terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Tosse de fumante` pode esconder doença grave, alertam médicos

   
 


BBC Brasil
Parar de fumar é principal medida para evitar ou conter grave doença pulmonar ainda sem cura

Fumantes estão sendo advertidos a não ignorar sintomas aparentemente inofensivos, como a tosse, que poderiam estar por trás de doenças graves.

Em nova campanha, o Departamento de Saúde Pública do Reino Unido alerta sobre o desconhecimento, por muitos fumantes, dos riscos de doenças incapacitantes como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).

A enfermidade, que estreita as vias aéreas, pode fazer com que pessoas tenham grande dificuldade para realizar tarefas simples, como subir escadas.

As estatísticas mostram que o problema atinge mais de 1 milhão de pessoas na Inglaterra - em cada 10 casos, nove são causados pelo cigarro.

Para entender melhor a gravidade do problema, é preciso considerar que a DPOC é, na verdade, um conceito "guarda-chuva", que abrange uma série de doenças pulmonares crônicas, como bronquite e enfisema.

Sem cura

Quem desenvolve o problema passa a ter dificuldades para respirar, sobretudo em decorrência do estreitamento das vias aéreas e da destruição do tecido que compõe os pulmões.
Os sintomas típicos incluem falta de ar durante prática de atividades físicas, tosse persistente e infecções respiratórias frequentes.

Na campanha veiculada pelo governo britânico, especialistas dizem que fumantes geralmente desconsideram os sinais precoces da doença ao minimizá-los como "tosse de fumante".

Ao continuarem fumando, correm o risco de agravar o problema e comprometer ainda mais sua qualidade de vida.

Embora não haja cura, há ações importantes que podem ser colocadas em prática para reduzir os danos provocados pela enfermidade.

Parar de fumar, praticar exercícios físicos específicos e tomar medicações que podem reduzir a progressão da doença são algumas recomendações.

Para Sally Davies, conselheira de saúde pública, é fundamental que a população reconheça a gravidade do problema e que tenha em mente que o mais importante é parar de fumar.

"A melhor coisa que um fumante pode fazer para reduzir as chances de desenvolver essa doença devastadora e prolongar sua vida é parar de fumar", diz.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Álcool e Jovens


 

O uso de bebidas alcoólicas por adolescentes é tema que desperta grande preocupação entre profissionais da saúde. O uso precoce dessa substância está associado com exposição a riscos e uma série de complicações à saúde tais como prática de sexo sem proteção, maiores índices de gravidez, aumento no risco de dependência de álcool em idade adulta, mortes por traumatismos e queda no desempenho cognitivo e escolar. Assim, a discussão desse tema é de grande importância para a saúde pública, requerendo a atenção das autoridades, profissionais da saúde, pais e educadores.

1. Epidemiologia

1.1. Estudos populacionais no Brasil
Segundo dados do I Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil. 20011, 48,3% dos jovens de 12-17 anos já fizeram uso na vida de álcool, ao passo que esse número atinge 73,2% dos jovens de 18-24 anos. Segundo o mesmo estudo, 5,2% e 15,5 % dos jovens de 12-17 anos e 18-24 anos, respectivamente, são dependentes de álcool. No ano de 2005, com a realização do II Levantamento Domiciliar no Brasil, os autores constataram que o uso na vida de álcool por jovens de 12-17 anos e de 18-24 anos foi de, respectivamente, 54,3% e 78,6% ao passo que a dependência dessa substância nesses mesmos grupos etários foi de 7,0% e de 19,2%, respectivamente.

1.2. Jovens em idade escolar e estudantes universitários
Galduróz & Caetano investigaram o uso de álcool entre estudantes de ensino fundamental e médio no Brasil.
Os autores fizeram menção a estudos realizados nos anos de 1987, 1989, 1993 e 1997 com estudantes de ensino fundamental e ensino médio de escolas públicas de 10 capitais brasileiras. Observou-se nesses levantamentos que a cerveja foi a bebida mais consumida, com cerca de 70% dos estudantes fazendo menção ao seu uso. A comparação desses levantamentos com estudantes permitiu concluir que o uso na vida de álcool se manteve estável, ao passo que o uso pesado (definido como sendo o uso de 20 vezes ou mais de álcool no mês anterior a pesquisa) aumentou na maioria das cidades investigadas. Stempliuk e colegas, por sua vez, compararam a prevalência do uso de álcool entre estudantes da Universidade de São Paulo em uma amostra aleatória selecionada de 3590 alunos de graduação nos anos de 1996 e 2001. Os autores constataram aumento de uso de álcool no período em questão, com 88,5% e 91,9% dos entrevistados relatando já ter feito uso na vida de bebidas alcoólicas nos anos de 1996 e 2001, respectivamente.

1.3. Uso de álcool entre jovens no México
A Encuesta Nacional de Addicciones 2002 foi um estudo domiciliar que teve como objetivos investigar o uso de álcool outras substâncias no México. Foram visitadas 14.020 domicílios tanto na zona rural quanto urbana. Os pesquisadores constataram que entre os jovens de 12 a 17 anos de idade 64,4% nunca haviam feito uso de álcool, ao passo que 9,86% dos entrevistados nessa idade eram ex-bebedores e 25,74 % faziam uso de álcool. Nessa mesma faixa etária, 0,25% dos entrevistados faziam uso diário de álcool; 2,27% bebiam de 1-4 vezes por semana; 6,17% bebiam de 1-3 vezes por mês; 3,84% bebiam de 3 a 11 vezes por ano; 13,21% bebiam de 1 a 2 vezes por ano; 9,86% não beberam nos últimos 12 meses e 64,40% eram abstinentes.

2. Motivos que levam os jovens ao uso de álcool

Kuntche e colegas pesquisaram o consumo de álcool e a motivação manifesta por um grupo de 5379 jovens da oitava a décima série com média de idade de 15,1 anos na Suíça. Observou-se que o uso de cerveja e de destilados esteve associado de maneira positiva com os motivos relacionas a busca de efeitos (beber porque é legal, para ficar descontraído ou para ficar embriagado). Já os motivos sociais (beber em festas ou na companhia de amigos) estiveram associados com o uso de bebidas do tipo "batidas" e os motivos de aceitação (beber para ser aceito por amigos ou pelo grupo) estiveram associados ao uso de vinho. Assim, os autores especulam que possivelmente a amostra investigada inferiu que os destilados e a cerveja são a melhor opção na busca de efeitos devido, respectivamente, a sua elevada concentração alcoólica e devido ao preço acessível, ao passo que o vinho e as "batidas" parecem sofrer influência maior do contexto social.

3. Uso de álcool e modelos de padrão de consumo na Europa

Quatro modelos são descritos quanto ao padrão de consumo álcool por menores de idades na Europa:
a) Países com uso de álcool frequente e embriaguez repetida. países cujos jovens de 15-16 anos já fazem uso pesado de álcool. Exemplos desse modelo são a Dinamarca, Reino Unido, Irlanda, Holanda e República Checa.
b) Países com uso frequente de álcool e pouca embriaguez. países que apresentam uso frequente de álcool por jovens de 15-16 anos. Exemplos desse modelo são França e Grécia.
c) Países com consumo ocasional e embriaguez frequente - exemplos desse modelo são encontrados na Suécia, Noruega e Finlândia.
d) Países com consumo ocasional e pouca embriaguez. países com baixo consumo de álcool baixo por menores, tais como Portugal e Itália.

Tendo em vista essa classificação, os jovens mais suscetíveis a riscos decorrentes do uso de álcool não são aqueles advindos dos países com o maior consumo percapita dessa substância (França e Portugal), mas sim aqueles provenientes de países como o Reino Unido e a Dinamarca.

Em outro estudo realizado com jovens em idade escolar de 35 países europeus, mais de 90% dos jovens de 2/3 dos países que fizeram parte da amostra já haviam feito uso na vida de álcool. Dentre os países que acusaram maiores taxas de uso de álcool na vida por 40 vezes ou mais se destacam Dinamarca, Reino Unido, Holanda e República Checa. Já as menores proporções de jovens acusando esse padrão de consumo foi menor em países com Turquia e Portuga. Esse padrão de 40 ou mais vezes uso de álcool na vida foi mais frequente entre homens.

4. Consequências relacionadas ao uso precoce de álcool

A idade de início do uso de álcool é importante em diversos aspectos. Sabe-se que os menores de idade que fazem uso de álcool tendem a se expor a situações de risco como a prática de sexo sem preservativo e com múltiplos parceiros. Ademais, o uso precoce de álcool está associado com histórico de uso abusivo e de dependência de álcool. Os possíveis motivos que justificam essa associação vão desde prejuízos no julgamento causados pelo álcool, escolha de pares e amigos até a escolha de contextos que premiem a vivência de situações que envolvam risco. O início precoce no uso de álcool pode também ser usado como monitoramento nos padrões de consumo em larga escala pelos jovens. Nos EUA, por exemplo, a média de idade na qual inicia-se o consumo de álcool é de 13,1 anos. Em países como o Reino Unido e a França, a porcentagem de jovens de 13 anos de idade que relatam já ter ficado embriagado é de 38% e de 12%, respectivamente.

Stueve e O´Donnell (2005) analisaram a relação entre a iniciação precoce no uso de álcool e o engajamento em situações de risco por meio do acompanhamento de estudantes da sétima até a décima série (2º ano do ensino médio). A amostra consistiu de 1034 estudantes negros e latinos da região do Brooklin, Nova Iorque, com um ligeiro predomínio de mulheres (55,3% da amostra).

Os jovens foram entrevistados em dois momentos: na sétima e na décima série Aproximadamente ¼ da amostra relatou ter sido iniciada no uso de álcool até o outono da sétima série; no mesmo período, 3,1% dos jovens afirmaram ter ficado embriagados no último ano e 18,9% da amostra afirmara ter tido relações sexuais. Na décima série, 62,8% dos jovens já haviam feito uso de álcool, com 28,8% da amostra relatando uso no mês; 24% relatou ter ficado ou embriagado ou sob o efeito de outras drogas no ano anterior a re-entrevista; a iniciação sexual já ocorrera para 58,8% dos entrevistados até o período de re-entrevista; 30% dos adolescentes já haviam tido na vida 3 ou mais parceiros sexuais; 10,3% da amostra já havia engravidado; 36,6% relataram ter praticado sexo sem proteção.

Quando os dados foram cruzados, notou-se que o uso de álcool na sétima série esteve significativamente associado com o uso recente dessa substância, com embriaguez e com o relato de um problema recente relacionado tanto ao uso de álcool quanto ao de outras drogas. Além disto, o uso precoce de álcool também esteve associado à prática de sexo sem proteção e à gravidez precoce.

Os autores sugerem que o adiamento da iniciação no uso de álcool por alguns anos pode ser fator de proteção contra a exposição à situações de risco, desta forma, evidencia-se a importância da implementação precoce de programas de prevenção distintos para meninos e meninas.

4.1. Crianças em situação de rua
Em crianças submetidas à situações de estresse elevado o início da ingestão de álcool é mais precoce e o risco de consumo frequente pode ser maior. Um exemplo dessa dinâmica pode ser observado entre as crianças em situações de rua no Brasil.
Os jovens de 6 a 18 anos que passam a maior parte do dia na rua e que moram com seus pais e frequentam a escola manifestaram uso menos frequente de álcool do que os jovens do mesmo grupo de idade e em situação de rua que não moram com os pais e não frequentam a escola.
Em outro estudo conduzido no Brasil com crianças em situação de rua constatou-se que 33% dos jovens de 9 a 11 anos de idade e 77% dos jovens de 15 a 18 anos de idade eram grandes consumidores de álcool. No Canadá, os estudos mostram que 88% dos jovens em situação de rua já experimentaram bebida alcoólica e 9% fazem uso diário.

4.2. Custos sociais do uso de álcool por menores nos EUA
Nos EUA, a venda e o consumo de álcool é proibido para menores de 21 anos de idade. No entanto, o uso dessa substância por menores de idade é uma importante questão de saúde pública. Esse uso por menores de idade está associado com mortes prematuras por acidentes de carro, suicídios, brigas e agressões e prática de sexo desprotegido. Nota-se, desse modo, que o uso de álcool por menores acarreta perdas custosas para a sociedade. Em especial essas perdas estão relacionadas com violência.
Estima-se em US$61,9 bilhões as perdas decorrentes do uso de álcool entre menores. Esses gastos vieram de custos médicos (US$5,4 bilhões), perda de produtividade (US$14,9 bilhões) e perda de qualidade de vida (US$41,6 bilhões). Esses dados reforçam a necessidade de se combater o uso de álcool por menores de idade com medidas práticas e objetivas com o controle ao acesso de bebidas alcoólicas e o uso de bafômetros em ruas e estradas.

5. Uso precoce de álcool, cérebro e aprendizagem

Em termos gerais, os adolescentes, em comparação aos adultos, são mais sensíveis aos efeitos neurotóxicos do uso binge de álcool (5 ou mais doses por ocasião) e também à sua ação de inibição da neurogênese. O cérebro do adolescente, que apresenta bastante plasticidade, pode sofrer mudanças duradouras em decorrência do uso de álcool e, consequentemente, provocar mudanças de comportamento.

Essa maior vulnerabilidade do cérebro do adolescente é confirmada pela neuropsicologia. Estudos neurocognitivos (utilizando técnicas de neuroimagem) que compararam a resposta cerebral de jovens para atividades da memória operacional mostraram que adolescentes com transtornos relacionados ao uso de álcool apresentam maior atividade parietal (região do cérebro) do que os adolescentes sem essa condição para a realização de tarefa similar. Esses dados sugerem que nos estágios iniciais dos transtornos relacionados ao uso de álcool o cérebro pode compensar os danos causados por essa substância por meio do “recrutamento” de fontes neurais adicionais. Com o passar dos anos e a manutenção do padrão pesado de uso de álcool, nota-se que os danos tendem a aumentar, assim como a performance neuropsicológica tende a piorar e o cérebro perde sua capacidade de compensar as perdas.

Esse impacto danoso do álcool sob o cérebro do jovem parece ser mais intenso entre mulheres, entre filhos de pais alcoolistas e entre aqueles jovens que já fazem consumo de outras drogas (cigarro e maconha, por exemplo).

Vale salientar também a ocorrência de “apagões”, incidentes provocados pelo uso de álcool e caracterizados pela impossibilidade de evocar lembranças de um evento. O uso de álcool na adolescência, fase marcada pelo aprendizado e pelo amadurecimento, pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo do jovem. Esse prejuízo, segundo a literatura científica, parece ser mais intenso nos adolescentes. Ademais, os estudos sugerem que esses jovens que manifestaram “apagões” de memória tendem a se envolver com incidentes tais como brigas, vandalismo, discussões e prática de sexo.

6. Políticas preventivas ao uso precoce de álcool

Diversos tipos diferentes de abordagem buscam lidar e aliviar os problemas relacionados ao uso de álcool entre jovens. Possivelmente a abordagem mais frequentemente utilizada é a do método educacional em ambiente escolar. Essa abordagem busca fornecer ao jovem informação sobre o uso de álcool e suas consequências à saúde, busca trabalhar sua auto-estima e fortalecer a resistência à pressão em torno do consumo de bebidas.

Exemplos dessa abordagem são o guia “Escolha Certa. esporte sem álcool” e a cartilha “Como falar sobre o uso de álcool com seus filhos”, ambas elaboradas pelo CISA.
O guia “ Escolha certa. esporte sem álcool: CISA e Instituto Compartilhar juntos ” tem como objetivo oferecer um instrumento de prevenção e de opção para uma vida saudável, bem como alertar os jovens sobre os riscos que o consumo de álcool representa para a saúde. O guia traz histórias interativas por meio de personagens que mostram de que forma o álcool pode afetar a vida de quem o consome, dicas e informações gerais sobre os efeitos no organismo e a importância das escolhas. O material conta ainda com depoimentos de nomes importantes do esporte brasileiro como Ricardinho (jogador de futebol), Gustavo Borges (nadador), Daiane dos Santos (ginasta), entre outros, com mensagens de alerta para uma vida saudável.
A cartilha “Como falar sobre uso de álcool com seus filhos”, por sua vez, é voltada aos pais de crianças e adolescentes, trata-se de uma cartilha informativa que busca esclarecer os pais dos prejuízos que o uso de álcool pode trazer à saúde de crianças e adolescentes. O projeto inclui palestras feitas por especialistas da área e tem o objetivo de alertar e auxiliar pais e educadores sobre como prevenir e falar sobre o uso de álcool com os jovens.

Outra abordagem utilizada é a da intervenção breve (intervenção de curta duração). Esse método apresenta resultados bem satisfatórios na redução do consumo de álcool e de problemas associados entre jovens adultos. Sua efetividade se faz valer também entre jovens estudantes universitários, conforme atesta a literatura científica sobre o assunto. Contudo, ainda faltam estudos comprovando a efetividade desse método entre jovens e adolescentes.

Vale destaque também para as mudanças em termos de políticas públicas, as quais resultas em efeitos significativos tanto no comportamento dos jovens quanto na diminuição do consumo de álcool. Assim, medidas relacionadas ao beber e dirigir e de combate à venda e consumo de bebidas para jovens são de grande valia.

Exemplos dessas medidas são o estabelecimento de idade mínima para consumo ou compra de álcool e taxação das bebidas alcoólicas. Ao menos 67 países mundo afora apresentam legislações em torno da idade mínima de consumo ou compra de álcool. O limite mais comumente estabelecido é a da idade de 18 anos. Contudo, alguns países definem esse limite como sendo de 21 anos. A tabela 01 dispõe o limite permitido de compra ou de consumo em alguns países das Américas:



Uma outra abordagem que apresenta resultados satisfatórios é a taxação das bebidas alcoólicas. Os jovens parecem ser especialmente sensíveis a essa medida, já que se trata de um grupo que dispõe de poucos recursos financeiros. Essa medida tem mostrado resultados positivos na redução de consequências do uso prejudicial de álcool tais como acidentes de transito, cirrose hepática e prática de sexo sem preservativo e violência.
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool