quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Cocaína tem ação mais devastadora no cérebro de adolescentes


 


Uso de cocaína antes dos 18 anos provoca maiores prejuízos a funções do cérebro como atenção e memória
Foto: Juniorbolivar/Wikimedia Commons

Jornal USP
Alterações mais pronunciadas no desempenho cognitivo são encontradas em usuários precoces da substância
Por Júlio Bernardes - Editorias: Ciências da Saúde

Usuários de cocaína de início precoce, antes dos 18 anos, exibem alterações neuropsicológicas mais pronunciadas, com prejuízos nas funções do cérebro. A constatação é feita em pesquisa do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) que avaliou 103 dependentes da substância. O estudo liderado pela neuropsicóloga Bruna Mayara Lopes aponta ainda que os usuários precoces tem maior frequência de consumo de outras substâncias, como álcool e maconha, do que o grupo de início tardio, após os 18 anos.

A adolescência é um período crucial para o desenvolvimento neurológico. “Nessa fase da vida, o cérebro está em transformação, e acontece a chamada poda neural, quando neurônios sem uso são eliminados para refinar o funcionamento de outras áreas do cérebro, como o córtex frontal”, afirma Bruna. “Essa área é muito importante para a realização de funções executivas, tais como a memória do trabalho (capacidade de manter um número de informações enquanto executa uma tarefa), o controle inibitório e o planejamento. O uso de cocaína na adolescência pode levar a alterações, comprometimento e perda de funções cerebrais importantes para o dia-a-dia”.

A neuropsicóloga aponta que poucos estudos têm investigado o impacto do uso precoce da cocaína no desempenho cognitivo e nos padrões de uso de substâncias como álcool e maconha. “A pesquisa envolveu 103 pacientes dependentes de cocaína. Entre eles, havia 52 com início precoce, ou seja, que começaram a usar a substância antes dos 18 anos, em média por volta dos 15 anos. Outros 51 tiveram início tardio no uso de cocaína, após os 18 anos, em média com 21 anos”, relata. “Além disso, para comparar os resultados dos testes, foi avaliado um grupo controle com 63 pessoas saudáveis”.


Usuários precoces também têm maior frequência de consumo de outras substâncias, como álcool e maconha, do que o grupo de início tardio, após os 18 anos
Foto: Neo Tokio/Wikimedia Commons

Testes

O funcionamento neuropsicológico foi avaliado por meio de uma bateria de testes com duas horas de duração. “Os testes avaliaram a memória de trabalho, a atenção sustentada, ou seja a manutenção de foco durante a realização de uma tarefa e a memória declarativa, que é a capacidade de resgatar uma informação que foi recebida há 30 minutos”, explica Bruna. “O uso de álcool, maconha e tabaco foi avaliado por meio de questionário que mede o índice de gravidade de dependência”.”

De acordo com a neuropsicóloga, “as análises mostraram que o grupo de usuários precoces apresentou maior déficit cognitivo, com pior desempenho na atenção sustentada, na memória de trabalho e na memória declarativa em relação ao grupo controle”. O grupo de início tardio apresentou comprometimento na atenção dividida na comparação com as pessoas saudáveis. “Os usuários precoces também apresentaram maior uso de maconha e álcool do que os de início tardio”, acrescenta.

Usuários precoces apresentaram maior déficit cognitivo, com pior desempenho na atenção sustentada, na memória de trabalho e na memória declarativa.”

Os déficits cognitivos mais proeminentes nos usuários precoces provavelmente refletem um impacto negativo do uso de cocaína nos estágios do neurodesenvolvimento na adolescência. Isto pode estar relacionado com características clínicas mais severas do transtorno de substância neste subgrupo, incluindo abuso de outras substâncias, como álcool e cocaína. “O cérebro ainda pode se desenvolver até os 21 ou 22 anos, porém o uso precoce de cocaína pode causar prejuízo a áreas que estão em fase importante de formação”, afirma Bruna.

O estudo completo, publicado na edição de outubro de 2017 da revista Addictive Behaviors, pode ser acessado no site da publicação. Além de Bruna, o artigo é assinado por Priscila Dib Gonçalves, Mariella Ometto, Bernardo dos Santos, Mikael Cavallet, Tiffany Moukbel Chaim-Avancini, Maurício Henriques Serpa, Sérgio Nicastri, André Malbergier, Geraldo Busatto, Arthur Guerra de Andrade e Paulo Jannuzzi Cunha.
Mais informações: (11) 2661-7801, com Julieta Magalhães, na Assessoria de Imprensa do IPq


sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Uma injeção de esperança contra as drogas




(imagem reprodução)
Cientistas dão um pequeno passo em direção a vacinas que auxiliem no tratamento da dependência
The Economist, O Estado de S.Paulo

Entre 2000 e 2015, 500 mil pessoas morreram de overdose de drogas, só nos Estados Unidos. Na maior parte dos casos, as mortes foram provocadas por opioides, uma classe de analgésicos, geralmente sintéticos, relacionados com a morfina, que provocam dependência química. No último dia 8, o secretário de Saúde dos Estados Unidos, Tom Price, mencionou o possível desenvolvimento de uma vacina para prevenir a dependência. Especialistas advertiram que isso está muito longe de tornar-se realidade. Mas há pesquisas em andamento. Estudo publicado na quarta-feira, por exemplo, relata a busca por uma vacina contra a fenetilina, droga bastante popular em certas regiões do Oriente Médio.

A fenetilina é um estimulante, não um analgésico. Também não é uma substância pura, e sim o resultado da combinação de duas drogas. Um de seus componentes é a anfetamina, que é, por si, só um estimulante bastante conhecido, para o qual há um grande mercado negro. O outro é a teofilina, usada no tratamento de problemas respiratórios, como a doença pulmonar obstrutiva crônica. A fenetilina foi desenvolvida nos anos 1960, com o nome comercial de Captagon, para tratar hiperatividade em crianças, mas não é mais empregada com essa finalidade. Apesar de sua comercialização hoje ser ilegal na maior parte do mundo, ela ainda é utilizada com fins recreativos. As apreensões da droga nos países árabes representam um terço do total de anfetaminas apreendidas no mundo. Na Arábia Saudita, 75% das pessoas tratadas por problemas com drogas são dependentes de anfetaminas, na maioria dos casos sob a forma da fenetilina.

Por causa de sua natureza dupla, há um debate entre os cientistas sobre a forma como a fenetilina atua. Em vista disso, Cody Wenthur, Bin Zhou e Kim Janda, do Instituto de Pesquisas Scripps, com sede em La Jolla, na Califórnia, decidiram tentar desenvolver vacinas contra seus dois componentes, contra os produtos de sua decomposição metabólica, bem como contra a droga como um todo, em um processo que os cientistas chamaram de “vacinação incremental”.

O desenvolvimento de qualquer vacina implica estimular o sistema imunológico a reconhecer a substância contra a qual se deseja proteger o organismo. Acontece que o sistema imunológico tende a reconhecer e criar anticorpos apenas contra moléculas grandes, como as proteínas. A maioria das drogas é muito pequena para ser reconhecida. É por isso que os fumantes e usuários de cocaína não desenvolvem imunidade contra seus vícios: a nicotina e a cocaína são invisíveis para o sistema imunológico. O mesmo acontece com a anfetamina e a teofilina.

Pequeno é problema. Vacinas contra moléculas pequenas podem ser desenvolvidas por meio da combinação de versões dessas moléculas com proteínas transportadoras, a fim de criar um complexo grande o bastante para provocar uma reação imunológica. A equipe do Scripps optou pela hemocianina, proteína derivada de um caramujo chamado “keyhole lipet” Megathura crenulata, que é particularmente eficaz nesse quesito.

A ideia dos pesquisadores era a seguinte: como os anticorpos são, por si só, moléculas grandes, se o sistema imunológico pudesse ser induzido a produzir anticorpos contra os componentes da fenetilina, a combinação das moléculas da droga com os anticorpos seria grande demais para atravessar a barreira hematoencefálica — sistema de células muito próximas umas das outras, que forra os vasos sanguíneos do cérebro, a fim de impedir a entrada de coisas perigosas no órgão. Mantidas do lado de fora do cérebro, as drogas não teriam como afetá-lo.

Para realizar o experimento, os cientistas utilizaram ratos de laboratório. Injetaram diversas versões de vacinas nos roedores e acompanharam de perto seu comportamento, prestando atenção principalmente em níveis incomuns de ansiedade e padrões estranhos de movimentação. Também verificaram os níveis de presença das moléculas da droga na corrente sanguínea e no cérebro dos animais.

A utilização da abordagem incremental permitiu que a equipe de pesquisadores acompanhasse os efeitos de diferentes moléculas nos padrões de atividade dos animais. Verificou-se, por exemplo, que a teofilina presente na fenetilina amplifica o efeito da anfetamina.

Mais importante que isso porém, foi observar os efeitos da vacina contra a fenetilina como um todo. Ao receberem uma dose da droga, os ratos em que essa vacina havia sido previamente injetada exibiram expressiva redução, na comparação com os animais não vacinados, no tipo de movimentos incessantes que a fenetilina provoca. Além disso, quantidade 30 vezes maior da droga permanecia bloqueada na corrente sanguínea, em vez de penetrar o cérebro dos ratos vacinados.

É um resultado promissor. Ainda que a ideia de uma vacina preventiva, como a desejada por Price, continue muito distante, o estudo mostra que talvez seja possível desenvolver um imunizante para tratar pessoas já dependentes da droga. É bem verdade que as tentativas anteriores para desenvolver vacinas contra drogas de moléculas pequenas, incluindo metanfetamina, nicotina, cocaína e morfina, acabaram todas se mostrando infrutíferas. Mas as coisas podem ser diferentes desta vez. / TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER
© 2017 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.


quarta-feira, 23 de agosto de 2017

EUA têm nova droga ilegal: o ´blood`, feito de sangue humano


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(IJzendoorn/iStock)
Ampola contém sangue e outras 13 substâncias, como codeína e metanfetamina - e um detalhe que a torna ainda mais perigosa que as drogas comuns
Por Bruno Garattoni

A polícia de Bucks County, na Pensilvânia, foi a primeira a obter uma ampola da droga, que tem a aparência de um líquido vermelho e é conhecida como Blood (sangue, em inglês). É uma mistura de sangue humano com fentanyl, um analgésico opiáceo extremamente potente. Porém, testes realizados na amostra revelaram que, além de sangue e fentanyl, ela também continha codeína, efedrina, THC e metanfetamina, totalizando 13 substâncias.

Segundo a revista americana Popular Science, que relatou o caso, a ampola continha 11 miligramas de metanfetamina – uma dose inteira. Isso afasta a possibilidade de contaminação acidental (quando uma pessoa utiliza drogas injetáveis, uma pequena quantidade do seu sangue, incluindo resíduos de drogas, pode voltar para a seringa). Ou seja: alguém realmente misturou sangue humano com fentanyl e metanfetamina, com a intenção de criar uma nova droga.

Como é injetável, o Blood pode transmitir HIV e outros vírus, mas também apresenta um risco adicional: a incompatibilidade sanguínea. Se uma pessoa receber sangue de um tipo incompatível com o dela, isso irá disparar uma reação imunológica potencialmente letal – pois cria coágulos sanguíneos que podem levar a acidentes vasculares ou parada cardíaca.
Fonte: SuperInteressante

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Novos vícios e antigas drogas




Olhos fixos na tela do game: longe da realidade fora das máquinas (Foto: Thinkstock)

Games e mídias sociais operam na lógica de várias drogas, com feedback e recompensas

O tempo gasto por crianças e jovens em tablets, celulares e similares preocupa pais e especialistas. Ansiedade, distúrbios do sono, isolamento e dispersão são relacionados ao abuso de eletrônicos. Filmes e jogos na infância e redes sociais e games na adolescência –vitaminados pela portabilidade dos aparelhos – têm afastado as novas gerações da realidade fora das máquinas, reduzindo o aprendizado de habilidades sociais e motoras. Fazer amigos, praticar atividades físicas e trabalhar em equipe são diretamente comprometidos pelo excesso de interação digital.

Nos Estados Unidos, médicos estão intrigados com a queda do consumo de drogas nos últimos dez anos entre jovens. No mesmo período, aconteceu uma explosão do uso de smartphones. Em 2015, uma pesquisa constatou que americanos entre 13 e 18 anos gastavam cerca de seis horas diárias em frente à telinha. A hipótese é que substâncias químicas e celular proporcionam efeitos parecidos (como prazer e estímulo mental), com a vantagem de o último ser legal e incentivado desde cedo, daí a substituição de um por outro. Quem nunca emprestou o aparelho ao filho pequeno para aplacar uma crise de choro?

Games e mídias sociais operam na lógica de várias drogas, com feedback e recompensas. Os jogos são altamente sensíveis aos nossos anseios – respondem mediante comandos. E trazem a expectativa de vitória (nunca a certeza), o que mantém o usuário sempre disposto a mais uma rodada. O mesmo raciocínio se aplica às curtidas, views e compartilhamentos – são imprevisíveis e afagam (ou ferem) egos.

A dopamina, neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar, é ativada quando cumprimos metas. Adictos apresentam deficiência dela e abusam para conseguir a próxima dose. Entender e tratar as causas de excessos relacionados à tecnologia – eles não são a raiz, mas a expressão de outros desequilíbrios – é tarefa multidisciplinar e urgente. Sob pena de gadgets e seus usos transformarem-se em problema e não solução.

Enquanto a dependência tecnológica nos desafia, drogas psicodélicas parecem à beira da redenção. LSD (uma bem conhecida droga dos anos 40), psilocibina (encontrada nos cogumelos mágicos) ou ecstasy têm despertado interesse crescente de pesquisadores e usuários com novas aplicações. Apesar de ilegal, a administração de microdoses de LSD para melhorar a criatividade, concentração e ânimo virou moda entre americanos que buscam incrementar o desempenho mental ou tratar a depressão resistente a tratamentos convencionais. Substâncias alucinógenas vêm obtendo financiamento para pesquisa em instituições renomadas, principalmente por seu potencial terapêutico.

O uso de ecstasy (metilenodioximetanfetamina ou MDMA), por sua vez, ganha adeptos entre os que sofrem de estresse pós-traumático, mal que acomete pessoas envolvidas em situações de violência. Ele aumenta a sensação de confiança nos outros e a clareza sobre o trauma, auxiliando no enfrentamento do problema. Já em estudo entre humanos, há perspectiva de ser aprovado como medicamento pelo Food and Drug Administration (FDA) até 2021.

Em tempos de Inteligência Artificial e intensa competição no mercado de trabalho, é provável que cérebros ”turbinados” por fármacos ou drogas psicodélicas tornem-se um fenômeno relativamente comum. Quais as consequências dessa prática no longo prazo? Não há respostas. Há testes em ratos que após um longo período de administração de microdoses de LSD apresentaram comportamento agressivo de tipo psicótico.

Há os que propõe outro caminho para a melhora da performance funcional ou mesmo da existencial: a meditação. Viagens psicodélicas e meditação avançada ambas oferecem meios para a chamada “dissolução do ego” – a redução da noção de si, que permite experimentar o mundo que nos cerca de outra forma, reavaliando assim prioridades e nossa própria forma de ser e agir. A meditação transcendental reconhecidamente contribui para a melhora de vários aspectos da saúde física e mental – funções cognitivas são um deles.

A complexidade da vida contemporânea exige mais e mais de nossas capacidades intelectuais e emocionais. Seja pela ingestão de aditivos ou por via da meditação seguimos em busca da superação permanente para que... para que... para que mesmo?
*CEO da Dentsu Aegis Network Brasil e Isobar Latam
Fonte: Época

sábado, 19 de agosto de 2017

´Irmã` do crack, droga se dissemina na periferia de cidades da Argentina


 

João Pina/The New York Times

Viciada mostra a droga paco, que ela comercializa, em favela de Buenos Aires
Jornal Folha de S. Paulo
Gabriel Bosa
Colaboração para a Folha, de Buenos Aires

Um sorriso largo se abre com facilidade e ilumina a face levemente morena e arredondada de Lorena. A cada poucas palavras ditas em um espanhol rápido, pausa para um riso leve, como se aquela fosse a deixa para eu rascunhar em meu caderno parte da história que ela me conta. São pouco mais de 10 horas de uma manhã de domingo gelada e chuvosa em Buenos Aires. Estamos sentados em cadeiras de ferro com encostos plásticos dentro de um pequeno salão de paredes brancas e desbotadas.
A mulher divide a atenção da nossa conversa com um prato plástico à sua frente servido de pequenos pães e um copo quente de café. Beirando os 40 anos, Lorena mantém um ar jovial com parte do seu cabelo escuro preso para trás e sua mochila preta com detalhes em rosa. Vestindo apenas uma calça de moletom cinza, blusa vermelha e jaqueta preta com capuz, a mulher parece bastante confortável, apesar do tempo terrível que castiga a capital portenha.

A história de Lucero Lorena Vanessa, seu nome de batismo, é apenas mais uma em meio às milhares que enchem as villas, como são chamadas as favelas e zonas de risco da Argentina. A mulher passa as noites em uma cama improvisada às margens de Puerto Madero, tradicional endereço dos mais caros restaurantes e bistrôs de Buenos Aires, e sobrevive da venda informal de produtos nas ruas da cidade. Lorena é mãe de cinco filhos, com quem aos poucos está retomando contato. As crianças vivem com a família de sua mãe na província de San Luiz, a 794 quilômetros da capital.

O EFEITO

A forma descontraída de falar e os inocentes sorrisos que exibe em intervalos de poucos segundos contrastam drasticamente com o teor dos relatos que descreve em minuciosos detalhes. Há três anos Lorena batalha contra o vício em paco, uma droga disseminada entre as camadas mais pobres da Argentina. Assim como o crack, o paco é um subproduto da cocaína. A droga se resume em uma pedra, altamente tóxica, barata e com grau extremo de adicção, consumida em cachimbos improvisados com latas e canos.

"Você coloca fogo na pedra e o efeito é imediato. Você surta, fica desesperado, completamente louco. A paranoia é muito grande, você fica olhando para todos os lados, achando que vai aparecer alguém para te roubar, para te apunhalar", descreve.
O êxtase da tragada se extingue em minutos. A sensação de vazio e depressão que seguem são os impulsionadores para consumir a próxima pedra, uma espiral de euforia e abstinência que pode se estender por horas ou dias.

"A droga é muito mais forte que nós. Ela nos controla, nos faz fazer muitas coisas, roubar, assassinar, sequestrar", expõe Lorena, afirmando que já chegou à consumir 20 mil pesos em paco, aproximadamente quatro mil reais, em um único dia.

Sem demonstrar se abalar e sempre com uma entonação alegre, a mulher descreve a primeira experiência com o paco, através de um amigo em uma casa abandonada, e todos os clichês subsequentes de quem é dependente de uma droga extrema: o distanciamento do convívio familiar, fugas de casa, a rotina de sobrevivência em meios a outros usuários e traficantes nas villas, e os pequenos delitos cometidos para sustentar o vício.

TRAGÉDIA

A escalada no vício eclodiu em 2014. Mesmo grávida do sétimo filho, Lorena manteve a rotina destrutiva de consumo diário de paco e bebidas alcoólicas. O abuso das substâncias causou a perda do filho que carregava no ventre pelas ruas de Buenos Aires. No mesmo dia, um telefonema da casa de sua mãe lhe avisara que um de seus filhos havia morrido eletrocutado enquanto jogava futebol com outras crianças nas ruas de San Luiz.

"Foi um trauma, em um dia perdi dois filhos", resume em voz grave enquanto me encara fixamente com seus olhos castanhos durante um raro momento de seriedade. A culpa pela morte dos filhos poderia ter sido o pretexto para que Lorena se deixasse vencer de vez pelo paco. Ao contrário, a mulher encontrou na tragédia toda a força que precisava para sair do seu inferno particular.

"Eu parei no dia seguinte por força própria. Parei para que eu possa voltar a conviver com minha família, para que possa ver meus filhos de novo".

REFLEXO DA CRISE

O surgimento do paco nas zonas mais vulneráveis de Buenos Aires é mais um reflexo da grave crise econômica que assolou a Argentina na virada do novo milênio. A disparada vertiginosa da classe pobre do país, alcançando pico de 70% em 2002, criou o cenário ideal para a disseminação da droga barata e de fácil preparação.

Segundo os dados do Observatorio Argentindo de Drogas (OAD), vinculado à Secretaría de Políticas Integrales sobre Drogas de La Nación Argetina (Sedronar), entre 2004 e 2010, houve um aumento no uso de drogas ilícitas por parte da população de 12 a 65 anos. O levantamento apontou o crescimento de 1,9% para 3,5% do uso de maconha e de 0,5% para 1,5% do número dos usuários de cocaína. Ainda não havia dados precisos do consumo de paco, mas os pesquisadores estimam que o país concentre aproximadamente 180 mil usuários da "droga dos pobres".

Apesar da retomada dos investimentos de capitais, a queda do índice de pobreza para 30% e o recente controle financeiro alcançado nos últimos anos, as sequelas causadas pelas pequenas pedras amareladas ainda é latente nas zonas periféricas do país.

"Nem sempre o crescimento da economia está associado à diminuição da pobreza e do narcotráfico. No anos 1990 houve um crescimento econômico, mas significou o aumento da desigualdade entre ricos e pobres e a explosão do narcotráfico", explica o doutor em Sociologia pela Universidad de Sán Martín, Daniel Schteingart.

Um outro levantamento feito pelo Observatorio de La Deuda Social Argentina (ODSA) da Universidad Católica Argentina (UCA) em parceria com a fundação Konrad Adenauer Stiftung, divulgado em abril deste ano, mostra que, em 2016, 2,9% dos jovens entrevistados havia usado paco ao menos uma vez na vida. O estudo ainda revela que 3,3% dos que admitiram usar drogas alguma vez consomem paco de maneira intensiva e 3,2% de forma ocasional.

João Pina/The New York Times

Mulher usa o paco em favela de Buenos Aires, na Argentina

ATENÇÃO

"Eles aparecem todos os dias, pedem comida, água, roupas. Muitos não têm família e vêm apenas para conversar, querem alguém que lhes dê atenção". Quem fala é Rios Elizabeth, uma das voluntárias da Pastoral Social da igreja Inmaculado Corazón de Maria. O grupo integra uma rede de assistência à população de rua e zonas de risco de Buenos Aires, trabalho replicado em centenas de outros centros religiosos espalhados pela Argentina.

Sem distinguir ou fazer perguntas, os voluntários prestam auxílio para todos que os procuram. Refeições gratuitas, cadastramento em programas sociais, ajuda para reencontrar familiares e o encaminhamento de usuários de drogas para centros de tratamento são algumas das ações realizadas pelas entidades.

"Nós procuramos vagas nas instituições particulares e nas mantidas pelas igrejas. Muitos nos pedem ajuda para sair do vício, mas nem todos conseguem se recuperar. Aqueles que conseguem, nós continuamos dando assistência para evitar as recaídas tirando daquele ambiente que a pessoa estava inserida", detalha o irmão Mário Massim, responsável pela Pastoral Social.

Os voluntários da paróquia testemunharam a chegada do paco às ruas e villas da capital portenha no início dos 2000 e a tragédia social que seguiu com a disseminação da droga entre as classes mais periféricas da população. Habituados em prestar assistência para milhares de adictos em narcóticos, a Pastoral Social precisou se readequar para lidar com a nova demanda.

"Antes era apenas cocaína e maconha, então o paco veio como uma onda. Não há distinção de idade ou de gênero dos usuários, alguns têm 30, 40 anos, mas muitos são mais novos", lamenta Rios.

LA VILLA 31

As vielas estreitas e enlamaçadas da Villa 31 formaram um território fértil para a propagação da "droga dos pobres". Longe da atenção e interesses do Poder Público, o paco se disseminou como praga em meio aos barracos e tendas da mais famosa zona de vulnerabilidade social da Argentina. A comunidade está incrustada em meio à região central de Buenos Aires, fazendo margem com áreas nobres, como Recoleta e Palermo, e poucos minutos a pé da Casa Rosada, sede do governo nacional, Obelisco, Avenida 9 de Júlio, entre outros pontos turísticos da capital.

Da porta de casa, o líder comunitário, César Luciano Sanabria, acompanhou o estrago causado pelas pequenas pedras amarelas. Ele se mudou para a Villa 31 durante a adolescência, no início dos anos a 1980, época que a comunidade já era reconhecida como uma das mais violentas de Buenos Aires.

"O paco é como um câncer difícil de erradicar", pontua. "Sempre houve (venda e consumo) de maconha e cocaína, mas agora o paco é a principal droga da Villa. É uma droga fácil de produzir e muito barata", complementa.

César nos recebe em sua casa de tijolos à vista pintados em marrom escuro. Ele divide o espaço com sua mulher e a primeira filha do casal, nascida há um ano. A morada modesta também abriga o pequeno estúdio da Radio FM 88.1 - La Radio de La Villa 31, à qual é proprietário. Com um mate em mãos e sentado em uma poltrona confortável ao canto da sala escura e repleta de quadros, troféus de campeonatos de futebol e objetos de porcelana, o morador apresenta um pouco do contexto da comunidade para quem não está habituado àquela realidade.

"A Villa pode ser perigosa para os habitantes de outras regiões, mas quem mora aqui se sente seguro. Há um código: não se rouba dos moradores", garante, embasando seu argumento no número de homicídios registrados na comunidade nos últimos anos: segundo o morador, em 2016, foram 40 assassinatos, contra cinco nos primeiros sete meses de 2017. "Os crimes estão relacionados às bandas de narco (facções de traficantes), cada uma formada por pessoas da mesma nacionalidade. A principal causa da violência está na guerra destes grupos pelos pontos de comércio de drogas", detalha.

A Villa 31 é a mais emblemática comunidade de Buenos Aires. As primeiras famílias invadiram a área, que até hoje está em disputa entre o Governo Federal e Administração Municipal, em 1929, e desde então não pararam de chegar novos moradores. No início dos anos 1990 uma crescente onda imigratória de povos vizinhos, principalmente paraguaios e bolivianos, gerou um novo boom de crescimento, resultando na criação da Villa 31 Bis. Atualmente a comunidade conta com 32 hectares de extensão e aproximadamente 90 mil habitantes, divididas em 12 bairros, seis de cada lado da Villa.

Uma rua suja, estreita e repleta de comércio divide as duas partes. Em meio à venda de peixes frescos, filhotes de coelhos vivos, frutas, roupas, aparelhos eletrônicos e praticamente tudo que se possa imaginar, se aglomeram barracos de tijolos uns sobre os outros, alguns alcançado até sete pavimentos. As edificações chamam a atenção por suas cores berrantes, como roxo, vermelho e azul, e pelas velhas escadas em formato de caracol enferrujadas pelo passar dos anos.

"Pouca coisa mudou de lá para cá. A principal diferença está na construção das casas, que antes eram feitas de madeira e compensado, e hoje se utilizam outros tipos de materiais".

PRODUÇÃO SIMPLES

A produção do paco é como a do crack. Os traficantes utilizam as sobras do refinamento de cocaína como matéria-prima, acrescentam bicarbonato de sódio e outros ingredientes, como veneno de rato, e "cozinham" a mistura em cima de uma colher. O processo simples e o uso de produtos de fácil acesso permitem que qualquer barraco ou tenda sirva de laboratório. A droga é comercializada em pequenos invólucros de plástico, a custo de 50 pesos, aproximadamente 10 reais cada.

"É como um doce de leite. Você experimenta e quer de novo, não tem como parar", descreve Juan Domingo Romero. Jala Jala, como Juan é conhecido na Villa 31, transita com facilidade em meio às ruas e vielas. Além de uma referência entre os moradores, o homem também é responsável pela organização de uma espécie de feira livre realizada nos fins de semana em uma das entradas da comunidade.

Mesmo habituado a forte realidade de uma das zonas mais miseráveis de Buenos Aires, Jala Jala se mostra impressionado diante dos reflexos causados pelo paco na comunidade. "Muitos usuários são ainda crianças, já vi de sete, oito anos fumando paco. Eles fogem de suas casas e vêm para a Villa para fumar a droga", conta.

"Os usuários ficam como naquele programa...como é mesmo? Ah, o Walkind Dead! Os paqueros (denominação dada aos usuários da droga) são como mortos-vivos andando pelas ruas".

PREVENÇÃO

O terceiro Barómetro del Narcotráfico y las Adicciones: Venta de Drogas y Consumos Problemático, realizado pela UCA em abril deste ano, apontou uma série de propostas para controlar o constante crescimento dos índices de consumo de drogas no país. Segundo o documento, é preciso criar políticas de Estado a longo prazo e que transcendam o debate partidário e eleitoral.

"As agências estatais, as diferentes forças políticas e os atores sociais devem construir um consenso mais amplo, evitando usar a problemática dos vícios em uma arena política-eleitoral", descreve o documento assinado por 27 especialistas de diversas áreas sociais.

O manifesto ainda frisa a necessidade de levar assistência e debater o assunto junto às camadas mais pobres e excluídas da sociedade argentina, fortalecer o vínculo com as instituições que prestam serviços sociais nas villas e dar atenção especial aos mais jovens, especialmente os de idade entre 15 e 18 anos.

"É fundamental compreender que uma parte importante dos problemas tem como fundo a exclusão social e a precariedade de existência, das quais os vícios e o consumo de drogas são sintomas de um problema muito mais complexo".

As diretrizes apontadas pelos especialistas não são nenhuma novidade para os moradores da Villa 31. Cansado de ouvir muitas promessas e não enxergar nenhuma mudança, César encara com desconfiança e descrença os novos discursos.

"As políticas do Estado são nulas, há muito tempo pedimos infraestrutura, que o crescimento seja acompanhado de políticas sociais", expõe. Com o nascimento da primeira filha, o líder comunitário sonha com uma nova realidade, longe das ruas estreitas e enlamaçadas da Villa 31.

"Eu queria sair do bairro, comprar um terreno em outro lugar. Aqui a situação é muito difícil. Se os pais não forem firmes, acabam perdendo seus filhos para as drogas, a gravidez na adolescência", lamenta.

GABRIEL BOSA é jornalista e participa do programa "Jornalismo sem Fronteiras", que leva jornalistas, estudantes de comunicação e áreas correlatas a Buenos Aires para um mergulho de 10 dias no trabalho de correspondente internacional
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas


segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Como o álcool atrapalha seu sono e o que fazer para evitar o problema


 


MARTIN-DM VIA GETTY IMAGES
5 maneiras de proteger seu sono daquela última taça de vinho antes de ir para a cama.

O álcool piora os distúrbios do sono.

Você pode mudar de ideia antes de tomar sua bebidinha no fim do dia caso seu objetivo seja uma sólida noite de sono. Vinho, cerveja, licor... todas essas bebidas podem ajudá-lo a adormecer mais rápido (ou "encurtar a latência do sono", para usar um termo mais técnico), mas especialistas concordam que, se você bebe antes de ir para a cama, é mais provável que acorde durante a noite e durma menos profundamente.

A verdade sobre o vinho antes de ir para a cama

Se você bebe pouco antes da hora de dormir, tanto a qualidade como a quantidade do sono — e sua capacidade intelectual no dia seguinte — serão prejudicadas.

"O álcool atrapalha os ciclos do sono, fazendo com que você desperte mais vezes e passe menos tempo nos importantes estágios de sono profundo", diz o médico Rajkumar Dasgupta, professor assistente da Escola de Medicina Keck da Universidade do Sul da Califórnia e porta-voz da Academia Americana de Medicina do Sono.

Isto significa que, mesmo se você cair no sono rapidamente, pagará o preço mais tarde à noite (sem falar na manhã seguinte).

Passamos pelos vários estágios do sono a cada 90 minutos mais ou menos e tendemos a dormir mais profundamente na segunda parte da noite, quando os efeitos do álcool realmente entram em cena, diz Dasgupta. Precisamos passar mais tempo nesses estágios mais avançados para que o sono seja restaurador. Além disso, o sono profundo é crucial para a cognição e a memória.

Assim funciona o sono com a bebida

O álcool é um depressor do sistema nervoso central, segundo a médica Patricia Carter, professora associada da Escola de Enfermagem de Austin da Universidade do Texas e integrante do comitê da Sociedade de Pesquisa do Sono.

"Quando alguém toma uma bebida alcóolica, acaba se sentindo ´mais calmo` e mais relaxado porque isso impacta diretamente o sistema que está causando a ansiedade ou a sensação de ´estresse`", diz Carter. Em outras palavras, a bebida alcóolica ajuda a adormecer —, mas não garante uma noite de repouso.

Depois de um curto período — cerca de duas horas, dependendo do metabolismo —, o corpo começa a tentar eliminar o álcool, que é visto como uma toxina, diz Carter. Este processo é conseguido retirando água das células e expulsando a toxina por meio dos rins e da bexiga (por isso você tem de levantar e urinar tão frequentemente).

Além disso, o álcool inibe o hormônio antidiurético no organismo, o que contribui para mais idas ao banheiro, segundo Dasgupta. E, quando você vai muito ao banheiro, está perdendo eletrólitos essenciais.

Todos esses fatores podem se somar a uma terrível noite de sono leve e com frequentes interrupções, e você se sentirá exausto e desidratado pela manhã. Mas não precisa ser assim!

Cinco dicas de especialistas para tomar uma bebida e conseguir dormir depois:

1. Espere de três a quatro horas depois de beber para mergulhar nos lençóis. Se você pretende ir para a cama às 22h, certifique-se de terminar a taça de vinho às 7h. (O corpo leva aproximadamente três horas para metabolizar cerca de 240 ml de vinho, diz Dasgupta.) Mas o tempo exato pode variar dependendo do tamanho, gênero e ingestão de álcool. A bebida alcóolica tende a afetar as mulheres de forma mais aguda, diz Carter, que sugere uma janela de quatro horas tanto para mulheres quanto para homens.

2. Use a regra "dois para um". Inebrie-se com dois copos de água para cada bebida alcóolica. Isso ajudará seu sistema a eliminar o álcool, diz Carter. (Beba ainda mais água se estiver ingerindo vinho ou uma bebida açucarada, já que seu corpo precisará eliminar o álcool e o açúcar.)

3. Pule a cava. As bolhas podem causar inchaço e gás, que distendem o estômago, proporcionando mais área de superfície para o álcool ser absorvido (e atrapalhar seu sono), segundo Dasgupta. Da mesma forma, pense duas vezes antes de ingerir bebidas frisantes e carbonatadas.

4. Beba comendo — e preste atenção à ingestão de álcool. Beber e comer ao mesmo tempo é uma boa ideia, porque normalmente comemos horas antes de ir para a cama, o que permite mais tempo para que o corpo metabolize a bebida e também mais tempo para ingerir aqueles cruciais copos de água. Mas há uma armadilha: a comida reduz o "golpe" do álcool, diz Carter, por isso, você pode acabar bebendo mais para se "sentir alegrinho".

5. Nunca beba caso esteja tomando comprimidos para dormir. Remédios como Ambien e outros medicamentos vendidos sem prescrição médica, como Benadryl, não devem ser ingeridos com álcool, diz Dasgupta. O álcool é um depressor respiratório (ou seja, torna a respiração difícil) e a maioria dos comprimidos para dormir atua sobre os mesmos receptores que o álcool no corpo, reduzindo ainda mais a capacidade de respirar. Portanto, o álcool aumenta os efeitos das pílulas para dormir, o que pode ser muito perigoso.

É importante destacar que o álcool piora os distúrbios do sono. Mais de 18 milhões de adultos sofrem de apneia, um problema que interrompe a respiração durante o sono, segundo a Fundação Nacional do Sono. Como o álcool dificulta ainda mais a respiração, é um duplo golpe para a saúde de qualquer pessoa com o distúrbio, diz Dasgupta. As bebidas alcóolicas também podem aumentar os sintomas ou efeitos da parasomnia (sonambulismo) e síndrome das pernas inquietas. Portanto, se você tiver qualquer um desses distúrbios, precisa tomar um cuidado extra com a ingestão de álcool.
*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e traduzido do inglês.
Fonte: Huff Post Brasil

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

omo as empresas lidam com o uso da maconha por empregados nos EUA


 


BBC Brasil
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Maconha é ilegal na legislação federal americana, mas 30 Estados e o distrito de Columbia permitem seu uso medicinal e recreacional

Um número cada vez maior de Estados americanos está legalizando ou descriminalizando o uso medicinal e recreativo de maconha - o que faz com que empresas tenham de lidar com a possibilidade de empregados irem ao trabalho ainda sob seus efeitos.

No entanto, diferentemente do álcool e de outras substâncias, traços da maconha permanecem por semanas ou meses no organismo, o que dificulta a aplicação de exames toxicológicos no ambiente de trabalho para detectar se uma pessoa a usou recentemente.

É possível que empregados façam isso em seu tempo livre ou nas férias e, depois, de volta ao trabalho, sejam demitidos porque seus exames em testes toxicológicos deram positivo. Além disso, a existência de leis e regulamentações conflitantes é especialmente complexa para empresas multinacionais ou mesmo as que operam em diferentes regiões dos Estados Unidos.

No país, a maconha é ilegal pela legislação federal, mas 30 Estados e o distrito de Columbia permitem seu uso medicinal e recreacional. Atualmente, 20% dos adultos usam a droga e 14% o fazem regularmente, de acordo com uma pesquisa do Yahoo News em parceria com a Faculdade Marista em Poughkeepsie, de Nova York.

Esses índices devem aumentar significativamente nos próximos anos na América do Norte. Na Califórnia, o Estado mais populoso, com quase 40 milhões de habitantes, o uso recreativo da droga é legal desde novembro do ano passado. O Canadá tem planos de fazer o mesmo e já permite o uso medicinal.

No entanto, a maconha continua ilegal em muitos países, entre eles Brasil, Reino Unido, França, Irlanda, Indonésia, China, Japão, Coreia do Sul e Arábia Saudita. Já em outros como Itália, México, Argentina, Áustria, Chile, Colômbia, Holanda, Espanha e Suíça o uso pessoal foi descriminalizado.

O Uruguai foi o primeiro país a legalizar totalmente a produção e a venda de maconha para fins recreativos. Farmácias passaram a vender a droga neste mês.

"Você precisa de auxílio em cada país em que opera para criar uma política corporativa sobre uso de entorpecentes que não viole as leis locais", diz o advogado Tony Fiore, do Estado de Ohio.

Colcha de retalhos

Algumas leis e a jurisprudência nos Estados Unidos permitem que empresas demitam empregados que tenham resultados positivos para maconha em exames toxicológicos.

Isso é possível mesmo em Estados onde hoje a droga é legal. O Tribunal Superior do Colorado decidiu, por exemplo, que os empregadores podem despedir funcionários mesmo que o uso de maconha seja para fins medicinais.

Como a droga continua sendo ilegal de acordo com leis federais, a corte manteve a demissão de Brandon Coats, que trabalhava no serviço de atendimento ao consumidor da Dish Network, uma empresa de TV por assinatura. Brandon é tetraplégico e usa a droga para aliviar a dor dos espasmos musculares causados pela deficiência. Em exame aleatório, seu resultado foi positivo.

De acordo com os registros do caso, ele nunca chegou a ser acusado de estar sob influência da droga no trabalho e afirmou nunca tê-la usado no escritório.

Brandon trabalhava na empresa há três anos e recebia ótimas avaliações antes de sua demissão, em 2010. Ele não lidava com nenhuma atividade de risco e nunca havia pedido nenhum tipo de mudança na rotina por conta do uso de maconha.

Por sua vez, outros Estados americanos criaram leis que determinam que empresas abram exceções para o consumo de maconha por motivos médicos — desde que a droga não afete o desempenho no local de trabalho.

Regulamentações sobre a realização de exames toxicológicos nas empresas variam ao redor do mundo. O Centro Europeu de Monitoramento de Drogas e Vício afirma que, no continente, apenas Finlândia, Irlanda e Noruega têm regras específicas que lidam com a questão dos exames.

Na Noruega, por exemplo, esse tipo de teste é considerado uma violação da privacidade de um funcionário ou candidato a vaga e só pode ser feito quando estritamente necessário, como para proteger a segurança do trabalhador ou de outras pessoas.

Os empregadores canadenses têm muito menos liberdade para fazer testes de drogas do que os americanos. "As empresas têm de corresponder às exigências de saúde e segurança, como em casos nos quais funcionários precisam dirigir. Ao mesmo tempo, precisam acomodar trabalhadores que fazem uso medicinal da droga", diz o advogado trabalhista Darryl Hiscocks, de Toronto.

Ele acredita que as companhias devem pedir para que os funcionário informem seus gerentes casos estejam usando maconha por indicação médica. "É uma questão de balancear os direitos humanos e o direito à privacidade do trabalhador com preocupações relativas à saúde e à segurança no ambiente de trabalho", diz.

Por causa dessa legislação que é uma "colcha de retalhos", trabalhadores que usam maconha por motivos de saúde ou de forma recreacional podem acabar precisando lidar com obstáculos na carreira. "Eles podem ser impossibilitados de viajar, por exemplo, caso tenham recebido uma prescrição para o uso de maconha e a droga não for permitida no país ou Estado de destino", diz o advogado Tony Fiore.

Um questão complexa

Não existem estatísticas sobre quantas pessoas já foram demitidas — ou deixaram de ser contratadas — por resultados positivos para maconha em testes toxicológicos, mas não há dúvidas de que isso é comum.

"A questão da maconha no ambiente de trabalho é complexa e vai precisar de mais atenção das empresas conforme mais Estados e países descriminalizem a droga", diz Todd Simo, diretor da HireRight, empresa que oferece serviços de pesquisa de antecedentes para empresas.

"Hoje, o uso de maconha é um sinal amarelo, não um sinal vermelho, como no passado."


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Leis sobre exames toxicológicos no ambiente de trabalho variam ao redor do mundo

Conforme o estigma associado ao uso da maconha tem diminuído nos EUA, algumas empresas vem permitindo que empregados façam isso até no trabalho — principalmente nos casos de fins medicinais.

Como se trata de uma substância psicotrópica, há uma série de efeitos identificados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que podem interferir na rotina de trabalho - como o fato de a maconha "comprometer o desempenho psicomotor em uma série de habilidades, como coordenação motora, capacidade de dividir a atenção entre várias tarefas".

Mas alguns empregadores entendem que os efeitos variam de indivíduo para indivíduo. "Menos de um terço dos estudos encontraram uma correlação entre uso de maconha e menor eficiência", diz Sarah Sullivan, coordenadora da área de controle de riscos da Lockton, uma corretora de seguros.

O empreendedor Altay Guvench diz que empregadores deveriam perceber que alguns funcionários podem até se beneficiar do uso. Guvench diz que, para ele, foi muito útil — das aulas em Harvard ao aumento da produtividade e criatividade no trabalho. "Maconha me ajudou a reduzir a depressão e a ansiedade e a manter minha mente focada em criar softwares ou em praticar música", diz ele.

O uso da droga normalmente não é permitido para pessoas que trabalhem em cargos em que haja riscos à segurança pessoal e de outras pessoas, como dirigir um ônibus ou operar máquinas pesadas. Além disso, empresas que têm contratos com o governo americano são obrigadas a seguir leis federais e demitir quem tenha um teste positivo para maconha e outras drogas.

No entanto, a falta de mão de obra especializada em algumas áreas leva empresas a pularem a etapa dos teste na contratação e a evitarem a realização de exames aleatórios. Simo, da HireRight, diz que algumas companhias do Vale do Silício normalmente não fazem, porque sabem que perderiam um grande número de candidatos qualificados. "Mas a decisão de pedir ou não os exames é delicada, principalmente em setores que lidam com segurança", afirma.

"Houve um pico nos testes de drogas por volta de 2014, depois que a maconha começou a ser vendida legalmente, porque as empresas temiam ser prejudicadas ou ter sua capacidade de produção diminuída por causa de uma febre na compra de baseados", diz Curtis Graves, gerente do Mountain States Employers Council, uma entidade que representa empregadores. "Dois anos depois, no entanto, essa tendência não se comprovou."

Embora algumas empresas tenham abandonado os exames surpresa, muitas ainda testam pessoas que mostram sinais de incapacidade ou produtividade reduzida. Nesses casos, alguns Estados exigem que os patrões tenham provas do comportamento errático, como mudanças na fala, problemas motores ou queda real no desempenho.

Esses problemas podem, no entanto, não estar relacionados ao uso da droga, mesmo que o resultado do exame seja positivo. A substância detectada é um subproduto da maconha, o tetraidrocanabinol (THC), que pode ser encontrado no sangue semanas ou até meses depois que uma pessoa parou de usar a droga.

Por causa da chance de haver erros e do fato de que um resultado positivo no teste pode ser um indicativo de que a pessoa está debilitada ou mesmo de que usou a droga recentemente, a Organização Nacional para a Reforma das Leis sobre Maconha diz que testes de urina, sangue ou fluídos são discriminatórios — e violam direitos individuais.

A ONG recomenda testes de capacidade de trabalho em vez de exames toxicológicos. Há, por exemplo, aplicativos que detectam mudanças no desempenho ao avaliar a memória, o tempo de reação e o equilíbrio de uma pessoa.

A maioria das empresas reluta em discutir publicamente suas políticas de realização de exames toxicológicos. Companhias multinacionais procuradas para comentar o assunto negaram os pedidos de entrevista. "É uma questão de percepção", diz Curtis Graves.

"Ninguém quer ficar conhecido por ser ´relaxado` com relação a drogas. Companhias têm receio de dizer que afrouxaram suas políticas, porque isso poderia comprometê-las legalmente se acontecer um acidente e o funcionário envolvido tiver substâncias derivadas da maconha no sangue. Mesmo que o uso tenha ocorrido semanas antes."
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas 


Ayahuasca chega à Europa como ´droga dos deuses`


 


Enquanto no Brasil a substância é liberada para uso religioso, na Espanha ela está sendo utilizada como alucinógeno
EL PAÍS
Carlos Doncel

Conhecido pelo sugestivo nome de “a molécula de Deus”, a ayahuasca vem conquistando adeptos em vários locais do mundo. No entanto, ao contrário do que ocorre no Brasil, onde tem seu uso liberado para rituais religiosos, a ayahuasca está se tornando famosa por suas propriedade entorpecentes na Europa.

Em lugares como Tarifa ou Ibiza, no litoral da Espanha, recentemente foram realizadas cerimônias para o consumo. Com a solenidade de um rito espiritual, vários grupos de pessoas se reuniram com o único objetivo de ingerir um alucinógeno que os xamãs da Amazônia já conhecem e utilizam. Esses feiticeiros elaboram a ayahuasca — uma bebida preparada à base de plantas como banisteriopsis caapi, psychotria viridis e diplopterys cabrerana —, para conseguir que os participantes de seus rituais cheguem ao êxtase. Um estado de delírio que alcançam mais pelo efeito da dimetiltriptamina (DMT) — nome químico da “molécula de Deus” — do que pelo misticismo ou pela magia do momento.

“A DMT pertence à família das triptaminas, ou seja, sua estrutura é análoga a neurotransmissores como a serotonina. Quando ingerida sob a forma de infusão ou fumada, provoca estados alterados da consciência”, comenta o médico José Ángel Moráles, um dos cientistas que mais pesquisas realizou sobre essa substância na Espanha. Esse psicotrópico é encontrado em pequenas proporções de forma natural em muitos seres vivos. Até mesmo o ser humano o produz por meio da glândula pineal em situações de estresse, razão pela qual algumas pessoas o relacionem com as visões imediatamente prévias à morte.

Embora essa substância seja mais intensa que muitas drogas ilícitas, o seu “barato” dura menos tempo. O psiquiatra norte-americano Rick Strassman já demonstrou isso em um teste com voluntários, que afirmaram que os efeitos começavam a ser sentidos em pouco segundos após a ingestão, durando, porém, apenas alguns minutos. Depois do teste, eles relataram que, durante esse curto período, viram extraterrestres, sentiram a cabeça se separar do corpo e até mesmo falaram com anjos, entre outras alucinações.

Hoje em dia existem na Espanha várias empresas e instituições dedicadas a organizar eventos onde a dimetiltriptamina é a protagonista. Sob a ideia de um “retiro”, o Inner Mastery SL realiza sessões com ayuhasca e bufo alvarius (uma espécie de sapo do qual também se extrai a substância em questão) com preços entre 195 euros (720 reais) por dia e 555 euros (2.000 reais) por três dias de elevação espiritual.

O uso da DMT, presente em preparados como a ayahuasca, não está regulamentado na Espanha. No Brasil, em 2006, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas retirou definitivamente a ayahuasca da lista de drogas alucinógenas, reconhecendo o seu uso religioso. Foram 18 anos de estudos, até que a substância foi considerada segura para o consumo. A exploração comercial do produto, no entanto, é proibida.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Redução do consumo nocivo do álcool: o que o Brasil tem feito a respeito?


 

O uso nocivo do álcool impacta de maneira importante a saúde do indivíduo e sua família, além de afetar seriamente a sociedade. De acordo com o “Relatório global sobre álcool e saúde” de 2014, da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 5,6% da população brasileira apresente transtornos relacionados ao uso do álcool (abuso e dependência).

Um comportamento preocupante, e mais comum entre os jovens, é o “Beber Pesado Episódico - BPE”, que significa consumir 5 ou mais doses, no caso dos homens e 4 ou mais, no caso das mulheres, em uma única ocasião. Uma dose corresponde a uma taça de vinho de 100 ml, ou uma lata de cerveja de 330 ml ou uma dose de destilado de 30 ml. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram que 13,7% da população revelou já ter tido esse comportamento. O impacto do BPE está diretamente relacionado ao maior risco para amnésia alcoólica, quedas, violência, acidentes de trânsito, sexo desprotegido ou sem consentimento, gravidez indesejada, entre outros.

Em 2010, a OMS apresentou a “Estratégia Global para reduzir o uso nocivo do álcool”, e em 2014 estabeleceu como meta mundial a redução de 10% no consumo do álcool até 2025. Para alcançar esse objetivo, medidas sociais e políticas vêm sendo implantadas mundialmente. O Brasil apresentou o “Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não-transmissíveis” na reunião da ONU, em 2011. A redução do consumo de álcool faz parte desse plano, e tem como principais medidas: fiscalizar a venda de bebidas alcoólicas a menores de idade; reforçar os programas de saúde escolar para a prevenção e redução do abuso de álcool; proibir o consumo de álcool antes de dirigir; monitorar anúncios de bebidas alcoólicas na televisão; aumentar o acesso de dependentes e seus familiares aos programas de reabilitação.

Dentre todas as medidas, uma das ações mais importantes do Governo Federal foi a implementação da Lei Seca (Lei nº 11.705/2008) pelo Ministério da Saúde, que instituiu a tolerância zero para o beber e dirigir. A penalidade consiste na suspensão do direito de dirigir, recolhimento da carteira de habilitação, retenção do veículo e multa. Situações em que o motorista apresenta 0,6 g de álcool por litro de sangue, são consideradas como crime. Nesses casos, o condutor fica sujeito à detenção de 6 meses a 3 anos, multa e suspensão ou proibição do direito de dirigir. A Lei Seca sofreu alterações em 2012 (Lei nº 12.760/2012), aumentando o valor da multa para R$1.915,00 e autorizando o uso de provas de embriaguez do motorista em processos penais. Em 2016, nova alteração foi feita (Lei 13.281/2016), e o valor da multa passou a ser de R$2.934,70.

Pesquisas revelaram que, após a implantação da Lei Seca, houve maior redução do número de mortes do que feridos em acidentes de trânsito, sugerindo que a Lei foi mais eficaz para indivíduos com consumo pesado que, geralmente, se envolvem em acidentes mais graves. Em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, as reduções foram mais acentuadas, provavelmente por causa da maior fiscalização policial. Estudos como esse reforçam a necessidade de ações de conscientização da população sobre o beber e dirigir. As leis já existem, porém, a fiscalização e a aplicação das penas ainda está muito aquém do necessário.
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool

Cerca de 100 crianças são abandonadas a cada ano por mães dependentes de crack em SP


 


Sem condições financeiras e psicológicas, mulheres deixam os filhos nos hospitais após o parto e os bebês são levados para abrigos da cidade.

Cerca de 100 crianças são abandonadas por mães dependentes químicas a cada ano em São Paulo, segundo aponta a juíza da Primeira Vara da Infância e Juventude do estado.

"Eu poderia dizer que nós temos em média umas duas crianças acolhidas nessa situação por semana. Há semanas que nós temos mais bebês, há semanas que nós temos menos. Mas há uma constância dessa situação, né? Que nem é tão recente uma situação que já vem de algum tempo. São mães que na maioria das vezes chegam já em trabalho de parto nos hospitais, muitas até sob efeitos de drogas ou que são atendidas na rua, que dão à luz na porta da maternidade, na praça, são levadas pela polícia militar, enfim”, revela Cristina Ribeiro Leite Balbone Costa.

As histórias se repetem. Cristina já atendeu casos de mulheres com mais de dez filhos. A juíza é responsável pelo serviço da região Central de São Paulo, que concentra a população em situação de rua da cidade. Entre elas, usuárias de drogas da Cracolândia, no bairro da Luz.

“Muitas chegam até nós e não é a primeira passagem. Nós temos a quinta, sétima gestação, décima. Chegamos a ter até uma décima sétima gestação. São mães que já são até conhecidas do nosso setor”, afirma.

É em situação precária que as mulheres engravidam e têm os filhos nos hospitais da região, que acionam o poder judiciário. Sem condições financeiras e psicológicas, com muita frequência elas abandonam os filhos nos hospitais e os bebês são levados para abrigos. Ao todo, são 18 na região central e 200 na capital paulista.

Quando nenhuma pessoa da família é localizada, as crianças ficam disponíveis para adoção. Uma espera que pode demorar meses, anos ou não acontecer.

Depois de dez meses a pediatra Mônica Bittencourt conseguiu adotar a filha que hoje tem pouco mais de dois anos. A concepção e a gestação da menina ocorreram nas ruas.

“A gente encontrou uma criança muito bem cuidada no abrigo, nutricionalmente bem, adequada, uma criança bem estimulada, que estava dentro do desenvolvimento normal. E ela é hoje uma criança de dois anos e cinco meses absolutamente normal”.

Mônica é voluntária no poder judiciário. Faz palestras para pais interessados em adotar e conhece muito bem a realidade desses bebês.

“Algumas crianças de fato são filhas de mãe soropositivas, mas não se tornam soropositivas. O maior problema de filhas de mãe usuárias de droga são a prematuridade, o baixo peso ao nascer, o que não quer dizer que para sempre vão ser desnutridas, vão estar abaixo. Isso com cuidado, alimentação adequada, cuidado pediátrico de rotina, se torna normal, fica dentro dos parâmetros de uma criança normal. ”

Com esse tipo de esclarecimento as restrições para crianças filhas de mães usuárias de drogas e alcoólatras é bem menor.
"O perfil dos pretendentes à adoção é de não encontrarmos esse preconceito. São casos isolados vamos dizer assim, porque eles já vem qdo vem fazer o curso já sabem a realidade, já tem essa informação, já sabem que a realidade dessa região central, que a maioria dos casos que vamos acolher e vamos poder colocar em adoção são crianças nesse sentido.”

Protegidos da vida nas ruas, recebendo alimento e afeto, os bebês se desenvolvem sem problemas mais graves, atesta Antônia Bello Todeschin, coordenadora de abrigo no Centro de SP, que atua há mais de dez anos no serviço.

"[São] Crianças tão fortes que já venceram a primeira batalha da vida ao nascer.” “Elas vêm de uma situação muito difícil, que a gente olha para ele, tão pequeno e pensa o que já aconteceu na vida deles. Então a gente procura amenizar um pouco isso. A gente dá muito carinho, muito colo, muito amor. E eles têm uma capacidade de se recuperar, eles são felizes.”


fonte www.antidrogas.com.br