
Revista Veja
Um novo estudo mostrou que uso prolongado da droga é capaz de alterar a forma como as pessoas lidam com as conquistas
Por Da redação
O estudo mostrou que a quantidade de dopamina produzida pela parte do cérebro responsável pelas recompensas foi diminuindo ao longo do tempo nos usuários de maconha. (David Bebber/Reuters/VEJA/VEJA)
Fumar maconha pode afetar o modo como as pessoas lidam com as conquistas. De acordo com um estudo publicado recentemente na revista científica JAMA Psychiatry, a droga amortece a capacidade do cérebro reagir positivamente a recompensas em dinheiro, por exemplo.
Pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, analisaram os efeitos do uso prolongado da maconha no centro de recompensa do cérebro de 108 jovens com cerca de 20 anos. Ao longo de quatro anos, os participantes foram submetidos três vezes a um experimento enquanto tinham suas respostas cerebrais monitoradas por ressonância magnética.
O experimento consistia em um jogo associado a uma recompensa monetária. Os participantes precisavam apertar um botão cada vez que um alvo aparecesse na tela à sua frente. Antes de cada partida, os pesquisadores diziam aos voluntários que, dependendo de sua performance, haveria as seguintes possibilidades: ganhar 20 centavos de dólar ou cinco dólares, perder as mesmas quantias anteriores ou não ter perda nem ganho.
Os resultados mostraram que a quantidade de dopamina, conhecida como a substância do prazer, diminuiu de forma gradativa ao longo do tempo nos usuários de maconha. Além disso, quanto maior o uso da droga, menor a resposta.
“Isso significa que algo que seria gratificante para a maioria das pessoas não era mais gratificante para os usuários de maconha. O estudo sugere que o sistema de recompensa foi ‘sequestrado’ pela droga. Ou seja, eles precisam da droga para se sentir recompensados.”, afirmou Mary Heitzeg, principal autora do estudo.
A nova pesquisa sugere também que quanto mais cedo uma pessoa começa a usar maconha, mais rápida será a possibilidade de ela se tornar dependente desta ou de outras substâncias. Outras pesquisas também já sugeriram uma associação entre o uso de maconha e problemas para lidar com as emoções, desempenho acadêmico e até mesmo mudanças na estrutura do cérebro.
Francesca Filbey, professora da Universidade do Texas em Dallas, escreveu um editorial acompanhando o estudo no qual ela sugere que existam fatores genéticos subjacentes que tornam as pessoas mais propensas a começar a usar maconha. Estes mesmos fatores, por sua vez, podem torná-las mais suscetíveis a certas alterações cerebrais.
“Algumas pessoas podem acreditar que a maconha não é viciante ou que é ‘mais leve’ que outras drogas. Mas este estudo fornece evidências de que ela altera o funcionamento do cérebro, impactando no comportamento e o senso de recompensa”, acrescentou Mary.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

Revista Exame
Valéria Bretas, de EXAME.com
São Paulo – Desde 2012, quando o governo aplicou uma política de tolerância zero para quem insistir em dirigir depois do consumo de bebidas alcoólicas, a proporção de adultos que admitem manter tal hábito nas capitais brasileiras caiu em 22%.
De acordo com a pesquisa Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), em 2015, 5,5% dos moradores das capitais admitiram que pegavam no volante depois de ingerir qualquer quantidade de álcool.
A mistura de álcool e volante é mais comum entre os homens: 9,8% afirmaram cometer a infração, enquanto que apenas 1,8% da população feminina abusava da combinação.
O endurecimento da Lei 11.705/2008, também conhecida como Lei Seca, veio em dezembro de 2012. Com a decisão, o valor da multa para o motorista que bebe antes de dirigir passou de R$ 957,65 para R$ 1.915,30 – no caso de reincidência dentro de 12 meses, o valor é dobrado.
Além disso, a regra anterior livrava o condutor da multa caso o nível alcoólico detectado pelo bafômetro fosse de até 0,1 miligrama de álcool por litro de ar. A política de tolerância zero reduziu o limite para 0,05 mg/l de ar expelido.
Entre as capitais, Fortaleza é a que apresentou o maior percentual (13%) de entrevistados com mais de 18 anos que declararam assumir a direção após o consumo de álcool. Em contrapartida, Recife (2,6%), Maceió (2,9%) e Vitória (3,2%) são as que menos arriscam.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

(imagem reprodução)
Jornal do Brasil
Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP) revelam que o hábito de beber e fumar aumenta em até 20 vezes a chance de uma pessoa desenvolver algum tipo de câncer de cabeça e pescoço. Tumores nessa região correspondem a 3% de todos os tipos de câncer. Os de cavidade oral, que incluem lábios, língua, assoalho de boca, céu da boca, orofaringe como amígdalas, e de laringe são os tumores mais comuns. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Brasil, as estimativas de 2016 apontam a ocorrência de 15.490 novos casos de câncer bucal, sendo 11.140 em homens e 4.350 em mulheres.
Além do tabagismo e o álcool, outros fatores estão associados mais fortemente ao aparecimento do câncer de boca, como a exposição solar (para o câncer no lábio) e a infecção por HPV (subtipo 16 principal). De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, 14 milhões de brasileiros podem desenvolver a doença. Há também os fatores de baixo risco, dentre os quais estão a dieta pobre em frutas e vegetais, má higiene oral, próteses mal ajustadas ou adaptadas, genéticos e outros aspectos em associação que determinam uma queda na imunidade do hospedeiro, levando ao aparecimento do tumor.Os sintomas do câncer de boca, às vezes, são nítidos, como feridas com ardor na boca, e às vezes não, sendo indolores no início, como uma ferida que não cicatriza e não dói.
De acordo com o Dr. Giulianno Molina de Melo, Cirurgião de Cabeça e Pescoço da Beneficência Portuguesa de São Paulo, entre as lesões suspeitas estão a ferida na boca que não cicatriza em duas semanas; os nódulos persistentes no pescoço e em mucosa da bochecha, lábio, assoalho de boca e língua; as manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, indolores ou com leve ardor local em mucosa da boca; os dentes que apresentam amolecimento sem causa aparente; o inchaço na gengiva que dificulta uso de prótese; a dificuldade para engolir, falar, mastigar; mau hálito e perda de peso. “Apesar de quase 90% das lesões malignas de boca estarem localizadas na língua, assoalho, mucosa jugal e palato, ou seja, de fácil suspeita e reconhecimento, ainda diagnosticamos pacientes, em sua maioria, em estádios avançados, o que dificulta muito o tratamento, levando a cirurgias complexas, prolongadas, envolvendo reconstruções para a reabilitação mais adequada e invariavelmente seguidas de radioterapia e quimioterapia, apresentando-se até o momento com índices mais baixos de sobrevida”, explica Dr. Giulianno Molina.
No Brasil, cerca de 70% dos casos ainda apresentam-se em estádios avançados: III e IV, onde as chances de cura ou controle são menores, porém podem ser atingíveis. Já os casos iniciais I e II possuem alta chance de cura/controle.Os dados demográficos preocupam e se este ritmo continuar, a incidência do câncer de boca, no Brasil, tende a aumentar, ultrapassando outras doenças. Com isto os gastos em saúde como um todo também aumentarão. Hoje ocupa a quinta posição entre os homens e a sexta entre as mulheres. Segundo o cirurgião, a prevenção de fatores de risco ainda é a medida mais simples e eficaz para evitar o aparecimento desses tumores.
“A recomendação médica, portanto, é a de cessar o consumo de tabaco e álcool, pois associados e com a presença dos outros fatores já descritos aumenta-se muito a possibilidade de desenvolver esta doença”, conclui o Dr. Giulianno Molina.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

Na última década, por conta do advento do crack, ainda nos anos 90, surgiu uma enxurrada de Clínicas e Comunidades Terapêuticas por todo Brasil oferecendo tratamento a Dependentes Químicos em estado crônico. A questão que abordamos neste artigo é justamente a qualidade e a eficiência destas internações e quiçá dos tratamentos por elas oferecidos.
Nos anos 70, em Campinas, o Padre Haroldo Hanz trouxe da Europa um modelo de internação que vinha funcionando na Alemanha para dependentes de heroína. Um tratamento baseado na tríade – Trabalho, Oração, Desintoxicação. Aos poucos foram agregados os Doze Passos dos Alcoólicos Anônimos e outras filosofias. Este modelo foi o único por muito tempo e teve, no início de suas atividades, uma alta taxa de aderência. Lembrando que em meados dos anos 70 e 80, a droga que mais levava dependentes às clínicas e comunidades era o álcool, em raros casos a cocaína.
Cabe lembrar, que Nelson Giovanelli (evangelista voluntário) e Frei Hans Stapel (pároco de Guaratinguetá), ainda nos anos 80, fundaram a Fazenda da Esperança, que funcionava em moldes semelhantes à Fazenda de Campinas. Foi aí que tudo realmente começou.
Daí para frente, com um modelo pronto e funcional, muitas pessoas seguiram o exemplo e montaram diversas Comunidades Brasil a fora. Espiritualidade, Trabalho e Terapias alternativas eram, a princípio, a “fórmula mágica” da Recuperação. O que não se podia prever ou contar é que o número de dependentes carentes de internação fosse subir desproporcionalmente ao número de vagas oferecidas em Comunidades. Nisto, fundou-se a FEBRACT, Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas e, com ela, surgiram parâmetros para que a qualidade das internações fosse de alguma forma equilibrada e equitativa. Paralelamente, surgiu a FEAE, Federação Brasileira de Amor Exigente, dando às famílias dos dependentes internados, um modelo de suporte também trazido da Europa onde havia logrado muito êxito.
Entretanto com a onda do crack e com o crescimento latente de dependentes em cocaína – duas drogas cujo tratamento é muito mais delicado e trabalhoso – foram surgindo diversas propostas distantes daquilo que a FEBRACT julgava correto, e, com isso, instalaram-se muitas clínicas e comunidades ditas fantasmas, irregulares ou clandestinas. Muitas sequer sem autorização da ANVISA e do Ministério da Saúde.
Com a dificuldade de tratar os dependentes destas drogas químicas, falta de preparo entre outros fatores, situações de violência física, moral e espiritual começaram a ser vislumbradas numa grande fração de instituições. Espancamentos, cárceres, humilhações tornaram-se “lugar comum” na grande maioria destas comunidades. Na realidade, o dependente se internava buscando tratamento e encontrava agruras para manter-se limpo e em tratamento. E não se resume apenas nisso. Alimentações pouco nutritivas (muitas comunidades oferecem sopas com pé de frango todos os dias, salsicha de baixa qualidade no almoço, ´por exemplo), falta de atendimento médico, psicológico e terapêutico e acomodações extremamente desconfortáveis engrossam o caldo de desventuras encontradas na grande maioria das clínicas e comunidades espalhadas pelos 27 estados brasileiros.
Muitas destas comunidades foram denunciadas e, de certa forma, estes atos acenderam uma luz junto ao Poder Público, à ANVISA, OnG’s e lideranças religiosas. Nos primeiros anos da década de 2000, mais de mil comunidades foram fechadas e seus responsáveis foram punidos na forma da lei.
Hoje, 2016, nem só os padrões FEBRACT são levados em conta. É sabido que as drogas químicas e até mesmo o álcool e a maconha causam o que a medicina chama de co-morbidades, ou seja, transtornos mentais gerados pelo uso abusivo de drogas. Para tanto, o Ministério da Saúde e a ANVISA criaram uma série de prerrogativas para o bom funcionamento de clínicas e comunidades especializadas em dependência química. Exige-se a presença de Auxiliares de Enfermagem, Psicólogos, Terapeutas Ocupacionais, Psiquiatras e Conselheiros da Dependência Química. Exige-se um número mínimo de refeições diárias – 4 – todas elas acompanhadas por nutricionistas e, recentemente, estuda-se a possibilidade de tornar laicas (independentes de religiões) as formas de tratamento oferecidas. Isto porque, ainda há um número excessivo de tratamentos religiosos que apelam exclusivamente para a fé como forma de “cura”.
Orientamos então, que em caso de necessidade de internação, todos estes quesitos sejam analisados: Registros na ANVISA em dia, possível filiação à FEBRACT, profissionais oferecidos e condições de acomodação. Se a comunidade tentar desviar o assunto, justificando qualquer uma destas premissas, tenha a certeza de que não se trata de um tratamento qualificado.
Aposte em tratamento! Não interne seu ente querido em situação de ímpeto ou imediatismo. Você pode colocar o dependente em uma situação de risco. Há tratamento e a escolha quem faz é você. Saiba escolher!
Autor: Prof. Esp. Rodrigo Augusto Fiedler (Filósofo e Educador)

Revista Veja
Um estudo brasileiro sugere que o tabagismo gera alterações no esperma que podem reduzir a chance de fecundação e até causar problemas de saúde no bebê
Por Da redação
Os pesquisadores da Unifesp encontraram diversas alterações, como fragmentação de DNA, e ausência ou excesso de determinadas proteínas, no sêmen de fumantes associadas a problemas de fecundação e até mesmo de saúde no bebê. (Thinkstock/VEJA)
Não é novidade que mulheres que planejam engravidar devem parar de fumar. Agora, um estudo publicado recentemente no periódico científico BJU International sugere que o futuro pai também largue o vício.
No estudo, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) analisaram o esperma de 20 fumantes e 20 não fumantes. Os resultados mostraram que o sêmen dos fumantes foi danificado de maneiras que podem reduzir a chance de fecundação ou levar ao desenvolvimento de problemas de saúde no bebê.
As análises mostraram que o DNA no esperma dos fumantes estava fragmentado, o que está relacionado a um aumento do risco de problemas genéticos no feto e ao desenvolvimento de câncer infantil. Os pesquisadores acreditam que essa fragmentação seja resultado de um stress oxidativo ocasionado pelo cádmio e pela nicotina presentes no cigarro. Além disso, as mitocôndrias, que são o centro de energia das células, também estavam menos ativas no esperma desses voluntários.
Os fumantes apresentaram também uma porcentagem maior de acrossomos (parte da cabeça do espermatozoide que libera enzimas que permitem sua penetração no escudo do óvulo) alterados. Os autores ainda encontraram outras alterações nas proteínas do plasma seminal que podem prejudicar a fertilização. Das 422 proteínas analisadas, nos fumantes, uma estava faltando, outras 27 estavam sub representadas e seis super representadas.
“Mais e mais estudos estão demonstrando um efeito nocivo do tabaco sobre a fertilidade masculina. Nossos resultados apontam na direção de alterações importantes no sêmen. O esperma dos fumantes apresenta uma natureza inflamatória associada à diminuição da capacidade de fertilização e de uma gravidez saudável.”, disse Ricardo Pimenta Bertolla, um dos autores do estudo.
A mensagem, segundo ele, é simples: fumar altera a capacidade de um homem produzir espermatozoides que podem fecundar um óvulo com sucesso.
Veja Aqui o Estudo
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas
O uso de medicamentos para controle de dores, conhecidos como analgésicos, é uma prática comum. Inclusive, um dos medicamentos mais vendidos no Brasil é um analgésico, composto de dipirona, cafeína e orfenafrina. Muitos deles podem ser comprados sem a necessidade de receita médica, enquanto outros mais potentes, especialmente aqueles derivados de opioide, exigem prescrição controlada, tendo em vista seu maior potencial de efeitos colaterais, incluindo quadros de dependência da substância.
Diante disso, o CISA alerta sobre os riscos do consumo de bebidas alcoólicas por pessoas que utilizam estes medicamentos. Em linhas gerais, o álcool pode interagir negativamente com muitos medicamentos, prescritos ou até naturais. Entretanto, como cada medicamento tem um perfil particular de efeitos colaterais e metabolização, é preciso analisar como cada analgésico especificamente interage com bebidas alcoólicas.

*A interação de álcool com esta substância é especialmente arriscada para problemas no fígado
Vale lembrar que os efeitos do álcool para as mulheres podem oferecer mais riscos, considerando que, devido a sua composição corporal com menos água que os homens, a concentração de álcool no sangue alcança níveis mais elevados. Da mesma forma, pessoas idosas também ficam sob particular risco para os prejuízos destas interações, ainda mais se fizerem uso de outros medicamentos. Assim, estão mais vulneráveis para potenciais efeitos de sonolência ou danos hepáticos de tais interações.
O intervalo de tempo entre a ingestão do medicamento e a de álcool capaz de induzir a interação é variável, entre poucas horas a dias. Portanto, a recomendação para quando uma pessoa precisa usar um medicamento que sabidamente interage com álcool, é para não consumir bebida alcoólica. Para saber mais sobre os riscos em relação ao medicamento em uso, procure seu médico.
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool

Beber com os amigos para comemorar uma conquista, uma vitória ou apenas mais um dia de missão cumprida, pode parecer um hábito saudável, mas não é.
O assunto é sério. Mais de dois bilhões de pessoas no mundo consomem bebida alcoólica e o fato de ser uma droga lícita na maioria dos países influencia muito no seu impacto: cerca de 4% de todas as mortes no planeta envolvem o uso de álcool, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o que representa algo entre 2,3 milhões de mortes ao ano diretamente ocasionadas pelo uso, ou abuso, de bebida alcoólica.
“Não existe uma fórmula para consumo seguro, já que são vários os fatores que influenciam em uma experiência etílica, como idade, peso corporal, quantidade de gordura no organismo, ritmo do metabolismo do fígado. Porém, estudos indicam que para um homem adulto há baixo risco de desenvolver dependência quando ele consome duas doses de álcool em um dia, seguidas de dois dias de abstinência. No caso da mulher, falamos de uma dose por dia, seguida pelo mesmo período sem consumo”, explica Claudio Jerônimo, psiquiatra e diretor da Unidade Recomeço Helvetia.
Vamos partir do princípio de que, genericamente, uma dose tem em média de 10 ml de etanol puro, que demoram cerca de uma hora para metabolizar, quer dizer, sair do organismo. Devemos ainda considerar a variação da concentração de álcool das bebidas, que pode chegar até a 40%. Com isso em mente, te convidamos a uma pequena viagem para conhecermos o que acontece no seu corpo quando você ingere álcool. Preparado?
O começo
Logo nos primeiros goles, o álcool ingerido vai para o estômago, é absorvido e começa a viajar pelo corpo por meio da corrente sanguínea, passando pelos órgãos e até o cérebro. O tempo que demora essa viagem pelo sangue depende de vários fatores, como quantidade de bebida ingerida, volume de gordura no corpo, etc.
“As mulheres ficam mais suscetíveis aos efeitos do álcool exatamente porque, fisiologicamente, têm mais gordura retida no organismo, o que acaba por repelir a absorção do álcool pelas células, fazendo com que ele permaneça por mais tempo na corrente sanguínea, o que chamamos de biodisponibilidade do álcool. Isso faz com que seus órgãos passem mais tempo expostos aos seus efeitos nocivos, principalmente os mais sensíveis, como cérebro, fígado e coração, por exemplo. Esse é um dos motivos pelos quais as mulheres adoecem mais rápido por conta de bebida: elas têm alterações no Sistema Nervoso Central antes, demência. A cirrose, por exemplo, aparece em média cinco anos antes na mulher que no homem”, explica o psiquiatra.
Os idosos também são mais suscetíveis aos efeitos do álcool, principalmente porque eles já têm pequenas alterações fisiológicas no organismo, ou algumas doenças como hipertensão e diabetes.
Nos primeiros dez minutos, seu corpo vê o álcool se transformar em veneno, o acetaldeído, e tenta se livrar dele o mais rápido possível. Essa substância é resultado da ação de uma enzima chamada álcool-deidrogenase, presente no fígado, que destrói a molécula do álcool.
Se apenas algumas doses forem consumidas, o período de ação do acetaldeído é curto e os estragos são menores, pois ele é atacado por outra enzima, o aldeído-desidrogenase, junto com outra substância, a glutationa, que transformam o acetaldeído em acetato, uma espécie de vinagre, não tóxica.
Mas a glutationa armazenada no fígado não é suficiente para uma grande quantidade de bebida alcoólica, deixando o supertóxico acetaldeído por mais tempo no organismo. O que ele causa? Além de aumentar a pressão arterial, pode causar derrame, mas, mais comumente, causa fadiga, náuseas, irritação do estômago, dor de cabeça. Reconheceu? É a chamada ressaca. Voltaremos a ela mais adiante.
Enquanto o álcool passa por esse processo químico no fígado, já nos primeiros 20 minutos você começa a se sentir mais solto, eufórico, como se pudesse fazer e ser tudo no mundo. É aqui que geralmente aparece o conquistador que existe em você: sua libido aumenta e você se sente mais ousado, irresistível e paquerador. A felicidade e a excitação nesse momento são comuns, mas essas sensações passam muito rápido.
Embriaguez
Enquanto que para chegar a esse estado bastam uma ou duas doses, para chegar à embriaguez é um pulinho, ou mais alguns goles. E assim, com trinta a quarenta minutos de ingestão contínua, você já não tem mais controle do seu senso crítico. Seu julgamento fica comprometido e você fica sensível ao ambiente, rindo ou chorando ao sabor do vento.
“O álcool tem ação direta no sistema límbico, do Sistema Nervoso Central, e age como um depressor das funções cerebrais, diminuindo o centro da crítica da pessoa, que fica mais expansiva. A ansiedade, a variação de humor e a depressão são consequências da ingestão de bebida alcoólica”, explica Claudio Jerônimo.
Entre os 45 e 90 minutos, o nível de álcool no seu corpo atinge o ápice e a ação diurética começa a funcionar: pode demorar para que você se levante pela primeira vez para urinar, mas esse passeio vai ser frequente até o fim da farra.
Você está bebendo bebida alcoólica, que tem apenas uma pequena parte de água, mas seu organismo não está entendendo a presença de tanto líquido, então aumenta a diurese. Mas, como não é água o que você está colocando pra dentro, pode ocorrer desidratação, que não chegará a um quadro grave, mas é responsável pela sonolência que pode se apresentar se você parar de beber nesse momento – o que não quer dizer, de forma nenhuma, que a qualidade de um possível sono seja perto da adequada. Muito pelo contrário, o consumo de álcool é um enorme perturbador do sono.
Para evitar a desidratação, é indicado que se tome, a cada hora, ao menos um copo de água. Essa dica funciona ainda para retardar a absorção do álcool, dilui a bebida e ainda faz com que bebamos menos, o que acaba por resultar em uma diminuição da ressaca.
Ah, a ressaca!
Voltamos ao tema, já que, entre 12 e 24 horas após a ingestão de bebida alcoólica, você provavelmente acordou com ela: dor de cabeça, tontura, náusea, sede, palidez e tremores são alguns dos sintomas mais frequentes.
“São os primeiros sinais da síndrome de abstinência, é o organismo pedindo mais bebida. Essas sensações desagradáveis são efeitos da intoxicação”, explica o psiquiatra.
E dá para prevenir? A dica para evitar a ressaca é: não beba! Mas, para diminuir os sintomas, existem alguns truques:
- Beber menos.
- Beber espaçadamente, devagar.
- Beber de estômago cheio.
A má notícia mesmo é que, além da ressaca física, resultado da ação tóxica do acetaildeído (lembra dele?) e da desidratação, tem ainda a “ressaca moral”, que nada mais é que “O arrependimento! Com a diminuição da crítica, a pessoa se dá o direito de fazer coisas que, de outro modo, não faria. O álcool pode causar o esquecimento, o que traz a insegurança pelo fato de não saber até que ponto a pessoa se expôs. Não é uma reação física, é puramente psicológica”, explica Cláudio Jerônimo.
Gravidez e bebida não combinam
Nem um pouquinho. Se não há uma quantidade segura de álcool para uma pessoa adulta saudável, imagina para uma mulher que está gerando outra pessoa! “O álcool ultrapassa a placenta e atinge o feto em desenvolvimento, afetando principalmente o Sistema Nervoso, ou seja, a primeira coisa desenvolvida no bebê. E, apesar de a fase mais perigosa ser nos primeiros três meses, em qualquer época da gravidez o álcool pode afetar de tal maneira a gestação que causa a síndrome alcoólica fetal (SAF), uma condição que impacta a formação do bebê, causando retardo no desenvolvimento psicomotor, aumentando a distância entre os olhos do bebê, microcefalia, dificuldades de aprendizagem, entre outros problemas”, afirma o psiquiatra.
Isso coloca por terra a ideia de que vinho e cerveja preta, durante a gestação, aumentam a produção de leite. Isso, além de não ter nenhum tipo de comprovação científica, coloca em risco o bebê.
Danos internos
O uso frequente de bebida alcoólica pode levar a situações de abuso e dependência química. Quando os sintomas do uso do álcool começam a demorar em aparecer, ou ficam amenizados, isso significa que o organismo está se acostumando à substância, ou seja, quando achamos que estamos ficando mais fortes para a bebida, ou seja, mais tolerantes, isso quer dizer que já nos adaptamos a ela. É uma péssima notícia, e uma enorme desvantagem.
Além da preocupação com a dependência, temos ainda os danos que o uso frequente de álcool causa aos órgãos internos. Os mais vulneráveis são:
Cérebro – o álcool afeta o Sistema Nervoso Central e pode causar perda de reflexo, problemas de atenção, perda de memória, sonolência e coma, que pode levar à morte.
Coração – o álcool libera adrenalina, que acelera a atividade do sangue no coração, aumentando a frequência dos batimentos cardíacos.
Fígado – altera a produção de enzimas, mudando o ritmo do metabolismo do álcool consumido, ocasionando inflamação crônica, hepatite alcoólica e cirrose.
Estômago – irrita as mucosas do estômago e esôfago, ocasionando esofagite, gastrite e diarreia.
Rins – o efeito diurético do álcool acaba por sobrecarregar os rins, comprometendo a eficácia do processo de filtragem das substâncias que ocorre nesse órgão.
Fonte:SPDM - Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina