sexta-feira, 4 de março de 2016

Motoristas profissionais farão teste do cabelo para detecção de drogas


 

Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Os motoristas profissionais de todo o Brasil terão, a partir de hoje (2), que fazer exames toxicológicos de larga janela de detecção, em cumprimento à deliberação 145, de dezembro de 2015, do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Conhecido como teste do cabelo, esse exame permite identificar o uso de drogas por um período de, pelo menos, 90 dias antes da coleta.

Na avaliação do coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto, trata-se de uma medida “extraordinária”. “É a primeira medida que se toma no país desde 1998, quando entrou em vigor o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Não havia nenhuma medida para combater o uso de drogas por quem dirige de forma profissional”, disse. Ele destacou que o exame não visa à fiscalização, mas à prevenção.

Autor do estudo "As drogas e os motoristas profissionais", Rizzotto informou que, nos Estados Unidos, as próprias empresas tiveram, há dez anos, a iniciativa de fazer o teste do cabelo e conseguiram praticamente zerar os acidentes envolvendo motoristas sob efeito de drogas. Naquele país, o teste de urina é obrigatório há 30 anos, mas apresenta detecção de menor número de dias.

Rizzotto ressaltou a importância da medida para a saúde dos motoristas, porque “quem é usuário de drogas vai ter que parar e, se for dependente, vai ter que buscar um tratamento. É importante, do ponto de vista de saúde pública", afirmou. Em termos de segurança, a medida é importante, porque vai diminuir os acidentes. O teste vai beneficiar toda a população brasileira, porque é exigido também dos motoristas de ônibus, de vans e de transporte escolar."

Exames clínicos feitos em caminhoneiros brasileiros voluntários que transportam as chamadas cargas de horário, do tipo perecível, mostraram que chega a 50% o número de motoristas que fazem uso de drogas. Desse total, 80% já são dependentes químicos e necessitam de tratamento, disse Rizzotto. Ele afirmou que muitos motoristas entram nas drogas porque são explorados, começam a usar rebite (droga sintética produzida em laboratório) e, atualmente, cocaína; enquanto outros são “irresponsáveis”.

O coordenador do SOS Estradas disse acreditar que o teste do cabelo vai ajudar também a combater a concorrência desleal. “Porque aquele que não usa drogas não aceita fazer determinadas viagens." Se um motorista faz, em 22 horas, por exemplo, uma viagem que dura normalmente 30 horas, “é porque o cara não vai dormir”, explicou. No fundo, ele está baixando o valor do frete e trabalhando em condições sub-humanas. Para ele, que a transportadora, se for uma empresa séria, e não explorar o empregado, também não vai aceitar determinados tipos de carga, nem condições adversas de transporte.

Situações

O exame toxicológico de larga janela vale apenas para motoristas profissionais nas categorias C, D e E e será exigido em quatro situações: renovação da carteira, mudança de categoria, admissão e desligamento da empresa. Como o custo do exame apresenta média de R$ 300 a R$ 350, Rizzotto acredita que deverão ser fechados acordos entre as empresas e os sindicatos. No caso dos autônomos, o custo deve ser bancado pelo próprio motorista profissional.

O Denatran credenciou alguns laboratórios que, por sua vez, fizeram acordos com outros laboratórios especializados na coleta da amostra para o exame, em todo o país. Rodolfo Rizzotto informou que esses laboratórios têm que ter uma creditação forense, para que o teste tenha valor judicial, porque se trata de drogas, além de uma creditação internacional que indica que ele respeita determinados protocolos. Os laboratórios credenciados deverão inserir o resultado no Sistema de Registro Nacional de Condutores Habilitados (Renach).

O motorista cujo exame der resultado positivo pode buscar tratamento e efetuar um novo teste 90 dias depois. O coordenador do SOS Estradas acredita que o teste do cabelo vai criar um estímulo para o abandono do uso de drogas, entorpecentes ou qualquer medicamento que possa alterar a condição de consciência dos motoristas.

No estudo que fez sobre motoristas profissionais, Rizzotto constatou que os motoristas que usam drogas começam a se relacionar com traficantes, para os quais acabam devendo dinheiro. “Com isso, eles passam a entrar no tráfico de entorpecentes para pagar ao traficante, começam a se envolver no roubo de cargas e, como qualquer viciado, eles estão mais próximos de fazer roubo dos próprios colegas nos postos onde param”, ressaltou.

Os caminhões e ônibus representam 5% da frota nacional de veículos que, em janeiro deste ano, somou quase 91 milhões de unidades, de acordo com dados do Denatran, e estão envolvidos em mais de 40% dos acidentes nas rodovias com vítimas fatais.

Riscos

O teste do cabelo é usado no Brasil desde o ano 2000 por forças de segurança e algumas companhias aéreas, que o utilizam junto com o teste de urina, informou à Agência Brasil o professor da Universidade Estadual de Londrina (PR) nas áreas de farmácia e medicina e doutor em toxicologia, Tiago Severo Peixe.

Ele vê com bons olhos a adoção do teste do cabelo para motoristas profissionais, porque detecta a presença de substâncias psicoativas em até 180 dias. “Dificilmente, um motorista conseguiria ficar abstêmio durante 90 dias ou 180 dias”. Lembrou que nos Estados Unidos, a Casa Branca publicou um ato em dezembro passado, colocando o teste de cabelo como alternativa ao teste de urina para motoristas profissionais. Tiago Peixe observou que no teste do cabelo são coletadas amostras de cabelo, pelo ou unhas.

O pesquisador destacou que as drogas causam modificações no sistema nervoso central e autônomo. Isso faz com que os motoristas tendam a perder autonomia, a capacidade de tomar decisões ao volante. “Ele pode, por exemplo, avistar um objeto que não está na pista, fazer um movimento brusco com a direção (do veículo) e causar um acidente”. Algumas substâncias são alucinógenas e podem causar alucinações. Outras levam a uma sobrecarga do sistema cardiovascular. “O indivíduo pode ter uma síncope ao volante”.

Tiago Peixe disse que em algumas classes de substâncias, como as anfetaminas, entre as quais o rebite, a tendência é a substituição pela cocaína ou ´crack`, como se têm observado nas pesquisas com urina. “São substâncias preocupantes”, afirmou.
Edição: Maria Claudia
Fonte: Agência Brasil

Adolescentes sentem mais prazer com drogas – e são mais inclinados ao vício


 


Revista Época - RAFAEL CISCATI
A inclinação dos adolescentes para o vício intriga a ciência. De acordo com um grupo de pesquisadores, a susceptibilidade é provocada pela falha na síntese de proteínas no cérebro

Usar drogas na adolescência costuma ser pior que usar drogas na idade adulta. A ciência sabe disso há tempos. No cérebro dosadolescentes, os danos provocados por essas substâncias costumam ser mais devastadores – elas podem fazer o órgão desviar de sua trajetória de desenvolvimento saudável, e provocar prejuízos duradouros. O uso de drogas na adolescência é considerado fator de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais na maturidade, como esquizofrenia e transtorno bipolar. Os adolescentes também são mais vulneráveis ao vício. As razões dessa suscetibilidade são, por enquanto, um mistério. Um grupo de cientistas americanos diz ter uma explicação.

O professor Mauro Costa-Mattioli, da escola de medicina da universidade Baylor, ofereceu cocaína em pequenas concentrações para ratos adultos e adolescentes. A ideia era observar o cérebro dos animais enquanto eles estivessem sob o efeito da droga. Costa-Mattioli percebeu que, nos ratos jovens, a substância reprimia a ação de uma molécula chamada
eIF2. Ela é a responsável pela criação de algumas proteínas no cérebro. Quando para de funcionar, o funcionamento do cérebro muda. Alguns neurônios são ricos em dopamina, um neurotransmissor capaz de induzir a comportamentos frenéticos e,quando em excesso no organismo, à paranoia. Na ausência da eIF2 – ou quando ela para de funcionar por causa da droga - as conexões entre esses neurônio ficam mais fortes. O resultado é que o adolescente fica mais agitado, e sente mais prazer. “A maior comunicação entre esses neurônios ricos em dopamina faz a droga parecer ainda mais prazerosa, e encoraja novos comportamentos relacionados ao vício”, diz o professor Wei Huang, um dos cientistas que participam do estudo.

Para tirar a prova, os cientistas usaram engenharia genética e alteraram a síntese proteica no cérebro dos ratos adultos. Fizeram o cérebro se comportar como se a eIF2 não estivesse funcionando. Esses ratos se viciaram mais facilmente. Na contramão, os ratos jovens alterados para produzir proteínas normalmente desenvolveram resistência ao vício.

Os cientistas agora estudam como a eIF2 se comporta na presença de outras drogas. Os resultados foram semelhantes para nicotina. Os experimentos só foram realizados com ratos, e há a possibilidade de que os mecanismos que regem o cérebro dos humanos sejam diferentes. Os pesquisadores sustentam, no entanto, que imagens dos cérebros de pessoas de diferentes idades levam a crer que o processo é semelhante em humanos – e que esse conhecimento, um dia, poderá ser útil para o desenvolvimento de novos tratamentos contra o vício.
RC
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

terça-feira, 1 de março de 2016

Frases para sua reflexão...

... "Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só."
(Amir Klink) 


... "O espírito se enriquece com aquilo que recebe, o coração com aquilo que dá." (Victor Hugo) 
... "Todos os nossos sonhos podem se realizar, se tivermos a coragem de perseguí-los." (Walt Disney)

... "Aquilo que se faz por amor, parece ir sempre além dos limites do bem e do mal." (Friedrich Nietzsche)

... "A beleza do mundo, que é cedo demais para perecer, possui dois extremos, um da alegria, outro da angústia, rachando o coração." (Virginia Woolf)

Fumar maconha aumenta em cinco vezes as chances de desenvolver alcoolismo


 

Revista Super Interessante
O uso da erva também pode ser prejudicial para quem já tem problemas com álcool, ajudando o vício a persistir.
Por Camila Almeida
(imagem reprodução)

Um novo estudo, desenvolvido pela Universidade Columbia e pela Universidade da Cidade de Nova York, revelou que fumar maconha aumenta as chances de desenvolver problemas de alcoolismo em cinco vezes, quando compara-se com os adultos que não fazem uso da erva. A pesquisa aponta que as chances de o alcoolismo persistir se o viciado também fuma são maiores.

A pesquisa analisou dados de mais de 27 mil adultos coletados pela Pesquisa Nacional Epidemiológica sobre o Álcool e Condições Relacionados, com destaque para aqueles que fizeram uso de maconha antes de terem qualquer problema com o álcool. Os que fumaram maconha pela primeira vez e continuaram fumando baseados pelos três anos seguintes (23%), tiveram cinco vezes mais problemas com álcool, comparados com aqueles que fizeram uso da droga (5%). Porém, outros aspectos da vida destes usuários não foram avaliados.

"Nossos resultados sugerem que o uso de maconha possa estar relacionado ao aumento da vulnerabilidade para o desenvolvimento de distúrbios relacionados ao álcool, mesmo entre aqueles que não têm histórico de alcoolismo", afirmou Renee Goodwin, coordenador do estudo. "Maconha também parece aumentar as chances de que um problema já existente com o álcool persista."

Os próprios pesquisadores que conduziram o estudo afirmam que é importante aprofundar as análises, para entender esses padrões e olhar mais cientificamente para a relação entre as duas substâncias. Entretanto, caso as suspeitas se confirmem, prevenir ou retardar o primeiro uso de maconha pode ajudar a minimizar os índices de alcoolismo no futuro.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas


Riscos da legalização da maconha


 


(imagem reprodução)
Jornal o Estado de S. Paulo
*Dr. Joel Rennó
Uma análise prospectiva dos resultados de uma pesquisa com adultos norte-americanos sugere que o uso de maconha pode estar associado com um risco aumentado para o desenvolvimento de distúrbios de álcool e drogas, mas não de transtornos de humor ou ansiedade, de acordo com um estudo publicado na última semana na renomada Revista Científica JAMA Psychiatry.

“Nossas descobertas sugerem cautela na implementação de políticas relacionadas com a legalização do cannabis para uso recreativo, pois pode levar a uma maior disponibilidade e aceitação do cannabis, reduzida percepção de risco de uso e aumento do risco de efeitos adversos na saúde mental, tais como abuso de outras substâncias “, diz Mark Olfson da Universidade da Columbia, EUA.

Olfson e colegas examinaram prospectivamente as associações de consumo de cannabis com a prevalência e incidência de transtornos de humor, ansiedade e de abuso de substâncias em uma amostra nacionalmente representativa de 34.653 adultos norte-americanos entrevistados por três anos como parte da Pesquisa Nacional Epidemiológica das Condições Relacionadas com o Álcool e outras drogas.

O consumo de cannabis foi avaliado pedindo aos entrevistados se eles tinham consumido cannabis nos 12 meses anteriores à entrevista, e transtornos psiquiátricos foram avaliados de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Saúde Mental da Associação Psiquiátrica Americana.

A análise dos dados revelou que o consumo de cannabis foi significativamente associado com transtornos de uso de álcool e dependência de nicotina, mas sem associação com transtornos de humor.No entanto, os autores notaram que o estudo foi incapaz de determinar uma associação causal entre o uso de cannabis e novo início de transtornos por uso de substâncias psicoativas.
“Embora os benefícios para a saúde do consumo de cannabis exijam mais testes entre os pacientes que não respondem aos tratamentos mais tradicionais, a associação do consumo de cannabis com os resultados de saúde mental negativos, tais como transtornos por uso de substâncias, aparece forte”, concluíram os autores.

Portanto, a discussão sobre a possível legalização da maconha no Brasil deve também levar em consideração os aspectos importantes apontados por essa pesquisa atual relevante e inquestionável.
FONTE: APA- Associação Americana de Psiquiatria


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Estudo: maconha piora sintomas de pessoas com esquizofrenia

Estudo: maconha piora sintomas de pessoas com esquizofrenia   
 

Um estudo realizado na Holanda afirma que a maconha pode causar uma rápida melhora para pessoas que sofrem de esquizofrenia, mas piora os sintomas psicóticos após algumas horas.

Por outro lado, os pesquisadores também afirmam que a droga tem uma substância que pode ser utilizada em benefício dos pacientes. As informações são do Live Science.

Os cientistas monitoraram 48 pacientes psiquiátricos e 47 pessoas saudáveis e registraram o que eles faziam e como se sentiam 12 vezes ao dia durante seis dias. Todos os participantes eram usuários da droga.

Segundo os pesquisadores, os pacientes que sofriam de esquizofrenia se mostraram mais sensíveis aos efeitos negativos e positivos da maconha. Os cientistas afirmam que os pacientes até se sentem melhores com o uso da droga, mas o consumo prolongado só piora sintomas psicóticos.

De acordo com a reportagem, a pesquisa ainda indica que o uso de maconha pode levar causar sintomas de esquizofrenia em pessoas que tem propensão a doenças mentais. Além disso, o estudo diz ter identificado dois componentes da droga que trazem benefícios e problemas para os pacientes, sendo que o segundo, inclusive, poderia aliviar os sintomas psicóticos. Os cientistas agora estudam a aplicação dessa substância para descobrir se ela pode ser utilizada pelos pacientes.
Fonte:Terra/ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas) 

Usado como moeda de troca para o sexo, crack impulsiona a contaminação pelo HIV


 

Jornal o Estado de Minas
Taxa de usuárias da droga infectadas é 20 vezes maior que a da população em geral
Sandra Kiefer

"Lógico que ainda temos muitos desafios pela frente, em função das fragilidades psíquicas e sociais dos nossos pacientes", Tatiani Fereguetti, coordenadora do Programa Municipal de Atenção às DSTs, Aids e Hepatites Virais (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)

Morador eventual da cracolândia da Rua Itapecerica, no Bairro da Lagoinha, o soropositivo Davi*, de 48 anos, sabe que é portador do vírus HIV há mais de 10 anos e não usa camisinha nas relações sexuais com mulheres, sendo que muitas delas cedem o corpo em troca de pedras de crack. Se a incidência de pessoas vivendo com HIV/Aids é de 0,4 a cada 100 mil habitantes no país, entre os craqueiros, a proporção é mais de 12 vezes maior, atingindo cinco a cada 100 mil. Entre as mulheres que usam a droga, devido à exigência de dispensar o preservativo para trocar sexo por pedra, a taxa alcança oito a cada 100 mil craqueiras, ou seja, número 20 vezes superior à média da população em geral, segundo os últimos estudos do Ministério da Saúde.

Se os números são preocupantes, a realidade do crack associada à disseminação pelo HIV é ainda mais desafiadora. Na prática, não se pode acusar o dependente químico viciado em pedra de estar contaminando outras pessoas de propósito. Nessa população, leva-se em consideração a comorbidade da dependência química para isentar da culpa o craqueiro, que está com seu estado de consciência alterado, e, pelo mesmo motivo, poderá não ter forças para aderir a um tratamento anti-HIV e dar continuidade a ele, ingerindo as cápsulas antirretrovirais diariamente.

Em uma novela televisiva, a atriz Grazi Massafera comoveu quem assistiu à jornada da personagem que se viciou na pedra, com cenas reais gravadas na cracolândia de São Paulo, mostrando a depauperação física e mental da mulher e sua flagrante humilhação até o momento do clímax em que ela oferece o seu corpo, o único bem disponível, para se livrar da fissura do crack. “Para quem não toma o medicamento, a Aids continua sendo exatamente igual ao que era antes. Não fazemos milagres. O governo federal e mesmo as autoridades locais não têm condições de entrar nas cracolândias, abrir a boca do paciente e enfiar dentro o remédio todos os dias”, desabafa Fábio Mesquita, diretor do Departamento de DST/Aids do Ministério da Saúde.

Signatária das Metas do Milênio da Organização das Nações Unidas (ONU), Belo Horizonte está bem perto de atingir o objetivo de que, até 2020, 90% das pessoas vivendo com HIV estejam diagnosticadas e, destas, 90% já estejam em tratamento, entre as quais 90% com a carga viral controlada ou indetectável. “Lógico que ainda temos muitos desafios pela frente, em função das fragilidades psíquicas e sociais dos nossos pacientes”, defende a médica do Eduardo de Menezes Tatiani Fereguetti, coordenadora do Programa Municipal de Atenção às DSTs, Aids e Hepatites Virais.

Com base nos parâmetros relatados no parágrafo anterior, os últimos números mostram que, das aproximadamente 10 mil pessoas vivendo atualmente com HIV na capital mineira, 88% já estão diagnosticadas e, destas, 94% iniciaram o tratamento, superando, portanto, a meta da ONU de 90%, quatro anos antes do prazo marcado. Dessas 94% em tratamento, 88% estão com a carga viral controlada. “BH se destaca em relação ao restante do país e até do mundo, oferecendo testes rápidos nas UPAs, centros de saúde e maternidades públicas da cidade. Uma vez que se trata o HIV, a chance de transmitir o vírus é menor, então, tratar também é uma estratégia de prevenção”, compara a médica, lembrando ainda a distribuição de preservativos, gel lubrificante e camisinhas aromatizadas para estimular o sexo oral seguro.

Para tentar incluir as restantes 1,2 mil pessoas sem diagnóstico do HIV/Aids, Tatiani Fereguetti explica que a próxima estratégia do BH de Mãos Dadas contra a Aids, programa municipal que completou 15 anos em dezembro, será treinar e capacitar jovens para trabalhar entre seus pares, prostitutas em seus locais de prostituição, travestis e transexuais, de maneira que a informação chegue à fonte com a linguagem desejada, sem subterfúgios.

Cruzada por reparação judicial

Ao receber o diagnóstico da boca do próprio namorado, André* diz ter perdido o chão. Sentiu-se traído, mas teve a sorte de ter sido orientado pela médica do posto de saúde a buscar o prontuário do parceiro, na região onde o mesmo deveria ter feito o exame anti-HIV. Aos poucos, com alguma frieza e talento para investigação, foi descobrindo que o companheiro havia sido garoto de programa no passado recente e mais: que sabia do próprio diagnóstico, ao contrário do que havia jurado. “A partir daquele dia, eu o desamei. Mas consegui ficar ao lado dele até reunir todos os papéis para entrar na Justiça contra ele por danos morais. Meu sonho é estar diante dele mais uma vez nos tribunais e dizer: eu te perdoo por não me contar, mas não te isento da culpa.”

Na grande maioria dos casos, a criminalização do contágio não costuma ser incentivada pela classe médica especializada em infectologia. “Na verdade, a não ser em caso de estupro ou de violência doméstica, pressupõe-se que uma relação sexual seja consensual e que, portanto, ambas as partes tenham confiança uma na outra. Não faz sentido criminalizar, se os dois concordaram em abrir mão do uso da camisinha”, pontua a médica Tatiani Fereguetti.

Segundo o infectologista Dirceu Grecco, a relação se equipara à da mulher que se previne tomando pílulas, mas acaba engravidando. A probabilidade de contrair o HIV em relações aleatórias, saindo por uma noite com um desconhecido, é de uma a cada 400 pessoas em Belo Horizonte, tomando por base as taxas atuais de infecção. “Você pode tentar processar o parceiro, mas ele, na verdade, só confiou na pessoa errada, como as meninas que ficam grávidas dizendo que tomavam pílulas”, acredita o médico, que insiste que a única maneira concreta de se prevenir contra o HIV e outras DSTs é usando o método de barreira, ou seja, a camisinha, hábito mais disseminado entre casais homossexuais.

Nosso personagem André mantém sua cruzada pessoal tentando incriminar o ex-namorado por ter atentado contra a vida dele ao ter consciência de que era portador de um vírus letal e omitir a informação. Para juntar provas, André abriu inquérito na Polícia Civil, juntou os exames do posto de saúde e foi orientado pela Defensoria Pública de Minas Gerais a entrar com pedido de união estável com o parceiro, seguido da dissolução da união estável, como forma de comprovar o vínculo. Para demonstrar que seu comportamento não era promíscuo, conforme lhe foi exigido, juntou aos autos os testes de HIV realizados três meses antes, ao fazer um procedimento cirúrgico estético. “Ainda hoje tenho sonhos com ele e nesses três anos não consegui me envolver com mais ninguém. Na época, ele poderia ter aberto o jogo e me dito: estou te amando, mas sou soropositivo e não sei como resolver isso. Eu juro que teria aceitado.”

* Nomes fictícios

(foto: Arte EM)

MARCAS DO PASSADO
"As mulheres ficam com medo, mas é só mostrar as pedras que elas chegam em mim. Nessas horas, nem lembro de camisinha"
Davi*, de 48 anos, é usuário de crack e tem Aids
Com Aids “há uns 12 anos, Davi é o retrato da doença no submundo do crack. “Na verdade, preciso de ajuda, de socorro. Perdi muito peso. Não sei como peguei, mas já fiz uso de droga injetável. Minha aparência não está boa, a pele do rosto já está descamando, mas como vou usar o coquetel, se fico só nas ruas?”, questiona. Na rua, o vício fala mais alto. “Não quero saber se é céu ou inferno, se é noite ou dia, só quero fritar minhas pedras e transar. Já vi pessoas com quem me relacionei morrerem de Aids, mas quem disse que a culpa foi minha? Não sou só eu HIV positivo na cracolândia. Também não é só minha classe ferrada e sem grana que faz isso. Os filhinhos de papai com seus carrões importados também usam droga e transam sem camisinha.”
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas