposição à nicotina e do uso de álcool sobre a morbidade e a mortalidade é enorme. Além disso, é preciso considerarmos os efeitos altamente nocivos da “guerra contra as drogas”, realizada pela justiça criminal, sobre as populações minoritárias e desfavorecidas. Os esforços atuais visando a legalização do uso da cannabis têm sido orientados sobretudo por uma combinação de ativismo popular, engenhosidade farmacológica e busca privada de altos lucros, com uma preocupante desconsideração das evidências científicas, das lacunas em nosso conhecimento, ou da possibilidade de consequências imprevistas. Tendo-se em vista o papel crucial e de amplo escopo do sistema endocanabinóide no cérebro (81-83), a utilização crescente da cannabis e o aumento dos transtornos relativos a esse uso ao longo das últimas décadas, assim como o aumento da concentração de THC na planta da cannabis, é preciso esclarecer quais aspectos da exposição à cannabis (por exemplo, a idade no início do uso, a quantidade usada, a frequência do uso, a duração do uso, e a potência da cannabis utilizada) apresentam maiores riscos no que diz respeito ao desenvolvimento de transtornos do uso da cannabis e à eclosão de outras consequências adversas (por exemplo, déficits cognitivos, falta de motivação, ou psicose). Além disso, existem muitas questão que ainda não obtiveram resposta, e que se relacionam mais diretamente com a qualidade de políticas rapidamente implementadas. Por exemplo, a propaganda será permitida? Quais padrões de uso e efeitos tóxicos associados surgirão se os cigarros elétricos de maconha se tornarem difundidos ou até mesmo um hábito cotidiano entre os adolescentes? Como o aumento de usuários de cannabis gestantes pode afetar o desenvolvimento dos fetos expostos a essa prática? Finalmente, quais são as consequências do fumo passivo da cannabis?

Se nos deixarmos levar pela tendência atual, é provável que sejam descobertos efeitos que eram raros no passado unicamente pelo fato de que o uso não era então tão disseminado quanto o das drogas legais. As populações vulneráveis, tais como crianças, adolescentes, idosos ou indivíduos com outros transtornos, podem experimentar efeitos tóxicos inéditos (assim como potenciais benefícios). A transformação do cenário em que se dá o uso da cannabis (por exemplo, os problemas decorrentes de THC mais potente, novos meios de administração da droga [como inalação do vapor da maconha e maconha comestível] e novas combinações da droga) e o surgimento, em nossa cultura, de novas normas e percepções levantam a possibilidade de que nosso conhecimento atual, sempre limitado, possa se aplicar apenas aos modos pelos quais a droga foi utilizada no passado.

As áreas exploradas nesse artigo, que refletem apenas um subconjunto dos múltiplos efeitos do uso da cannabis sobre o cérebro e sobre o corpo, não fazem jus à onipresença do sistema de sinalização canabinóide. Portanto, além de expandir nossas pesquisas básicas, devemos aprender o máximo e mais rápido que pudermos com as mudanças em curso nas políticas locais, para que assim possamos minimizar os danos e maximizar os potenciais benefícios.


Fonte:www.antidrogas.com