terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Se você bebe para esquecer, está perdendo tempo: o álcool reforça as lembranças ruins


 


EL PAÍS
Novo estudo vira de ponta-cabeça a velha ideia: A fuga é possível, mas no médio prazo as experiências negativas são fixadas em nossa memória
Elena Gómez

O famoso "beber para esquecer" pode ter se tornado página virada. Embora seja verdade que uma boa bebedeira pode levar a pessoa a não se lembrar de tudo o que fez no dia seguinte, as coisas ruins (exatamente as que queremos apagar da memória) podem se agarrar ao nosso cérebro de modo mais ferrenho do que se não bebêssemos.

É isso que revela um estudo publicado pela revistaTranslational Psychiatry, elaborado por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, de Baltimore (EUA). Dividiram ratos de laboratório em dois grupos: um bebeu água durante duas horas, e ao outro foi dada grande quantidade de álcool no mesmo intervalo de tempo. Posteriormente, ambos grupos foram submetidos a um som determinado, seguido por uma descarga elétrica. No dia seguinte, os roedores escutaram o mesmo som, mas dessa vez sem que fosse seguido pelo choque. Os resultados mostraram que os ratos que haviam sido embriagados tinham mais medo (lembravam melhor da descarga) que aqueles que tinham bebido água.

A conclusão do trabalho é que o álcool perpetua a sensação de medo: a extinção dessa recordação exige receptores do neurotransmissor glutamato (substância relacionada à memória), e quando os compostos do álcool se unem a esses receptores, interferem nas sinapses (comunicação neuronal), levando a que os animais que beberam álcool “não se acostumem ao estímulo e não esqueçam a experiência prévia ruim”, explica o neurologista Pablo Irima, diretor da Sociedade Espanhola de Neurologia.

Tal neurotransmissor (envolvido na eliminação da recordação) não se dá bem com a bebida. “O glutamato produz rejeição ao álcool. Costuma-se usá-lo no hospital para que os pacientes parem de beber" diz o psiquiatra e presidente da Sociedade Espanhola de Psiquiatria, Julio Bobes.

Distrai, mas não apaga os traumas

Que o álcool nos faz recordar as coisas mais facilmente é algo que tinha sido evidenciado por um estudo da Universidade do Texas (EUA) em 2011. De acordo com essa pesquisa, tomar uma dose ativa certas regiões do cérebro relacionadas exatamente ao aprendizado e à memória.

Mesmo assim, a ideia de que beber é uma boa forma de afastar as más recordações é tão difundida que até esse estudo afirma que a maioria das pessoas afetadas por diversos traumas (entre 60% e 80%) ingere álcool compulsivamente. “Muitos pacientes com estresse pós-traumático se embebedam com a finalidade de fugir da situação, esquecer ou dormir com mais facilidade”, acrescenta Irima. E os pesquisadores concluem: “Se os efeitos do álcool nas lembranças desagradáveis forem semelhantes nos humanos, nosso trabalho pode ajudar a entender melhor como funcionam essas memórias e como focar melhor as terapias em pessoas que apresentam estresse pós-traumático”.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Como as drogas nos engolem


 


Aloisio de Toledo Cesar* ,
O Estado de S.Paulo
A sociedade brasileira está sofrendo os efeitos cada vez mais devastadores do uso de drogas produzidas e distribuídas pelo pior tipo de gente – os traficantes. Aquilo que até algumas décadas atrás parecia ser uma doença apenas das grandes cidades se espalhou por todo o País, até por pequenos lugarejos.

Sim, mesmo na zona rural já se observa o desespero de trabalhadores pela chegada do sábado, dia em que recebem o pagamento semanal e correm atrás das drogas. Quem atua na área do Direito percebe claramente que a droga está na raiz de mais da metade dos crimes. De fato, os roubos, assaltos, latrocínios são em geral praticados por pessoas que agem sob o efeito de drogas ou cuidam de seu transporte e distribuição.

O tormento nas penitenciárias brasileiras, que causa perplexidade interna e externamente, é claro reflexo da luta pelo controle do milionário mercado de venda de drogas.
O adolescente que na garupa da uma moto atira aleatoriamente após extorquir a vítima assim age não por pretender comprar uma roupa nova ou sair com a namorada. Ele precisa do dinheiro para adquirir droga ou para pagar ao fornecedor – se não quitar a dívida, pagará com a própria vida.

Em escala maior, nos grandes centros o craque corrói a vontade e a saúde de milhares de pessoas, escravizadas pelo vício e incapazes de dirigir a própria vida. Esse fenômeno social é crescente e ultrapassa a anêmica vontade dos administradores públicos responsáveis pelo combate aos traficantes.

Triste ver nesse terreno de areia movediça que as pessoas se afundam e não conseguem voltar à superfície, movidas pelo engano de preferir – muito mais – a droga à própria vida. De outro ângulo, assusta a frieza do governo federal, que até o momento não fez emergir um plano eficaz que tenha a ventura de proteger a sociedade e livrar do sofrimento as famílias atingidas pelo desastre das drogas.

Décadas atrás o Brasil foi capaz de idealizar um programa de combate à aids, revestido de êxito, mas até agora, apesar do agravamento, nada que mereça respeito foi feito para enfrentar a produção, o tráfico e a distribuição de drogas às pessoas.

Quando concorreu à Presidência da República, o ministro José Serra disse que estava assustado por não termos um plano verdadeiro de combate às drogas. Agora ele está na posição-chave, como ministro das Relações Exteriores, porque a produção de cocaína, craque e maconha é feita em países amigos – Venezuela, Colômbia e Paraguai. Um bom trabalho diplomático com os vizinhos poderia ter melhor efeito do que deixar nossas polícias enxugando gelo.

Se a droga for produzida, o traficante sempre encontrará uma forma de fazê-la chegar ao consumidor, por mil artifícios. O Brasil tem aproximadamente 8 mil quilômetros de fronteiras secas, impossíveis de fiscalização permanente, por sua enorme extensão. Além disso, nosso litoral é também imenso e a qualquer hora da noite um barco pode aproximar-se da praia e descarregar uma tonelada de cocaína sem que ninguém veja.

Para enfrentar essa estratégia do mal, aperfeiçoada por décadas de combate ineficiente, o Brasil precisa de um plano nacional. No momento esse trabalho está concentrado apenas na fiscalização de umas minguadas fronteiras.

O presidente da Bolívia, a quem Lula chamava de “o companheiro Morales”, é produtor de coca (a planta) e chegou a dizer publica e hipocritamente que a cocaína não é um problema em seu país. Não é mesmo, os bolivianos tomam um chá feito com folha de coca, não ofensivo à saúde, assim como no Sul tomamos chimarrão. Se tivesse um mínimo de dignidade pessoal, Evo Morales atuaria para impedir a produção de cocaína, que é quase toda enviada para o Brasil.

Paraguai, Venezuela e Colômbia são, como dito acima, países também amigos e neles a produção da droga constitui antigo e lucrativo negócio de quadrilhas organizadas – tão organizadas que nem mesmo a ação conjugada com o governo norte-americano conseguiu impedi-las. Para os nossos vizinhos a imagem do Brasil não está contaminada por preconceitos “imperialistas” e por isso uma ação diplomática não seria mal recebida.

A importância econômica do Brasil e o destaque alcançado no continente permitiriam que o governo brasileiro se empenhasse num trabalho diplomático voltado para a redução da produção de drogas. Desnecessário repetir que o prazer fugaz e enganoso proporcionado pela droga destrói vidas, destroça famílias e necrosa gradativa e crescentemente o tecido social. É incrível que isso continue a acontecer tendo como expectadores nossos representantes no Congresso Nacional e no governo federal.

O pior nesse quadro sombrio e desanimador é que surgem a toda hora, lamentavelmente, como estímulos à disseminação das drogas, vozes bastante lúgubres anunciando, por exemplo, que a maconha não é danosa para o organismo humano e tampouco vicia. São afirmações sempre alcançadas por boa dose de suspeição.

A maconha talvez seja a mais danosa de todas as drogas, porque representa o início do plano inclinado na vida dos que a experimentam. Esforços isolados são feitos junto à iniciativa privada, a universidades e associações de classe, todas voltadas para a tentativa de recuperação dos viciados.

Tudo isso é necessário e merece estímulo, mas sem nenhuma dúvida falta uma ação programada de governo, um plano, enfim, que alimente a luta contra a produção de drogas. Sem a presença das drogas a criminalidade crescente, que destrói vidas e destroça as famílias, poderá gradativamente arrefecer, criando um clima de esperança para cada um de nós.

É nosso dever, em defesa dos e nossos filhos, netos e da família, não ficar de braços cruzados e aprender a cobrar, sempre, esforços verdadeiros e permanentes dos governantes. Não é possível que faltem inteligência e coragem.
*DESEMBARGADOR APOSENTADO DO TJSP, FOI SECRETÁRIO DE JUSTIÇA DO GOVERNO DO ESTADO. E-MAIL: ALOISIO.PARANA@GMAIL.COM
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas 

Álcool potencializa casos de câncer


 


(Crédito: José Alves Filho)
Waldelúcio Barbosa
Correria com trabalho e estudos, vida social agitada e falta de tempo: três fatores cada vez mais presentes na vida das pessoas. Com isso, o estresse e cansaço vão aumentando, representando um mal à saúde pelas consequências que podem trazer.

Com a vida tumultuada, muitos tentam encontrar brechas para espairecer e esfriar a cabeça, e isso nem sempre quer dizer que simplesmente buscam atividades saudáveis que fazem relaxar a mente e o corpo. Há um número grande de pessoas que buscam esse descanso em hábitos que pioram sua situação, como o consumo de álcool em excesso.

De acordo com o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), em 2012, 5,6 % dos brasileiros abusavam ou dependiam de álcool. No mesmo período, a substância esteve associada a 61,5% dos índices de cirrose hepática e a 11,5% dos acidentes de trânsito no país. O consumo desequilibrado pode gerar graves consequências à saúde, representando um fator de risco não só para a cirrose hepática, mas um tipo de câncer não muito falado, porém mais letal que outros tumores, por conta do diagnóstico geralmente tardio: o câncer de fígado.

A médica hepatologista Cássia Leal aponta que o abuso do álcool, atualmente, é, certamente, um problema muito grande no Brasil, principalmente entre os jovens, podendo levar a uma série de doenças, inclusive as doenças hepáticas, como a cirrose e o câncer.

“O álcool atua como um cofator para o desenvolvimento do câncer de fígado, ou seja, ele não age diretamente no fígado como um fator oncogênico, mas ele leva à cirrose hepática, podendo, consequentemente, levar ao câncer de fígado. A maioria dos casos de câncer de fígado ocorre em pacientes portadores de cirrose hepática (95%). E o álcool tem uma participação muito grande nos casos de cirrose hepática, como uma das principais causas dessa doença em nosso país”, esclarece.

Mais de 500 mil mortes por ano

O câncer de fígado, caracterizado pela alta letalidade e sobrevida curta após o diagnóstico, é o quinto tipo mais frequente no mundo e a terceira causa de morte por câncer, levando a mais de 500 mil mortes por ano, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA).

Os principais sintomas são fraqueza, perda de peso inexplicada, falta de apetite, mal-estar, massa abdominal, distensão, icterícia (tonalidade amarelada na pele e nos olhos) e acúmulo de líquido no abdômen (ascite). Porém, muitas vezes os sintomas se manifestam apenas nas fases mais avançadas, sendo uma doença silenciosa em fases iniciais.



“Para o desenvolvimento da cirrose hepática é necessário o consumo de pelo menos 60-80g de álcool por dia por 10 anos para os homens e de 40-60g pelas mulheres”, afirma a especialista, acrescentando que parar de ingerir bebidas alcoólicas, fazer uma alimentação mais saudável e praticar alguma atividade física são algumas das recomendações para as pessoas que querem promover uma mudança na vida social e buscar ter mais qualidade de vida.

Câncer de fígado: uma doença silenciosa

Cássia Leal ressalta que, na maioria das vezes, o câncer de fígado trata-se de uma doença silenciosa. Quando existem sintomas (como dor e massa abdominal), a doença já está em uma fase bem avançada. “O importante são os exames periódicos, chamados de ´rastreamento`, para a detecção mais precoce dessa doença, como os exames de sangue e a ultrassonografia de abdome”, destaca.

O câncer de fígado pode ser dividido em dois tipos: câncer primário (que tem sua origem no próprio órgão) e secundário ou metastático (originado em outro órgão e que atinge também o fígado). O mais frequente câncer primário, que ocorre em até 80% dos casos, é o hepatocarcinoma ou carcinoma hepatocelular. A cirrose hepática está na origem de mais da metade dos casos desse tipo, caracterizado por ser agressivo e de curto tempo de evolução.



Existem várias possibilidades de tratamento dependendo do estágio em que a doença se encontra. Quando o câncer de fígado é diagnosticado nos estágios mais iniciais, os tratamentos são considerados curativos, porém, quando o diagnóstico só ocorre em fases avançadas da doença, só existem os tratamentos chamados paliativos (aumentam a sobrevida, mas não são curativos).

“Os tratamentos considerados curativos são a cirurgia, o transplante de fígado e os procedimentos menos invasivos por radiologia intervencionista (ablação por radiofrequência e alcoolização) com uma possibilidade de sobrevida em torno de 85-90% em 5 anos. E os tratamentos paliativos são a quimioembolização hepática e o quimioterápico oral (sorafenibe)”, pontua.
Fonte: Jornal Meio Norte

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Debate sobre drogas no brasil: miopia ou cegueira?


 


Fonte: CREMESP - Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo
Ana Cecilia Petta Roselli Marques

O Brasil construiu sua política de drogas no início do século 21, por meio de fóruns pelo País afora e com a participação da sociedade civil, dos profissionais envolvidos e da comunidade científica. Vale lembrar que os pressupostos filosóficos, éticos e científicos que a embasam foram escritos e fundamentados nas leis brasileiras, nos levantamentos existentes sobre o cenário à época e nas evidências científicas. A equipe que coordenou os debates em todas as regiões do País coletou dados e tornou realidade um sonho: elaborar um documento factível, que fundamentou a política vigente, composto por vários capítulos. Sua premissa consensual dispõe: o fenômeno das drogas é complexo e só será bem manejado para a diminuição do impacto biológico e psicossocial se for entendido em todas as suas dimensões.

Portanto, a política sobre drogas no Brasil tem dez anos, mas o debate, infelizmente, continua o mesmo: a saúde discute lei, a justiça discute internação, e a assistência social diz que o problema é da saúde. Com esse desvio de competências, esquarteja-se o fenômeno, o que vai nos levar a um quebra-cabeça impossível de montar. A sociedade, por sua vez, fica cada vez mais excluída, sem acesso à informação, à prevenção e, consequentemente, inapta a posicionar-se em relação a assunto de tamanha relevância. Pior: repete-se o mantra de que a guerra às drogas fracassou e defende-se que a descriminalização do porte para uso próprio é direito humano de quem consome. Continuamos na contramão da história, uma parte formada por cegos e outra, por míopes.

A interface com as drogas na história da humanidade sempre existiu, segue cursando em ondas de consumo determinadas pela cultura de cada país, pelos poderes, pelas guerras e pela economia mundial. É cegueira acreditar que uma sociedade ou um Estado consegue controlar o consumo de drogas entre adolescentes. Basta ver os exemplos da bebida alcoólica e do tabaco. Drogas lícitas para adultos tornam-se porta de entrada para o comportamento de uso de outras drogas na adolescência, como demonstram estudos há anos.

As instituições da saúde, da justiça, da educação e as organizações governamentais, as não governamentais e as religiosas não podem esquecer que, quando se posicionam, influenciam a percepção da sociedade. Isso ocorre de forma contundente, principalmente entre os jovens de 15 a 25 anos, período do desenvolvimento humano em que se tem mais saúde. Entretanto, no Brasil, é essa faixa etária que apresenta a maior taxa de mortalidade, sendo parte expressiva dela relacionada ao consumo de bebida alcoólica, droga liberada para uso próprio acima dos 18 anos no País.

No âmbito das drogas, segundo dados recentemente divulgados pela Universidade Federal de São Paulo, para cada dependente de drogas ilícitas, existem, em média, mais quatro pessoas afetadas de forma devastadora, comprometendo, em inúmeras dimensões, uma população de quase 30 milhões de brasileiros. O Conselho Internacional de Controle de Narcóticos, entidade ligada à ONU, emitiu relatório informando que, em apenas seis anos, entre 2005 e 2011, o consumo de cocaína em nosso País avançou de 0,7% para 1,75% da população na faixa entre 12 e 65 anos. Isso corresponde a uma adesão ao uso problemático e à dependência quatro vezes superior à média mundial e 25% maior que a média da América do Sul. Sem falar na interface das drogas com diferentes tipos de violência auto ou heteroinfringida.

De um lado, esbarra-se na enorme dificuldade, em todos os níveis de governo, de se adotar políticas efetivas que foram debatidas por três anos pelo Brasil inteiro e estão previstas na lei; de outro, a cegueira diante de um imenso lobby, muito bem organizado, difundindo a ideia de que a melhor solução seria a completa legalização de todas as drogas, começando pela descriminalização da maconha, como ocorreu em alguns países. Primeiro se descrimina o uso, depois o "pequeno tráfico". Em seguida, se legaliza a maconha para uso "medicinal" e recreativo, para finalmente se legalizar todas as drogas... Uma armadilha, principalmente para cegos!

Urge uma discussão mais madura, mais honesta e que leve em conta a realidade nacional sobre como melhorar a política de drogas vigente, debates que, muito além do indivíduo, mirem a sociedade. Da mesma forma, é necessário um estudo aprofundado sobre a ética coletiva a ser adotada por aqui. É indispensável se tomar uma decisão de consenso, sem reinventar a roda, pois somente um conjunto dos atores pode modificar o cenário.

O que a sociedade brasileira quer? Continuar míope para determinadas questões e cega para outras?! Não! O povo brasileiro quer as coisas no devido lugar. Chega de mentiras, de cabresto da indústria das drogas lícitas ou ilícitas. Não queremos ser um “tubo de ensaio” de nenhum governo, nem de nenhuma instituição isolada e autoritária; queremos um estado de direito em que principalmente o direito das crianças e dos adolescentes de NÃO usar drogas esteja assegurado.

Cinco princípios de uma política sobre drogas, humana, integral, para todos

1º - O direito humano é o capítulo mais importante da política, pois os cidadãos, em especial as crianças, têm o direito de viver num ambiente seguro, que desenvolva medidas de redução da demanda e controle da oferta de drogas, tanto em sua família quanto em sua comunidade.

2º - A redução do consumo de drogas deve estar no núcleo dessa política, visto que a melhor forma de reduzir os danos causados pelas drogas é reduzir o consumo.

3º - A prevenção é a parte mais efetiva da política. Muitos esforços devem ser direcionados para aplicar suas medidas.

4º - Uma boa política assistencial deve reconhecer que a dependência é uma doença crônica que se desenvolve no cérebro e que deve ser prevenida e tratada por meio de boas práticas.

5º - O Brasil é o único país do mundo que faz fronteira com todos os produtores de cocaína e, agora, com mais produtores de maconha. Medidas ajustadas para o controle da oferta devem ser ampliadas.



fonte : antidrogas.com.br

Prevenção ao uso de drogas no ambiente escolar


 


*Por Adriana Moraes
Prevenir o uso indevido de drogas constitui ação de inquestionável relevância nos mais diversos contextos sociais – escola, família, comunidade, empresa, dada a complexidade da questão e os prejuízos associados ao abuso e a dependência de substâncias psicoativas. [1]

Iniciamos o ano de 2017 com boas notícias "Prevenção ao uso de drogas nas escolas". Cerca de quase 10 milhões de adolescentes poderão ser beneficiados com o estudo da dependência química em sua grade curricular. A disciplina será uma atividade extracurricular, ministrada por instituições especializadas no assunto. O projeto foi aprovado na ALESP (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) e aguarda sanção do governo.

Drogas é um assunto polêmico que direta ou indiretamente, diz respeito a todos nós. O especialista em Prevenção do Uso de Drogas Claudemir Moraes dos Santos que atua na COED (Coordenação de Políticas sobre Drogas) fez uma reflexão: " Você já imaginou o que poderia ser evitado com ações de prevenção mais afetivas? Quantas vidas seriam salvas? Quanta violência seria evitada? Alertou que certamente é quase impossível mensurar com precisão o impacto da prevenção eficiente, mas uma coisa é certa: Prevenir é sempre melhor que remediar!

Claudemir na Cartilha” Seminário de Boas Práticas de Prevenção” disse que quando nos remetemos a palavra prevenção sempre nos referimos a impedir ou evitar algum dano ou mal. Prevenimos delitos, doenças, comportamentos de risco, abuso de drogas, etc. [2]

A escola abriga a maior parte das crianças e adolescentes de uma comunidade ou município. Frequentemente é na fase escolar que o adolescente tem o primeiro contato com o mundo das drogas. O problema é que o uso precoce de drogas pode afastar o adolescente de seu desenvolvimento normal, impedindo-o de experimentar outras atividades importantes nesta fase da vida. [3]

A adolescência é um período marcado por inúmeras transformações e conquistas importantes. No entanto, fatores como o uso de drogas podem transformar o adolescente em um adulto problemático com sequelas irreversíveis para o desenvolvimento de sua vida futura. O consumo de drogas nesta fase pode trazer sérias consequências físicas e/ou psíquicas para o desenvolvimento, como déficits cognitivos, problemas físicos, envolvimento em acidentes e infrações. [4]

A curiosidade natural dos adolescentes é um dos fatores de maior influência na experimentação de álcool e drogas, ao lado de fatores externos, como opinião dos amigos e facilidade de obtenção. O adolescente vive o presente, busca realizações imediatas e os efeitos das drogas vão ao encontro desse perfil, proporcionando o “prazer”, passivo e imediato.

Adolescente e o uso de drogas


Álcool

Para a maioria de adolescentes, as bebidas alcoólicas e o tabaco serão a combinação mais frequente, seguidos de álcool e maconha, tabaco e maconha e álcool e alucinógenos. [5]


Maconha

A maconha é a substância proibida por lei mais usada em nosso país. Um em cada dez adolescentes usuários de maconha é dependente da droga. O uso da maconha muitas vezes começa a ser associado a várias situações pelas quais o indivíduo passa, se ele está nervoso fuma; se está tenso fuma para relaxar, se sente depressivo fuma, se tem um problema fuma antes de pensar em tentar resolvê-lo e assim por diante, tornando assim cada vez mais dependente.


Crack
Se a experimentação ocorrer com a cocaína, em especial na forma de crack, o risco de o jovem tornar-se dependente é muito grande. Isso acontece porque, ao ser fumado, o crack atinge de maneira muito rápida, em 10 a 15 segundos, a circulação cerebral, produzindo efeitos intensos e fugazes que duram cerca de apenas 5 minutos. Tal efeito estimula o uso repetitivo da droga, o que provocará uma diminuição do prazer, obrigando o jovem a buscar a droga, muitas vezes de forma compulsiva. [5]

A sociedade de um modo geral, principalmente os adolescentes agradecerão hoje e no futuro por todas as ações de prevenção ao uso de drogas. Finalizo no aguardo da aprovação do projeto!

*Adriana Moraes - Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) - Especialista em Dependência Química – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).

Referências:
[1] Prevenção ao uso de álcool e drogas: o que cada um de nós pode e deve fazer? Um guia para pais, professores e profissionais que buscam um desenvolvimento saudável para crianças e adolescentes/ Organizadores, Alessandra Diehl, Neliana Buzi Figlie – Porto Alegre: Artmed, 2014.
[2] Cartilha – Seminário de Boas Práticas de Prevenção em Políticas sobre Drogas – Programa Recomeço Governo do Estado de São Paulo/2016.
[3]Dependência Química: prevenção, tratamento e políticas públicas / Alessandra Diehl – Daniel Cruz Cordeiro – Ronaldo Laranjeira - Porto Alegre: Artmed, 2011.
[4] http://www.uniad.org.br/images/stories/TCCS/TCC_ADRIANA.pdf
[5] O tratamento do usuário de crack - Marcelo Ribeiro, Ronaldo Laranjeira (Orgs) 2ª edição – Porto Alegre: Artmed, 2012.


segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Reflexão: Quase!

Quase


Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance; para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.

O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.

Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."
Fonte:(Autorizado por www.rivalcir.com.br)

Viciados em metanfetaminas: livro diz que nazistas eram movidos a drogas


 


UOL - Notícias
The New York Times - David Segal
Diante da quantidade imensa de livros já dedicados aos nazistas e Hitler, seria possível presumir que tudo de interessante, terrível e bizarro já seja de conhecimento sobre um dos regimes mais notórios da história e seu líder genocida. Mas então surge Norman Ohler, um romancista de fala mansa de 46 anos de Berlim, que remexeu os arquivos militares e encontrou este fato surpreendente: o Terceiro Reich era movido a drogas.

Na verdade, todo tipo de drogas e em quantidades assombrosas, como Ohler documenta em "Blitzed: Drugs in Nazi Germany" (algo como "Drogados: Drogas na Alemanha Nazista", em tradução livre, ainda não lançado no Brasil), um best-seller na Alemanha e no Reino Unido que será publicado em abril nos Estados Unidos, pela editora Houghton Mifflin Harcourt. Ele esteve em Nova York e se sentou para uma entrevista, antes de fazer uma palestra em um loft no East Village, perto da faculdade Cooper Union.

"Trata-se na verdade de meu antigo bairro", ele disse, enquanto bebia um suco de uva em um sofá. "Eu morei aqui enquanto escrevia meu primeiro romance, uma história de detetive."

Ohler fez uso de seu interesse por investigação durante os cinco anos que precisou para pesquisar e escrever "Blitzed". Por meio de entrevistas e documentos que não foram estudados cuidadosamente antes, ele descobriu novos detalhes sobre como era fornecido regularmente aos soldados da Wehrmacht metanfetamina de uma qualidade que daria inveja a Walter White, do seriado "Breaking Bad: A Química do Mal". Milhões de doses, embaladas como pílulas, eram tomadas nos combates ao longo de toda a guerra, parte de uma campanha contra a fadiga, direto da fábrica para o fronte, aprovada oficialmente.

Assim como a ressaca ocorre após o efeito das drogas, essa estratégia farmacológica funcionou por algum tempo (ela foi crucial para a invasão turbinada e derrota da França em 1940) e depois não, mais notadamente quando os nazistas ficaram atolados na União Soviética. Mas o retrato mais vívido do abuso e abstinência em "Blitzed" é o de Hitler, que por anos recebeu por seu médico pessoal doses injetadas de poderosos opiáceos, como o Eukodal, uma marca de oxicodona que já foi avaliada por William S. Burroughs como "realmente horrível". Por alguns poucos meses sem dúvida eufóricos, Hitler também recebias doses de cocaína de alto grau, uma combinação de sedação e estímulo que Ohler compara a um "speedball clássico".

"Há todas essas histórias sobre líderes do partido vindo para se queixarem de suas cidades bombardeadas", disse Ohler, "e Hitler apenas dizia: ´Vamos vencer. Essas perdas nos deixam mais fortes`. E os líderes diziam: ´Ele sabe de algo que não sabemos. Ele provavelmente conta com uma arma milagrosa.` Ele não tinha uma arma milagrosa. Ele tinha uma droga milagrosa, para fazer com que todos pensassem que ele tinha uma arma milagrosa."

Magro e ossudo, Ohler transmite discretamente o humor mordaz que ocasionalmente vem à tona em seu livro. "Blitzed", ele explicou, nasceu quando um amigo de Berlim, que é DJ e fã de substâncias que alteram a percepção, perguntou: "Você sabia que os nazistas se enchiam de drogas?" Enquanto crescia em Munique, o amigo ouviu sobre o uso de metanfetamina na guerra por ex-soldados.

Fora um documentário sobre o assunto, Ohler encontrou pouca informação online. Então ele contatou um acadêmico do documentário, que forneceu dicas valiosas sobre como pesquisar nos arquivos militares, que não eram indexados para buscas sobre "drogas". Inicialmente, o resultado de sua pesquisa era destinado para um quarto romance, mas seu editor lhe disse que a história era louca demais para ficção. Ele foi aconselhado a contá-la de modo direto.

A história pode ser uma disciplina traiçoeira para neófitos, mas alguns profissionais deram altas notas ao exaustivamente pesquisado "Blitzed", que conta com meticulosas notas de rodapé. O renomado biógrafo de Hitler, Ian Kershaw, o chamou de "trabalho acadêmico sério". E apesar de elementos dessa história já terem sido contados, a extensão do consumo de narcóticos pelos soldados nazistas e por Hitler surpreendeu até mesmo aqueles que passaram décadas pesquisando essa época.
Como isso é possível?
Corbis


"É um dos velhos problemas da especialização", disse Antony Beevor, autor de vários livros altamente respeitados sobre a Segunda Guerra Mundial. "Nenhum historiador sabe muito sobre drogas. Quando alguém de fora vem com mente aberta e interesses diferentes, os resultados podem ser fantásticos e muito esclarecedores."

O fascínio de Ohler por drogas vem de uma experiência pessoal. Quando tinha 20 e poucos anos e estava visitando Nova York, ele tomou um ácido e alucinou um distúrbio racial em plena escala na Segunda Avenida.

E ele fez outras viagens?
"Sim", ele disse.

"Blitzed" começa com o sucesso dos alemães no século 19 como preeminentes inventores, fabricantes e exportadores de drogas mundiais, indo desde o benigno (aspirina) ao infame (heroína). Uma dessas drogas foi a metanfetamina, que era inicialmente comercializada livremente nas farmácias ao público alemão como estimulante para todas as finalidades, desde o combate à depressão até febre do feno.

Tubos vermelhos, brancos e azuis de pílulas, vendidos sob o nome comercial de Pervitin, chamaram a atenção de um médico da Academia de Medicina Militar em Berlim, que supervisionaria a logística do fornecimento de milhões de pílulas às tropas. Os soldados alterados corriam incansavelmente pelas Ardenas no início da guerra, um desempenho adrenalizado que deixou Winston Churchill "estupefato", como ele escreveu em suas memórias. Um general alemão se gabou posteriormente de que seus homens permaneceram acordados por 17 dias consecutivos.

"Acho que isso é um exagero", disse Ohler, "mas a metanfetamina foi crucial naquela campanha".

O outro foco de "Blitzed" é um homem há muito considerado um dos farsantes da era: Theodor Morell, o médico corpulento e arrogante que conquistou a confiança de Hitler em 1936, após curar uma dor de estômago que afligiu o Fuhrer por anos. Um oportunista e maestro com uma seringa, Morell respondia às exigências incessantes do Paciente A, como ele chama Hitler em suas anotações, com um regime cada vez maior de vitaminas injetáveis, hormônios e esteróides, que incluíam extratos de corações e fígados de animais. (Apesar da dieta de Hitler ser vegetariana, suas veias contavam uma história diferente.) A partir de meados de 1943, o coquetel passou a incluir quantidades generosas de opiáceos.

"Historiadores tentaram explicar os tremores que Hitler passou a exibir em 1945 dizendo que ele sofria de Parkinson", disse Ohler. "Eu não descartaria isso, mas não há prova. Eu acho que Hitler estava sofrendo de síndrome de abstinência."

Ohler acredita que o consumo de drogas por Hitler prolongou a guerra, ao estimular seus delírios. Mas "Blitzed" não aspira mudar nosso entendimento do Nacional Socialismo ou da psique de Hitler, mas sim acrescentar detalhes que fazem outros retratos parecerem incompletos.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas