sexta-feira, 10 de junho de 2016

Efeitos do uso da cannabis no comportamento humano, incluindo cognição, motivação e psicose: uma revisão da literatura




 


(imagem reprodução)

Nora D. Volkow, MD; James M. Swanson, PhD; A. Eden Evins, MD; Lynn E. DeLisi, MD; Madeline H. Meier, PhD; Raul Gonzalez, PhD; Michael A. P. Bloomfield, MRCPsych; H. Valerie Curran, PhD; Ruben Baler, PhD

Tradução de Luís Guilherme Vieira Allegro
Tendo como pano de fundo o debate político sobre os riscos e benefícios potenciais do uso da cannabis, a onda da legalização e liberalização continua a se expandir. Quatro estados norte-americanos (Colorado, Washington, Oregon e Alaska) e o Distrito de Columbia promulgaram leis que legalizam a cannabis para o uso recreativo de adultos, e vinte e três outros estados, além do Distrito de Columbia, atualmente regulamentam o uso da cannabis para propósitos medicinais. Tais mudanças políticas podem implicar um amplo escopo de consequências imprevistas, com efeitos profundos e duradouros sobre os sistemas sociais e de saúde dos EUA. O uso da cannabis passa a constituir um dentre vários fatores em interação recíproca que pode afetar o desenvolvimento cerebral e as funções mentais. Com o objetivo de auxiliar o discurso político a partir de evidências científicas, a literatura sobre o assunto foi revista para que se identificasse o que se sabe e o que ainda é desconhecido acerca dos efeitos do uso da cannabis no comportamento humano, incluindo a cognição, a motivação e questões relativas à psicose. JAMA Psychiatry. doi:10.1001/jamapsychiatry.2015.3278 Publicado online em 3/2/2016.

Já é bastante conhecido que o uso da cannabis causa um comprometimento agudo da habilidade cerebral em reter informações (capacidade cognitiva). Assim, ocorrem déficits temporários na aprendizagem e na memória, na atenção e na memória operacional (ou de trabalho).

O USO DA CANNABIS AFETA A CAPACIDADE COGNITIVA?

O uso da cannabis causa um comprometimento agudo do aprendizado e da memória, da atenção e da memória operacional (1-3), mas não é tão evidente que o uso da cannabis esteja associado a comprometimentos neuropsicológicos duradouros. Estudos de caso-controle comparando usuários abusivos da substância que não estejam sob seu efeito e não-usuários revelou de modo bastante consistente que o usuário abusivo apresenta pior desempenho em testes neuropsicológicos. Por exemplo, os resultados de duas meta-análises separadas (4,5) revelou que, quando comparados com não-usuários, os usuários de cannabis que não estejam sob seu efeito apresentam pior desempenho em medidas da função neuropsicológica global, com tamanhos do efeito em domínios neuropsicológicos específicos (funções executivas, atenção, aprendizado e memória, habilidades motoras e habilidades verbais) de aproximadamente um terço do desvio padrão, ou menos. Quando análises na segunda meta-análise (5) foram limitadas para 13 estudos de usuários da cannabis com pelo menos 1 mês de abstinência, não houve diferença perceptível entre os usuários de cannabis e os não-usuários no que se refere ao desempenho em testes neuropsicológicos, o que sugere que as funções neuropsicológicas podem se recuperar com a abstinência prolongada. As evidências sugerem que a magnitude do comprometimento neuropsicológico e sua extensão após a abstinência podem depender da frequência e da duração do uso da cannabis, da extensão da abstinência, e da idade do indivíduo no início do uso. (6)

Vêm surgindo evidências que sugerem que os adolescentes podem ser particularmente vulneráveis aos efeitos adversos do uso da cannabis. A adolescência representa um período crítico do neurodesenvolvimento, caracterizado por uma pronunciada poda sináptica e pelo aumento da mielinização (7). Além disso, o sistema endocanabinóide parece estar envolvido na regulação de processos neurodesenvolvimentais cruciais (7), o que sugere que a introdução de canabinóides exógenos durante a adolescência pode comprometer o desenvolvimento cerebral normal. Pesquisas realizadas em animais corroboram a possibilidade de que a adolescência represente um período de vulnerabilidade aumentada à exposição à cannabis. (7). Por exemplo, ratos púberes tratados com um agonista canabinóide apresentaram déficits persistentes em tarefas de reconhecimento de objeto, ao passo que isso não ocorreu em ratos adultos. (8,9). Evidências crescentes em relação aos humanos apontam na mesma direção que as descobertas referentes aos animais. Por exemplo, alguns estudos mostraram que quanto mais precoce é a idade em que se inicia o uso da cannabis, maiores são as associações com o comprometimento neuropsicológico (10, 11). Um estudo longitudinal representativo da população, de 2012, (12) mostrou que usuários frequentes que iniciaram o uso de cannabis durante a adolescência (mas não os que se iniciaram na idade adulta) apresentaram declínio neuropsicológico entre as idades de 13 e 38 anos.

Investigações por neuroimagem de usuários adolescentes e adultos produziram resultados algo inconsistentes. Análises recentes demonstraram que há evidências bastante claras de alterações estruturais em regiões temporais mediais (amídala e hipocampo), frontais e cerebelares associadas à exposição à cannabis (13, 14). Contudo, outro estudo recente (15), que cuidadosamente comparou os participantes no que se refere ao consumo de álcool, não apresentou evidências de alterações morfológicas cerebrais entre os usuários adolescentes ou adultos, o que sugere a possibilidade de que o uso comórbido de álcool possa explicar algumas das alterações morfológicas observadas na pesquisa anterior. Existem, além disso, evidências de que os usuários da cannabis apresentem comprometimento da conectividade neural. Por exemplo, um estudo (16) de adultos com um longo histórico de uso abusivo de cannabis apresenta evidências de conectividade diminuída na fímbria direita do hipocampo (fórnix) e do esplênio do corpo caloso, e nas fibras comissurais. Finalmente, investigações realizadas por meio de imagens de ressonância magnética funcional sugerem que os usuários de cannabis apresentam atividade neural alterada tanto em estado de repouso quanto durante testes cognitivos (14). Por exemplo, usuários adolescentes masculinos apresentaram, nas imagens de ressonância magnética funcional, um aumento de atividade dependente do nível do oxigênio no sangue ocorrendo no córtex pré-frontal durante uma nova tarefa de memória operacional, o que foi interpretado como refletindo processamento ineficaz (17). Essa observação se coaduna com estudos medindo a conectividade funcional em repouso em usuários adolescentes da cannabis que apresentaram padrões alterados de conectividade afetando tanto o trânsito inter-hemisférico (18) como a rede fronto-temporal (19,20). Algumas evidências sugerem que o canabidiol, outro canabinóide encontrado na planta da cannabis (embora normalmente em concentrações muito baixas), pode oferecer proteção a alguns dos efeitos nocivos do tetrahidrocanabinol (THC) sobre a cognição (21,22).

Essas são áreas que necessitam de pesquisas complementares. Em primeiro lugar, diferenças observadas no desempenho de testes neuropsicológicos, bem como na estrutura e função cerebrais, podem refletir diferenças individuais pré-existentes ao uso da cannabis. O progresso das pesquisas vem sendo limitado pela recorrência de investigações transversais comparando os usuário da cannabis e os não-usuários. Dois estudos longitudinais (12,23), em que foram realizados testes neuropsicológicos anteriores e posteriores, apresentaram evidências que permitem associar o uso da cannabis e o declínio da função neuropsicológica no âmbito individual. Esses resultados não puderam ser explicados a partir de fatores como: uso de álcool ou outras drogas, transtornos psiquiátricos, baixo status sócio-econômico, ou toda uma gama de outros fatores complicadores. Entretanto, o número de usuários de cannabis nessas coortes foi pequeno, e o imageamento cerebral não foi realizado. Contudo, resultados de neuroimagem levantam a possibilidade de que volumes cerebrais regionais menores entre usuários da cannabis possam ser parcialmente explicados pela presença de diferenças pré-existentes. Por exemplo, um estudo longitudinal prospectivo (24) revelou que volumes do córtex orbitofrontal menores aumentavam o risco de que adolescentes se iniciassem no uso da cannabis, ao passo que um estudo (25) de gêmeos e irmãos revelou que volumes reduzidos da amídala entre usuários da cannabis poderiam ser explicados por fatores familiares. Considerados em conjunto, esses resultados ressaltam a necessidade de estudos longitudinais que acompanhem adolescentes do período anterior ao período posterior ao início do uso da cannabis e combinem testes neuropsicológicos e neuroimagens. O Estudo do Desenvolvimento Cognitivo do Cérebro do Adolescente (Adolescent Brain Cognitive Development Study) (26), uma ampla investigação prospectiva financiada pelos National Institutes of Health, de crianças entre 9 e 10 anos que serão acompanhadas por pelo menos 10 anos, está sendo iniciada para atender, em parte, a essa necessidade.

Uma segunda área propícia para investigações adicionais diz respeito à necessidade de reconciliação dos resultados de neuroimagem com o desempenho em testes neuropsicológicos. As evidências de neuroimagem atuais são inconsistentes, e alterações na estrutura e função cerebrais tendem a não se correlacionar com diminuições no desempenho em testes neuropsicológicos (27). São necessárias maiores amostras para o imageamento, juntamente com considerações cuidadosas acerca das características dos participantes, tais como o uso comóbido de álcool e outras drogas e a extensão da abstinência da cannabis.

Em terceiro lugar, são necessárias mais pesquisas para que se possa responder à questão “quando é que podemos falar em uso excessivo de cannabis?”. Uma vez que muitas amostras de estudo incluem uma grande parcela de indivíduos apresentando dependência da cannabis (conforme definido pelo DSM-IV), não está claro se os efeitos podem ser generalizados para indivíduos com transtornos ligados ao uso da cannabis menos severos e para usuários de caráter mais recreacional.

Em quarto lugar, devido ao efeito potencial de canabinóides exógenos sobre o desenvolvimento cerebral, mais pesquisas são necessárias para que se possa responder à pergunta “em qual idade a cannabis causa maior malefício?”. Além de estudar os efeitos do uso da cannabis em adolescentes, também são necessárias pesquisas que lancem luz sobre a suscetibilidade de adultos mais velhos para o comprometimento neuropsicológico associado à cannabis. Essa parcela da população experimenta mudanças na plasticidade cerebral e declínio cognitivo relacionados à faixa etária que podem torná-la mais vulnerável aos efeitos do uso da cannabis.

Em quinto lugar, evidências recentes sugerem diferenças relacionadas ao gênero em déficits neuropsicológicos associados ao uso da cannabis (1, 28). Assim, pesquisas futuras devem esclarecer os mecanismos na base dessas potenciais diferenças relativas ao gênero.

Em sexto lugar, fatores genéticos, tais como polimorfismos nos genes COMT (OMIM 116790) e AKT1 (OMIM 164730) podem também aumentar a suscetibilidade ao comprometimento neuropsicológico ligado a uso da cannabis (29). Outros exemplos incluem um estudo recente (30) que revelou que o THC causa o comprometimento agudo da memória operacional para portadores de COMTVal/Val (mas não para portadores de Met), além de um outro estudo (31) de três coortes de população que revelou que o uso da cannabis estava associado com a espessura cortical diminuída entre indivíduos masculinos com alto (mas não com baixo) risco genético de esquizofrenia conforme indexado por uma pontuação de risco poligênica. A possibilidade que diferenças individuais entre usuários da cannabis possam ter efeitos significativos e possam servir para prever a extensão de consequências adversas sugere que esforços recentes para incrementar informações genéticas com vistas a criar pontuações de risco poligênicas possam ser úteis no desenvolvimento dos estudos sobre uso de cannabis e funções neuropsicológicas.

O USO DA CANNABIS DIMINUI A MOTIVAÇÃO?

Já em fins do século XIX, a Indian Hemp Drugs Commission [Comissão de Drogas de Maconha] (32) relatava que o uso abusivo de cannabis estava associado à apatia, definida como motivação reduzida para comportamentos direcionados a um objetivo (33). Todavia, foi apenas após o pronunciado aumento no uso da cannabis durante os anos 60 que os efeitos motivacionais do uso crônico da cannabis foram ligados a comprometimentos no aprendizado e na atenção sustentada. O termo síndrome amotivacional da cannabis (cannabis amotivational syndrome) foi proposto por McGlothlin e West (34), que o definiram como apatia e capacidade reduzida para concentração, para a adoção de rotinas ou para a aquisição de novos conhecimentos. Embora sempre tenha havido alguma polêmica em relação à necessidade de se definir um fenótipo tão preciso, existem evidências que o uso abusivo de cannabis a longo prazo esteja associado a dificuldades no desempenho escolar e ao comprometimento da motivação, os quais, conforme se sugeriu, podem ser entendidos como mediadores potenciais de resultados funcionais piores (35).

Existem evidências pré-clínicas e clínicas que estão de acordo com a ideia de que o uso da cannabis esteja associado a estados amotivacionais. Entre os macacos resos, a utilização ou a administração crônica e abusiva de cannabis resultou na queda da motivação, conforme mensurado em testes operantes de relação progressiva e de resposta a posição condicionada (36). Existem evidências laboratoriais preliminares apontando uma relação entre usuários de cannabis e motivação reduzida para comportamentos relativos a recompensa, quando comparados com indivíduos-controle. (37). Como tais resultados parecem estar relacionados a doses repetidas de THC, é provável que a motivação reduzida possa ser um dos caminhos que conduzem ao comprometimento da aprendizagem, pois o THC pode obstaculizar o aprendizado baseado em recompensas (38). Coadunando-se a essa teoria, os usuários da cannabis apresentam capacidade reduzida de síntese da dopamina estriatal (39), com relacionamento inverso com a amotivação. Na medida em que a sinalização dopaminérgica apoia a motivação (40), o comprometimento da síntese de dopamina poderia estar na base do estado amotivacional entre os usuários da cannabis. Da mesma maneira, investigações por imagem apontaram uma reatividade diminuída ao estímulo de dopamina em usuários de cannabis, o que foi associado a emotividade negativa, e que também poderia contribuir para reduzir o empenho em atividades que não estejam relacionadas à droga (41).

A amotivação em usuários crônicos abusivos pode também refletir o fato de que a própria cannabis tenha se tornado um motivador principal, de modo que outras atividades (como, por exemplo, as tarefas escolares) se tornam diminuídas na hierarquia de recompensas do indivíduo. De fato, a dependência da droga ocorre em cerca de 9% dos usuários (42) que parecem mais vulneráveis do que outros em função de uma multiplicidade de variáveis, incluindo a idade no início do uso, o nível de uso e fatores ambientais e genéticos.

O que ainda precisa ser verificado é se mudanças na concentração dos ingredientes ativos da cannabis podem afetar o risco da amotivação ou de adição. A planta da cannabis contém aproximadamente 100 ingredientes canabinóides exclusivos, sendo que os mais pesquisados são o THC e o canabidiol. Ao longo dos últimos 30 anos, o nível de THC presente na cannabis de rua aumentou (43). Entre esses dois compostos, apenas o THC determina o nível do “barato” subjetivo. Juntamente com um sistema de dopamina com eficácia reduzida (blunted) (41), o uso crônico abusivo da cannabis é associado a mudanças no sistema endocanabinóide, incluindo níveis reduzidos de anandamida (um ligante endógeno dos repectores canabinóides) no fluído cérebro-espinhal humano (44) e níveis diminuídos de receptores canabinóides 1 (45). De fato, toda uma literatura pré-clínica crescente tem apontado o envolvimento dos receptores canabinóides 1 e seus ligantes endógenos com os efeitos motivacionais decorrentes do uso da cannabis (46). Assim como ocorre com a associação do uso da cannabis ao comprometimento cognitivo, é possível estabelecer, de modo inequívoco, se o uso da cannabis é causa, consequência ou correlato da motivação alterada. Pesquisas adicionais são necessárias para que se determine se os efeitos amotivacionais potenciais se relacionam com os transtornos do uso da cannabis em vez de estarem ligados ao uso da cannabis per se.

O USO DA CANNABIS AUMENTA O RISCO DE PSICOSE?

Uma das maiores controvérsias relacionadas ao uso da cannabis diz respeito ao seu efeito sobre o risco de transtornos psiquiátricos, em especial transtornos psicóticos e a esquizofrenia plenamente desenvolvida. Investigações longitudinais revelam uma sólida associação entre o uso de cannabis por adolescentes e a psicose. O uso da cannabis é considerado um fator de risco evitável para a psicose (47). A ligação entre o uso da cannabis e a esquizofrenia pode derivar de uma causalidade direta, de interações genético-ambientais, de etiologias compartilhadas ou da auto-medicação para sintomas pré-morbidos, embora alguns pesquisadores tenham sugerido que apenas as três primeiras hipóteses permaneçam questões em aberto (48-50). A emergência esporádica de dados conflitantes não deve surpreender, tendo-se em vista a natureza desse problema biológico específico. Por exemplo, os efeitos da exposição à cannabis podem ser modestos na população total e dependentes da presença de múltiplas variáveis genéticas e ambientais. Por outro lado, persiste uma polêmica duradora e legítima em relação a que proporção do risco de psicose pode ser atribuída ao uso da cannabis e, também, em relação a até que ponto indivíduos sem predisposição genética podem desenvolver a doença.

Apesar dessa ambiguidade, existem fortes evidências fisiológicas e epidemiológicas sugerindo uma ligação mecânica entre o uso da cannabis e a esquizofrenia. O tetrahidrocanabinol (principalmente em altas doses) pode causar psicose aguda, transitória e dependente da dose (sintomas positivos e negativos similares aos esquizofrênicos) (51). Além disso, estudos epidemiológicos, longitudinais e prospectivos apontam uma associação recorrente entre o uso da cannabis e a esquizofrenia, em que o uso da cannabis antecede a psicose (52) independentemente do consumo de álcool (53) e mesmo após a remoção (52, 54) ou o controle (55, 56) daqueles indivíduos que utilizaram outras drogas. Embora o período prodrômico anterior à doença plenamente instalada crie dificuldades para que se determine se o uso da cannabis precede os sintomas, ou se reflete uma tentativa de tratá-los, o uso da cannabis precedeu a psicose nesses estudos (52, 54, 57). Além disso, o uso persistente da cannabis após o primeiro episódio está associado com piores prognósticos (58) mesmo após o controle de outros usos de substâncias (59).

Embora o uso da cannabis possa ter sido interrompido muito tempo antes do surgimento da psicose, a idade em que se dá o início do uso da cannabis parece se relacionar com a idade em que eclode a psicose, o que sugere uma relação causal em relação ao início da psicose que independe do uso de fato (49, 60, 61). A associação entre o uso da cannabis e a psicose crônica (incluindo um diagnóstico de esquizofrenia) é maior naqueles indivíduos que fizeram uso abusivo ou frequente da cannabis durante a adolescência (53, 54, 60, 62, 63) ou em períodos anteriores (52), ou que utilizaram cannabis com THC de alta potência (60, 62). A partir desses estudos, estima-se que o uso constante da cannabis aumente em aproximadamente duas vezes o risco de esquizofrenia, o que explica de 8% a 14% dos casos (55), enquanto o uso frequente ou o uso de cannabis com THC altamente potente aumentam o risco de esquizofrenia em seis vezes (53). Coadunando-se a essa ideia, a maior disponibilidade do receptor canabinóide tipo 1 que teria sido encontrada em alguns pacientes com esquizofrenia (64, 65), e que se correlaciona com sintomas negativos (66), pode também contribuir para uma sensibilidade aumentada aos efeitos psicotogênicos do uso da cannabis. Nesse contexto, é importante ressaltar que a maioria dos indivíduos que usam cannabis não desenvolve esquizofrenia. Portanto, embora o uso de cannabis não seja necessário nem suficiente para o desenvolvimento da esquizofrenia, evidências disponíveis sugerem que o uso da cannabis pode dar início ao surgimento de doenças psicóticas duradouras em algumas pessoas (mais provavelmente indivíduos com vulnerabilidade genética) (67), e esse resultado nos convida a sérias reflexões do ponto de vista das políticas públicas de saúde.

Tem se tornado cada vez mais claro que a psicose aguda, os transtornos esquizofreniformes e a esquizofrenia são o resultado da interação de múltiplos fatores diversos operando em vários níveis. Por exemplo, a presença de um membro familiar próximo que seja portador de esquizofrenia é o mais poderoso fator de risco para a esquizofrenia; contudo, poucos investigadores associando o uso da cannabis e a esquizofrenia controlaram especificamente o risco de esquizofrenia familiar. Os resultados de um estudo (68) sugerem que o uso da cannabis pode levar à esquizofrenia em indivíduos com um histórico familiar da doença, quando comparados com indivíduos sem esse histórico. Todavia, o controle do risco familiar em um grande estudo epidemiológico (69) atenuou consideravelmente, embora não tenha completamente eliminado, a associação do uso da cannabis e a esquizofrenia, com razão de chances de 3,3 e 1,6 com atrasos temporais de 3 e 7 anos respectivamente.

Possíveis interações de três vias entre genótipo, uso da cannabis e psicose também foram analisadas. O genótipo DRD2 (OMIM 126450) influenciou na probabilidade de transtorno psicótico em indivíduos que usavam cannabis (70). Entre usuários ocasionais e usuários diários de cannabis, portadores do DRD2, rs 1076560, alelo T tiveram 3 vezes e 5 vezes maiores probabilidades de transtorno psicótico, respectivamente (70). Relatou-se, também, que o polimorfismo funcional COMTVal-158 modera o efeito do uso de cannabis durante a adolescência sobre a psicose adulta, de modo que era mais provável que os portadores desse alelo desenvolvessem transtornos esquizofreniformes se eles usassem cannabis do que os indivíduos não-portadores desse alelo (67). Em um estudo experimental sobre o THC (71), portadores do COMTVal apresentaram maior comprometimento cognitivo após exposição ao THC, e maior número de sintomas psicóticos, do que portadores do COMT Met/Met. Também foi relatado um genótipo AKT1 por interação com o uso da cannabis, sendo que aqueles indíviduos que apresentavam genótipos C/C rs 2494732 e que também utilizavam cannabis apresentaram o dobro das chances de apresentar um transtorno psicótico (72). Em outro estudo (73), os participantes portadores do genótipo AKT1C/C que faziam uso constante ou uso diário da cannabis apresentaram, respectivamente, probabilidades duas e sete vezes maiores de desenvolver transtorno psicótico quando comparados com usuários e usuários diários que fossem portadores T/T.

Os resultados que apoiam a hipótese que algumas variantes genéticas influenciam na probabilidade do desenvolvimento da esquizofrenia, mediante a exposição a certos aspectos ambientais (por exemplo, o uso de cannabis), refletem tentativas, ainda iniciais e hesitantes, de encontrar resultados dentro de um pequeno número de indivíduos, e que necessitam ser repetidas. (74). Uma explicação alternativa seria a de que indivíduos com alto risco genético de esquizofrenia tenham maior propensão a usar a cannabis através de um risco genético compartilhado de esquizofrenia e de transtornos do uso de cannabis. De fato, o relatório recente de um estudo de associação genômica ampla (75) de uma associação entre alelos de riscos de esquizofrenia e uso da cannabis sugere que uma parte da associação entre a esquizofrenia e o uso da cannabis pode se dever a uma etiologia genética compartilhada. Contudo, em um estudo (63), o uso de cannabis com THC de alta potência foi fortemente associado ao desenvolvimento posterior de esquizofrenia, ao passo que a recentemente apresentada pontuação de risco poligênica de esquizofrenia (76) não foi relacionada ao uso de cannabis ou à potência da cannabis utilizada (77).

Finalmente, assim como ocorre com usuários crônicos ou abusivos de cannabis (78), pacientes com esquizofrenia também apresentam volumes reduzidos da amídala e do hipocampo (79). Essa observação pode contribuir para explicar os piores resultados clínicos em indivíduos esquizofrênicos que usam cannabis, pois é provável que essas mudanças morfológicas estejam na base da exacerbação dos sintomas esquizofrênicos associada à cannabis, ou contribuam para tal exacerbação (80).

CONCLUSÃO

Décadas de legislações mal-informadas ou condescendentes em relação às drogas legais e ilegais impuseram à nossa sociedade um terrível preço a ser pago em termos de saúde. Está claro que o efeito cumulativo da exposição à nicotina e do uso de álcool sobre a morbidade e a mortalidade é enorme. Além disso, é preciso considerarmos os efeitos altamente nocivos da “guerra contra as drogas”, realizada pela justiça criminal, sobre as populações minoritárias e desfavorecidas. Os esforços atuais visando a legalização do uso da cannabis têm sido orientados sobretudo por uma combinação de ativismo popular, engenhosidade farmacológica e busca privada de altos lucros, com uma preocupante desconsideração das evidências científicas, das lacunas em nosso conhecimento, ou da possibilidade de consequências imprevistas. Tendo-se em vista o papel crucial e de amplo escopo do sistema endocanabinóide no cérebro (81-83), a utilização crescente da cannabis e o aumento dos transtornos relativos a esse uso ao longo das últimas décadas, assim como o aumento da concentração de THC na planta da cannabis, é preciso esclarecer quais aspectos da exposição à cannabis (por exemplo, a idade no início do uso, a quantidade usada, a frequência do uso, a duração do uso, e a potência da cannabis utilizada) apresentam maiores riscos no que diz respeito ao desenvolvimento de transtornos do uso da cannabis e à eclosão de outras consequências adversas (por exemplo, déficits cognitivos, falta de motivação, ou psicose). Além disso, existem muitas questão que ainda não obtiveram resposta, e que se relacionam mais diretamente com a qualidade de políticas rapidamente implementadas. Por exemplo, a propaganda será permitida? Quais padrões de uso e efeitos tóxicos associados surgirão se os cigarros elétricos de maconha se tornarem difundidos ou até mesmo um hábito cotidiano entre os adolescentes? Como o aumento de usuários de cannabis gestantes pode afetar o desenvolvimento dos fetos expostos a essa prática? Finalmente, quais são as consequências do fumo passivo da cannabis?

Se nos deixarmos levar pela tendência atual, é provável que sejam descobertos efeitos que eram raros no passado unicamente pelo fato de que o uso não era então tão disseminado quanto o das drogas legais. As populações vulneráveis, tais como crianças, adolescentes, idosos ou indivíduos com outros transtornos, podem experimentar efeitos tóxicos inéditos (assim como potenciais benefícios). A transformação do cenário em que se dá o uso da cannabis (por exemplo, os problemas decorrentes de THC mais potente, novos meios de administração da droga [como inalação do vapor da maconha e maconha comestível] e novas combinações da droga) e o surgimento, em nossa cultura, de novas normas e percepções levantam a possibilidade de que nosso conhecimento atual, sempre limitado, possa se aplicar apenas aos modos pelos quais a droga foi utilizada no passado.

As áreas exploradas nesse artigo, que refletem apenas um subconjunto dos múltiplos efeitos do uso da cannabis sobre o cérebro e sobre o corpo, não fazem jus à onipresença do sistema de sinalização canabinóide. Portanto, além de expandir nossas pesquisas básicas, devemos aprender o máximo e mais rápido que pudermos com as mudanças em curso nas políticas locais, para que assim possamos minimizar os danos e maximizar os potenciais benefícios.


Fonte:www.antidrogas.com

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Prevenção ao uso de drogas passa pela socialização de crianças e adolescentes, diz UNODC



 


Evidências apontam para a importância da relação entre a prevenção e o processo de socialização de crianças e adolescentes, segundo oficial do UNODC. Foto: Senado/Marcello Casal Jr.

As estratégias de prevenção ao uso de drogas precisam extrapolar o campo da informação, passando principalmente pelo processo de socialização de crianças e adolescentes, disse a oficial de programa da unidade de saúde do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) no Brasil, Nara Santos, no início de maio durante evento em Cuiabá (MT).

As estratégias de prevenção ao uso de drogas precisam extrapolar o campo da informação, passando principalmente pelo processo de socialização de crianças e adolescentes, disse a oficial de programa da unidade de saúde do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) no Brasil, Nara Santos, no início de maio durante evento em Cuiabá (MT).

Em sua apresentação sobre diretrizes internacionais, Nara destacou que a ciência teve importantes avanços nos últimos 20 anos, permitindo identificar com base em evidências que as estratégias de prevenção ao uso de drogas precisam extrapolar o campo da informação.

“As evidências apontam para a importância da relação entre a prevenção e o processo de socialização de crianças e adolescentes”, disse Nara citando a publicação “Diretrizes Internacionais sobre a Prevenção do Uso de Drogas” do UNODC. Segundo ela, para cada dólar gasto em prevenção, pelo menos dez podem ser economizados em custos futuros com saúde, programas sociais e crime.

As declarações foram feitas durante fórum organizado pelo governo do estado do Mato Grosso entre os dias 11 e 13 de maio. No evento, foi lançado o “Plano Estadual de Assessoramento em Políticas sobre Drogas — Ações 2016”, elaborado pela Superintendência de Políticas sobre Drogas da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado (SEJUDH).

Experiências brasileiras

Durante o evento, foram apresentadas diversas experiências de prevenção ao uso de drogas adotadas em diferentes estados brasileiros.

A coordenadora de prevenção da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) do Ministério da Justiça, Ana Ferraz, apresentou os programas Jogo Elos, #Tamojunto e Famílias Fortes, que estão sendo implementados desde 2014 em vários estados pela própria secretaria e pela Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde.

“Há hoje disponíveis três programas de prevenção adaptados para a realidade brasileira e estudados e avaliados quanto à sua adequação, aceitabilidade e satisfação”, disse Ana. “Os programas são interativos e utilizam ferramentas inovadoras que motivam tanto os participantes quanto os multiplicadores, permitindo uma reflexão sobre o modo de convivência em espaços coletivos”, declarou.

O superintendente de Políticas sobre Drogas da SEJUDH, Paulo Santana Júnior, tratou do problema mundial das drogas e apresentou estratégias e metodologias para prevenção ao uso precoce e abusivo de álcool e outras drogas.

“Dezessete municípios que têm apresentado índices significativos de violências e presença de drogas terão prioridade na implementação das ações do plano em 2016”, disse o superintendente. Segundo ele, a proposta será estendida aos demais municípios em 2017 e 2018.

O público do evento foi composto por profissionais e gestores das áreas de educação, assistência social e saúde do Estado do Mato Grosso.
Fonte:UNODC - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime

Levantamento inédito mostra que 98 novas drogas sintéticas surgiram em 2015

   

 



Drogas sintéticas foram produzidas para eventos de música específicos
Crédito: EMCDDA

O levantamento é do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência. Neste ano, já são pelo menos 20. Com fabricação fácil, menor preço e até propaganda na internet, esse tipo de droga está ganhando espaço muito rapidamente.
CBN - Ciência e Saúde
Por Pedro Durán

Vendida como aromatizador de ambiente, a maconha sintética tem inúmeros nomes e incontáveis fabricantes.

No Brasil, conhecida como incenso do diabo, a droga pode ser muito mais forte do que a canabis tradicional.

A regra vale praticamente para todas as drogas sintéticas: bombas de substâncias alucinógenas altamente perigosas concentradas em poucas gramas.

No fim do mês, o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência vai lançar um relatório com o panorama do comércio e do consumo de drogas em toda Europa. Nas contas deles, pelo menos 98 substâncias foram criadas e comercializadas no ano passado. Neste ano, já são mais de 20.
O maior fabricante desse tipo de droga é a China, de onde elas se espalham para o mundo todo.

A quantidade de novas combinações dificulta a atuação dos órgãos públicos para proibir e fiscalizar as substâncias, o que abre espaço para o livre comércio, como explica a pesquisadora do Observatório, Rita Jorge.

´As drogas anteriores, as drogas ditas tradicionais, a pessoa precisava conhecer alguém para poder comprar. Estas, não. E como não são, nem todas são ilegais, o que aconteceu: empreendedores começaram a se introduzir na área e a fazer marketing. De repente em uma área das drogas, que era tudo escondido, temos agora campanhas de promoções, ofertas, temos cartões de fidelização, portanto todas essas coisas acontecem`, explica Rita.

A Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas já tem aprovação do governo federal para fazer um novo levantamento brasileiro sobre o assunto. Mas, por uma questão de repasse dos recursos, isso só deve acontecer no ano que vem.

No último dado de 2014, a estimativa é de que até 1,6 milhão brasileiros já tenham experimentado algum tipo de droga sintética. Para o coordenador da Uniad, Ronaldo Laranjeira, o número praticamente dobrou em apenas dois anos e pode ter alcançado os 3 milhões.

Na opinião dele, a multiplicação da droga se deve à facilidade do comércio com auxílio da tecnologia.

´A droga sintética ela usa a própria rede social para fazer esse tipo de distribuição. Então ela é realmente um desafio novo sob vários aspectos, não só pelo componente químico diversificado, como nós falamos, mas também da forma de distribuição e das formas de uso das drogas tradicionais`, diz Laranjeira.

O desafio já se reflete nos números da Polícia Federal, principalmente em relação ao ecstasy, uma das principais drogas sintéticas. Nos quatro primeiros meses de 2016, foi apreendida apenas 1% da média anual dos últimos três anos.

Rafael Franzini, representante do escritório da ONU para Drogas e Crimes no Brasil, destaca a facilidade de produzir esse tipo de substância.

´Você não produz cocaína em todo o mundo. E as drogas químicas podem ser fabricadas em quarto de hotel pela característica da droga. Então isso forma parte de uma realidade que tem que ter um olhar distinto. Isso dificulta o trabalho da polícia. Não só isso que dificulta, dificulta também a característica da droga`, explica Franzini.

Pra piorar a situação, as misturas não são controladas e os laboratórios do tráfico não se preocupam com a qualidade de seu produto, tornando a droga mais perigosa ainda, como explica Dartiu Xavier, diretor do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp.

´Os levantamentos que foram feitos mostraram que 40 a 50% do que é vendido como ecstasy na verdade é anfetamina. Anfetamina é risco de você ter pressão alta, de ter uma sobrecarga no coração e poder ter um infarto até, mesmo sendo jovem. São os riscos muito parecidos com os da cocaína. E nesse caso a anfetamina associada com a cocaína é pior ainda, você dando duas coisas que tem esse risco, você aumenta o risco ainda mais`, diz Xavier.

A cocaína, por sua vez, aumenta ainda mais o risco de um problema cardíaco. Causadora de até um a cada três infartos em jovens, a droga é recorrentemente associada a outras drogas sintéticas, como explica Rui Fernando Ramos, da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.

´Você pode usar uma dose muito pequena e infartar ou pode usar uma dose muito grande e infartar. Nem com o tempo, você pode usar muitas vezes e não ter nada e um dia infartar. Ou pode na primeira dose ter um infarto. Não tem medida segura para a droga, nem em tempo de uso, nem em dose`, diz Ramos.

Na opinião de Angelo Campana, presidente da Associação Brasileira do Estudo de Álcool e Outras Drogas, o mais importante é deixar claro que por mais que possam parecer menos perigosas, as drogas sintéticas podem ser devastadoras.

´A cultura nossa é droga estimulante, que leve à alegria, à festa, à comemoração. Pelo fato de essas drogas serem mais baratas que a cocaína, é mais fácil o tráfico delas também, que em vez de pacotes de pó, transportados por caminhões, são comprimidos. O efeito ele é mais agudo e um pouco mais potente também. É uma falsa noção de que é uma droga mais suave, e ela é, em curto prazo. Mas em médio e longo prazo ela é tão pior quanto com um poder de induzir dependência muito grande, principalmente a metanfetamina`, explica Campana.

Em toda a Europa, as autoridades fizeram 50 mil apreensões de drogas sintéticas no ano passado, recolhendo quatro toneladas de substâncias. Já no Brasil, os dados da Polícia Federal apontam a apreensão de pouco menos de 6,7 mil comprimidos de ecstasy neste ano. A PF não quis comentar os números.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

Crescente uso de ´drogas do estupro` na América Latina preocupa autoridades



 


ONU alerta para o crescente uso de ´drogas de estupro` na América Latina

A história começa com uma mulher despertando nua em uma cama de um quarto de hotel no qual não se lembra de ter entrado. Ela foi drogada em uma festa. E as únicas pistas que restam do que ocorreu na noite anterior são as marcas de estupro ainda visíveis em seu corpo.

Esse é um drama comum em toda América Latina, onde muitas mulheres se tornam vítimas de abuso sexual, frequentemente quando ainda são adolescentes. "Os estupros realizados com a ajuda de drogas eram raros quando comecei a trabalhar com o tema", diz Maria Elena Leuzzi, presidente da ONG Ajuda a Vítimas de Estupro, organização que é referência para vítimas de abuso sexual na Argentina. "Hoje são mais frequentes. É muito fácil conseguir essas substâncias."

Leuzzi diz receber ao menos quatro telefonemas por fim de semana de mulheres contando a mesma história: divertiam-se em festas ou casas noturnas de Buenos Aires e, depois, não se recordavam de mais nada.

Casos assim se repetem por todos os países da região. "Só na Cidade do México, mais de 300 mulheres são estupradas por ano sob o efeito de drogas, e o número é cada vez maior", afirma Laura Martínez, presidente da Associação para o Desenvolvimento Integral de Pessoas Estupradas (ADIVAC, na sigla em espanhol), a única organização civil que atende casos de violência sexual no México.

Com 20 anos de experiência no laboratório de química forense da Procuradoria de Justiça da Cidade do México, o toxicologista Carlos Díaz faz um cálculo semelhante. "Em média, analisamos uma denúncia por dia. É notório que o uso de substâncias que facilitam o estupro está aumentando. E a grande maioria das vítimas tem menos de 25 anos de idade."

Díaz adverte que existe "um catálogo cada vez mais amplo de substâncias psicotrópicas" usadas para se cometer abusos sexuais. O objetivo é sempre o mesmo: anular a vontade da vítima e transformá-la em um "brinquedo" na mão no agressor. Um brinquedo que não terá qualquer lembrança do ataque.

Ao alcance da mão


(Arquivo Pessoal) María José Coni e Marina Menegazzo foram drogadas e, depois, assassinadas

No caso de Cristina (nome fictício), a primeira coisa que ela viu ao acordar foi o tapete vermelho do quarto de hotel. Seus braços e pernas doíam. Sua roupa estava espalhada ao lado da cama. Em uma pequena mesa, sob uma luminária, o relógio marcava 13h.

Dezesseis horas antes, ela havia se arrumado na casa de uma amiga da faculdade para irem juntas a uma festa. Cristina se lembra de ter conhecido um rapaz, com quem conversou e dançou salsa. Não sabe por que pediu que a amiga fosse embora.

A ONU já alertava em 2010 para o rápido aumento do uso das "drogas de estupro" e o surgimento de novas substâncias do tipo.

O relatório anual da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE) apresentado naquele ano destacou a "evolução muito rápida" desses crimes e ressaltou o fato de que, em muitos países, narcóticos usados com este fim são vendidos sem controle.

No caso da América Latina, as drogas mais usadas são a benzodiazepinas, obtidas facilmente em qualquer farmácia.

Foi essa a substância encontrada nos corpos das turistas argentinas María José Coni e Marina Menegazzo, assassinadas na cidade costeira de Montañita, no oeste do Equador.

Isso reforça a teoria de suas famílias, para quem as jovens foram drogadas e conduzidas pelos acusados até suas casas, sem conseguir resistir.

"Os estupradores sabem quais quantidades levam a um estado de sedação e à perda de memória. Ao misturar com álcool, o efeito é potencializado", diz Emilio Mencías, do Instituto Nacional de Toxicologia e Ciências Forenses da Espanha.

As benzodiazepinas são drogas de efeito sedativo e hipnótico receitadas para o combate a estresse, crises nervosas, sonolência e ansiedade.

Ainda que em muitos países se costume exigir uma receita médica ao vendê-las, os controles são facilmente burlados. Em outros, nem a receita é necessária, segundo a ONU.

Da Burundanga ao GHB


Drogas são colocadas nas bebidas das vítimas

A burundanga, talvez a "droga de estupro" mais conhecida na América Latina, cresce de forma silvestre em quase toda a região.

Chamada também de estramônio, trombeta ou "sopro do diabo", ela tem como princípio ativo a escapolamina.
Segundo o Departamento de Saúde dos Estados Unidos, este alcaloide provoca desorientação, alucinações, amnésia e, em doses elevadas, pode ser mortal.

No entanto, apesar da fama, é cada vez menos usada em abusos sexuais.

"Ela incapacita a vítima, mas também pode torná-la agressiva. Não é prática para o criminoso, que prefere outras drogas", diz Pilar Acosta, médica do hospital Santa Clara de Bogotá e vice-presidente da Associação de Toxicologia Clínica Colombiana.

Uma das drogas silenciosas que está substituindo a burudanga é o GHB.

Seu nome científico é ácido gama-hidroxibutírico e é difícil detectá-lo. Ele é usado com fins medicinais no tratamento do alcoolismo, mas seus usos ilegais são mais frequentes e conhecidos.

A substância também é chamada de êxtase líquido, porque seu primeiro efeito é a euforia. "Não é complicado de sintetizar - e alguns criminosos até o preparam com removedor de tinta", afirma Díaz.

O GHB não tem odor nem cor - o que faz com que a vítima não perceba que ingeriu a substância.

Foi o que aconteceu com Andrea, no Peru. Ela sempre foi tímida, mas sua última lembrança da noite em que a estupraram é de estar dançando em cima do bar de uma boate em um balneário ao sul de Lima. Estava irreconhecível.

Ela havia tomado uma bebida oferecida por dois jovens e, logo, estava beijando um deles. Depois, foi com eles para o estacionamento. Acredita que entrou num carro cinza, mas não tem certeza.


Vítima acorda após estupro sem lembranças da noite anterior

O Centro de Informação para Educação e Abuso de Drogas do Peru (Cedro) alertou que, no último verão, a venda de GHB se popularizou nas praias de Lima.

Representante da instituição, Milton Rojas explica que as drogas sintéticas ficaram mais baratas no país e jovens que antes não as compravam agora conseguem fazê-lo.

À BBC Mundo, representantes da Organização Mundial de Saúde (OMS) destacaram que os controles internacionais do comércio de GHB são mínimos.

Para o órgão, nem o uso legal da droga se justifica, porque há medicamentos mais seguros para tratar as mesmas doenças e condições.

Estupros sem registro

Os dramas de Cristina e Andrea ainda são invisíveis. Na América Latina e na Espanha, há uma ausência significativa de observatórios especializados em abusos sexuais que envolvam fármacos. Nem os especialistas da agência da ONU contra Crimes e Drogas, a UNODC, têm estatísticas precisas.

"É arriscado dar números exatos, porque eles não existem. Analisamos oito ou nove denúncias por semana. Isso ninguém pode refutar", afirma Díaz.

A pouca informação existente na região é fragmentada e depende quase sempre de iniciativas isoladas de governos.

Na Colômbia, o relatório mais recente foi feito pela Universidade Nacional, após reunir documentos do Grupo de Elite de Delitos Sexuais, uma unidade de investigação especializada criada em Bogotá.

Entre junho de 2013 e março de 2014, foram denunciadas 184 agressões sexuais só na capital colombiana, das quais 53, ou quase um terço, foram facilitadas por drogas.

Ter informações exatas sobre esses casos é importante para criar políticas públicas, assim como um bom diagnóstico pode curar um doente.

"Estamos vendo só a ponta do iceberg", diz Mencías, acrescentando que um em cada cinco estupros atendidos nos hospitais de Barcelona e Madri envolve drogas.

Drogas invisíveis


Medicamentos com benzodiazepina podem ser obtidos com relativa facilidade

Diferentemente da maioria das vítimas, Isabel acordou em sua própria cama. Não lembrava da festa a que fora na casa de amigos, em Barcelona, e pensou que havia bebido demais, nada além disso.

Mas logo descobriu sinais em seu quarto e no banheiro que indicavam que alguém havia estado com ela. Seu corpo também tinha marcas. Quando foi atendida no hospital, confirmaram o estupro, mas os exames toxicológicos deram negativo.

"Meu primeiro conselho para uma vítima quando há suspeita de que ela tenha sido drogada é fazer exames imediatamente", diz Leuzzi. "As evidências desaparecem muito rápido." A maioria das "drogas de estupro" são eliminadas do organismo em menos de 12 horas.

Então, a única maneira de detectá-las é com um exame capilar, feito em centros especializados. O processo é mais longo, requer a elaboração detalhada da história clínica do paciente e, em muitos casos, a vítima deve pagar pelo teste.

Ainda que Isabel tenha chegado a tempo no hospital, nada foi detectado. Provavelmente porque, assim como vários países latino-americanos, a Espanha também tem um problema com seu protocolo médico para o tratamento de casos desse tipo.

"Normalmente, se busca por cocaína, maconha, benzodiacepinas e álcool. Não se procura por mais substâncias psicotrópicas, porque o protocolo não exige isso", afirma Díaz.

O GHB e outras drogas muitas vezes passam despercebidas pelos exames, que são fundamentais em um processo judicial por estupro.

Segundo Acosta, na Colômbia os equipamentos e agentes químicos necessários para detectar essas substâncias também não são comumente encontrados em centros médicos.

"É uma questão de custo. Além disso, muitos criminosos aprenderam a usar as drogas mais difíceis de rastrear", diz a médica.


Efeito da droga pode durar por até 8 horas

Sem um exame que comprove que a vítima foi drogada e muitas vezes sem qualquer lembrança do agressor, o estupro costuma ser o início de um drama judicial longo e doloroso.

De acordo com o Instituto Nacional de Toxicologia e Ciências Forenses da Espanha, só uma em cada cinco mulheres que foram drogadas para facilitar o abuso denuncia.

Isabel se atreveu a isso e começou um processo legal interminável.

Ela chegou a reconhecer o agressor nas gravações da câmera de segurança do seu edifício, mas as imagens só mostram que ela entrou de mãos dadas com ele em casa. O acusado garante que a relação foi consensual. E, para Isabel, é muito difícil provar o contrário.

Conselho

Talvez o conselho mais comum ouvido por uma adolescente que começa a sair para boates é "Nunca perca seu copo de vista".

E o conselho não é um exagero. As "drogas de estupro" precisam ser ingeridas para surtir efeito.

"É um mito que o simples contato com a substância pode drogar alguém. Nenhuma delas atua desta forma", diz Mencías.

Mas a quantidade necessária para drogar uma pessoa é tão pequena e se dilui tão rápido que bastam alguns segundos de desatenção para que o agressor a coloque em uma bebida - e, num local de festa, não é difícil um descuido assim.

Para tentar limitar o uso de fármacos em delitos sexuais, a ONU recomenda que a indústria química desenvolva medidas de segurança como adicionar corantes e sabores em seus produtos para que a vítima se dê conta se ingerir a substância. Mas essa é apenas uma recomendação.

A difusão de informações sobre o problema é outro passo importante para que ele comece a ser combatido.

Desde que vários meios de comunicação e organismos internacionais começaram a denunciar o crescente uso das "drogas de estupro" e suas consequências, Martinez, da ADIVAC, passou a receber um tipo inédito de telefonema: de mulheres com histórias ocorridas meses ou anos atrás.

Elas dizem que sempre sentiram que algo estranho ocorrera na ocasião. Hoje, afirmam com convicção: "Fui estuprada."
Fonte: BBC Brasil

domingo, 29 de maio de 2016

Reflexão: Cometas e Estrelas!!!!

Cometas e Estrelas   

Os cometas passam! As estrelas permanecem! Há muita gente cometa! Passam pela nossa vida apenas por instantes! Gente que não se prende a ninguém...

Sem amigos! Que passam pela vida sem iluminar... sem aquecer... sem marcar presença! Mas o mais importante é ser Estrela! É estar presente Estar junto Ser luz! Ser calor! Ser vida!

Amigo é Estrela! Podem se passar os anos... Surgir distâncias... mas a marca fica no coração! E muitos são cometas por um momento. Ser cometa É não ser amigo...
É ser companheiro por instantes...

É explorar sentimentos... É ser aproveitador das pessoas e das situações... É fazer acreditar... e desacreditar ao mesmo tempo! A solidão é resultado de uma vida cometa...

Ninguém fica! Todos passam! E nós também passamos pelos outros. Precisamos urgente criar um mundo de estrelas! Podermos vê-las... Senti-las todos os dias... Poder contar com elas... Sentir sua Luz e calor...

Assim são os amigos Luz nos momentos escuros! Pão nos momentos de fraqueza! Segurança nos momentos de desânimo! É nascer e ter vivido! Não apenas existido!

E você é assim...
Fonte:(Autorizado por www.rivalcir.com.br

Vocês Sabiam?

... O consumo de cocaína no Brasil dobrou em quase 10 anos e já é 4 vezes maior que a média mundial [+]
... A ´Internet Negra` movimenta um mercado ilícito e virtual do tráfico e comércio de drogas e gera dificuldades de rastreamento por parte das autoridades [+]
... As principais substâncias consumidas mundialmente são a cannabis (maconha), o ópio, a cocaína e o ecstasy [+]
... Estima-se que entre 162 e 324 milhões de pessoas com idades entre 15 e 64 anos tenham usado drogas ilícitas pelo menos 1 vez[+]
... Entre os jovens que tinham feito sexo sem camisinha, 41% haviam consumido álcool em excesso[+]

Empregado deve ser advertido antes de demissão por beber no trabalho


 


Consultor Jurídico
ATO ISOLADO
(imagem reprodução)

O trabalhador que se apresenta para trabalhar com um grau mínimo de álcool no sangue não pode ser demitido por isso. É preciso primeiro que ele receba advertências e outras medidas de disciplina, e a demissão só se justifica se o fato voltar a acontecer. O entendimento é da 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região, que determinou que o rompimento do contrato foi imotivado e determinou o pagamento das parcelas rescisórias referentes à indenização do aviso prévio, férias proporcionais com o respectivo adicional, gratificação natalina proporcional, liberação dos depósitos do FGTS com a respectiva multa e liberação das guias para entrada no seguro-desemprego.

Após a primeira instância dar ganho de causa para a empresa, o relator na segunda instância, desembargador Francisco Lima Filho, esclareceu no voto que a tese de que o resultado positivo se deu em razão do uso de enxaguante bucal não procede. De acordo com o magistrado, além de o álcool evaporar muito rápido após o uso do enxaguante bucal, o trabalhador não comprovou que utilizou o produto antes do teste de bafômetro.

Lima Filho explicou que a quantidade de álcool indicada no exame foi baixa, bastando um copo de chope para atingir o teor de 0,1 miligramas de álcool por litro de ar alveolar no organismo. Destacou também que o Código de Trânsito Brasileiro (artigo 306) prevê o crime de embriaguez ao volante, sendo necessário, nesta hipótese, que o condutor do veículo tenha 6 decigramas de álcool no sangue ou 0,3 miligramas de álcool por litro de ar alveolar.

O magistrado esclareceu que a embriaguez "não pode constituir causa, por si só, de demissão do trabalhador, mas de tratamento e apenas pode arrimar a dispensa motivada, se repete e ganha volume, o que não houve no caso concreto, em que ocorreu uma única e isolada vez, não chegando a colocar em risco o trabalhador, terceiros, menos ainda a imagem da organização".

"Verifica-se que o ato empresarial se revela desproporcional à falta cometida, ainda mais quando se vê que anteriormente não se constatou nenhuma outra falta neste sentido, tampouco qualquer medida disciplinar ou pedagógica", afirmou desembargador.

Com informações da Assessoria de Imprensa do TRT-24
Processo: 0024808-81.2014.5.24.0003-RO
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

terça-feira, 24 de maio de 2016

Risco entre jovens


 


(imagem reprodução)

Jornal o Estado de S. Paulo
*Jairo Bouer
O fator de risco para doenças que mais cresceu entre os jovens nas duas últimas décadas foi o sexo sem proteção, que saltou da 13.ª para a 2.ª posição na faixa dos 15 aos 19 anos de 1990 a 2013. Esse é um dos dados mais importantes de um amplo estudo publicado na versão online do periódico médico The Lancet na última semana. Apesar do aumento vertiginoso da prática de sexo desprotegido, o álcool permaneceu no primeiro posto como fator de risco para doenças entre os mais jovens. Na faixa dos 20 aos 24 anos, é seguido pelo uso de outras drogas.

O trabalho foi feito por um consórcio de pesquisadores de diversas universidades e instituições globais a partir do relatório anual Global Burden of Disease, da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os dados foram divulgados pelo jornal inglês Daily Mail e pelo site News Medical.

Há 1,8 bilhão de adolescentes e adultos jovens no mundo, cerca de um quarto da população, a maior geração da história. Dois terços vivem em países em desenvolvimento, onde problemas evitáveis como HIV/aids, gravidez precoce, acidentes e violência são ameaças diárias. Até 2032, o número de jovens no mundo vai subir para 2 bilhões.

Sabe-se que na adolescência uma parte importante do desenvolvimento neuronal acontece, assim, fatores de risco que agem nessa fase podem marcar o comportamento e a saúde na vida adulta. Quanto mais cedo, por exemplo, se dá o contato com cigarro, álcool e outras drogas, maiores os riscos e padrões de uso mais complicados.

Do ponto de vista da saúde sexual, sem proteção, o jovem fica mais exposto a doenças que podem comprometer seu futuro reprodutivo e sua saúde. As taxas de HIV na população mais jovem, principalmente dos garotos que fazem sexo com outros homens, é hoje uma das maiores preocupações de quem trabalha com prevenção. Complicações decorrentes de gravidez na adolescência, tentativas de aborto e partos estão entre os principais impactos na vida das garotas.

Ainda de acordo com o relatório, os principais problemas, para ambos os sexos, são a saúde mental e os perigos nas ruas e estradas. Depressão, por exemplo, foi a doença mais comum em 2013, afetando mais de 10% dos jovens de 10 a 24 anos. Enquanto ela é mais prevalente entre as garotas, os acidentes são mais frequentes entre os rapazes.

Morte precoce. As principais causas de morte de jovens de 15 a 24 anos em 2013 foram acidentes, suicídio e violência. Existem algumas variações importantes entre os países e nas diferentes faixas etárias de jovens. No Reino Unido, por exemplo, nos jovens entre 15 e 24 anos, a principal causa de morte foram as drogas, com um aumento de 36% desde 1990. Já entre os jovens de 20 a 24 anos, o suicídio está na primeira posição. No Brasil, violência e acidentes são as principais causas, mas o suicídio tem crescido de forma preocupante nos últimos anos.

Questões de gênero e de direitos humanos, baixa escolaridade, desemprego, pobreza, desestruturação familiar, violência generalizada e legislação anacrônica e inconsistente são apontados como alguns dos principais entraves para o acesso dos jovens aos diversos recursos de saúde, de educação e de participação social.

A escola é considerada para alguns dos especialistas um dos maiores fatores de proteção para a saúde dos mais novos. Segundo eles, para cada ano adicional que o jovem permanece na escola depois dos 12 anos, está associada uma diminuição progressiva das taxas de gestação na adolescência e do número de mortes precoces de garotos e garotas. Para um novo governo que começa, é bom lembrar que garantir recursos para educação e saúde na adolescência, mesmo em meio a atual crise econômica que atravessamos, faz, sim, toda diferença.
*Jairo Bouer é psiquiatra
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

Legalização da maconha dobrou acidentes

   

 


Jornal o Estado de S. Paulo / Jornal do Carro
Fundação AAA para Segurança no Trânsito, dos EUA, aponta que acidentes fatais aumentaram após legalização
Reprodução

Maconha é apontada com causa dos acidentes

A Fundação AAA para Segurança no Trânsito, dos Estados Unidos, divulgou um relatório que informa que os acidentes fatais envolvendo motoristas que usaram maconha antes de dirigir dobraram em Washington desde que o estado legalizou a droga.

De acordo com a fundação, a porcentagem destes acidentes aumentou de 8% para 17% entre 2013 e 1014. O relatório prossegue dizendo que um em cada seis motoristas envolvidos em acidentes fatais em 2014 fez uso de maconha antes de pegar o volante.

Em um comunicado, o presidente da Fundação de AAA, Peter Kissinger, disse que "o aumento significativo dos acidentes fatais envolvendo a maconha é alarmante. Washington serve como um estudo de caso de abrir os olhos para o que outros estados podem ter de experiência com a segurança rodoviária após a legalização da droga".

Alguns estados americanos criaram limites legais que especificam a quantidade máxima de THC (princípio ativo da maconha) que os motoristas podem ter em seu organismo. No entanto, a fundação observa que esses limites são problemáticos, porque a maconha pode afetar as pessoas de formas diferentes, o que torna difícil de criar diretrizes consistentes e justas.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

Como a maconha afeta o cérebro adolescente



 


Revista Época
Estudo sueco sugere que uso abusivo durante a adolescência aumenta riscos de morrer antes dos 60 anos
*JAIRO BOUER

O uso pesado de maconha na adolescência pode estar relacionado a maior risco de morte antes dos 60 anos, sugere um novo estudo. A pesquisa reforça a tese de que o impacto da droga na saúde e no comportamento depende diretamente da idade de contato inicial e do padrão de uso. O trabalho, realizado pelo Instituto Karolinska, da Suécia, avaliou 45 mil homens que fizeram o serviço militar obrigatório no país entre 1969 e 1970. Eles foram acompanhados até 2011. Os pesquisadores registraram 4 mil mortes em 42 anos. Aqueles que haviam feito uso pesado de maconha (definido como ter consumido a droga mais que 50 vezes na adolescência) apresentaram um risco 40% maior de morrer precocemente do que aqueles que nunca a fumaram.

Os especialistas arriscam as razões para essa associação: usuários pesados de maconha tenderiam a fumar tabaco com maior frequência, ter um pior padrão alimentar, apresentar saúde mais precária e, ainda, maior incidência de câncer de pulmão e de problemas cardíacos. Os dados, publicados no periódico American Journal of Psychiatry, mostram também que o risco de morte por suicídio e acidentes é diretamente proporcional à quantidade de droga usada na adolescência.

O cérebro do adolescente, ainda em franco desenvolvimento, pode ser mais sensível (tanto do ponto de vista biológico como emocional) aos efeitos de qualquer tipo de droga. Assim, há um risco maior de consequências do abuso de substâncias em um momento potencialmente mais crítico de formação de redes e circuitos neuronais.

Estudos anteriores já davam uma dimensão desses riscos. Alguns dos mais frequentes são piora cognitiva (padrões mais pobres de Q.I., por exemplo), maior chance de quadros psicóticos, impulsividade, falta de motivação, dificuldades persistentes de memória e desenvolvimento inadequado do córtex pré-frontal (área do cérebro ligada a julgamento, pensamento complexo e tomada de decisões). Outros trabalhos também já elencam possíveis impactos econômicos e sociais, de longo prazo, com esse padrão de uso mais precoce e mais frequente de maconha, como dificuldades nos relacionamentos interpessoais, menor qualificação no trabalho, salários mais baixos e problemas financeiros.

Esses achados reforçam a ideia de que a dose e o momento do contato com a maconha podem ter impacto de forma distinta na saúde e no comportamento das pessoas. Com leis mais flexíveis de consumo em boa parte do mundo, é importante que esses pontos sejam levados em consideração na formulação de políticas públicas.

*Jairo Bouer é Colunista de ÉPOCA - É médico formado pela USP, com residência em psiquiatria. Trabalha com comunicação e saúde.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas


terça-feira, 17 de maio de 2016

Vocês sabiam???

... Homens bebem mais do que mulheres porque sentem maior prazer[+]

... Um relatório estima que 2,6 milhões de crianças vivem com um dos pais, de cujo consumo de álcool poderia levar ao desprezo[+]

... A presença da impulsividade é um fator de risco para iniciação do uso de drogas[+]

... A melhor estratégia para afastar os jovens das drogas envolve uma abordagem múltipla[+]

Relação da cultura com consumo de bebidas alcoólicas entre estudantes universitários árabes



 

A religião exerce grande influência sobre a tradição do consumo de bebidas alcoólicas. Os baixos índices de consumo de álcool nos países muçulmanos são um exemplo clássico da religião como fator de proteção para os problemas decorrentes do consumo de álcool. Esta pesquisa investigou se a formação religiosa se sobrepõe à influência dos amigos para o consumo de álcool entre jovens.

Vários estudos têm investigado o papel da cultura e da religião na determinação dos comportamentos de beber. A presente pesquisa teve como objetivo investigar o consumo de álcool entre muçulmanos residentes em um país com altas taxas de consumo de bebidas alcoólicas e de problemas decorrentes deste consumo.

Participaram da pesquisa 358 estudantes da Universidade Estadual de Medicina de Grozny - Belarus, provenientes de países árabes de religião muçulmana (Síria, Kuait, Líbano e Palestina).

Para a avaliação dos estudantes foram utilizados os instrumentos: AUDIT (Alcohol disorder identification test) , MAST (Michigan Alcohol Screening Test), CAGE e também o CID-10.

Os autores dividiram os estudantes em três grupos de acordo com suas atitudes com relação ao consumo de bebidas alcoólicas: abstêmios (55%), usuários de álcool que não apresentavam problemas (30%) e os que foram diagnosticados, em pelo menos um dos instrumentos de avaliação, como usuários de álcool que apresentavam problemas (15%).

O ano que os alunos frequentavam na universidade mostrou a associação com os diferentes padrões de consumo de álcool. Entre os estudantes do primeiro e segundo anos, a prevalência de uso corrente de álcool foi de 14%, entre os alunos do terceiro e quarto anos foi de 35%, e para os estudantes do quinto e sexto anos foi de 63%.

Os autores concluíram que os estudantes muçulmanos, em geral, assimilaram certos elementos da cultura do país onde residiam e, particularmente, as tradições quanto ao consumo de bebidas alcoólicas. Os resultados sugerem a importância dos fatores culturais e religiosos sobre os padrões de consumo de álcool. Ao mesmo tempo, parece que o mais poderoso preditor de consumo de álcool não é a religião, e sim, a rede social de relações.
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool

Epidemia de overdoses faz aumentar doadores de órgãos nos EUA



 


Em 2015, 848 doadores de órgãos nos EUA morreram por conta de overdose (Foto: Divulgação)

Nº de doadores que morreram por overdose aumentou 270% em 9 anos.

Em média, 78 americanos morrem por dia por conta dos opiáceos.

Do G1, em São Paulo
A epidemia de morte por overdose de drogas aumentou expressivamente o número de doadores de órgãos nos Estados Unidos, segundo reportagens do portal de notícias "U.S. News & World Report" e do jornal "The Washington Post".

Cada vez mais pessoas morrem por overdose nos Estados Unidos. Desde 2000, esse número cresceu 137%, de acordo com o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos EUA. Grande parte das mortes estão ligadas ao uso de remédios à base opiáceos, como alguns analgésicos, e pelo uso de heroína.

Em média, 78 americanos morrem por dia por conta dos opiáceos. Em 2014, foram quase 19 mil casos, segundo o CDC.

Por conta disso, houve um aumento de 270% no número de doadores de órgãos que morreram por overdose, entre 2006 e 2015, passando de 230 para 848 casos, revelou uma pesquisa da United Network for Organ Sharing (UNOS).

“O aumento de doadores de órgãos nos últimos anos é substancial”, falou ao "Washington Post", David Klassen, diretor médico da United Network for Organ Sharing. “Uma parte significante disso pode ser explicado pelas overdoses de drogas, mas não toda. Há um grande esforço na comunidade de transplante para aumentar a consciência da doação, completou.

Há mais 80 mil americanos na fila de transplantes. Em média, morrem 20 pessoas da lista de espera por dia, por não encontrarem um doador, segundo as estatísticas da UNUS.

Muitos hospitais e candidatos a receber transplantes estão cautelosos em usar órgãos do chamado “grupo de risco”, como os de usuários de drogas, por temerem a contaminação por hepatite C e outros doenças infeciosas.

“Doadores de órgãos [em geral] são examinados para HIV, Hepatite B e Hepatite C. Doadores de alto risco recebem exame complementar”, disse Klassen. "Alto risco é uma coisa relativa. O risco de transmissão da doença de alguém que é rastreada por esse processo é relativamente baixo. Ainda assim, é impossível eliminar completamente o risco de transmissão de doenças, mesmo a partir de doadores não-alto risco”, completou.

Apesar de representar um grande problema de saúde pública, as mortes por overdose fazem surgir um novo público de doadores. “Temos que convencer as pessoas que esses órgãos podem ser usados por representarem um baixo risco [de saúde]. Essa é uma nova população de doadores, que inclui jovens, pessoas saudáveis, estudantes e trabalhadores”, disse a vice-presidente do Banco de Órgãos de New England, Helen M. Nelson, ao U.S. News & World Report.