sábado, 31 de dezembro de 2016

Psiquiatra alerta para perigos do excesso de álcool nas festas de fim de ano


 

De 2006 a 2012, uso do álcool aumentou mais entre mulheres que entre homens Arquivo/Agência Brasil
Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil

Época de emoções e também de excessos, principalmente de álcool, as festas de final de ano acendem um alerta vermelho que deve ser levado em conta pelos cidadãos, recomendou o presidente da Associação Brasileira de Alcoolismo e Outras Drogas (Abrad), psiquiatra Jorge Jaber Filho.

Em entrevista hoje (26) à Agência Brasil, Jaber informou que, do ponto de vista fisiológico, o ser humano tem necessidade de algumas substâncias químicas no cérebro, que são os neurotransmissores, que se assemelham às moléculas das drogas, como o álcool, o tabaco, a cocaína, a maconha.

“Há uma tendência na vida das pessoas, que se radicaliza nesse momento de datas festivas, de haver falta dessa substância no cérebro. Aí, a pessoa toma alguma substância, como o álcool, que é um estimulante em pequenas doses, mas que, se tomado em excesso, acaba produzindo o efeito inverso. Em vez de um estímulo ao sistema nervoso central, ela passa a ter uma inibição desse sistema, fazendo com que aumente ainda mais a depressão, decorrente muitas vezes da lembrança de pessoas queridas que não estão mais presentes”, disse o psiquiatra.

Segundo Jaber, há uma inversão de valores nas festas de fim de ano, com crescimento do aspecto mais materialista da data, e não dos valores espirituais. “Assim, as pessoas acabam abusando dessas substâncias, que adicionam no organismo, como adicionam comidas”. Ele explicou que, a partir daí, há um abuso que pode ser o fator determinante de doenças como alcoolismo e dependência química.

O psiquiatra salientou que, nessa época, costuma aumentar o número de internações tanto em hospitais de pronto-socorro como em clínicas psiquiátricas. “A situação da saúde pública ainda não conseguiu resolver a questão de leitos hospitalares e, em relação à saúde mental, vigora a política da redução do dano. Ou seja, a pessoa pode usar [álcool, no caso], desde que não cometa atos que piorem a sua vida”. Segundo ele, o Brasil está experimentando esse tipo de política, mas, aparentemente, não tem tido o sucesso esperado. Isso é constatado pela existência de cracolândias, áreas onde se reúnem centenas de pessoas drogadas, principalmente nas grandes metrópoles.

Jaber lembrou que quase todas as pessoas que usam álcool começaram usando tabaco e daí passaram para a maconha. “Quase todos os que usam maconha começaram com tabaco ou álcool. Essas três drogas são fundamentais para levar ao uso da cocaína.”

De acordo com o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), feito pelo Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas da Universidade Federal de São Paulo, a proporção de bebedores frequentes (que bebem uma vez por semana ou mais) subiu 20% no país entre 2006 e 2012, passando de 45% para 54%. A expansão entre as mulheres (34,5%) foi maior do que entre os homens (14,2%), no período pesquisado.

Em termos de concentração do consumo de álcool, o levantamento mostra que 20% dos adultos brasileiros que mais bebem ingerem 56% de todo o álcool consumido. A pesquisa revela ainda que quase dois de cada dez bebedores apresentaram critérios para abuso ou dependência de álcool e que 32% dos adultos que bebem relataram não terem sido capazes de parar depois que começaram a beber.

O levantamento constatou também a relação entre abuso de álcool e depressão. Dos 5% de brasileiros que tentaram tirar a própria vida entre 2006 e 2012, em mais de dois de cada dez casos, o que equivale a 24%, a tentativa estava relacionada ao consumo de bebidas alcoólicas.

Para o presidente da Abrad, a tendência é aumentar o uso de álcool no Brasil. “O que nós temos visto é um aumento do custo na saúde pública da liberação do álcool para menores de 18 anos. E isso leva a um abuso cada vez mais cedo nos jovens, gerando alterações físicas e mentais muito importantes”. Jaber criticou a falta de fiscalização na venda de bebidas para crianças e adolescentes, principalmente em postos de gasolina, onde os jovens compram suco ou refrigerante e tomam misturado a álcool. “Todos veem isso acontecer e não há um efetivo combate a essa prática.”

O psiquiatra ressaltou que não há distinção de classe social ou de nível socioeconômico entre os bebedores de álcool no país. “Os mais abastados costumam misturar vodca com bebidas energéticas ou cafeínicos, enquanto os menos abastados procuram tomar cerveja com cachaça ou fazer essas misturas chamadas batidas, que misturam cachaça com refrescos ou refrigerantes”. Ele destacou ainda que, nas comunidades carentes, a situação econômica favorece a venda de substâncias ilícitas, como o álcool, entre menores de idade. (Alana Gandra)
Edição: Valéria Aguiar
Fonte: Agência Brasil 

Verão, adolescentes e álcool


 

No verão a combinação dos elementos “férias” e “calor” pode criar um cenário de maior risco para que jovens experimentem bebidas alcoólicas, o que exige atenção redobrada da família. O álcool, que é a substância mais consumida pelos jovens, pode comprometer o Sistema Nervoso Central (SNC), que ainda está em desenvolvimento durante a adolescência. Por isso, o consumo de álcool por crianças e adolescentes é inaceitável. Ademais, somado à impulsividade comum nessa faixa etária, o consumo de bebidas alcoólicas pode favorecer comportamentos de risco e prejudicar o desempenho na escola.

Dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2015 realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram que, entre alunos de 13 a 15 anos, a experimentação de álcool subiu de 50,3% em 2012 para 55,5% em 2015. Além disso, 21,4% desses adolescentes relataram já terem sofrido algum episódio de embriaguez na vida. A pesquisa mostrou também que meninas dessa faixa etária estão bebendo mais que os meninos, sendo que a taxa de experimentação de álcool é maior entre elas (56,1% vs. 54,8%) e também o uso de álcool nos últimos 30 dias (25,1% vs. 22,5%).

Esses dados são particularmente preocupantes, considerando que elas são mais sensíveis aos efeitos do álcool. Isso ocorre principalmente por dois motivos: a quantidade de água presente no corpo feminino é menor, o que faz com que o álcool fique muito mais concentrado; as mulheres apresentam menores níveis das enzimas que metabolizam o álcool, e por isso demoram mais para eliminá-lo do organismo. No caso das meninas, um estudo mostrou que problemas com a imagem corporal podem estar relacionados ao uso de álcool.

Diante desse cenário, o CISA recomenda aos pais e familiares que conversem com seus filhos sobre o tema para preveni-los do uso nocivo de álcool. Lembrando que, para estabelecer limites, não é preciso fazer sermões e ser autoritário: mostrar apoio e ser amável durante o diálogo gera uma relação de confiança. Ressaltamos ainda que crianças e adolescentes estão sempre atentos às atitudes dos pais, por isso é fundamental ter atitudes e hábitos saudáveis: você é o exemplo mais importante para seus filhos.
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Quando o álcool e a droga destroem uma família




VEJA - Blog Letra de Médico
por Ronaldo Laranjeira
Se hoje o Brasil não dispõe de uma política de drogas eficiente no que diz respeito à prevenção e tratamento para usuários, o que dizer então de iniciativas voltadas aos seus familiares?

Sempre que falamos sobre o problema da dependência química, obviamente, uma das primeiras coisas que vem à mente é o usuário de drogas. Porém, ele não é o único impactado por essa tragédia social. No âmbito familiar, para cada usuário de drogas existem mais quatro pessoas afetadas, em média, segundo dados do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas (Inpad), atingindo 28 milhões de brasileiros aproximadamente.

Pela minha experiência, reforçada por Maria de Fátima Padin, coautora deste texto, posso afirmar que o mais curioso é que a dimensão da consequência que o uso de drogas provoca no núcleo familiar é raramente abordada pela mídia e governantes, ou estudada por pesquisadores na proporção que deveria. A família, ao mesmo tempo em que é um dos pilares na luta contra a dependência química, é um dos grupos mais afetados por ela em diversos aspectos, necessitando de apoio específico.

Um dos maiores estudos feitos até o momento sobre o tema foi o Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos (Lenad Família), conduzido pelo Inpad. E os dados levantados são, no mínimo, preocupantes: 22% da população brasileira foi vítima de violência doméstica na infância, sendo que, em 20% dos casos, o abusador estava alcoolizado. A cocaína está associada a 31% dos casos de violência física na infância, enquanto a maconha está ligada a 12% das ocorrências do tipo.

Se hoje o Brasil infelizmente não dispõe de recursos e de uma política de drogas eficiente no que diz respeito à prevenção e tratamento para usuários, o que dizer então de iniciativas voltadas aos seus familiares? Os números acima mostram apenas parte do problema, e por si só já são alarmantes. Estamos falando de pessoas que necessitam de suporte para lidar com o uso de substâncias psicoativas por um pai, mãe ou filho, enfim, diminuindo as possibilidades de violência e desenvolvimento de transtornos emocionais, provocados pela situação.

Como mencionado antes: a família é um dos principais pilares na luta contra a dependência química e nossos governantes têm de prestar atenção nesse público específico, que, comumente não sabe lidar com tal circunstância. A qualificação de pessoas, para se comunicar assertivamente com seus parentes sobre drogas é crucial; porém nas metrópoles os programas públicos que oferecem esse tipo de recurso são escassos.

Um dos poucos que existem está em São Paulo e tem o objetivo de orientar e apoiar os familiares de dependentes químicos, oferecendo acesso a dados sobre tratamento, atendimentos individuais, além de terapia em grupo.

(Para saber mais, acesse o site: www.programarecomeco.sp.gov.br)

Ainda segundo dados do Lenad Família, 8% da população foi exposta ao consumo de drogas ilícitas no ambiente familiar, o que, sem dúvidas, contribui para a preocupação com o modelo que nossas crianças estão vivenciando.

Aproximadamente metade dos jovens que têm entre 14 e 25 anos consome bebidas alcoólicas, número que passa a 26% entre menores de idade, de acordo com dados do Inpad. Já 36% dos jovens que informaram o consumo fazem uso nocivo do álcool semanalmente. Passando para as drogas ilícitas, a porcentagem da população jovem que afirmou ter usado maconha chega a quase 5%.

Quando analisamos o quadro por completo, vemos um problema complexo, porém, com solução. Parte dela deve começar na escola, com a aplicação de orientações sobre prevenção ao uso de substâncias e à violência, como parte do currículo escolar. Além disso, é fundamental propiciar às famílias orientações sobre como lidar com as drogas, principalmente às que tiverem integrantes usando substâncias psicoativas, Os pais são os melhores “agentes de prevenção” que temos. Isso é investir em prevenção e tratamento, que se caracteriza como uma das principais formas de combater o problema das drogas, evitando inclusive o encarceramento de usuários, que está longe de ser a solução.

Mas tais medidas só serão eficazes se os governos, em seus diversos âmbitos, adotarem políticas claras de prevenção. Do jeito que o debate é conduzido hoje, de forma improdutiva e sem ações concretas, continuaremos apostando em políticas que simplesmente não dão resultados. Agora, ações como a conscientização e educação da população sobre uso de substâncias psicoativas, aliadas à oferta de atendimento de qualidade contra a dependência química, essas sim, provocarão uma profunda mudança em nosso país.
por Ronaldo Laranjeira
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

Abuso de drogas e suas consequências na saúde bucal: uma revisão de literatura


 


Portal Metodista - Faculdade de Odontologia /2016
Lídia Audrey Rocha Valadas, Edilson Martins Rodrigues Neto, Mara Assef Leitão Lotif, Antônio Pergentino Nunes Neto, Joelma Martins Mororó, Patrícia Leal Dantas Lobo

Resumo: O abuso de drogas é um dos principais problemas sociais e de saúde pública do mundo. Alguns estudos sugerem um aumento significativo do número de dependentes químicos com manifestações orais decorrentes do consumo de drogas, bem como a falta de conhecimento por parte dos cirurgiões-dentistas quanto ao assunto. Objetivou-se nesse artigo realizar um levantamento na literatura acerca das principais consequências na cavidade bucal decorrentes do consumo das drogas lícitas e ilícitas mais utilizadas. Para isso, realizou-se uma revisão de literatura de artigos publicados sobre o assunto, sobretudo, por meio dos bancos de dados MEDLINE e LILACS, utilizando como descritores as seguintes palavras: “manifestações bucais”, “drogas de abuso”, “alterações bucais”. Dessa forma, foram selecionados 25 artigos publicados entre 1985 e 2012. O uso de substâncias psicoativas pode gerar vários danos a saúde oral que vão desde halitose e gengivite ao câncer de boca. Com o cirurgião dentista realizando o reconhecimento inicial, o dependente químico pode receber tanto o tratamento odontológico quanto ser encaminhado aos demais profissionais da saúde, visando o acompanhamento multidisciplinar de acordo com as necessidades individuais de cada paciente.

Palavras-chave
Manifestações orais; Drogas de abuso; Álcool.

Texto completo:
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Insegurança faz garota beber mais


 


Jornal o Estado de S. Paulo
Estudo indica aumento do uso e do abuso de álcool entre os mais jovens, particularmente entre as meninas
Jairo Bouer
Foto: Michaela Rehle/Reuters

Levantamentos recentes já haviam apontado o fenômeno do aumento proporcional do consumo e abuso de álcool entre mulheres mais jovens

Garotas que têm uma percepção distorcida da sua imagem corporal correm maior risco de abusar do álcool. Estudos divulgados na semana passada mostram avanços importantes na abordagem do uso e do abuso de álcool entre os mais jovens, particularmente entre as meninas.

Pesquisadores da Universidade de Tufts, nos Estados Unidos, investigaram 6,5 mil garotas entre 14 e 18 anos e concluíram que uma autoimagem negativa aumenta a chance de comportamentos de risco. Quase 68% das entrevistadas já tinham bebido pelo menos uma vez na vida, 38% tinham uma percepção distorcida de si mesmas e 18% abusaram de álcool nos 30 dias antes da pesquisa. O risco de abuso foi quase 20% maior entre aquelas inseguras com seu corpo. O consumo mais pesado do álcool foi mais comum entre as meninas mais velhas, nas de origem latina, nas que já fumavam e entre aquelas que tinham iniciado sua vida sexual.

Precocemente. Os resultados vão ser publicados na edição de janeiro do periódico médico Journal of Studies on Alcohol and Drugs e foram antecipados pelo jornal inglês Daily Mail.

O trabalho não investigou especificamente as causas desse abuso de álcool, mas é possível que esse seja um comportamento adotado na tentativa de elas relaxarem, ficarem mais confortáveis com seu corpo e se sentirem mais aceitas pelo grupo. Ainda existe uma relação possível do uso de bebida como um recurso para diminuir ou controlar a fome naquelas que se enxergam acima do peso.

Levantamentos recentes já haviam apontado o fenômeno do aumento proporcional do consumo e abuso de álcool entre as mulheres mais jovens, sendo que em alguns países elas já bebem mais do que os garotos. Interessante pensar que parte desse fenômeno, além das transformações sociais que deixaram o comportamento entre os dois gêneros cada vez mais parecido, pode ter relação com a insatisfação com questões físicas e corporais, que tendem a ser mais frequentes entre as mulheres.

Geração mais “limpa”. Novos dados também divulgados na última semana revelam que uma nova geração de 8 a 15 anos, que bebe e fuma menos, pode estar a caminho. Números do NHS(Sistema Nacional de Saúde, do Reino Unido), mostram que apenas um em cada seis jovens (17%) nessa faixa etária já bebeu. Em 2003, esse índice era de 45%. Em relação ao cigarro, 4% já fumaram. Em 2003, 19% já tinham experimentado o tabaco. A pesquisa avaliou 5.700 crianças.

Segundo os especialistas, o fenômeno se deve, em parte, ao fato de crianças e jovens ficarem cada vez mais tempo conectados na internet, dentro de suas casas. Eles têm frequentado menos festas, parques, ruas e pubs e, portanto, ficam menos expostos à influência dos pares para o consumo de álcool e cigarro.

Os alertas em relação aos riscos das substâncias podem ter chegado, também, com mais força a essa geração, sinalizando que a educação nas escolas para o consumo responsável e as campanhas de informação complementam as estratégias de prevenção. O maior controle nos pontos de venda também pode ter efeito na queda do consumo por menores de 18. Assim, os jovens têm hoje mais subsídios para fazer melhores escolhas.

Nos Estados Unidos, existe tendência semelhante. Um novo levantamento divulgado pela Universidade de Michigan,Monitoring the Future (Monitorando o Futuro), que contou com a participação de mais de 45 mil estudantes americanos de 14, 16 e 18 anos, mostra que apesar de o álcool continuar sendo a droga mais utilizada no país pelos jovens, seu consumo está em queda nos últimos anos. Os dados são da agência de notícia Efe e doDaily Mail.

Em 2016, pouco mais de um terço dos adolescentes de 18 anos já bebeu nos EUA (37%). Em 2001, esse valor era de 53%. O consumo de outras drogas também caiu no geral. A única exceção é a maconha, cujo consumo se manteve estável nos últimos anos.

Por aqui, além de um melhor controle da venda de álcool para menores, ações nas escolas, mais campanhas de prevenção e engajamento de jovens em projetos que focam no consumo responsável podem trazer resultados semelhantes em um futuro próximo.
Jairo Bouer é Psiquiatra
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas