quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Oncologistas pedem diminuição do consumo de álcool para evitar câncer


 


O consumo de álcool está associado diretamente e indiretamente ao aumento do risco de vários tipos de câncer (Foto: Marcelo Ikeda Tchelão/Pixabay)

Uma das sociedades de oncologia mais influentes do mundo, a ASCO, exorta médicos a orientarem sobre os efeitos negativos que o consumo tem sobre a doença.

O uso de álcool, seja leve, moderado ou pesado, está associado ao aumento do risco de vários tipos de câncer, incluindo os da mama, do cólon, do esôfago, e da cabeça e do pescoço. É assim que começa um informe de evidências sobre o uso de álcool e câncer de uma das sociedades de oncologia mais influentes no mundo, a American Society of Clinical Oncology (ASCO).

A orientação, divulgada essa semana, é importante porque coloca o álcool como um fator de risco definitivo para o câncer, de forma indireta ou indireta. Diretamente, a ASCO cita que cerca de 6% das mortes no mundo estão associadas diretamente ao consumo de álcool. Ainda, segundo a entidade, não só o consumo pode levar ao câncer, mas também ele afeta negativamente o tratamento.

"As pessoas geralmente não associam beber cerveja, vinho e licor com o aumento do risco de desenvolver câncer em suas vidas", disse Bruce Johnson, presidente da ASCO, em nota. "No entanto, a ligação entre o aumento do consumo de álcool e o câncer está muito bem estabelecida", diz.

O estudo aponta que o etanol danifica o DNA de células saudáveis, o que pode fazer com que elas cresçam desordenadamente, provocando tumores. Também o acetaldeído -- produto da digestão do álcool -- contribui para essa influência negativa do álcool no genoma.

No caso de mulheres, o álcool também contribui para o aumento da quantidade de estrógeno no corpo -- o que é um fator de risco para câncer de útero, ovário e mama. "Isso é particularmente importante para mulheres adeptas de tratamento hormonal na menopausa", diz a ASCO.

O consumo de álcool também prejudica a absorção de vitaminas no corpo e leva ao aumento de peso, fatores também associados a uma maior chance de desenvolver câncer.

Em pesquisa sobre a percepção do americano sobre o câncer, a entidade mostrou que apenas 38% deles estavam limitando sua ingestão de álcool como forma de reduzir seu risco de câncer. No Brasil, pesquisa da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica mostrou que o brasileiro desconhece fatores de risco comuns: como a obesidade, o uso do cigarro e doenças sexualmente transmissíveis.

O relatório da ASCO também publicou diretrizes para contribuir para a diminuição do consumo de álcool:

* Limitar a venda em alguns horários e dias;
* Aumentar os impostos e o preço;
* Fiscalizar a aplicação da lei que proíbe a venda a menores de 18 anos;
* Restringir a exposição dos jovens à publicidade de bebidas alcoólicas;
* Incluir estratégias de controle de álcool em planos abrangentes de controle de câncer.

Por fim, a entidade também pediu o desencorajamento de que indústrias de bebidas se engajem em campanhas de prevenção contra o câncer -- como, por exemplo, o outubro rosa -- "já que o consumo de bebida está associado a um risco aumentado do câncer, principalmente o de mama", disse a entidade.
Fonte: Bem Estar, G1.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Por que beber na frente dos filhos é um péssimo hábito


 


Na pesquisa, cerca de uma em cada cinco crianças disse sentir vergonha dos pais quando eles estão alcoolizados. (//iStock)

Ingerir bebidas alcoólicas perto das crianças pode torná-las mais tristes, ansiosas e preocupadas, mesmo se o consumo for moderado

Um em cada dez pais afirma ter ingerido álcool na frente de seus filhos e metade deles já ficou embriagada, de acordo com uma nova pesquisa do Institute of Alcohol Studies, do Reino Unido. Esse comportamento, independentemente da quantidade consumida, pode impactar a saúde mental das crianças, tornando-as mais retraídas e preocupadas.

Dessa forma, mesmo os pais que não possuem dependência alcoólica podem causar problemas aos filhos – menos de catorze unidades de álcool por semana (140 mililitros ou 112 gramas) – o consumo moderado, equivalente a sete pints de cerveja, por exemplo – é suficiente para desencadear efeitos negativos nos pequenos.

Efeitos negativos

Segundo os especialistas, ao notar os pais alterados pela bebida as crianças ficam preocupadas com o comportamento imprevisível dos adultos e se sentem menos confortáveis do que o habitual, o que pode atrapalhar a rotina e o sono delas.

Além disso, o estudo mostrou que os filhos perdem a confiança e tendem a não considerar os pais como modelos a ser seguidos. Para os cientistas, as novas descobertas surgem como um alerta para os pais que podem estar, inconscientemente, banalizando as consequências físicas e psicológicas do consumo do álcool.

A pesquisa

Esse é o primeiro estudo do gênero a examinar os efeitos que o consumo de bebidas alcoólicas pelos pais pode ter nas crianças. Os pesquisadores utilizaram dados de cerca de 1.000 pais e seus filhos a partir de questionários on-line, grupos de foco e consultas públicas com profissionais da área.

Pais e filhos

Os resultados mostraram que 29% dos pais acreditam que não há problema em beber perto dos filhos, desde que não seja algo recorrente. Por outro lado, 51% afirmaram já ter se embriagado na frente das crianças.

Já pelo ponto de vista das crianças entrevistadas, de 11 e 12 anos, o álcool é como se fosse um “açúcar para adultos“. Cerca de uma em cada cinco crianças disse sentir vergonha dos pais quando eles estão alcoolizados, 15% das crianças disseram ter dormido muito mais cedo ou muito mais tarde que o normal, 12% disseram que os pais prestam menos atenção neles, 11% se sentiam preocupadas e 7% disseram brigar mais com os pais nesses momentos.

“Vivemos em uma cultura que celebra o álcool”, disse Viv Evans, da instituição britânica Alcohol and Families Alliance. “Esperamos que este estudo seja um meio de alertar os pais e a todos sobre a importância de prevenir problemas com o álcool antes que eles surjam.”
Fonte: Veja

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Efeitos do álcool no corpo: excesso causa demência, pancreatite, infertilidade e mais


 


Por Ligia Lotério
Engana-se quem acha que os efeitos do álcool no organismo se resumem ao enjoo e sociabilidade que ele confere. O consumo frequente dessa substância afeta todo o corpo e aumenta o risco de desenvolver doenças graves. Entenda:

Como o álcool é processado pelo corpo?

O cardiologista Laercio Natal Fonseca Júnior, da Clínica Megamed, explica que, após a bebida alcoólica ser ingerida, ela passa pelo estômago de maneira muito rápida e é encaminhada para o intestino delgado. Lá, entra na corrente sanguínea e é distribuída para todas as partes do corpo.

Uma parcela da substância passa pelo fígado, em que é metabolizada e eliminada pela urina, suor e respiração. Já outra demora mais para ser processada, sendo necessárias diversas passagens por este órgão até que seja totalmente eliminada.

Efeitos do excesso de álcool no organismo

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, não há níveis seguros de consumo de álcool. No entanto, o risco de problemas de saúde é ainda maior quando a ingestão ultrapassa duas doses por dia ou nos casos em que o indivíduo não para de beber ao menos dois dias na semana.

A seguir, veja efeitos prejudiciais do álcool:

No cérebro



Resistência à substância

Segundo o cardiologista Laercio, o álcool interfere no neurotransmissor ácido gama-aminobutírico (GABA), que controla a ansiedade, o que explica a sensação calmante que ele confere.

Apesar do benefício momentâneo, o consumo excessivo e/ou constante faz com que os neurônios se tornem resistentes à influência dessa substância, criando a necessidade de beber cada vez mais para conseguir a esperada sensação de relaxamento.

"Isso explica por que muitas pessoas bebem volumosas quantias de álcool e ainda parecerem sóbrias", exemplifica o médico.

Demência e problemas de memória

A cognição também é afetada pelo álcool, gerando problemas que vão desde a perda de memória até demência.

Além disso, a pessoa pode perder a sensibilidade dos nervos espalhados pelo corpo, sentindo dormência e formigamento.

No estômago

O tecido do estômago sofre com o etanol, pois ele aumenta a produção de ácido gástrico e predispõe o desenvolvimento de úlceras e doenças como a síndrome de Mallory-Weiss, que causa ferida e sangramento nas paredes que unem o estômago ao esôfago.

No fígado



Esteatose hepática

Os efeitos do álcool no corpo geram acúmulo de gordura no fígado. A condição é chamada de esteatose hepática e tem risco de evoluir para cirrose.

Hepatite

Como modifica diversas estruturas celulares, o álcool ainda leva à inflamação celular crônica do fígado que resulta em hepatite, doença causadora de dor ou desconforto abdominal, inchaço e falta de apetite.

Cirrose hepática

Em alguns casos, as células não resistem à ação do etanol e morrem, sendo substituídas por um tecido fibroso que reprime a função do fígado. Esse quadro é grave e a falta de cuidado pode levar à morte.

Nos olhos

O alcoolismo gera deficiência de vitamina B1 e zinco. A carência dessas substâncias causa inflamação do nervo óptico, quadro que provoca dor e problemas de visão, como cegueira parcial ou total e vista embaçada.

Pâncreas



Ainda pode haver pancreatite, que é a inflamação crônica do pâncreas. Em casos graves, a doença gera tecido necrosado que compromete as atividades do órgão.

No aparelho reprodutor

O etanol ainda aumenta a acidez e eleva a velocidade pela qual as células se reproduzem, o que afeta a fertilidade.

Nos rins



A função renal também sofre interferência: o fluxo de urina e a concentração de eletrólitos no sangue são aumentados. Com isso, pode haver doença renal crônica.
Fonte: Vix.com

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Como pais estão contribuindo para o consumo de álcool dos filhos


 


Prevenção do alcoolismo começa em casa (Foto: Dercílio//Como pais estão contribuindo para o consumo de álcool dos filhos/SAÚDE é Vital)

Revisão brasileira desvenda os principais fatores familiares por trás do abuso de cerveja e afins entre jovens
Por Vand Vieira

Pouco mais da metade dos alunos que estão no primeiro ano do ensino médio no Brasil já experimentaram algum tipo de bebida alcoólica, segundo o levantamento mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São, para sermos exatos, 55% dos jovens entrevistados, o que representa 1,44 milhão de adolescentes e um aumento de quase 5% em comparação a 2012.

Motivados por pesquisas internacionais como essa, um grupo de cientistas australianos e holandeses se debruçou sobre 131 estudos relacionados ao assunto para descobrir o papel que pais e mães desempenham nessas estatísticas. Pois dois pontos se sobressaíram: a quantidade de álcool disponível em casa e a relação que os adultos têm com cerveja, uísque e companhia influenciam bastante na idade dos primeiros goles.

De acordo com os responsáveis pela análise, se os pais costumam compartilhar experiências engraçadas ou agradáveis regadas a drinques, os filhos criam expectativas positivas sobre o hábito. E, claro, isso favorece a experimentação precoce.

“É fundamental orientar os mais novos sobre as consequências do consumo de bebidas alcoólicas para que eles façam escolhas saudáveis no presente e no futuro”, avalia Arthur Guerra, presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), em São Paulo.

A questão é especialmente importante quando essa ingestão se torna abusiva ou se incita, anos pra frente, condutas perigosas, como dirigir bêbado. O que se pede, em resumo, é sinceridade sobre os efeitos do álcool.

Para facilitar essa tarefa, Guerra e seus colegas desenvolveram o livreto “Como Falar Sobre Uso de Álcool com Seus Filhos”, disponível no site http://www.cisa.org.br. O principal recado é evitar sermões, sendo claro, didático e imparcial na medida do possível.
Fonte: Saude Abril

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Quais os riscos de consumir álcool na gravidez?


 


Pesquisadores britânicos buscaram evidências sobre possíveis danos causados pelo consumo de álcool por gestantes (Foto: Pixabay)

Estudo aponta escassez de evidências sobre possíveis danos fetais causados pelo baixo consumo de álcool por mulheres grávidas. Especialistas chamam a atenção para falta de pesquisas sobre o assunto.
Por Deutsche Welle

Ao mesmo tempo que há uma grande conscientização sobre a chamada síndrome do alcoolismo fetal – danos fetais em caso de ingestão de bebidas alcoólicas pela mãe durante a gravidez –, não se sabe ao certo se o álcool deveria ser completamente vetado ou se há um limite seguro para o consumo durante a gestação.

Em artigo publicando nesta terça-feira (12) pelo periódico científico britânico BMJ Journal, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Bristol afirma ter encontrado um número "surpreendentemente limitado" de estudos sobre o baixo consumo de álcool durante a gravidez e "escassez de evidências" sobre possíveis danos fetais.

A equipe realizou uma ampla pesquisa sobre dados de mulheres grávidas que consumiram quatro unidades de bebidas alcoólicas por semana – um total de 40 mililitros de álcool puro – o que, no Reino Unido, é considerado um consumo leve. Uma unidade corresponde a um copo de cerveja, meia taça de vinho, ou meia dose de bebidas destiladas mais fortes.

Para os britânicos, o limite recomendado a adultos é de 14 unidades semanais, mas para as grávidas, aconselha-se a abstinência total. As recomendações variam de país para país. Segundo os autores, até 80% das mulheres no Reino Unido, Nova Zelândia e Austrália consomem alguma bebida alcoólica durante a gravidez.

Neste ano, o Serviço Britânico de Aconselhamento sobre a Gravidez pediu que as autoridades não "exagerem sobre os risco de consumir pequenas quantidades de álcool" durante a gestação.

Na França, vinicultores se queixaram dos planos do governo de ampliar avisos nas garrafas sobre o consumo de álcool durante a gravidez. Alguns ativistas nas redes sociais acusaram as autoridades de "aterrorizarem" mulheres grávidas.

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou em maio deste ano uma campanha para alertar mulheres para a síndrome alcoólica fetal. O Ministério da Saúde, no entanto, reconhece a dificuldade de diagnóstico e o consumo significativo de bebidas alcoólicas pelas gestantes no país.

Melhor prevenir que remediar

O estudo divulgado nesta terça, baseado em 26 pesquisas sobre o assunto, afirma que foram encontradas evidências de que consumir até quatro unidades de álcool por semana pode estar associado a um risco mais alto de que o bebê venha a nascer em tamanho menor ou prematuramente. No entanto, os pesquisadores afirmam que os dados não são conclusivos.

"Ficamos surpresos com o fato de esse tema tão importante não ter sido pesquisado tão amplamente quanto esperávamos", afirmou Loubaba Mamluk, da Faculdade de Medicina Social e Comunitária da Universidade de Bristol.

"Na falta de provas mais contundentes, a recomendação às mulheres de se manterem longe do álcool durante a gravidez deve ser mantida como medida de precaução, sendo a opção mais segura", afirmou.

No entanto, mulheres que beberam pequenas quantidades de álcool durante a gravidez, talvez inadvertidamente, "devem ser asseguradas de que é muito pouco provável que tenham causado danos consideráveis a seus bebês", afirmam os pesquisadores.

Ainda que não esclareça a questão, a pesquisa chama a atenção para a falta de evidências dos danos causados pelo álcool em fetos.
Fonte: Bem Estar G1

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Álcool, remédios e cigarro interferem na fertilidade, diz especialista


 


© iStock
Drogas, obesidade e cigarro podem interferir nas taxas de gestação.

Apesar de a infertilidade ser, muitas vezes, de causa indeterminada, pesquisadores sugerem que certos fatores ligados ao estilo de vida podem fazer a diferença na hora de engravidar. De acordo com Renato de Oliveira, ginecologista responsável pela área de reprodução humana da Criogênesis, estatisticamente, a infertilidade decorre em 30% dos casos de fatores masculinos, 30% de fatores femininos, 30% em ambos e 10% sem causa aparente. “A principal causa de infertilidade masculina é desconhecida (chamada de idiopática). Porém, destaca-se a varicocele, doença que provoca um defeito valvular nos vasos sanguíneos que envolvem os testículos. A mulher tem como principais causas de infertilidade a endometriose, alterações tubárias, distúrbios da ovulação, destacando a síndrome dos ovários policísticos e alterações uterinas”.

Sabe-se que fatores genéticos também possuem relação com a infertilidade. Porém, segundo o especialista, há um conceito denominado epigenética, que representa a interferência do meio ambiente na expressão dos genes. Assim, o estilo de vida poderia impactar seriamente nas chances de conceber. Abaixo, o especialista lista os fatores ambientais que estão diretamente ligados à infertilidade.

Obesidade - O peso acima do ideal interfere no ciclo hormonal da mulher e é um fator prejudicial à fertilidade, pois a gordura corporal em excesso, principalmente à abdominal, produz uma maior quantidade de estrógeno que interfere no ciclo reprodutivo. Nos homens, o excesso de peso reduz o nível de testosterona, o que compromete a produção seminal.

Tabagismo - Fumar é um perigo à fertilidade feminina, pois associa-se ao envelhecimento prematuro do sistema reprodutivo, o que interfere no desenvolvimento embrionário e, consequentemente, reduz a taxa de gravidez. Já o tabagismo masculino está associado à redução na qualidade do sêmen, incluindo concentração de espermatozoides, morfologia e efeito potencial na função espermática, além das alterações nos níveis hormonais.

Álcool - Nos homens, o álcool reduz os níveis de testosterona, bem como a qualidade e a quantidade do espermatozoide. Isso acontece porque as células produtoras de testosterona atrofiam e há uma diminuição dos hormônios masculinos. Além disso, pode afetar o desejo sexual e levar o indivíduo à impotência por prejudicar à ereção. Já nas mulheres, o álcool pode dificultar a produção hormonal feminina, alterar a libido e interferir na ovulação ou na qualidade dos gametas.

Drogas e anabolizantes - Se usadas por tempo prolongado, as drogas podem resultar em disfunção ovulatória e, consequentemente, irregularidade menstrual. Nos homens, reduz a libido e aumenta o número de espermatozoides defeituosos. Além da disfunção erétil e da atrofia dos testículos, pode ocorrer a diminuição da produção de sêmen. Nas mulheres, além de ganhar traços masculinos, pode interferir na ovulação.
Fonte: Portal Nova+

Narguilé é 100 vezes mais prejudicial que cigarro


 


Homem fumando narguile (//iStock)
Fonte: Revista Veja

Apesar de ter a mesma quantidade de substâncias tóxicas que o cigarro, as sessões são mais longas – e estimulam o compartilhamento com amigos
Por Da Redação

Popular entre os jovens, o narguilé é uma espécie de cachimbo de água perfumada. Apesar de parecer inofensivo, as essências geralmente são compostas por uma mistura de tabaco com frutas ou aromatizantes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma hora de sessão de narguilé equivale a fumar cem cigarros comuns.

Embora tenha a mesma quantidade de substâncias tóxicas – 4.700, segundo o Instituto Nacional do Câncer – uma sessão com o instrumento dura mais do que tragar um cigarro inteiro. O narguilé pode ter uma ou mais tubulações por onde o fumo chega até a boca do usuário – o que o torna compartilhável.

Riscos

Além dos riscos para a saúde relacionados ao tabaco e ao fumo passivo, os especialistas ressaltam a possibilidade da transmissão de doenças infecciosas devido ao compartilhamento da piteira, como hepatite, herpes e tuberculose.

Tabacarias

O que tem preocupado os especialistas e as autoridades, segundo informações da BBC Brasil, é o aumento do número de tabacarias voltadas para o uso de narguilés. “A Lei Antifumo está em vigor desde 2009, mas as tabacarias entraram no nosso cronograma de fiscalização recentemente porque percebemos um grande crescimento desse nicho”, disse Elaine D’Amico, coordenadora de fiscalização relacionado ao tabagismo da Vigilância Sanitária.

Pela lei, as tabacarias podem existir desde que não ofereçam alimentos e bebidas alcoólicas e possuam sistema de ventilação e exaustão para a saída da fumaça, caso o ambiente seja fechado. Além disso, esses locais precisam ter placas na entrada que alertem os visitantes dos riscos do consumo de produtos derivados do tabaco. Caso essas normas não sejam seguidas, o estabelecimento é multado. Em caso de reincidência, o local pode vir a ser interditado

No estado de São Paulo, desde 2009, ano da implantação da Lei Antifumo, foram inspecionados 1,7 milhão de bares, restaurantes e tabacarias a respeito do fumo passivo. Ao todo, 3.854 multas foram aplicadas. Segundo Elaine, parte das irregularidades estavam relacionadas ao uso do narguilé nos estabelecimentos.

Porta de entrada

Para Jaqueline Scholz, cardiologista e coordenadora do Programa de Tratamento ao Tabagismo do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, o uso do narguilé é torna-se atrativo aos jovens devido ao uso de aromatizantes e ao estímulo de compartilhar com amigos, mas ainda assim tem um alto teor de nicotina. “É uma forma antiga de fumar a que a indústria do tabaco recorreu para que não tivesse essa imagem tão danosa”, disse a médica. “Você é atraído pelo cheiro, pela cor. Hoje é vendido hoje com o mesmo glamour que o cigarro no passado, mas é preciso acabar com esse mito de que o narguilé é seguro.”
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas 


domingo, 24 de setembro de 2017

Pessoas que precisam ser ouvidas e cuidadas


 


Voluntária faz atendimento no telefone pelo SOS Preces, no qual frequentemente há pessoas que precisam de orientação e conforto contra pensamentos de autoextermínio (Foto: Marcelo Ribeiro)

http://tribunademinas.com.br
Campanha durante todo o mês chama atenção para o problema de suicídios e a necessidade de falar sobre as formas de se combatê-lo. Somente este ano na cidade, foram 11 registros
Por Marcos Araújo

O telefone toca. Respiração ofegante. De um lado, um coração solitário. Do outro, um coração solidário. No primeiro, a busca por uma palavra de conforto. No segundo, a vontade de confortar por meio da palavra. Uma conversa amiga pode ser a tábua de salvação para quem está às voltas com pensamentos suicidas. Uma estilista juiz-forana, de 38 anos, já passou cerca de 90 horas ao telefone, ao longo de um ano e meio, atendendo ligações como plantonista voluntária e anônima no SOS Preces, trabalho de valorização da vida desenvolvido pela Fundação Espírita Allan Kardec (Feak). O serviço atende aproximadamente 200 pessoas por dia, e 10% delas têm tendência ao autoextermínio. Em Juiz de Fora, 31 pessoas cometeram suicídio em 2016, conforme dados da Polícia Militar. Este ano, até maio, 11 ocorrências já haviam sido registradas. Os números se assemelham aos divulgados pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, que aponta, em 2014, a morte de 33 pessoas por autoextermínio na cidade, contra 32 em 2013. De acordo com o Mapa da Violência, o município ocupava em 2012 a 707ª posição no país. O tema ganha destaque este mês diante da criação da campanha Setembro Amarelo. Em Juiz de Fora, haverá programação para debater o assunto (ver quadro).

Em todo o planeta, os registros surpreendem, pois estima-se que, a cada 40 segundos, uma pessoa tire a sua própria vida, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). São 800 mil suicídios registrados por ano em todo o mundo. No Brasil, são 12 mil anualmente, o que coloca o país em quarto lugar em termos percentuais e primeiro em números absolutos na América Latina. Dados tão alarmantes dão ao suicídio o status para ser tratado como problema de saúde pública. Para a OMS, o comportamento suicida é um fenômeno complexo, que tem vários motivadores inter-relacionados. As razões podem ser pessoais, sociais, psicológicas, culturais, biológicas e ambientais. Justificativas suficientes para que essa tragédia que leva prematuramente uma vida seja tratada com cautela, a fim de evitar simplificações ou conclusões precipitadas acerca do tema.

90% poderiam ser evitados

Para a voluntária da Feak, o suicídio significa que há alguém com depressão, com pensamentos negativos e que precisa ser ouvida e cuidada. “Temos que tentar contornar isso numa boa conversa, com uma palavra amiga, um conforto. Essas situações são delicadas, e nos sentimos na obrigação de reverter esse quadro”, afirma a estilista, ressaltando que o suicídio pode e deve ser prevenido.

Sim, ao contrário do que muitos pensam, 90% dos casos de suicídio consumados, como apontam estudos, são preveníveis, porque a pessoa tem algum tipo de transtorno mental, principalmente, quadros de depressão e problemas relacionados ao consumo de bebida alcoólica e outras drogas, que são possíveis de tratamento. De acordo com o professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFJF Alexander Moreira-Almeida, em um episódio agudo de depressão, o indivíduo fica com uma visão de mundo distorcida. “Ele se enxerga de forma pessimista e não tem boas expectativas sobre o futuro. Se considera um peso para outras pessoas e se vê em um grande sofrimento”, explica.

Quando o sujeito com tendência suicida tem um tratamento adequado, medicamentoso e psiquiátrico, consegue superar o transtorno e, no futuro, quando reavalia os pensamentos de autoextermínio, impressiona-se ao perceber o quanto sua mente estava limitada em relação à realidade à sua volta. “Hoje já se sabe que uma grande barreira ao tratamento é a autoestigmatização, na qual o paciente acha que se ele buscar o tratamento é um sinal de fraqueza e não percebe que é um problema que qualquer ser humano pode passar e superar”, ressalta o professor.

Isolamento social é sinal de alerta

Quando alguém passa a evitar, cada vez mais, contato social, mantendo-se isolado, derrotista, verbalizando pensamentos de morte, é preciso acender o sinal de alerta e apoiá-lo a buscar ajuda. Neste sentido, familiares e amigos têm papel primordial. Todavia, conforme aponta o psiquiatra e pesquisador Alexander Moreira-Almeida, não é adequado adotar a conduta de passar a mão na cabeça, o que pode gerar um tipo de manipulação emocional, mas é preciso contribuir para que a pessoa transtornada encontre meios de superar o sofrimento, oferecendo um ombro amigo e informações.

Entre 70% e 90% dos casos, os suicidas, de alguma forma, manifestam o desejo de acabar com a própria vida por meio de verbalização de ameaças, tentativas frustradas ou cartas de despedidas. A história de que quem ameaça não tem coragem de seguir em frente em busca pela morte é balela e, na visão do professor da UFJF, esses sinais não podem ser negligenciados. “Isso pode ser considerado como um pedido inadequado de socorro, pois a pessoa precisa de ajuda e não consegue se fazer ouvir e, muitos vezes, a fala e o comportamento de tentativa de suicídio podem ser um pedido de ajuda. Não significa que ela simplesmente quer chamar a atenção, embora isso também possa existir, mas não é o habitual”, pontua Alexander.

Efeito dominó

Poesia, romances, música, filmes, reportagens, transmissões na rede social. Farto é o material que aborda o suicídio, alguns até com orientações sobre como praticá-lo. Ao longo dos tempos, o ato de tirar a vida com as próprias mãos vem sendo tratado de forma ficcional e não-ficcional, e há a percepção de que isso pode influenciar as pessoas. Essa ideia faz referência ao escritor alemão Goethe que, em 1774, lançou o romance “Os sofrimentos do jovem Werther”. Ao morrer por amor, no final do livro, o personagem teria levado diversos jovens ao suicídio depois de lerem a obra. O fenômeno originou o chamado “Efeito Werther”, usado para descrever a imitação de suicídios. Segundo o professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFJF, Alexander Moreira-Almeida, o ato de se autoexterminar contagia, porque mostra que a pessoa não encontra uma solução e acaba morrendo, inspirando indivíduos que estão em situação de fragilidade.

O psiquiatra lembra que, na literatura médica, há um estudo que aponta que, quando se divulga o suicídio de modo muito sensacional, pode-se colaborar para o aumento de suas taxas. “Um exemplo clássico é o estudo a respeito do metrô de Viena, na Áustria, onde as pessoas pulavam para se matar. Isso começou a ser noticiado, e houve uma epidemia de óbitos. Esse círculo de mortes só terminou após uma articulação entre a Sociedade Austríaca de Psiquiatria e a mídia local, resultando na queda dos casos em 75%. Ele chama a atenção para a maneira como a imprensa juiz-forana noticia as mortes acontecidas ao longo da linha férrea que corta o município, pois, segundo ele, algo muito parecido pode estar acontecendo, como em Viena.

“O suicídio pode ser divulgado, mas é preciso evitar o sensacionalismo. O mais importante para prevenir é mostrar que muitas pessoas pensam em situação de suicídio, mas a imensa maioria encontra meios mais adequados e saudáveis para lidar com seus problemas. É preciso mostrar o inverso, no qual muitos passaram pelo problema e, no final, conseguiram encontrar um outro caminho. É muito comum na vida passarmos por situações e imaginarmos que não daremos conta e, depois, vemos que é possível. A mídia deve mostrar a importância do assunto, que a maioria dos casos é prevenível, que é possível buscar ajuda médica, religiosa, familiar, psicológica e que a maioria das pessoas consegue superar”, destaca o professor.

Qual a maneira de falar sobre o suicídio

No ano de 2009, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) lançou o manual para a imprensa sobre como as notícias a respeito de suicídio devem ser tratadas, alertando a mídia para o fato de o comportamento suicida ser um ato de ambivalência entre o querer morrer e o querer viver de forma diferente. O jornalista André Trigueiro, autor do livro “Viver é a melhor opção”, que estuda o fenômeno do suicídio e as diferentes estratégias de prevenção desde 1999, ressalta que o tema é complexo e exige cuidado na sua abordagem, pois a prevenção se faz com informação. “No caso do suicídio, a informação vai ao encontro de uma estatística produzida para Organização Mundial de Saúde, dando conta de que, em pelo menos 90% dos casos, os suicídios estão relacionados a psicopatologias diagnosticáveis e tratáveis. Então, se as pessoas têm informação sobre essas patologias de ordem mental, elas podem, sim, se livrar da tendência ao suicídio. Tudo depende de como se fala, que cuidados e protocolos devem ser obedecidos para que, sim, isso seja visto como importante, para que se quebre o tabu sem, entretanto, afrontar os protocolos de segurança estabelecidos pela OMS na abordagem desse assunto”, considera Trigueiro.

Para ele, a cobertura da mídia sobre o tema, priorizando a prevenção, deveria, em resumo, evitar abrir espaços generosos com manchetes, fotos e imagens de casos de suicídio, evitando descrever em detalhes o método empregado. “Só falar de caso de suicídio quando isso for de interesse público. Neste sentido, seguindo esta e outras recomendações, a gente conseguiria diminuir o risco de pessoas fragilizadas psicoemocionalmente perceberem nesse conteúdo um fator de desequilíbrio.”

Necessidade de debate sobre políticas públicas

Prevenção ao suicídio também se faz com políticas públicas. No Brasil, em 2006, o Ministério da Saúde lançou a Estratégia Nacional para Prevenção ao Suicídio, numa tentativa de articular universidades, instituições de pesquisa, ONGs etc e apoiar as iniciativas que pudessem reduzir os óbitos e tentativas de suicídio no país, os danos associados aos comportamentos suicidas, assim como o impacto traumático do suicídio na família, entre amigos e companheiros, nos locais de trabalho, nas escolas e em outras instituições, como assinala o jornalista André Trigueiro em seu livro “Viver é a melhor opção”. Entretanto, há ainda muito o que se fazer para que essas estratégias resultem em um trabalho efetivo de prevenção.

Para André Trigueiro, o suicídio não faz parte das prioridades de saúde. Mas ele avalia que, de lá para cá, houve avanços. Um deles é o anúncio do Ministério da Saúde, tornando gratuitas, em todo o território nacional até 2020, as ligações feitas ao Centro de Valorização da Vida (CVV). “Quem liga para o CVV hoje, exceto no Estado do Rio Grande do Sul, onde a ligação é gratuita pelo 188, nos demais estado do Brasil onde o CVV está presente, existe o custo da tarifa local. Quando o Ministério da Saúde anuncia a gratuidade, está apoiando a mais antiga e eficiente organização que realiza um trabalho voluntário de apoio emocional e de prevenção do suicídio”, avalia.



fonte:antidrogas.com.br

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Uso de álcool por adolescentes aumenta risco de suicídio


 


A experimentação de bebidas alcoólicas por adolescentes com idade entre 13 a 15 anos subiu de 50,3% em 2012 para 55,5% em 2015, revela pesquisa

No mês de conscientização sobre a prevenção do suicídio, o alerta vai para o consumo do álcool entre adolescentes que tem aumentado e que pode estar associado aos registros de suicídio. Um problema de saúde pública que pode ser evitado em 90% dos casos, mas que, pelo contrário, é responsável por uma morte a cada 40 segundos. O suicídio, que ganhou repercussão mundial com a série “13 reasons why” e com o jogo Baleia Azul, tem crescido entre a população jovem. No Brasil, o Mapa da Violência de 2014 mostra que, entre 2000 e 2012, a taxa de suicídio de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos aumentou em 40%, enquanto que entre jovens de 15 a 19 anos o índice cresceu 33%.

Especialmente para esta parte da população, o uso de álcool torna-se um fator de risco ainda mais significativo. O alerta é do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), uma das principais fontes de informação sobre o tema.Segundo o estudo “Uso Adolescente de Substância e Comportamento Suicida: Uma Revisão com Implicações para Pesquisa em Tratamento”, o uso de substâncias amplia o risco de comportamentos suicidas, sendo que adolescentes suicidas apresentavam elevadas taxas de uso de álcool e drogas ilícitas.“Entre os adolescentes a partir de 16 anos, o consumo de álcool e o abuso de substâncias aumentam consideravelmente o risco de suicídio em tempos de sofrimento”, afirma Dr. Arthur Guerra, presidente executivo do CISA.

Ele explica que o consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes compromete o sistema nervoso central (SNC), que ainda se encontra em desenvolvimento. Desta maneira, suas vias neuronais podem se tornar mais suscetíveis aos danos causados pelo álcool, podendo levar ao comprometimento de várias funções. Sob os efeitos do álcool, os jovens ficam mais propensos a comportamento de risco – incluindo brigas, sexo desprotegido ou não consensual, acidentes automobilísticos e suicídio. Bastaria então que o consumo de bebidas alcoólicas por menores de idade não ocorresse para que nossos jovens estivessem mais protegidos, correto? Correto, mas não é isto que vem acontecendo no Brasil.

Dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2015, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram que, entre alunos de 13 a 15 anos, a experimentação de álcool subiu de 50,3% em 2012 para 55,5% em 2015. Além disso, 21,4% desses adolescentes relataram já terem sofrido algum episódio de embriaguez na vida. A pesquisa mostrou também que meninas dessa faixa etária estão bebendo mais que os meninos, sendo que a taxa de experimentação de álcool é maior entre elas (56,1% vs. 54,8%) e também o uso de álcool nos últimos 30 dias (25,1% vs. 22,5%).

Em 2016, o Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA) avaliou 74.589 adolescentes de 1.247 escolas em 124 municípios brasileiros. Cerca de 20% dos adolescentes consumiram bebidas alcoólicas pelo menos uma vez nos últimos 30 dias e, desses, aproximadamente 2/3 o fizeram em uma ou duas ocasiões no período. Entre os adolescentes que consumiam bebidas alcoólicas, 24,1% beberam pela primeira vez antes de 12 anos de idade.

“Precisamos colocar essas questões na agenda pública e priorizá-las. O diálogo com a sociedade a respeito do tema também deve ser ampliado. Não podemos esperar a repercussão de outra série ou jogos suicidas para falar sobre o assunto, por isso ações voltadas à conscientização sobre a prevenção, como o Setembro Amarelo, são importantes para jogar luz sobre o problema”, defende Dr. Arthur Guerra.

Saiba mais:
O Centro de Informações sobre Saúde e Álcool – CISA, organização não governamental criada em 2004 e qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) desde 2005, foi fundado pelo psiquiatra e especialista em dependência química Dr. Arthur Guerra de Andrade e consolidou-se como a maior fonte de informações no país sobre o binômio saúde e álcool. Por meio de seu website (www.cisa.org.br), disponibiliza um banco de dados que têm como base publicações científicas reconhecidas no cenário nacional e internacional, dados oficiais (governamentais) e informações de qualidade publicadas em jornais e revistas destinados ao público geral sobre o álcool e suas relações com o corpo, a mente e a sociedade.Para mais informações, acesse o site www.cisa.org.br ou os perfis da organizaçã o nas mídias sociais: Facebook (https://www.facebook.com/ pages/CISA-Centro-de- Informações-Sobre-Saúde-e- Álcool/166680883359856), Twitter (@CISA_oficial) e Instagram (@cisa_oficial).
Fonte: Diário do Nordeste


segunda-feira, 4 de setembro de 2017

O excêntrico mercado de venda de urina em meio a epidemia de drogas nos EUA


 


WHIZZ KIT/REPRODUÇÃO
Amostras de urina sintética prometem burlar exames toxicológicos com 100% de eficácia

Encontradas em quase toda esquina, as lojas de conveniência nos Estados Unidos vendem de tudo: refrigerantes, cigarros, salgadinhos, desodorantes, café, asinhas de frango, hambúrgueres, doces, bebidas, brinquedos e... urina.

Além de causar surpresa num ambiente desses, o último item se tornou pivô de controvérsia em um país onde empregadores têm carta verde do governo para pedir exames sobre uso de drogas antes de contratar alguém - e, em muitos casos, também depois da contratação, sem aviso prévio.

A situação se complica quando se leva em conta que os Estados Unidos enfrentam uma epidemia sem precedentes de opioides, que já mata mais de 100 pessoas por dia de overdose em todos grupos sociais e idades e rendeu um pronunciamento do presidente Donald Trump, na última terça-feira, que classificou a escalada das drogas como "um problema tremendo", do qual "ninguém está a salvo" .

Os opioides são drogas quimicamente semelhantes que interagem com os chamados receptores opioides de células nervosas no corpo e no cérebro. Podem ser substâncias proibidas, como heroína, ou analgésicos prescritos, como morfina, codeina, fentanil e oxicodona.

Produzidas por dezenas de empresas e geralmente vendidas online, amostras de urina sintética ou real desidratada prometem burlar exames e 100% de eficácia em resultados neutros para usuários de drogas.

A maioria delas, entretanto, é vendida para fins de pesquisa ou "fetiche", segundo os fabricantes. Mas há empresas que vão direto ao ponto, como o site "urinaultralimpa.com" (em tradução livre), que promete que "Passar num teste de urina nunca foi tão fácil!". Os donos do "Resolva Sua Urina Rápido", por sua vez, prometem vender a "melhor urina sintética para exames, criada para proteger sua vida privada em exames toxicológicos".


ULTRA KLEAN/REPRODUÇÃO
Urinas sintéticas ou reais desidratadas são vendidas para fins de pesquisa ou fetiche, dizem fabricantes

Muitos fabricantes de urina sintética se apresentam como "conselheiros sobre testes de drogas". O argumento da proteção da privacidade também é usado por advogados, ativistas e ONGs americanas, que entendem os exames de drogas feitos por empresas como invasão da intimidade dos candidatos e pedem sua proibição em todo o país.

Enquanto não se chega a um consenso, o xixi artificial - ou em alguns casos real, vendido em versão desidratada, em pó - é vendido online por preços que variam entre US$ 15 e US$ 40 dólares (ou R$ 48 e R$ 130, aproximadamente).

Testes

Troy Evans trabalhou como policial por 26 anos no Estado do Colorado. Depois de se aposentar, há cinco anos, virou sócio de um laboratório que oferece testes de drogas para empresas e para o governo americano.

"Nossos flagrantes de tentativas de burlar os exames cresceram junto com a epidemia de opioides. O que percebemos é que pessoas que usam essas substâncias ilegais apelam para a urina artificial quando se candidatam a uma vaga", diz Evans a BBC Brasil.

"A reação dos fraudadores varia. Muitas vezes eles assumem quando são confrontados. Às vezes ficam agressivos, irritados", afirma. "Se for constatado o uso de urina falsa, o candidato é desclassificado na hora."

Ele explica que os testes são obrigatórios para empregos em agências do governo americano e para todos os motoristas profissionais do país - dos condutores do Uber a pilotos de caminhões.


GETTY IMAGES
Em alguns setores, como para os motoristas profissionais, testes são obrigatórios

Nos demais setores, a exigência ou não de testes é uma escolha das empresas. Cada Estado tem regras específicas na hora dos testes, mas a maioria obedece um padrão: o candidato precisa esvaziar os bolsos, tirar casacos e deixar todos os objetos pessoais fora da sala de coleta.

Um exame rápido é realizado na amostra recém-coletada, na presença do paciente. Se houver resultado anormal ou se o candidato mostrar sinais de nervosismo, uma nova coleta é feita na presença do testador, que pode exigir inclusive que a pessoa fique nua para garantir que não haja interferência.

"Temperatura e cheiro são os principais sinais de adulteração. Não tem como uma amostra ter calor muito diferente de 36 graus, que é a temperatura humana. Meu trabalho também inclui avaliar a cor e o cheiro, que é muito característico, e isso me orienta a aceitar a amostra ou pedir nova coleta", afirma.

As empresas conhecem as táticas de Troy e seus colegas de profissão, e vêm investindo em amostras sintéticas mais refinadas, com adesivos que mantém a urina na temperatura do corpo humano.

Algumas vão além: fabricantes como o Serious Monkey Business vendem próteses realistas de pênis acopladas a bolsas quentes, que supostamente são capazes de driblar os testes feitos com acompanhamento.

As próteses são vendidas nas versões "branco", "bronzeado", "latino", "moreno" e "negro" para, segundo a empresa, "combinar com qualquer tom de pele".


MONKEY BUSSINESS/REPRODUÇÃO
Alguns fabricantes oferecem próteses de pênis acopladas a bolsas quentes

Fetiche?

A reportagem procurou três fabricantes de urina sintética. Duas não responderam os pedidos de entrevista e a terceira afirmou que não fala com a imprensa.

Todas elas oferecem serviços 0800 para tirar dúvidas de clientes. A BBC Brasil conversou com um dos atendentes.

"Somos um fabricante de urina para fetiche, senhor". A reportagem diz que precisa fazer um teste para um processo seletivo. "Nossa urina para fetiche é igual à real e não é detectada em testes, garantindo resultados neutros, mas não tem esta finalidade."

A reportagem insiste pedindo detalhes sobre como utilizá-la para testes. "Não recomendamos que use micro-ondas para aquecer as amostras, mas elas vêm com tiras de calor que garantem os padrões exigidos em testes e melhoram a experiência de fetiche em relações sexuais."

As alusões ao uso por fetichistas adeptos da "chuva dourada" (urinar sobre o parceiro em relações sexuais) colocam os fabricantes em uma zona cinzenta na legislação americana, que não tem leis federais para restringir ou controlar as vendas de artigos sexuais do tipo.

Frente a popularização da urina falsa em exames, entretanto, dois Estados (Indiana e New Hampshire) proibiram recentemente a comercialização e o porte do líquido.

"Os testes de drogas antes da contratação são muito comuns nos EUA e são legais em todos os Estados", diz à BBC Brasil a advogada Kathryn Russo, da área de drogas e álcool no mercado de trabalho do escritório Jackson Lewis.

Ela explica que os testes de urina são os mais comuns para a identificação de drogas como heroína, cocaína e maconha no organismo de candidatos, mas que os testes vêm evoluindo e hoje também podem ser feitos no cabelo ou na saliva.

"É preciso que haja uma regulação (na venda da urina falsa). Mesmo que se proíba, ainda vão dar um jeito de disponibilizar ilegalmente. Mas é preciso que haja consequências previstas para quem apela para esse recurso. Se um empregado adultera seu exame, ele precisa saber a que consequências estará exposto", avalia.

Direitos e deveres

De outro lado, entidades como a American Civil Rights Union (ACLU), criada em 1919 para "preservar os direitos individuais e liberdades" dos cidadãos norte-americanos, criticam a realização de exames toxicológicos no ambiente de trabalho.

Os exames foram regulados por uma lei federal de 1988, que permitiu a empregadores testarem seus funcionários antes da contratação e depois, por sorteios realizados mais de uma vez ao ano.

A lei visa "proteger empregadores e empregados", com a garantia de um ambiente de trabalho livre de drogas.

"Os empregadores têm o direito de esperar que seus funcionários não estejam alterados no trabalho. Mas eles não podem ter o direito de exigir que os funcionários demonstrem sua inocência fazendo um teste de drogas", afirma a entidade.


GETTY IMAGES
Lei de 1988 permite empregadores testarem funcionárioes antes e depois da contratação

Segundo a ACLU, o acompanhamento de coletas em banheiros é "degradante" e a possibilidade de falhas humanas nos diagnósticos expõe candidatos e funcionários a injustiças.

"A análise de urina revela não só a presença de drogas ilegais, mas também a existência de outras condições físicas e médicas, incluindo predisposição genética à doenças - ou gravidez", alega o órgão.

À BBC Brasil, a advogada Kathryn Russo afirma que mapeamentos que vão além da presença de drogas no organismo são ilegais e não devem ser realizados por empresas.

"Os testes só são feitos se o empregador quiser e eu recomendo que isso esteja muito claro em uma política interna de testes de drogas, para que todos saibam exatamente os seus deveres e direitos", afirma.

Estados como Califórnia, Nova Jersey, Massachusetts e Virgínia Ocidental criaram leis que restringem empregadores de realizarem testes aleatórios em funcionários, sem que haja uma comprovação de suspeita de uso de substâncias controladas.
Fonte: BBC

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Cocaína tem ação mais devastadora no cérebro de adolescentes


 


Uso de cocaína antes dos 18 anos provoca maiores prejuízos a funções do cérebro como atenção e memória
Foto: Juniorbolivar/Wikimedia Commons

Jornal USP
Alterações mais pronunciadas no desempenho cognitivo são encontradas em usuários precoces da substância
Por Júlio Bernardes - Editorias: Ciências da Saúde

Usuários de cocaína de início precoce, antes dos 18 anos, exibem alterações neuropsicológicas mais pronunciadas, com prejuízos nas funções do cérebro. A constatação é feita em pesquisa do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) que avaliou 103 dependentes da substância. O estudo liderado pela neuropsicóloga Bruna Mayara Lopes aponta ainda que os usuários precoces tem maior frequência de consumo de outras substâncias, como álcool e maconha, do que o grupo de início tardio, após os 18 anos.

A adolescência é um período crucial para o desenvolvimento neurológico. “Nessa fase da vida, o cérebro está em transformação, e acontece a chamada poda neural, quando neurônios sem uso são eliminados para refinar o funcionamento de outras áreas do cérebro, como o córtex frontal”, afirma Bruna. “Essa área é muito importante para a realização de funções executivas, tais como a memória do trabalho (capacidade de manter um número de informações enquanto executa uma tarefa), o controle inibitório e o planejamento. O uso de cocaína na adolescência pode levar a alterações, comprometimento e perda de funções cerebrais importantes para o dia-a-dia”.

A neuropsicóloga aponta que poucos estudos têm investigado o impacto do uso precoce da cocaína no desempenho cognitivo e nos padrões de uso de substâncias como álcool e maconha. “A pesquisa envolveu 103 pacientes dependentes de cocaína. Entre eles, havia 52 com início precoce, ou seja, que começaram a usar a substância antes dos 18 anos, em média por volta dos 15 anos. Outros 51 tiveram início tardio no uso de cocaína, após os 18 anos, em média com 21 anos”, relata. “Além disso, para comparar os resultados dos testes, foi avaliado um grupo controle com 63 pessoas saudáveis”.


Usuários precoces também têm maior frequência de consumo de outras substâncias, como álcool e maconha, do que o grupo de início tardio, após os 18 anos
Foto: Neo Tokio/Wikimedia Commons

Testes

O funcionamento neuropsicológico foi avaliado por meio de uma bateria de testes com duas horas de duração. “Os testes avaliaram a memória de trabalho, a atenção sustentada, ou seja a manutenção de foco durante a realização de uma tarefa e a memória declarativa, que é a capacidade de resgatar uma informação que foi recebida há 30 minutos”, explica Bruna. “O uso de álcool, maconha e tabaco foi avaliado por meio de questionário que mede o índice de gravidade de dependência”.”

De acordo com a neuropsicóloga, “as análises mostraram que o grupo de usuários precoces apresentou maior déficit cognitivo, com pior desempenho na atenção sustentada, na memória de trabalho e na memória declarativa em relação ao grupo controle”. O grupo de início tardio apresentou comprometimento na atenção dividida na comparação com as pessoas saudáveis. “Os usuários precoces também apresentaram maior uso de maconha e álcool do que os de início tardio”, acrescenta.

Usuários precoces apresentaram maior déficit cognitivo, com pior desempenho na atenção sustentada, na memória de trabalho e na memória declarativa.”

Os déficits cognitivos mais proeminentes nos usuários precoces provavelmente refletem um impacto negativo do uso de cocaína nos estágios do neurodesenvolvimento na adolescência. Isto pode estar relacionado com características clínicas mais severas do transtorno de substância neste subgrupo, incluindo abuso de outras substâncias, como álcool e cocaína. “O cérebro ainda pode se desenvolver até os 21 ou 22 anos, porém o uso precoce de cocaína pode causar prejuízo a áreas que estão em fase importante de formação”, afirma Bruna.

O estudo completo, publicado na edição de outubro de 2017 da revista Addictive Behaviors, pode ser acessado no site da publicação. Além de Bruna, o artigo é assinado por Priscila Dib Gonçalves, Mariella Ometto, Bernardo dos Santos, Mikael Cavallet, Tiffany Moukbel Chaim-Avancini, Maurício Henriques Serpa, Sérgio Nicastri, André Malbergier, Geraldo Busatto, Arthur Guerra de Andrade e Paulo Jannuzzi Cunha.
Mais informações: (11) 2661-7801, com Julieta Magalhães, na Assessoria de Imprensa do IPq


sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Uma injeção de esperança contra as drogas




(imagem reprodução)
Cientistas dão um pequeno passo em direção a vacinas que auxiliem no tratamento da dependência
The Economist, O Estado de S.Paulo

Entre 2000 e 2015, 500 mil pessoas morreram de overdose de drogas, só nos Estados Unidos. Na maior parte dos casos, as mortes foram provocadas por opioides, uma classe de analgésicos, geralmente sintéticos, relacionados com a morfina, que provocam dependência química. No último dia 8, o secretário de Saúde dos Estados Unidos, Tom Price, mencionou o possível desenvolvimento de uma vacina para prevenir a dependência. Especialistas advertiram que isso está muito longe de tornar-se realidade. Mas há pesquisas em andamento. Estudo publicado na quarta-feira, por exemplo, relata a busca por uma vacina contra a fenetilina, droga bastante popular em certas regiões do Oriente Médio.

A fenetilina é um estimulante, não um analgésico. Também não é uma substância pura, e sim o resultado da combinação de duas drogas. Um de seus componentes é a anfetamina, que é, por si, só um estimulante bastante conhecido, para o qual há um grande mercado negro. O outro é a teofilina, usada no tratamento de problemas respiratórios, como a doença pulmonar obstrutiva crônica. A fenetilina foi desenvolvida nos anos 1960, com o nome comercial de Captagon, para tratar hiperatividade em crianças, mas não é mais empregada com essa finalidade. Apesar de sua comercialização hoje ser ilegal na maior parte do mundo, ela ainda é utilizada com fins recreativos. As apreensões da droga nos países árabes representam um terço do total de anfetaminas apreendidas no mundo. Na Arábia Saudita, 75% das pessoas tratadas por problemas com drogas são dependentes de anfetaminas, na maioria dos casos sob a forma da fenetilina.

Por causa de sua natureza dupla, há um debate entre os cientistas sobre a forma como a fenetilina atua. Em vista disso, Cody Wenthur, Bin Zhou e Kim Janda, do Instituto de Pesquisas Scripps, com sede em La Jolla, na Califórnia, decidiram tentar desenvolver vacinas contra seus dois componentes, contra os produtos de sua decomposição metabólica, bem como contra a droga como um todo, em um processo que os cientistas chamaram de “vacinação incremental”.

O desenvolvimento de qualquer vacina implica estimular o sistema imunológico a reconhecer a substância contra a qual se deseja proteger o organismo. Acontece que o sistema imunológico tende a reconhecer e criar anticorpos apenas contra moléculas grandes, como as proteínas. A maioria das drogas é muito pequena para ser reconhecida. É por isso que os fumantes e usuários de cocaína não desenvolvem imunidade contra seus vícios: a nicotina e a cocaína são invisíveis para o sistema imunológico. O mesmo acontece com a anfetamina e a teofilina.

Pequeno é problema. Vacinas contra moléculas pequenas podem ser desenvolvidas por meio da combinação de versões dessas moléculas com proteínas transportadoras, a fim de criar um complexo grande o bastante para provocar uma reação imunológica. A equipe do Scripps optou pela hemocianina, proteína derivada de um caramujo chamado “keyhole lipet” Megathura crenulata, que é particularmente eficaz nesse quesito.

A ideia dos pesquisadores era a seguinte: como os anticorpos são, por si só, moléculas grandes, se o sistema imunológico pudesse ser induzido a produzir anticorpos contra os componentes da fenetilina, a combinação das moléculas da droga com os anticorpos seria grande demais para atravessar a barreira hematoencefálica — sistema de células muito próximas umas das outras, que forra os vasos sanguíneos do cérebro, a fim de impedir a entrada de coisas perigosas no órgão. Mantidas do lado de fora do cérebro, as drogas não teriam como afetá-lo.

Para realizar o experimento, os cientistas utilizaram ratos de laboratório. Injetaram diversas versões de vacinas nos roedores e acompanharam de perto seu comportamento, prestando atenção principalmente em níveis incomuns de ansiedade e padrões estranhos de movimentação. Também verificaram os níveis de presença das moléculas da droga na corrente sanguínea e no cérebro dos animais.

A utilização da abordagem incremental permitiu que a equipe de pesquisadores acompanhasse os efeitos de diferentes moléculas nos padrões de atividade dos animais. Verificou-se, por exemplo, que a teofilina presente na fenetilina amplifica o efeito da anfetamina.

Mais importante que isso porém, foi observar os efeitos da vacina contra a fenetilina como um todo. Ao receberem uma dose da droga, os ratos em que essa vacina havia sido previamente injetada exibiram expressiva redução, na comparação com os animais não vacinados, no tipo de movimentos incessantes que a fenetilina provoca. Além disso, quantidade 30 vezes maior da droga permanecia bloqueada na corrente sanguínea, em vez de penetrar o cérebro dos ratos vacinados.

É um resultado promissor. Ainda que a ideia de uma vacina preventiva, como a desejada por Price, continue muito distante, o estudo mostra que talvez seja possível desenvolver um imunizante para tratar pessoas já dependentes da droga. É bem verdade que as tentativas anteriores para desenvolver vacinas contra drogas de moléculas pequenas, incluindo metanfetamina, nicotina, cocaína e morfina, acabaram todas se mostrando infrutíferas. Mas as coisas podem ser diferentes desta vez. / TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER
© 2017 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.


quarta-feira, 23 de agosto de 2017

EUA têm nova droga ilegal: o ´blood`, feito de sangue humano


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(IJzendoorn/iStock)
Ampola contém sangue e outras 13 substâncias, como codeína e metanfetamina - e um detalhe que a torna ainda mais perigosa que as drogas comuns
Por Bruno Garattoni

A polícia de Bucks County, na Pensilvânia, foi a primeira a obter uma ampola da droga, que tem a aparência de um líquido vermelho e é conhecida como Blood (sangue, em inglês). É uma mistura de sangue humano com fentanyl, um analgésico opiáceo extremamente potente. Porém, testes realizados na amostra revelaram que, além de sangue e fentanyl, ela também continha codeína, efedrina, THC e metanfetamina, totalizando 13 substâncias.

Segundo a revista americana Popular Science, que relatou o caso, a ampola continha 11 miligramas de metanfetamina – uma dose inteira. Isso afasta a possibilidade de contaminação acidental (quando uma pessoa utiliza drogas injetáveis, uma pequena quantidade do seu sangue, incluindo resíduos de drogas, pode voltar para a seringa). Ou seja: alguém realmente misturou sangue humano com fentanyl e metanfetamina, com a intenção de criar uma nova droga.

Como é injetável, o Blood pode transmitir HIV e outros vírus, mas também apresenta um risco adicional: a incompatibilidade sanguínea. Se uma pessoa receber sangue de um tipo incompatível com o dela, isso irá disparar uma reação imunológica potencialmente letal – pois cria coágulos sanguíneos que podem levar a acidentes vasculares ou parada cardíaca.
Fonte: SuperInteressante

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Novos vícios e antigas drogas




Olhos fixos na tela do game: longe da realidade fora das máquinas (Foto: Thinkstock)

Games e mídias sociais operam na lógica de várias drogas, com feedback e recompensas

O tempo gasto por crianças e jovens em tablets, celulares e similares preocupa pais e especialistas. Ansiedade, distúrbios do sono, isolamento e dispersão são relacionados ao abuso de eletrônicos. Filmes e jogos na infância e redes sociais e games na adolescência –vitaminados pela portabilidade dos aparelhos – têm afastado as novas gerações da realidade fora das máquinas, reduzindo o aprendizado de habilidades sociais e motoras. Fazer amigos, praticar atividades físicas e trabalhar em equipe são diretamente comprometidos pelo excesso de interação digital.

Nos Estados Unidos, médicos estão intrigados com a queda do consumo de drogas nos últimos dez anos entre jovens. No mesmo período, aconteceu uma explosão do uso de smartphones. Em 2015, uma pesquisa constatou que americanos entre 13 e 18 anos gastavam cerca de seis horas diárias em frente à telinha. A hipótese é que substâncias químicas e celular proporcionam efeitos parecidos (como prazer e estímulo mental), com a vantagem de o último ser legal e incentivado desde cedo, daí a substituição de um por outro. Quem nunca emprestou o aparelho ao filho pequeno para aplacar uma crise de choro?

Games e mídias sociais operam na lógica de várias drogas, com feedback e recompensas. Os jogos são altamente sensíveis aos nossos anseios – respondem mediante comandos. E trazem a expectativa de vitória (nunca a certeza), o que mantém o usuário sempre disposto a mais uma rodada. O mesmo raciocínio se aplica às curtidas, views e compartilhamentos – são imprevisíveis e afagam (ou ferem) egos.

A dopamina, neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar, é ativada quando cumprimos metas. Adictos apresentam deficiência dela e abusam para conseguir a próxima dose. Entender e tratar as causas de excessos relacionados à tecnologia – eles não são a raiz, mas a expressão de outros desequilíbrios – é tarefa multidisciplinar e urgente. Sob pena de gadgets e seus usos transformarem-se em problema e não solução.

Enquanto a dependência tecnológica nos desafia, drogas psicodélicas parecem à beira da redenção. LSD (uma bem conhecida droga dos anos 40), psilocibina (encontrada nos cogumelos mágicos) ou ecstasy têm despertado interesse crescente de pesquisadores e usuários com novas aplicações. Apesar de ilegal, a administração de microdoses de LSD para melhorar a criatividade, concentração e ânimo virou moda entre americanos que buscam incrementar o desempenho mental ou tratar a depressão resistente a tratamentos convencionais. Substâncias alucinógenas vêm obtendo financiamento para pesquisa em instituições renomadas, principalmente por seu potencial terapêutico.

O uso de ecstasy (metilenodioximetanfetamina ou MDMA), por sua vez, ganha adeptos entre os que sofrem de estresse pós-traumático, mal que acomete pessoas envolvidas em situações de violência. Ele aumenta a sensação de confiança nos outros e a clareza sobre o trauma, auxiliando no enfrentamento do problema. Já em estudo entre humanos, há perspectiva de ser aprovado como medicamento pelo Food and Drug Administration (FDA) até 2021.

Em tempos de Inteligência Artificial e intensa competição no mercado de trabalho, é provável que cérebros ”turbinados” por fármacos ou drogas psicodélicas tornem-se um fenômeno relativamente comum. Quais as consequências dessa prática no longo prazo? Não há respostas. Há testes em ratos que após um longo período de administração de microdoses de LSD apresentaram comportamento agressivo de tipo psicótico.

Há os que propõe outro caminho para a melhora da performance funcional ou mesmo da existencial: a meditação. Viagens psicodélicas e meditação avançada ambas oferecem meios para a chamada “dissolução do ego” – a redução da noção de si, que permite experimentar o mundo que nos cerca de outra forma, reavaliando assim prioridades e nossa própria forma de ser e agir. A meditação transcendental reconhecidamente contribui para a melhora de vários aspectos da saúde física e mental – funções cognitivas são um deles.

A complexidade da vida contemporânea exige mais e mais de nossas capacidades intelectuais e emocionais. Seja pela ingestão de aditivos ou por via da meditação seguimos em busca da superação permanente para que... para que... para que mesmo?
*CEO da Dentsu Aegis Network Brasil e Isobar Latam
Fonte: Época

sábado, 19 de agosto de 2017

´Irmã` do crack, droga se dissemina na periferia de cidades da Argentina


 

João Pina/The New York Times

Viciada mostra a droga paco, que ela comercializa, em favela de Buenos Aires
Jornal Folha de S. Paulo
Gabriel Bosa
Colaboração para a Folha, de Buenos Aires

Um sorriso largo se abre com facilidade e ilumina a face levemente morena e arredondada de Lorena. A cada poucas palavras ditas em um espanhol rápido, pausa para um riso leve, como se aquela fosse a deixa para eu rascunhar em meu caderno parte da história que ela me conta. São pouco mais de 10 horas de uma manhã de domingo gelada e chuvosa em Buenos Aires. Estamos sentados em cadeiras de ferro com encostos plásticos dentro de um pequeno salão de paredes brancas e desbotadas.
A mulher divide a atenção da nossa conversa com um prato plástico à sua frente servido de pequenos pães e um copo quente de café. Beirando os 40 anos, Lorena mantém um ar jovial com parte do seu cabelo escuro preso para trás e sua mochila preta com detalhes em rosa. Vestindo apenas uma calça de moletom cinza, blusa vermelha e jaqueta preta com capuz, a mulher parece bastante confortável, apesar do tempo terrível que castiga a capital portenha.

A história de Lucero Lorena Vanessa, seu nome de batismo, é apenas mais uma em meio às milhares que enchem as villas, como são chamadas as favelas e zonas de risco da Argentina. A mulher passa as noites em uma cama improvisada às margens de Puerto Madero, tradicional endereço dos mais caros restaurantes e bistrôs de Buenos Aires, e sobrevive da venda informal de produtos nas ruas da cidade. Lorena é mãe de cinco filhos, com quem aos poucos está retomando contato. As crianças vivem com a família de sua mãe na província de San Luiz, a 794 quilômetros da capital.

O EFEITO

A forma descontraída de falar e os inocentes sorrisos que exibe em intervalos de poucos segundos contrastam drasticamente com o teor dos relatos que descreve em minuciosos detalhes. Há três anos Lorena batalha contra o vício em paco, uma droga disseminada entre as camadas mais pobres da Argentina. Assim como o crack, o paco é um subproduto da cocaína. A droga se resume em uma pedra, altamente tóxica, barata e com grau extremo de adicção, consumida em cachimbos improvisados com latas e canos.

"Você coloca fogo na pedra e o efeito é imediato. Você surta, fica desesperado, completamente louco. A paranoia é muito grande, você fica olhando para todos os lados, achando que vai aparecer alguém para te roubar, para te apunhalar", descreve.
O êxtase da tragada se extingue em minutos. A sensação de vazio e depressão que seguem são os impulsionadores para consumir a próxima pedra, uma espiral de euforia e abstinência que pode se estender por horas ou dias.

"A droga é muito mais forte que nós. Ela nos controla, nos faz fazer muitas coisas, roubar, assassinar, sequestrar", expõe Lorena, afirmando que já chegou à consumir 20 mil pesos em paco, aproximadamente quatro mil reais, em um único dia.

Sem demonstrar se abalar e sempre com uma entonação alegre, a mulher descreve a primeira experiência com o paco, através de um amigo em uma casa abandonada, e todos os clichês subsequentes de quem é dependente de uma droga extrema: o distanciamento do convívio familiar, fugas de casa, a rotina de sobrevivência em meios a outros usuários e traficantes nas villas, e os pequenos delitos cometidos para sustentar o vício.

TRAGÉDIA

A escalada no vício eclodiu em 2014. Mesmo grávida do sétimo filho, Lorena manteve a rotina destrutiva de consumo diário de paco e bebidas alcoólicas. O abuso das substâncias causou a perda do filho que carregava no ventre pelas ruas de Buenos Aires. No mesmo dia, um telefonema da casa de sua mãe lhe avisara que um de seus filhos havia morrido eletrocutado enquanto jogava futebol com outras crianças nas ruas de San Luiz.

"Foi um trauma, em um dia perdi dois filhos", resume em voz grave enquanto me encara fixamente com seus olhos castanhos durante um raro momento de seriedade. A culpa pela morte dos filhos poderia ter sido o pretexto para que Lorena se deixasse vencer de vez pelo paco. Ao contrário, a mulher encontrou na tragédia toda a força que precisava para sair do seu inferno particular.

"Eu parei no dia seguinte por força própria. Parei para que eu possa voltar a conviver com minha família, para que possa ver meus filhos de novo".

REFLEXO DA CRISE

O surgimento do paco nas zonas mais vulneráveis de Buenos Aires é mais um reflexo da grave crise econômica que assolou a Argentina na virada do novo milênio. A disparada vertiginosa da classe pobre do país, alcançando pico de 70% em 2002, criou o cenário ideal para a disseminação da droga barata e de fácil preparação.

Segundo os dados do Observatorio Argentindo de Drogas (OAD), vinculado à Secretaría de Políticas Integrales sobre Drogas de La Nación Argetina (Sedronar), entre 2004 e 2010, houve um aumento no uso de drogas ilícitas por parte da população de 12 a 65 anos. O levantamento apontou o crescimento de 1,9% para 3,5% do uso de maconha e de 0,5% para 1,5% do número dos usuários de cocaína. Ainda não havia dados precisos do consumo de paco, mas os pesquisadores estimam que o país concentre aproximadamente 180 mil usuários da "droga dos pobres".

Apesar da retomada dos investimentos de capitais, a queda do índice de pobreza para 30% e o recente controle financeiro alcançado nos últimos anos, as sequelas causadas pelas pequenas pedras amareladas ainda é latente nas zonas periféricas do país.

"Nem sempre o crescimento da economia está associado à diminuição da pobreza e do narcotráfico. No anos 1990 houve um crescimento econômico, mas significou o aumento da desigualdade entre ricos e pobres e a explosão do narcotráfico", explica o doutor em Sociologia pela Universidad de Sán Martín, Daniel Schteingart.

Um outro levantamento feito pelo Observatorio de La Deuda Social Argentina (ODSA) da Universidad Católica Argentina (UCA) em parceria com a fundação Konrad Adenauer Stiftung, divulgado em abril deste ano, mostra que, em 2016, 2,9% dos jovens entrevistados havia usado paco ao menos uma vez na vida. O estudo ainda revela que 3,3% dos que admitiram usar drogas alguma vez consomem paco de maneira intensiva e 3,2% de forma ocasional.

João Pina/The New York Times

Mulher usa o paco em favela de Buenos Aires, na Argentina

ATENÇÃO

"Eles aparecem todos os dias, pedem comida, água, roupas. Muitos não têm família e vêm apenas para conversar, querem alguém que lhes dê atenção". Quem fala é Rios Elizabeth, uma das voluntárias da Pastoral Social da igreja Inmaculado Corazón de Maria. O grupo integra uma rede de assistência à população de rua e zonas de risco de Buenos Aires, trabalho replicado em centenas de outros centros religiosos espalhados pela Argentina.

Sem distinguir ou fazer perguntas, os voluntários prestam auxílio para todos que os procuram. Refeições gratuitas, cadastramento em programas sociais, ajuda para reencontrar familiares e o encaminhamento de usuários de drogas para centros de tratamento são algumas das ações realizadas pelas entidades.

"Nós procuramos vagas nas instituições particulares e nas mantidas pelas igrejas. Muitos nos pedem ajuda para sair do vício, mas nem todos conseguem se recuperar. Aqueles que conseguem, nós continuamos dando assistência para evitar as recaídas tirando daquele ambiente que a pessoa estava inserida", detalha o irmão Mário Massim, responsável pela Pastoral Social.

Os voluntários da paróquia testemunharam a chegada do paco às ruas e villas da capital portenha no início dos 2000 e a tragédia social que seguiu com a disseminação da droga entre as classes mais periféricas da população. Habituados em prestar assistência para milhares de adictos em narcóticos, a Pastoral Social precisou se readequar para lidar com a nova demanda.

"Antes era apenas cocaína e maconha, então o paco veio como uma onda. Não há distinção de idade ou de gênero dos usuários, alguns têm 30, 40 anos, mas muitos são mais novos", lamenta Rios.

LA VILLA 31

As vielas estreitas e enlamaçadas da Villa 31 formaram um território fértil para a propagação da "droga dos pobres". Longe da atenção e interesses do Poder Público, o paco se disseminou como praga em meio aos barracos e tendas da mais famosa zona de vulnerabilidade social da Argentina. A comunidade está incrustada em meio à região central de Buenos Aires, fazendo margem com áreas nobres, como Recoleta e Palermo, e poucos minutos a pé da Casa Rosada, sede do governo nacional, Obelisco, Avenida 9 de Júlio, entre outros pontos turísticos da capital.

Da porta de casa, o líder comunitário, César Luciano Sanabria, acompanhou o estrago causado pelas pequenas pedras amarelas. Ele se mudou para a Villa 31 durante a adolescência, no início dos anos a 1980, época que a comunidade já era reconhecida como uma das mais violentas de Buenos Aires.

"O paco é como um câncer difícil de erradicar", pontua. "Sempre houve (venda e consumo) de maconha e cocaína, mas agora o paco é a principal droga da Villa. É uma droga fácil de produzir e muito barata", complementa.

César nos recebe em sua casa de tijolos à vista pintados em marrom escuro. Ele divide o espaço com sua mulher e a primeira filha do casal, nascida há um ano. A morada modesta também abriga o pequeno estúdio da Radio FM 88.1 - La Radio de La Villa 31, à qual é proprietário. Com um mate em mãos e sentado em uma poltrona confortável ao canto da sala escura e repleta de quadros, troféus de campeonatos de futebol e objetos de porcelana, o morador apresenta um pouco do contexto da comunidade para quem não está habituado àquela realidade.

"A Villa pode ser perigosa para os habitantes de outras regiões, mas quem mora aqui se sente seguro. Há um código: não se rouba dos moradores", garante, embasando seu argumento no número de homicídios registrados na comunidade nos últimos anos: segundo o morador, em 2016, foram 40 assassinatos, contra cinco nos primeiros sete meses de 2017. "Os crimes estão relacionados às bandas de narco (facções de traficantes), cada uma formada por pessoas da mesma nacionalidade. A principal causa da violência está na guerra destes grupos pelos pontos de comércio de drogas", detalha.

A Villa 31 é a mais emblemática comunidade de Buenos Aires. As primeiras famílias invadiram a área, que até hoje está em disputa entre o Governo Federal e Administração Municipal, em 1929, e desde então não pararam de chegar novos moradores. No início dos anos 1990 uma crescente onda imigratória de povos vizinhos, principalmente paraguaios e bolivianos, gerou um novo boom de crescimento, resultando na criação da Villa 31 Bis. Atualmente a comunidade conta com 32 hectares de extensão e aproximadamente 90 mil habitantes, divididas em 12 bairros, seis de cada lado da Villa.

Uma rua suja, estreita e repleta de comércio divide as duas partes. Em meio à venda de peixes frescos, filhotes de coelhos vivos, frutas, roupas, aparelhos eletrônicos e praticamente tudo que se possa imaginar, se aglomeram barracos de tijolos uns sobre os outros, alguns alcançado até sete pavimentos. As edificações chamam a atenção por suas cores berrantes, como roxo, vermelho e azul, e pelas velhas escadas em formato de caracol enferrujadas pelo passar dos anos.

"Pouca coisa mudou de lá para cá. A principal diferença está na construção das casas, que antes eram feitas de madeira e compensado, e hoje se utilizam outros tipos de materiais".

PRODUÇÃO SIMPLES

A produção do paco é como a do crack. Os traficantes utilizam as sobras do refinamento de cocaína como matéria-prima, acrescentam bicarbonato de sódio e outros ingredientes, como veneno de rato, e "cozinham" a mistura em cima de uma colher. O processo simples e o uso de produtos de fácil acesso permitem que qualquer barraco ou tenda sirva de laboratório. A droga é comercializada em pequenos invólucros de plástico, a custo de 50 pesos, aproximadamente 10 reais cada.

"É como um doce de leite. Você experimenta e quer de novo, não tem como parar", descreve Juan Domingo Romero. Jala Jala, como Juan é conhecido na Villa 31, transita com facilidade em meio às ruas e vielas. Além de uma referência entre os moradores, o homem também é responsável pela organização de uma espécie de feira livre realizada nos fins de semana em uma das entradas da comunidade.

Mesmo habituado a forte realidade de uma das zonas mais miseráveis de Buenos Aires, Jala Jala se mostra impressionado diante dos reflexos causados pelo paco na comunidade. "Muitos usuários são ainda crianças, já vi de sete, oito anos fumando paco. Eles fogem de suas casas e vêm para a Villa para fumar a droga", conta.

"Os usuários ficam como naquele programa...como é mesmo? Ah, o Walkind Dead! Os paqueros (denominação dada aos usuários da droga) são como mortos-vivos andando pelas ruas".

PREVENÇÃO

O terceiro Barómetro del Narcotráfico y las Adicciones: Venta de Drogas y Consumos Problemático, realizado pela UCA em abril deste ano, apontou uma série de propostas para controlar o constante crescimento dos índices de consumo de drogas no país. Segundo o documento, é preciso criar políticas de Estado a longo prazo e que transcendam o debate partidário e eleitoral.

"As agências estatais, as diferentes forças políticas e os atores sociais devem construir um consenso mais amplo, evitando usar a problemática dos vícios em uma arena política-eleitoral", descreve o documento assinado por 27 especialistas de diversas áreas sociais.

O manifesto ainda frisa a necessidade de levar assistência e debater o assunto junto às camadas mais pobres e excluídas da sociedade argentina, fortalecer o vínculo com as instituições que prestam serviços sociais nas villas e dar atenção especial aos mais jovens, especialmente os de idade entre 15 e 18 anos.

"É fundamental compreender que uma parte importante dos problemas tem como fundo a exclusão social e a precariedade de existência, das quais os vícios e o consumo de drogas são sintomas de um problema muito mais complexo".

As diretrizes apontadas pelos especialistas não são nenhuma novidade para os moradores da Villa 31. Cansado de ouvir muitas promessas e não enxergar nenhuma mudança, César encara com desconfiança e descrença os novos discursos.

"As políticas do Estado são nulas, há muito tempo pedimos infraestrutura, que o crescimento seja acompanhado de políticas sociais", expõe. Com o nascimento da primeira filha, o líder comunitário sonha com uma nova realidade, longe das ruas estreitas e enlamaçadas da Villa 31.

"Eu queria sair do bairro, comprar um terreno em outro lugar. Aqui a situação é muito difícil. Se os pais não forem firmes, acabam perdendo seus filhos para as drogas, a gravidez na adolescência", lamenta.

GABRIEL BOSA é jornalista e participa do programa "Jornalismo sem Fronteiras", que leva jornalistas, estudantes de comunicação e áreas correlatas a Buenos Aires para um mergulho de 10 dias no trabalho de correspondente internacional
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas