sábado, 16 de janeiro de 2016

Sessão de fumo por narguilé equivale a alcatrão de 25 cigarros, diz estudo


 


O bocal e o frasco de um conjunto de narguilé típico de Amã, na Jordânia (Foto: Jan Krömer/CC)

Dispositivo que canaliza tabaco pela água não detém substâncias nocivas. ´Xixa` tem 2,5 vezes a nicotina e 10 vezes o monóxido de carbono do cigarro.
G1 em São Paulo

Uma única sessão de fumo por narguilé -- dispositivo que mistura fumaça a vapor fazendo-a passar por um frasco de água -- equivale em média ao consumo do alcatrão de 25 cigarros, conclui um novo estudo.

Popular no Sul da Ásia, no Oriente Médio e no Norte da África, -- conhecido também pelo nome de ´xixa` -- o dispositivo tem ganhado popularidade no Ocidente. Médicos e sanitaristas acham preocupante, porém, que muitas pessoas não fumantes têm experimentado narguilé com a percepção de que é menos nocivo que o cigarro.

Normalmente usado para consumo de tabaco aromatizado, porém, o dispositivo não é capaz de filtrar a fumaça, e acaba incorrendo em um consumo maior de algumas substâncias presentes no tabaco.
Além do alcatrão extra, uma sessão de narguilé equivale a 2,5 vezes a nicotina de um cigarro, e cerca de 10 vezes o monóxido de carbono.

Esses números foram extraídos de uma análise que avaliou 542 artigos científicos publicados sobre a xixa. O grupo acabou se concentrando nos 17 trabalhos mais relevantes, que de fato tinham dados para estimar a concentração de substâncias tóxicas envolvidas no consumo do produto.

Hábito e vício

"Nossos resultados mostram que o fumo de tabaco por narguilé implica preocupações de saúde reais e deveria ser monitorado mais de perto do que é hoje", afirmou Brian Primack, sanitarista da Universidade de Pittsburgh (EUA) que liderou o trabalho. O estudo foi publicado na revista médica "Public Health Reports".

Segundo o pesquisador, porém, apesar das comparações feitas com o tabaco de cigarros, ainda é difícil avaliar se o hábito de usar o narguilé é pior. Um fumante compulsivo tipicamente consome mais de 20 cigarros por dia, enquanto um usuário frequente de narguilé não costuma chegar a tanto.

"As estimativas às quais chegamos não nos dizem exatamente o que é pior", declarou Primack, em comunicado à imprensa. "Elas sugerem, porém, que usuários de narguilé são expostos a muito mais substâncias tóxicas do que eles provavelmente acham que são."

O narguilé está se tornando uma preocupação maior de saúde pública nos EUA porque tem ganhado popularidade entre adolescentes. Pela primeira vez, os Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA registraram um uso de xixa mais disseminado que o de cigarros entre estudantes do ensino médio, apesar de muitos o usarem só ocasionalmente.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas



Estresse e longas jornadas tornam profissional mais vulnerável a drogas


 


UOL - Mulher - Comportamento
A partir de março, motoristas profissionais terão de passar por exames toxicológicos

A combinação de longas jornadas de trabalho e excesso de pressão tem tornado alguns profissionais mais suscetíveis ao abuso de drogas, legais ou não. É o que constatam estudos como o da bióloga Daniele Mayumi, que realizou testes toxicólogos em 1.316 caminhoneiros parados pela Polícia Rodoviária Federal nas estradas paulistas, entre os anos de 2008 e 2012.

A pesquisadora, especialista do Laboratório de Toxicologia do Departamento de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), encontrou drogas em 7,8% das amostras de urina coletadas, principalmente maconha, anfetamina e cocaína. "Outras três que também apareceram nas amostras foram morfina, metanfetamina e benzodiazepínicos", diz Daniele.

"O consumo da maconha é feito para relaxar, nos momentos de descanso. Já o uso de drogas estimulantes (como cocaína e anfetaminas) ocorre com o propósito de mantê-los acordados e dirigindo por mais horas seguidas sem descanso, a fim de cumprir as entregas em um menor período de tempo", diz Daniele. Esse foi o caso do caminhoneiro Lucas*, 40, de Minas Gerais. Ele diz que usou "rebite" durante três anos e não tinha dificuldade em encontrar a droga. "Muitos frentistas, bares e restaurantes à beira da estrada vendem."

A situação é tão grave que motivou o Ministério do Trabalho e Previdência a publicar no Diário Oficial da União (em 16 de novembro de 2015) uma portaria regulamentando a realização dos exames toxicológicos antes da contratação de motoristas profissionais de ônibus e caminhões. A norma entra em vigor em 2 de março de 2016.

Médicos doentes

Não são apenas os caminhoneiros que recorrem às drogas para suportarem à dura rotina de trabalho. Outra categoria bastante vulnerável à dependência química é a dos profissionais de saúde, pelo fácil acesso a todo tipo de medicamentos, segundo um estudo publicado por médicos do Grupo Interdisciplinar de Estudos em Álcool e Drogas (GREA), da Faculdade de Medicina da USP, em 2012.

A técnica de enfermagem Clarice*, 37, de Minas Gerais, foi uma dessas profissionais que viveu o drama da dependência química. Ela começou a usar um analgésico fortíssimo, que lhe dava condições de suportar os longos plantões do hospital onde trabalhava. "No início me ajudou muito, pois aumentou minha produtividade. Trabalhava em média 36 horas sem sentir cansaço. Com o decorrer do tempo, perdi o controle sobre a quantidade que consumia, o que me levou a usar cada vez mais", conta Clarice.

Dos remédios, a técnica de enfermagem passou para a maconha e, depois, para a cocaína e o crack. "Perdi o emprego, minha família e até a guarda da minha filha. Quando me vi morando praticamente na rua, decidi parar", diz Clarice.

A técnica de enfermagem precisou enfrentar várias internações até a superação do vício e, hoje, procura conscientizar outras pessoas: "Gostaria de dizer a todo mundo que passa por isso que não vale a pena, pois, mesmo que tenhamos um bom rendimento no trabalho, a droga sempre nos tirará tudo."

Do vício à ajuda

Felipe Andrade, 30, coordenador terapêutico em uma clínica de dependência química de Belo Horizonte, conhece os danos causados pelo uso de drogas por experiência própria. Antes de se tornar terapeuta, foi empresário do setor de calçados, vivendo uma rotina de trabalho que começava as seis da manhã e só terminava às 11 da noite.

O consumo de álcool e crack era o jeito que encontrava para fugir da jornada estafante. "Acabei perdendo o controle da minha vida, não tinha horário para dormir, para comer, responsabilidade ou disciplina", diz Felipe. Ele viveu nesse ritmo entre os 20 e os 23 anos.

Ao vencer o vício, a experiência de retomar o controle sobre a própria vida foi tão marcante que lhe determinou novos rumos profissionais: tornou-se terapeuta. "Ter conhecido algo que foi destruidor na minha vida me capacitou a ajudar outras pessoas", diz o ex-empresário.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas