terça-feira, 14 de junho de 2016

Brasil é um dos principais pontos de saída de cocaína






Cocaína: "A cocaína é embarcada da América Latina até Europa em navios que saem do Brasil e outros países, como o Equador e Venezuela"
Revista Exame
Da EFE
Carlos Jasso / Reuters

Lisboa - As redes de narcotraficantes utilizam grande variedade de métodos e rotas para transportar a cocaína da América Latina até a Europa, com o Brasil estando cada vez mais consolidado como um ponto de saída relevante.

Esta é uma das conclusões do estudo: "O tráfico de cocaína à Europa", elaborado pelo Observatório Europeu de Drogas e Toxicomanias (OEDT) e divulgado nesta terça-feira, no qual se analisa a rota que segue a droga até sua chegada ao continente.

Os especialistas lembram que a produção de cocaína tem lugar "quase exclusivamente" em três países sul-americanos: Bolívia, Colômbia e Peru.

No entanto, os laboratórios nos quais são processados também foram detectados em outros de seu entorno e em outras partes do mundo, incluindo a própria Europa.

O relatório aponta a que a cocaína é levada para o continente europeu por via aérea e marítima, embora este segundo trajeto é aparentemente o mais usado, já que entre 2011 e 2013 representou quase dois terços das apreensões.

"A cocaína é embarcada da América Latina até Europa em navios que saem do Brasil e outros países, como o Equador e Venezuela. O crescente uso do Brasil como ponto de saída reflete a cada vez maior importância da Bolívia e Peru como fonte da cocaína que é enviada para o continente europeu", revelou o documento.

O capítulo de pontos de partida alerta para a importância crescente da Venezuela, citando o Cone Sul - particularmente a Argentina -, e adverte que Colômbia seguirá sendo "um ponto importante de saída via marítima da cocaína" com direção ao Velho Continente.

Sobre as rotas, a análise do OEDT revela que os envios de cocaína para a Europa não costumam ser diretos e transitam por "duas áreas principalmente": pela região do Caribe e África Ocidental.

Do lado do Caribe, República Dominicana e Jamaica são os focos mais importantes, apesar das operações policiais "têm empurrado traficantes para usar a zona leste" na região.

"O aparente aumento do uso da rota caribenha pode ser um reflexo dos fortes medidas (legais e policiais) aplicadas no México e América Central", afirmam os especialistas.

Do Caribe, a cocaína é geralmente transferida para a Europa por via marítima, através do arquipélago português dos Azores, ou por via aérea "tanto com voos diretos como com diferentes escalas", afirmou.

A outra rota mais usada inclui países da África Ocidental, assim como as ilhas de Cabo Verde, Madeira e Canárias, embora nestas últimas foram registradas "uma redução das apreensões".

Do continente africano, a droga é enviada para a Europa por terra, mar ou ar. Os traficantes aproveitam as rotas que já existem para o transporte de cocaína no norte da África.

Os principais portos de entrada da cocaína são Espanha, Portugal, Holanda e Bélgica, de acordo com o Observatório.

Sobre os métodos de transporte, o estudo lembra que os narcotraficantes utilizam desde iates privados até contêineres em navios mercantes, o que dificulta sua detecção.

Além disso, sempre inovam na hora de esconder a droga, juntando a plásticos e outros materiais para que não se perceba a primeira vista, passando depois por um tratamento químico para "recuperar" sua forma original.

Os traficantes tentam disfarçar cada vez mais em envios de bens perecíveis, com o objetivo de passar pelos portos da forma mais rápida.

A cocaína transportada por via aérea chega através de aviões privados ou de pessoas físicas em voos comerciais.

Apesar da quantidade transportada é sensivelmente menor que quando se utiliza a via marítima, o elevado número de confiscos confirmam que é um método bastante utilizado.

A droga, nestes casos, costuma estar camuflada na bagagem, embora também há exemplos de pessoas que a levam presa em seu corpo, que engolem ou mesmo passam por uma cirurgia para escondê-la em suas próteses mamarias.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Pesquisa aponta que 1,8 milhão de jovens já experimentou cigarro


 


Ministério da Saúde gasta 23 bilhões de reais todos os anos para tratar doenças associadas ao fumo

Campo Grande, Porto Alegre e Florianópolis estão entre as capitais que concentram maior proporção de adolescentes que já fumaram
por Portal Brasil

O Ministério da Saúde divulgou, nesta semana, um estudo sobre o uso do cigarro entre jovens. A pesquisa constatou que 1,8 milhão de adolescentes entre 12 e 17 anos já experimentou cigarro ao menos uma vez, o que representa 18,5% dos jovens nessa faixa etária em todo o País.

Apesar do número ainda alto, o dado pode indicar uma tendência de queda na experimentação de cigarro entre os adolescentes do País. Estudos anteriores, como a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), de 2009, haviam detectado que 24% dos adolescentes de 13 a 15 anos nas capitais brasileiras tinham tido ao menos um contato com o cigarro.

“A redução no número de fumantes é um avanço nas políticas realizadas pelo Ministério da Saúde e pelo Inca. O dado do estudo destaca a importância de se cortar o mal pela raiz, já que quanto menos jovens estiverem fazendo uso do cigarro, menos adultos fumantes teremos no futuro e consequentemente menos doenças e mortes ocasionadas pelo tabagismo”, assinalou o ministro da Saúde, Ricardo Barros.

As capitais Campo Grande (26,8%), Porto Alegre (26,5%), Florianópolis (25,1%) e Curitiba (23,4%) estão entre as localidades onde foram registradas as maiores proporções de jovens que já haviam fumado alguma vez na vez.

O estudo mostrou também que, independente do sexo, as prevalências foram maiores em adolescentes que não moravam com os dois pais e que referiram ter tido contato com fumante em casa ou fora e que já trabalhavam. Outra constatação do estudo foi o de que as meninas estudantes de escolas públicas (5,7%) fumam mais do que as de escolas privadas (3,7%).

O Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica) ouviu 74.589 adolescentes de 1.251 escolas públicas e privadas em 124 municípios com mais de 100 mil habitantes, incluindo todas as capitais. É o primeiro levantamento feito com coleta de dados de jovens entre 12 e 17 anos para fornecer estimativas nacionais sobre a prevalência de fatores de riscos cardiovasculares, tais como hipertensão arterial, dislipidemia e de síndrome metabólica.

Fumo entre adultos

Entre os adultos, os resultados do mais recente levantamento do Ministério da Saúde, o Vigitel 2015, são otimistas. Segundo os dados da pesquisa, houve redução de 33,8% no número de fumantes adultos nos últimos dez anos: 10,4% da população das capitais brasileiras ainda mantêm o hábito de fumar. Em 2006, esse percentual era de 15,7% para o conjunto das capitais. Os homens continuam sendo os que mais fazem uso do tabaco (12,8%), ao passo que as mulheres fumantes são 8,3% dentro do total da população feminina das capitais. Há 10 anos, esse número era de 20,3% entre os homens e 12,8% nas mulheres.

“A redução na prevalência de fumantes nas últimas décadas tornou nosso País um caso mundial de sucesso no controle do tabagismo”, salienta o ministro Ricardo Barros.

Consequências

Apesar disso, de acordo com o ministério da Saúde, as doenças geradas pelo tabagismo são responsáveis por quase 200 mil mortes por ano no Brasil. No mundo, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são seis milhões de mortes anuais.

O tabaco é um fator importante no desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como câncer, doenças pulmonares e cardiovasculares. Ainda de acordo com o Inca, os custos para o sistema de saúde são de R$ 23 bilhões ao ano.
Fonte: Portal Brasil, com informações do Ministério da Saúde

Bebidas alcoólicas ajudam a combater o frio...MENTIRA!



O corpo humano é capaz de acionar diversos mecanismos para compensar as variações de temperatura externa e manter a temperatura corporal com a mínima oscilação possível. Por exemplo, o suor é uma forma de perder calor no verão, assim como tremores são uma forma de produzir calor no inverno.

É comum as pessoas acreditarem que o consumo de álcool é útil durante as estações mais frias para ajudar o corpo a se esquentar. Mito ou verdade? Mito. Apesar de parecer que o corpo está mais quente, o que acontece é um desvio de calor de órgãos vitais para a região mais superficial. Ao consumir bebidas alcoólicas ocorre vasodilatação, em que mais sangue e calor são levados à pele e extremidades, com a consequente elevação da sensação térmica. Dessa forma, acredita-se que houve aquecimento, mas o calor é facilmente dissipado, não apenas pela própria vasodilatação, mas pelo comportamento da pessoa, que ao perceber o aumento de calor, se desprotege e se expõe mais ainda ao frio.

No Brasil, a falta dessa informação pode não significar tanto em termos de saúde pública, pois o inverno é ameno de forma geral, mas em temperaturas mais baixas, o uso de álcool, principalmente em excesso, pode ser letal, ao aumentar o risco de hipotermia (esfriamento do corpo com a perda da capacidade de exercer a regulação necessária). Portanto, durante o inverno, corrija esta crença errônea para prevenir o abuso de álcool e se proteger do frio com sucesso!
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool


Efeitos do uso da cannabis no comportamento humano, incluindo cognição, motivação e psicose: uma revisão da literatura




 


(imagem reprodução)

Nora D. Volkow, MD; James M. Swanson, PhD; A. Eden Evins, MD; Lynn E. DeLisi, MD; Madeline H. Meier, PhD; Raul Gonzalez, PhD; Michael A. P. Bloomfield, MRCPsych; H. Valerie Curran, PhD; Ruben Baler, PhD

Tradução de Luís Guilherme Vieira Allegro
Tendo como pano de fundo o debate político sobre os riscos e benefícios potenciais do uso da cannabis, a onda da legalização e liberalização continua a se expandir. Quatro estados norte-americanos (Colorado, Washington, Oregon e Alaska) e o Distrito de Columbia promulgaram leis que legalizam a cannabis para o uso recreativo de adultos, e vinte e três outros estados, além do Distrito de Columbia, atualmente regulamentam o uso da cannabis para propósitos medicinais. Tais mudanças políticas podem implicar um amplo escopo de consequências imprevistas, com efeitos profundos e duradouros sobre os sistemas sociais e de saúde dos EUA. O uso da cannabis passa a constituir um dentre vários fatores em interação recíproca que pode afetar o desenvolvimento cerebral e as funções mentais. Com o objetivo de auxiliar o discurso político a partir de evidências científicas, a literatura sobre o assunto foi revista para que se identificasse o que se sabe e o que ainda é desconhecido acerca dos efeitos do uso da cannabis no comportamento humano, incluindo a cognição, a motivação e questões relativas à psicose. JAMA Psychiatry. doi:10.1001/jamapsychiatry.2015.3278 Publicado online em 3/2/2016.

Já é bastante conhecido que o uso da cannabis causa um comprometimento agudo da habilidade cerebral em reter informações (capacidade cognitiva). Assim, ocorrem déficits temporários na aprendizagem e na memória, na atenção e na memória operacional (ou de trabalho).

O USO DA CANNABIS AFETA A CAPACIDADE COGNITIVA?

O uso da cannabis causa um comprometimento agudo do aprendizado e da memória, da atenção e da memória operacional (1-3), mas não é tão evidente que o uso da cannabis esteja associado a comprometimentos neuropsicológicos duradouros. Estudos de caso-controle comparando usuários abusivos da substância que não estejam sob seu efeito e não-usuários revelou de modo bastante consistente que o usuário abusivo apresenta pior desempenho em testes neuropsicológicos. Por exemplo, os resultados de duas meta-análises separadas (4,5) revelou que, quando comparados com não-usuários, os usuários de cannabis que não estejam sob seu efeito apresentam pior desempenho em medidas da função neuropsicológica global, com tamanhos do efeito em domínios neuropsicológicos específicos (funções executivas, atenção, aprendizado e memória, habilidades motoras e habilidades verbais) de aproximadamente um terço do desvio padrão, ou menos. Quando análises na segunda meta-análise (5) foram limitadas para 13 estudos de usuários da cannabis com pelo menos 1 mês de abstinência, não houve diferença perceptível entre os usuários de cannabis e os não-usuários no que se refere ao desempenho em testes neuropsicológicos, o que sugere que as funções neuropsicológicas podem se recuperar com a abstinência prolongada. As evidências sugerem que a magnitude do comprometimento neuropsicológico e sua extensão após a abstinência podem depender da frequência e da duração do uso da cannabis, da extensão da abstinência, e da idade do indivíduo no início do uso. (6)

Vêm surgindo evidências que sugerem que os adolescentes podem ser particularmente vulneráveis aos efeitos adversos do uso da cannabis. A adolescência representa um período crítico do neurodesenvolvimento, caracterizado por uma pronunciada poda sináptica e pelo aumento da mielinização (7). Além disso, o sistema endocanabinóide parece estar envolvido na regulação de processos neurodesenvolvimentais cruciais (7), o que sugere que a introdução de canabinóides exógenos durante a adolescência pode comprometer o desenvolvimento cerebral normal. Pesquisas realizadas em animais corroboram a possibilidade de que a adolescência represente um período de vulnerabilidade aumentada à exposição à cannabis. (7). Por exemplo, ratos púberes tratados com um agonista canabinóide apresentaram déficits persistentes em tarefas de reconhecimento de objeto, ao passo que isso não ocorreu em ratos adultos. (8,9). Evidências crescentes em relação aos humanos apontam na mesma direção que as descobertas referentes aos animais. Por exemplo, alguns estudos mostraram que quanto mais precoce é a idade em que se inicia o uso da cannabis, maiores são as associações com o comprometimento neuropsicológico (10, 11). Um estudo longitudinal representativo da população, de 2012, (12) mostrou que usuários frequentes que iniciaram o uso de cannabis durante a adolescência (mas não os que se iniciaram na idade adulta) apresentaram declínio neuropsicológico entre as idades de 13 e 38 anos.

Investigações por neuroimagem de usuários adolescentes e adultos produziram resultados algo inconsistentes. Análises recentes demonstraram que há evidências bastante claras de alterações estruturais em regiões temporais mediais (amídala e hipocampo), frontais e cerebelares associadas à exposição à cannabis (13, 14). Contudo, outro estudo recente (15), que cuidadosamente comparou os participantes no que se refere ao consumo de álcool, não apresentou evidências de alterações morfológicas cerebrais entre os usuários adolescentes ou adultos, o que sugere a possibilidade de que o uso comórbido de álcool possa explicar algumas das alterações morfológicas observadas na pesquisa anterior. Existem, além disso, evidências de que os usuários da cannabis apresentem comprometimento da conectividade neural. Por exemplo, um estudo (16) de adultos com um longo histórico de uso abusivo de cannabis apresenta evidências de conectividade diminuída na fímbria direita do hipocampo (fórnix) e do esplênio do corpo caloso, e nas fibras comissurais. Finalmente, investigações realizadas por meio de imagens de ressonância magnética funcional sugerem que os usuários de cannabis apresentam atividade neural alterada tanto em estado de repouso quanto durante testes cognitivos (14). Por exemplo, usuários adolescentes masculinos apresentaram, nas imagens de ressonância magnética funcional, um aumento de atividade dependente do nível do oxigênio no sangue ocorrendo no córtex pré-frontal durante uma nova tarefa de memória operacional, o que foi interpretado como refletindo processamento ineficaz (17). Essa observação se coaduna com estudos medindo a conectividade funcional em repouso em usuários adolescentes da cannabis que apresentaram padrões alterados de conectividade afetando tanto o trânsito inter-hemisférico (18) como a rede fronto-temporal (19,20). Algumas evidências sugerem que o canabidiol, outro canabinóide encontrado na planta da cannabis (embora normalmente em concentrações muito baixas), pode oferecer proteção a alguns dos efeitos nocivos do tetrahidrocanabinol (THC) sobre a cognição (21,22).

Essas são áreas que necessitam de pesquisas complementares. Em primeiro lugar, diferenças observadas no desempenho de testes neuropsicológicos, bem como na estrutura e função cerebrais, podem refletir diferenças individuais pré-existentes ao uso da cannabis. O progresso das pesquisas vem sendo limitado pela recorrência de investigações transversais comparando os usuário da cannabis e os não-usuários. Dois estudos longitudinais (12,23), em que foram realizados testes neuropsicológicos anteriores e posteriores, apresentaram evidências que permitem associar o uso da cannabis e o declínio da função neuropsicológica no âmbito individual. Esses resultados não puderam ser explicados a partir de fatores como: uso de álcool ou outras drogas, transtornos psiquiátricos, baixo status sócio-econômico, ou toda uma gama de outros fatores complicadores. Entretanto, o número de usuários de cannabis nessas coortes foi pequeno, e o imageamento cerebral não foi realizado. Contudo, resultados de neuroimagem levantam a possibilidade de que volumes cerebrais regionais menores entre usuários da cannabis possam ser parcialmente explicados pela presença de diferenças pré-existentes. Por exemplo, um estudo longitudinal prospectivo (24) revelou que volumes do córtex orbitofrontal menores aumentavam o risco de que adolescentes se iniciassem no uso da cannabis, ao passo que um estudo (25) de gêmeos e irmãos revelou que volumes reduzidos da amídala entre usuários da cannabis poderiam ser explicados por fatores familiares. Considerados em conjunto, esses resultados ressaltam a necessidade de estudos longitudinais que acompanhem adolescentes do período anterior ao período posterior ao início do uso da cannabis e combinem testes neuropsicológicos e neuroimagens. O Estudo do Desenvolvimento Cognitivo do Cérebro do Adolescente (Adolescent Brain Cognitive Development Study) (26), uma ampla investigação prospectiva financiada pelos National Institutes of Health, de crianças entre 9 e 10 anos que serão acompanhadas por pelo menos 10 anos, está sendo iniciada para atender, em parte, a essa necessidade.

Uma segunda área propícia para investigações adicionais diz respeito à necessidade de reconciliação dos resultados de neuroimagem com o desempenho em testes neuropsicológicos. As evidências de neuroimagem atuais são inconsistentes, e alterações na estrutura e função cerebrais tendem a não se correlacionar com diminuições no desempenho em testes neuropsicológicos (27). São necessárias maiores amostras para o imageamento, juntamente com considerações cuidadosas acerca das características dos participantes, tais como o uso comóbido de álcool e outras drogas e a extensão da abstinência da cannabis.

Em terceiro lugar, são necessárias mais pesquisas para que se possa responder à questão “quando é que podemos falar em uso excessivo de cannabis?”. Uma vez que muitas amostras de estudo incluem uma grande parcela de indivíduos apresentando dependência da cannabis (conforme definido pelo DSM-IV), não está claro se os efeitos podem ser generalizados para indivíduos com transtornos ligados ao uso da cannabis menos severos e para usuários de caráter mais recreacional.

Em quarto lugar, devido ao efeito potencial de canabinóides exógenos sobre o desenvolvimento cerebral, mais pesquisas são necessárias para que se possa responder à pergunta “em qual idade a cannabis causa maior malefício?”. Além de estudar os efeitos do uso da cannabis em adolescentes, também são necessárias pesquisas que lancem luz sobre a suscetibilidade de adultos mais velhos para o comprometimento neuropsicológico associado à cannabis. Essa parcela da população experimenta mudanças na plasticidade cerebral e declínio cognitivo relacionados à faixa etária que podem torná-la mais vulnerável aos efeitos do uso da cannabis.

Em quinto lugar, evidências recentes sugerem diferenças relacionadas ao gênero em déficits neuropsicológicos associados ao uso da cannabis (1, 28). Assim, pesquisas futuras devem esclarecer os mecanismos na base dessas potenciais diferenças relativas ao gênero.

Em sexto lugar, fatores genéticos, tais como polimorfismos nos genes COMT (OMIM 116790) e AKT1 (OMIM 164730) podem também aumentar a suscetibilidade ao comprometimento neuropsicológico ligado a uso da cannabis (29). Outros exemplos incluem um estudo recente (30) que revelou que o THC causa o comprometimento agudo da memória operacional para portadores de COMTVal/Val (mas não para portadores de Met), além de um outro estudo (31) de três coortes de população que revelou que o uso da cannabis estava associado com a espessura cortical diminuída entre indivíduos masculinos com alto (mas não com baixo) risco genético de esquizofrenia conforme indexado por uma pontuação de risco poligênica. A possibilidade que diferenças individuais entre usuários da cannabis possam ter efeitos significativos e possam servir para prever a extensão de consequências adversas sugere que esforços recentes para incrementar informações genéticas com vistas a criar pontuações de risco poligênicas possam ser úteis no desenvolvimento dos estudos sobre uso de cannabis e funções neuropsicológicas.

O USO DA CANNABIS DIMINUI A MOTIVAÇÃO?

Já em fins do século XIX, a Indian Hemp Drugs Commission [Comissão de Drogas de Maconha] (32) relatava que o uso abusivo de cannabis estava associado à apatia, definida como motivação reduzida para comportamentos direcionados a um objetivo (33). Todavia, foi apenas após o pronunciado aumento no uso da cannabis durante os anos 60 que os efeitos motivacionais do uso crônico da cannabis foram ligados a comprometimentos no aprendizado e na atenção sustentada. O termo síndrome amotivacional da cannabis (cannabis amotivational syndrome) foi proposto por McGlothlin e West (34), que o definiram como apatia e capacidade reduzida para concentração, para a adoção de rotinas ou para a aquisição de novos conhecimentos. Embora sempre tenha havido alguma polêmica em relação à necessidade de se definir um fenótipo tão preciso, existem evidências que o uso abusivo de cannabis a longo prazo esteja associado a dificuldades no desempenho escolar e ao comprometimento da motivação, os quais, conforme se sugeriu, podem ser entendidos como mediadores potenciais de resultados funcionais piores (35).

Existem evidências pré-clínicas e clínicas que estão de acordo com a ideia de que o uso da cannabis esteja associado a estados amotivacionais. Entre os macacos resos, a utilização ou a administração crônica e abusiva de cannabis resultou na queda da motivação, conforme mensurado em testes operantes de relação progressiva e de resposta a posição condicionada (36). Existem evidências laboratoriais preliminares apontando uma relação entre usuários de cannabis e motivação reduzida para comportamentos relativos a recompensa, quando comparados com indivíduos-controle. (37). Como tais resultados parecem estar relacionados a doses repetidas de THC, é provável que a motivação reduzida possa ser um dos caminhos que conduzem ao comprometimento da aprendizagem, pois o THC pode obstaculizar o aprendizado baseado em recompensas (38). Coadunando-se a essa teoria, os usuários da cannabis apresentam capacidade reduzida de síntese da dopamina estriatal (39), com relacionamento inverso com a amotivação. Na medida em que a sinalização dopaminérgica apoia a motivação (40), o comprometimento da síntese de dopamina poderia estar na base do estado amotivacional entre os usuários da cannabis. Da mesma maneira, investigações por imagem apontaram uma reatividade diminuída ao estímulo de dopamina em usuários de cannabis, o que foi associado a emotividade negativa, e que também poderia contribuir para reduzir o empenho em atividades que não estejam relacionadas à droga (41).

A amotivação em usuários crônicos abusivos pode também refletir o fato de que a própria cannabis tenha se tornado um motivador principal, de modo que outras atividades (como, por exemplo, as tarefas escolares) se tornam diminuídas na hierarquia de recompensas do indivíduo. De fato, a dependência da droga ocorre em cerca de 9% dos usuários (42) que parecem mais vulneráveis do que outros em função de uma multiplicidade de variáveis, incluindo a idade no início do uso, o nível de uso e fatores ambientais e genéticos.

O que ainda precisa ser verificado é se mudanças na concentração dos ingredientes ativos da cannabis podem afetar o risco da amotivação ou de adição. A planta da cannabis contém aproximadamente 100 ingredientes canabinóides exclusivos, sendo que os mais pesquisados são o THC e o canabidiol. Ao longo dos últimos 30 anos, o nível de THC presente na cannabis de rua aumentou (43). Entre esses dois compostos, apenas o THC determina o nível do “barato” subjetivo. Juntamente com um sistema de dopamina com eficácia reduzida (blunted) (41), o uso crônico abusivo da cannabis é associado a mudanças no sistema endocanabinóide, incluindo níveis reduzidos de anandamida (um ligante endógeno dos repectores canabinóides) no fluído cérebro-espinhal humano (44) e níveis diminuídos de receptores canabinóides 1 (45). De fato, toda uma literatura pré-clínica crescente tem apontado o envolvimento dos receptores canabinóides 1 e seus ligantes endógenos com os efeitos motivacionais decorrentes do uso da cannabis (46). Assim como ocorre com a associação do uso da cannabis ao comprometimento cognitivo, é possível estabelecer, de modo inequívoco, se o uso da cannabis é causa, consequência ou correlato da motivação alterada. Pesquisas adicionais são necessárias para que se determine se os efeitos amotivacionais potenciais se relacionam com os transtornos do uso da cannabis em vez de estarem ligados ao uso da cannabis per se.

O USO DA CANNABIS AUMENTA O RISCO DE PSICOSE?

Uma das maiores controvérsias relacionadas ao uso da cannabis diz respeito ao seu efeito sobre o risco de transtornos psiquiátricos, em especial transtornos psicóticos e a esquizofrenia plenamente desenvolvida. Investigações longitudinais revelam uma sólida associação entre o uso de cannabis por adolescentes e a psicose. O uso da cannabis é considerado um fator de risco evitável para a psicose (47). A ligação entre o uso da cannabis e a esquizofrenia pode derivar de uma causalidade direta, de interações genético-ambientais, de etiologias compartilhadas ou da auto-medicação para sintomas pré-morbidos, embora alguns pesquisadores tenham sugerido que apenas as três primeiras hipóteses permaneçam questões em aberto (48-50). A emergência esporádica de dados conflitantes não deve surpreender, tendo-se em vista a natureza desse problema biológico específico. Por exemplo, os efeitos da exposição à cannabis podem ser modestos na população total e dependentes da presença de múltiplas variáveis genéticas e ambientais. Por outro lado, persiste uma polêmica duradora e legítima em relação a que proporção do risco de psicose pode ser atribuída ao uso da cannabis e, também, em relação a até que ponto indivíduos sem predisposição genética podem desenvolver a doença.

Apesar dessa ambiguidade, existem fortes evidências fisiológicas e epidemiológicas sugerindo uma ligação mecânica entre o uso da cannabis e a esquizofrenia. O tetrahidrocanabinol (principalmente em altas doses) pode causar psicose aguda, transitória e dependente da dose (sintomas positivos e negativos similares aos esquizofrênicos) (51). Além disso, estudos epidemiológicos, longitudinais e prospectivos apontam uma associação recorrente entre o uso da cannabis e a esquizofrenia, em que o uso da cannabis antecede a psicose (52) independentemente do consumo de álcool (53) e mesmo após a remoção (52, 54) ou o controle (55, 56) daqueles indivíduos que utilizaram outras drogas. Embora o período prodrômico anterior à doença plenamente instalada crie dificuldades para que se determine se o uso da cannabis precede os sintomas, ou se reflete uma tentativa de tratá-los, o uso da cannabis precedeu a psicose nesses estudos (52, 54, 57). Além disso, o uso persistente da cannabis após o primeiro episódio está associado com piores prognósticos (58) mesmo após o controle de outros usos de substâncias (59).

Embora o uso da cannabis possa ter sido interrompido muito tempo antes do surgimento da psicose, a idade em que se dá o início do uso da cannabis parece se relacionar com a idade em que eclode a psicose, o que sugere uma relação causal em relação ao início da psicose que independe do uso de fato (49, 60, 61). A associação entre o uso da cannabis e a psicose crônica (incluindo um diagnóstico de esquizofrenia) é maior naqueles indivíduos que fizeram uso abusivo ou frequente da cannabis durante a adolescência (53, 54, 60, 62, 63) ou em períodos anteriores (52), ou que utilizaram cannabis com THC de alta potência (60, 62). A partir desses estudos, estima-se que o uso constante da cannabis aumente em aproximadamente duas vezes o risco de esquizofrenia, o que explica de 8% a 14% dos casos (55), enquanto o uso frequente ou o uso de cannabis com THC altamente potente aumentam o risco de esquizofrenia em seis vezes (53). Coadunando-se a essa ideia, a maior disponibilidade do receptor canabinóide tipo 1 que teria sido encontrada em alguns pacientes com esquizofrenia (64, 65), e que se correlaciona com sintomas negativos (66), pode também contribuir para uma sensibilidade aumentada aos efeitos psicotogênicos do uso da cannabis. Nesse contexto, é importante ressaltar que a maioria dos indivíduos que usam cannabis não desenvolve esquizofrenia. Portanto, embora o uso de cannabis não seja necessário nem suficiente para o desenvolvimento da esquizofrenia, evidências disponíveis sugerem que o uso da cannabis pode dar início ao surgimento de doenças psicóticas duradouras em algumas pessoas (mais provavelmente indivíduos com vulnerabilidade genética) (67), e esse resultado nos convida a sérias reflexões do ponto de vista das políticas públicas de saúde.

Tem se tornado cada vez mais claro que a psicose aguda, os transtornos esquizofreniformes e a esquizofrenia são o resultado da interação de múltiplos fatores diversos operando em vários níveis. Por exemplo, a presença de um membro familiar próximo que seja portador de esquizofrenia é o mais poderoso fator de risco para a esquizofrenia; contudo, poucos investigadores associando o uso da cannabis e a esquizofrenia controlaram especificamente o risco de esquizofrenia familiar. Os resultados de um estudo (68) sugerem que o uso da cannabis pode levar à esquizofrenia em indivíduos com um histórico familiar da doença, quando comparados com indivíduos sem esse histórico. Todavia, o controle do risco familiar em um grande estudo epidemiológico (69) atenuou consideravelmente, embora não tenha completamente eliminado, a associação do uso da cannabis e a esquizofrenia, com razão de chances de 3,3 e 1,6 com atrasos temporais de 3 e 7 anos respectivamente.

Possíveis interações de três vias entre genótipo, uso da cannabis e psicose também foram analisadas. O genótipo DRD2 (OMIM 126450) influenciou na probabilidade de transtorno psicótico em indivíduos que usavam cannabis (70). Entre usuários ocasionais e usuários diários de cannabis, portadores do DRD2, rs 1076560, alelo T tiveram 3 vezes e 5 vezes maiores probabilidades de transtorno psicótico, respectivamente (70). Relatou-se, também, que o polimorfismo funcional COMTVal-158 modera o efeito do uso de cannabis durante a adolescência sobre a psicose adulta, de modo que era mais provável que os portadores desse alelo desenvolvessem transtornos esquizofreniformes se eles usassem cannabis do que os indivíduos não-portadores desse alelo (67). Em um estudo experimental sobre o THC (71), portadores do COMTVal apresentaram maior comprometimento cognitivo após exposição ao THC, e maior número de sintomas psicóticos, do que portadores do COMT Met/Met. Também foi relatado um genótipo AKT1 por interação com o uso da cannabis, sendo que aqueles indíviduos que apresentavam genótipos C/C rs 2494732 e que também utilizavam cannabis apresentaram o dobro das chances de apresentar um transtorno psicótico (72). Em outro estudo (73), os participantes portadores do genótipo AKT1C/C que faziam uso constante ou uso diário da cannabis apresentaram, respectivamente, probabilidades duas e sete vezes maiores de desenvolver transtorno psicótico quando comparados com usuários e usuários diários que fossem portadores T/T.

Os resultados que apoiam a hipótese que algumas variantes genéticas influenciam na probabilidade do desenvolvimento da esquizofrenia, mediante a exposição a certos aspectos ambientais (por exemplo, o uso de cannabis), refletem tentativas, ainda iniciais e hesitantes, de encontrar resultados dentro de um pequeno número de indivíduos, e que necessitam ser repetidas. (74). Uma explicação alternativa seria a de que indivíduos com alto risco genético de esquizofrenia tenham maior propensão a usar a cannabis através de um risco genético compartilhado de esquizofrenia e de transtornos do uso de cannabis. De fato, o relatório recente de um estudo de associação genômica ampla (75) de uma associação entre alelos de riscos de esquizofrenia e uso da cannabis sugere que uma parte da associação entre a esquizofrenia e o uso da cannabis pode se dever a uma etiologia genética compartilhada. Contudo, em um estudo (63), o uso de cannabis com THC de alta potência foi fortemente associado ao desenvolvimento posterior de esquizofrenia, ao passo que a recentemente apresentada pontuação de risco poligênica de esquizofrenia (76) não foi relacionada ao uso de cannabis ou à potência da cannabis utilizada (77).

Finalmente, assim como ocorre com usuários crônicos ou abusivos de cannabis (78), pacientes com esquizofrenia também apresentam volumes reduzidos da amídala e do hipocampo (79). Essa observação pode contribuir para explicar os piores resultados clínicos em indivíduos esquizofrênicos que usam cannabis, pois é provável que essas mudanças morfológicas estejam na base da exacerbação dos sintomas esquizofrênicos associada à cannabis, ou contribuam para tal exacerbação (80).

CONCLUSÃO

Décadas de legislações mal-informadas ou condescendentes em relação às drogas legais e ilegais impuseram à nossa sociedade um terrível preço a ser pago em termos de saúde. Está claro que o efeito cumulativo da exposição à nicotina e do uso de álcool sobre a morbidade e a mortalidade é enorme. Além disso, é preciso considerarmos os efeitos altamente nocivos da “guerra contra as drogas”, realizada pela justiça criminal, sobre as populações minoritárias e desfavorecidas. Os esforços atuais visando a legalização do uso da cannabis têm sido orientados sobretudo por uma combinação de ativismo popular, engenhosidade farmacológica e busca privada de altos lucros, com uma preocupante desconsideração das evidências científicas, das lacunas em nosso conhecimento, ou da possibilidade de consequências imprevistas. Tendo-se em vista o papel crucial e de amplo escopo do sistema endocanabinóide no cérebro (81-83), a utilização crescente da cannabis e o aumento dos transtornos relativos a esse uso ao longo das últimas décadas, assim como o aumento da concentração de THC na planta da cannabis, é preciso esclarecer quais aspectos da exposição à cannabis (por exemplo, a idade no início do uso, a quantidade usada, a frequência do uso, a duração do uso, e a potência da cannabis utilizada) apresentam maiores riscos no que diz respeito ao desenvolvimento de transtornos do uso da cannabis e à eclosão de outras consequências adversas (por exemplo, déficits cognitivos, falta de motivação, ou psicose). Além disso, existem muitas questão que ainda não obtiveram resposta, e que se relacionam mais diretamente com a qualidade de políticas rapidamente implementadas. Por exemplo, a propaganda será permitida? Quais padrões de uso e efeitos tóxicos associados surgirão se os cigarros elétricos de maconha se tornarem difundidos ou até mesmo um hábito cotidiano entre os adolescentes? Como o aumento de usuários de cannabis gestantes pode afetar o desenvolvimento dos fetos expostos a essa prática? Finalmente, quais são as consequências do fumo passivo da cannabis?

Se nos deixarmos levar pela tendência atual, é provável que sejam descobertos efeitos que eram raros no passado unicamente pelo fato de que o uso não era então tão disseminado quanto o das drogas legais. As populações vulneráveis, tais como crianças, adolescentes, idosos ou indivíduos com outros transtornos, podem experimentar efeitos tóxicos inéditos (assim como potenciais benefícios). A transformação do cenário em que se dá o uso da cannabis (por exemplo, os problemas decorrentes de THC mais potente, novos meios de administração da droga [como inalação do vapor da maconha e maconha comestível] e novas combinações da droga) e o surgimento, em nossa cultura, de novas normas e percepções levantam a possibilidade de que nosso conhecimento atual, sempre limitado, possa se aplicar apenas aos modos pelos quais a droga foi utilizada no passado.

As áreas exploradas nesse artigo, que refletem apenas um subconjunto dos múltiplos efeitos do uso da cannabis sobre o cérebro e sobre o corpo, não fazem jus à onipresença do sistema de sinalização canabinóide. Portanto, além de expandir nossas pesquisas básicas, devemos aprender o máximo e mais rápido que pudermos com as mudanças em curso nas políticas locais, para que assim possamos minimizar os danos e maximizar os potenciais benefícios.


Fonte:www.antidrogas.com

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Prevenção ao uso de drogas passa pela socialização de crianças e adolescentes, diz UNODC



 


Evidências apontam para a importância da relação entre a prevenção e o processo de socialização de crianças e adolescentes, segundo oficial do UNODC. Foto: Senado/Marcello Casal Jr.

As estratégias de prevenção ao uso de drogas precisam extrapolar o campo da informação, passando principalmente pelo processo de socialização de crianças e adolescentes, disse a oficial de programa da unidade de saúde do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) no Brasil, Nara Santos, no início de maio durante evento em Cuiabá (MT).

As estratégias de prevenção ao uso de drogas precisam extrapolar o campo da informação, passando principalmente pelo processo de socialização de crianças e adolescentes, disse a oficial de programa da unidade de saúde do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) no Brasil, Nara Santos, no início de maio durante evento em Cuiabá (MT).

Em sua apresentação sobre diretrizes internacionais, Nara destacou que a ciência teve importantes avanços nos últimos 20 anos, permitindo identificar com base em evidências que as estratégias de prevenção ao uso de drogas precisam extrapolar o campo da informação.

“As evidências apontam para a importância da relação entre a prevenção e o processo de socialização de crianças e adolescentes”, disse Nara citando a publicação “Diretrizes Internacionais sobre a Prevenção do Uso de Drogas” do UNODC. Segundo ela, para cada dólar gasto em prevenção, pelo menos dez podem ser economizados em custos futuros com saúde, programas sociais e crime.

As declarações foram feitas durante fórum organizado pelo governo do estado do Mato Grosso entre os dias 11 e 13 de maio. No evento, foi lançado o “Plano Estadual de Assessoramento em Políticas sobre Drogas — Ações 2016”, elaborado pela Superintendência de Políticas sobre Drogas da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado (SEJUDH).

Experiências brasileiras

Durante o evento, foram apresentadas diversas experiências de prevenção ao uso de drogas adotadas em diferentes estados brasileiros.

A coordenadora de prevenção da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) do Ministério da Justiça, Ana Ferraz, apresentou os programas Jogo Elos, #Tamojunto e Famílias Fortes, que estão sendo implementados desde 2014 em vários estados pela própria secretaria e pela Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde.

“Há hoje disponíveis três programas de prevenção adaptados para a realidade brasileira e estudados e avaliados quanto à sua adequação, aceitabilidade e satisfação”, disse Ana. “Os programas são interativos e utilizam ferramentas inovadoras que motivam tanto os participantes quanto os multiplicadores, permitindo uma reflexão sobre o modo de convivência em espaços coletivos”, declarou.

O superintendente de Políticas sobre Drogas da SEJUDH, Paulo Santana Júnior, tratou do problema mundial das drogas e apresentou estratégias e metodologias para prevenção ao uso precoce e abusivo de álcool e outras drogas.

“Dezessete municípios que têm apresentado índices significativos de violências e presença de drogas terão prioridade na implementação das ações do plano em 2016”, disse o superintendente. Segundo ele, a proposta será estendida aos demais municípios em 2017 e 2018.

O público do evento foi composto por profissionais e gestores das áreas de educação, assistência social e saúde do Estado do Mato Grosso.
Fonte:UNODC - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime

Levantamento inédito mostra que 98 novas drogas sintéticas surgiram em 2015

   

 



Drogas sintéticas foram produzidas para eventos de música específicos
Crédito: EMCDDA

O levantamento é do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência. Neste ano, já são pelo menos 20. Com fabricação fácil, menor preço e até propaganda na internet, esse tipo de droga está ganhando espaço muito rapidamente.
CBN - Ciência e Saúde
Por Pedro Durán

Vendida como aromatizador de ambiente, a maconha sintética tem inúmeros nomes e incontáveis fabricantes.

No Brasil, conhecida como incenso do diabo, a droga pode ser muito mais forte do que a canabis tradicional.

A regra vale praticamente para todas as drogas sintéticas: bombas de substâncias alucinógenas altamente perigosas concentradas em poucas gramas.

No fim do mês, o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência vai lançar um relatório com o panorama do comércio e do consumo de drogas em toda Europa. Nas contas deles, pelo menos 98 substâncias foram criadas e comercializadas no ano passado. Neste ano, já são mais de 20.
O maior fabricante desse tipo de droga é a China, de onde elas se espalham para o mundo todo.

A quantidade de novas combinações dificulta a atuação dos órgãos públicos para proibir e fiscalizar as substâncias, o que abre espaço para o livre comércio, como explica a pesquisadora do Observatório, Rita Jorge.

´As drogas anteriores, as drogas ditas tradicionais, a pessoa precisava conhecer alguém para poder comprar. Estas, não. E como não são, nem todas são ilegais, o que aconteceu: empreendedores começaram a se introduzir na área e a fazer marketing. De repente em uma área das drogas, que era tudo escondido, temos agora campanhas de promoções, ofertas, temos cartões de fidelização, portanto todas essas coisas acontecem`, explica Rita.

A Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas já tem aprovação do governo federal para fazer um novo levantamento brasileiro sobre o assunto. Mas, por uma questão de repasse dos recursos, isso só deve acontecer no ano que vem.

No último dado de 2014, a estimativa é de que até 1,6 milhão brasileiros já tenham experimentado algum tipo de droga sintética. Para o coordenador da Uniad, Ronaldo Laranjeira, o número praticamente dobrou em apenas dois anos e pode ter alcançado os 3 milhões.

Na opinião dele, a multiplicação da droga se deve à facilidade do comércio com auxílio da tecnologia.

´A droga sintética ela usa a própria rede social para fazer esse tipo de distribuição. Então ela é realmente um desafio novo sob vários aspectos, não só pelo componente químico diversificado, como nós falamos, mas também da forma de distribuição e das formas de uso das drogas tradicionais`, diz Laranjeira.

O desafio já se reflete nos números da Polícia Federal, principalmente em relação ao ecstasy, uma das principais drogas sintéticas. Nos quatro primeiros meses de 2016, foi apreendida apenas 1% da média anual dos últimos três anos.

Rafael Franzini, representante do escritório da ONU para Drogas e Crimes no Brasil, destaca a facilidade de produzir esse tipo de substância.

´Você não produz cocaína em todo o mundo. E as drogas químicas podem ser fabricadas em quarto de hotel pela característica da droga. Então isso forma parte de uma realidade que tem que ter um olhar distinto. Isso dificulta o trabalho da polícia. Não só isso que dificulta, dificulta também a característica da droga`, explica Franzini.

Pra piorar a situação, as misturas não são controladas e os laboratórios do tráfico não se preocupam com a qualidade de seu produto, tornando a droga mais perigosa ainda, como explica Dartiu Xavier, diretor do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp.

´Os levantamentos que foram feitos mostraram que 40 a 50% do que é vendido como ecstasy na verdade é anfetamina. Anfetamina é risco de você ter pressão alta, de ter uma sobrecarga no coração e poder ter um infarto até, mesmo sendo jovem. São os riscos muito parecidos com os da cocaína. E nesse caso a anfetamina associada com a cocaína é pior ainda, você dando duas coisas que tem esse risco, você aumenta o risco ainda mais`, diz Xavier.

A cocaína, por sua vez, aumenta ainda mais o risco de um problema cardíaco. Causadora de até um a cada três infartos em jovens, a droga é recorrentemente associada a outras drogas sintéticas, como explica Rui Fernando Ramos, da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.

´Você pode usar uma dose muito pequena e infartar ou pode usar uma dose muito grande e infartar. Nem com o tempo, você pode usar muitas vezes e não ter nada e um dia infartar. Ou pode na primeira dose ter um infarto. Não tem medida segura para a droga, nem em tempo de uso, nem em dose`, diz Ramos.

Na opinião de Angelo Campana, presidente da Associação Brasileira do Estudo de Álcool e Outras Drogas, o mais importante é deixar claro que por mais que possam parecer menos perigosas, as drogas sintéticas podem ser devastadoras.

´A cultura nossa é droga estimulante, que leve à alegria, à festa, à comemoração. Pelo fato de essas drogas serem mais baratas que a cocaína, é mais fácil o tráfico delas também, que em vez de pacotes de pó, transportados por caminhões, são comprimidos. O efeito ele é mais agudo e um pouco mais potente também. É uma falsa noção de que é uma droga mais suave, e ela é, em curto prazo. Mas em médio e longo prazo ela é tão pior quanto com um poder de induzir dependência muito grande, principalmente a metanfetamina`, explica Campana.

Em toda a Europa, as autoridades fizeram 50 mil apreensões de drogas sintéticas no ano passado, recolhendo quatro toneladas de substâncias. Já no Brasil, os dados da Polícia Federal apontam a apreensão de pouco menos de 6,7 mil comprimidos de ecstasy neste ano. A PF não quis comentar os números.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

Crescente uso de ´drogas do estupro` na América Latina preocupa autoridades



 


ONU alerta para o crescente uso de ´drogas de estupro` na América Latina

A história começa com uma mulher despertando nua em uma cama de um quarto de hotel no qual não se lembra de ter entrado. Ela foi drogada em uma festa. E as únicas pistas que restam do que ocorreu na noite anterior são as marcas de estupro ainda visíveis em seu corpo.

Esse é um drama comum em toda América Latina, onde muitas mulheres se tornam vítimas de abuso sexual, frequentemente quando ainda são adolescentes. "Os estupros realizados com a ajuda de drogas eram raros quando comecei a trabalhar com o tema", diz Maria Elena Leuzzi, presidente da ONG Ajuda a Vítimas de Estupro, organização que é referência para vítimas de abuso sexual na Argentina. "Hoje são mais frequentes. É muito fácil conseguir essas substâncias."

Leuzzi diz receber ao menos quatro telefonemas por fim de semana de mulheres contando a mesma história: divertiam-se em festas ou casas noturnas de Buenos Aires e, depois, não se recordavam de mais nada.

Casos assim se repetem por todos os países da região. "Só na Cidade do México, mais de 300 mulheres são estupradas por ano sob o efeito de drogas, e o número é cada vez maior", afirma Laura Martínez, presidente da Associação para o Desenvolvimento Integral de Pessoas Estupradas (ADIVAC, na sigla em espanhol), a única organização civil que atende casos de violência sexual no México.

Com 20 anos de experiência no laboratório de química forense da Procuradoria de Justiça da Cidade do México, o toxicologista Carlos Díaz faz um cálculo semelhante. "Em média, analisamos uma denúncia por dia. É notório que o uso de substâncias que facilitam o estupro está aumentando. E a grande maioria das vítimas tem menos de 25 anos de idade."

Díaz adverte que existe "um catálogo cada vez mais amplo de substâncias psicotrópicas" usadas para se cometer abusos sexuais. O objetivo é sempre o mesmo: anular a vontade da vítima e transformá-la em um "brinquedo" na mão no agressor. Um brinquedo que não terá qualquer lembrança do ataque.

Ao alcance da mão


(Arquivo Pessoal) María José Coni e Marina Menegazzo foram drogadas e, depois, assassinadas

No caso de Cristina (nome fictício), a primeira coisa que ela viu ao acordar foi o tapete vermelho do quarto de hotel. Seus braços e pernas doíam. Sua roupa estava espalhada ao lado da cama. Em uma pequena mesa, sob uma luminária, o relógio marcava 13h.

Dezesseis horas antes, ela havia se arrumado na casa de uma amiga da faculdade para irem juntas a uma festa. Cristina se lembra de ter conhecido um rapaz, com quem conversou e dançou salsa. Não sabe por que pediu que a amiga fosse embora.

A ONU já alertava em 2010 para o rápido aumento do uso das "drogas de estupro" e o surgimento de novas substâncias do tipo.

O relatório anual da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE) apresentado naquele ano destacou a "evolução muito rápida" desses crimes e ressaltou o fato de que, em muitos países, narcóticos usados com este fim são vendidos sem controle.

No caso da América Latina, as drogas mais usadas são a benzodiazepinas, obtidas facilmente em qualquer farmácia.

Foi essa a substância encontrada nos corpos das turistas argentinas María José Coni e Marina Menegazzo, assassinadas na cidade costeira de Montañita, no oeste do Equador.

Isso reforça a teoria de suas famílias, para quem as jovens foram drogadas e conduzidas pelos acusados até suas casas, sem conseguir resistir.

"Os estupradores sabem quais quantidades levam a um estado de sedação e à perda de memória. Ao misturar com álcool, o efeito é potencializado", diz Emilio Mencías, do Instituto Nacional de Toxicologia e Ciências Forenses da Espanha.

As benzodiazepinas são drogas de efeito sedativo e hipnótico receitadas para o combate a estresse, crises nervosas, sonolência e ansiedade.

Ainda que em muitos países se costume exigir uma receita médica ao vendê-las, os controles são facilmente burlados. Em outros, nem a receita é necessária, segundo a ONU.

Da Burundanga ao GHB


Drogas são colocadas nas bebidas das vítimas

A burundanga, talvez a "droga de estupro" mais conhecida na América Latina, cresce de forma silvestre em quase toda a região.

Chamada também de estramônio, trombeta ou "sopro do diabo", ela tem como princípio ativo a escapolamina.
Segundo o Departamento de Saúde dos Estados Unidos, este alcaloide provoca desorientação, alucinações, amnésia e, em doses elevadas, pode ser mortal.

No entanto, apesar da fama, é cada vez menos usada em abusos sexuais.

"Ela incapacita a vítima, mas também pode torná-la agressiva. Não é prática para o criminoso, que prefere outras drogas", diz Pilar Acosta, médica do hospital Santa Clara de Bogotá e vice-presidente da Associação de Toxicologia Clínica Colombiana.

Uma das drogas silenciosas que está substituindo a burudanga é o GHB.

Seu nome científico é ácido gama-hidroxibutírico e é difícil detectá-lo. Ele é usado com fins medicinais no tratamento do alcoolismo, mas seus usos ilegais são mais frequentes e conhecidos.

A substância também é chamada de êxtase líquido, porque seu primeiro efeito é a euforia. "Não é complicado de sintetizar - e alguns criminosos até o preparam com removedor de tinta", afirma Díaz.

O GHB não tem odor nem cor - o que faz com que a vítima não perceba que ingeriu a substância.

Foi o que aconteceu com Andrea, no Peru. Ela sempre foi tímida, mas sua última lembrança da noite em que a estupraram é de estar dançando em cima do bar de uma boate em um balneário ao sul de Lima. Estava irreconhecível.

Ela havia tomado uma bebida oferecida por dois jovens e, logo, estava beijando um deles. Depois, foi com eles para o estacionamento. Acredita que entrou num carro cinza, mas não tem certeza.


Vítima acorda após estupro sem lembranças da noite anterior

O Centro de Informação para Educação e Abuso de Drogas do Peru (Cedro) alertou que, no último verão, a venda de GHB se popularizou nas praias de Lima.

Representante da instituição, Milton Rojas explica que as drogas sintéticas ficaram mais baratas no país e jovens que antes não as compravam agora conseguem fazê-lo.

À BBC Mundo, representantes da Organização Mundial de Saúde (OMS) destacaram que os controles internacionais do comércio de GHB são mínimos.

Para o órgão, nem o uso legal da droga se justifica, porque há medicamentos mais seguros para tratar as mesmas doenças e condições.

Estupros sem registro

Os dramas de Cristina e Andrea ainda são invisíveis. Na América Latina e na Espanha, há uma ausência significativa de observatórios especializados em abusos sexuais que envolvam fármacos. Nem os especialistas da agência da ONU contra Crimes e Drogas, a UNODC, têm estatísticas precisas.

"É arriscado dar números exatos, porque eles não existem. Analisamos oito ou nove denúncias por semana. Isso ninguém pode refutar", afirma Díaz.

A pouca informação existente na região é fragmentada e depende quase sempre de iniciativas isoladas de governos.

Na Colômbia, o relatório mais recente foi feito pela Universidade Nacional, após reunir documentos do Grupo de Elite de Delitos Sexuais, uma unidade de investigação especializada criada em Bogotá.

Entre junho de 2013 e março de 2014, foram denunciadas 184 agressões sexuais só na capital colombiana, das quais 53, ou quase um terço, foram facilitadas por drogas.

Ter informações exatas sobre esses casos é importante para criar políticas públicas, assim como um bom diagnóstico pode curar um doente.

"Estamos vendo só a ponta do iceberg", diz Mencías, acrescentando que um em cada cinco estupros atendidos nos hospitais de Barcelona e Madri envolve drogas.

Drogas invisíveis


Medicamentos com benzodiazepina podem ser obtidos com relativa facilidade

Diferentemente da maioria das vítimas, Isabel acordou em sua própria cama. Não lembrava da festa a que fora na casa de amigos, em Barcelona, e pensou que havia bebido demais, nada além disso.

Mas logo descobriu sinais em seu quarto e no banheiro que indicavam que alguém havia estado com ela. Seu corpo também tinha marcas. Quando foi atendida no hospital, confirmaram o estupro, mas os exames toxicológicos deram negativo.

"Meu primeiro conselho para uma vítima quando há suspeita de que ela tenha sido drogada é fazer exames imediatamente", diz Leuzzi. "As evidências desaparecem muito rápido." A maioria das "drogas de estupro" são eliminadas do organismo em menos de 12 horas.

Então, a única maneira de detectá-las é com um exame capilar, feito em centros especializados. O processo é mais longo, requer a elaboração detalhada da história clínica do paciente e, em muitos casos, a vítima deve pagar pelo teste.

Ainda que Isabel tenha chegado a tempo no hospital, nada foi detectado. Provavelmente porque, assim como vários países latino-americanos, a Espanha também tem um problema com seu protocolo médico para o tratamento de casos desse tipo.

"Normalmente, se busca por cocaína, maconha, benzodiacepinas e álcool. Não se procura por mais substâncias psicotrópicas, porque o protocolo não exige isso", afirma Díaz.

O GHB e outras drogas muitas vezes passam despercebidas pelos exames, que são fundamentais em um processo judicial por estupro.

Segundo Acosta, na Colômbia os equipamentos e agentes químicos necessários para detectar essas substâncias também não são comumente encontrados em centros médicos.

"É uma questão de custo. Além disso, muitos criminosos aprenderam a usar as drogas mais difíceis de rastrear", diz a médica.


Efeito da droga pode durar por até 8 horas

Sem um exame que comprove que a vítima foi drogada e muitas vezes sem qualquer lembrança do agressor, o estupro costuma ser o início de um drama judicial longo e doloroso.

De acordo com o Instituto Nacional de Toxicologia e Ciências Forenses da Espanha, só uma em cada cinco mulheres que foram drogadas para facilitar o abuso denuncia.

Isabel se atreveu a isso e começou um processo legal interminável.

Ela chegou a reconhecer o agressor nas gravações da câmera de segurança do seu edifício, mas as imagens só mostram que ela entrou de mãos dadas com ele em casa. O acusado garante que a relação foi consensual. E, para Isabel, é muito difícil provar o contrário.

Conselho

Talvez o conselho mais comum ouvido por uma adolescente que começa a sair para boates é "Nunca perca seu copo de vista".

E o conselho não é um exagero. As "drogas de estupro" precisam ser ingeridas para surtir efeito.

"É um mito que o simples contato com a substância pode drogar alguém. Nenhuma delas atua desta forma", diz Mencías.

Mas a quantidade necessária para drogar uma pessoa é tão pequena e se dilui tão rápido que bastam alguns segundos de desatenção para que o agressor a coloque em uma bebida - e, num local de festa, não é difícil um descuido assim.

Para tentar limitar o uso de fármacos em delitos sexuais, a ONU recomenda que a indústria química desenvolva medidas de segurança como adicionar corantes e sabores em seus produtos para que a vítima se dê conta se ingerir a substância. Mas essa é apenas uma recomendação.

A difusão de informações sobre o problema é outro passo importante para que ele comece a ser combatido.

Desde que vários meios de comunicação e organismos internacionais começaram a denunciar o crescente uso das "drogas de estupro" e suas consequências, Martinez, da ADIVAC, passou a receber um tipo inédito de telefonema: de mulheres com histórias ocorridas meses ou anos atrás.

Elas dizem que sempre sentiram que algo estranho ocorrera na ocasião. Hoje, afirmam com convicção: "Fui estuprada."
Fonte: BBC Brasil