terça-feira, 23 de maio de 2017

Bebida interfere na formação do sistema nervoso dos adolescentes


 


Até o fim da adolescência, o ideal é não ter contato com álcool
Foto: FILIPE ARAUJO/ESTADÃO

Até os 18 anos, qualquer substância psicotrópica pode comprometer a capacidade cognitiva, segundo especialista
Fábio de Castro, O Estado de S.Paulo

O uso de álcool pode atrapalhar o processo de formação do sistema nervoso dos adolescentes, reduzindo sua capacidade cognitiva na vida adulta, de acordo com a pesquisadora Zila Sanchez, do Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“Até os 18 anos, todo o sistema nervoso central do adolescente está em processo de formação e seu cérebro desenvolve novas conexões entre os neurônios. Qualquer substância psicotrópica pode atrapalhar essa formação, comprometendo a capacidade cognitiva da pessoa para o resto da vida”, disse Zila ao Estado.

Segundo ela, até o fim da adolescência, o ideal é não ter contato com álcool. “É um momento para evitar qualquer consumo. Para o adolescente não existe o conceito de ‘beber um pouco’. Ele ainda não desenvolveu tolerância e muitas vezes uma lata de cerveja já é suficiente para a intoxicação alcoólica”, afirmou a pesquisadora.

Zila explica que, por questões cerebrais e hormonais, o adolescente já tende a se expor a riscos. “Com o álcool, esse comportamento é exacerbado e aumenta muito a chance de sexo inseguro, exposição ao abuso sexual, agressão e violência.”
Fonte: Estadão


quinta-feira, 11 de maio de 2017

Em quais situações fica-se bêbado mais rápido?


 


Sirwat/Istock
Você já notou a diferença entre o grau de alcoolismo depois de beber a mesma quantidade de cerveja, por exemplo, em casa, com seu parceiro (a), e no bar, com um grande grupo de amigos?

Geralmente, quando se bebe entre amigos, a velocidade com a qual surge a sensação de ‘estar bêbado’ é maior do que quando se bebe sozinho ou com poucas pessoas.

Existe um fator científico que comprova essa hipótese.

A equipe de estudiosos da Universidade de Maryland escolheu o lagostim – crustáceo menor que uma lagosta e maior que um camarão – para explicar cientificamente a diferença entre as velocidades do primeiro sinal de bebedeira.

O lagostim é uma espécie suscetível ao álcool nas mesmas concentrações que os seres humanos.

Lagostim ajuda a explicar efeitos de uma bebedeira


Aksanayasiucheia/Istock

O trabalho científico, publicado pelo no Journal of Experimental Biology, consistiu em oferecer a um grupo de lagostins a quantidade equivalente de álcool encontrada em uma cerveja forte. Os resultados mostraram que os crustáceos ficavam mais embriagados quando socializavam com dezenas de outros lagostins, em comparação com aqueles que ficavam em isolamento.

Os cientistas acreditam que o ambiente social afeta os receptores em células nervosas de lagostins que respondem a neurotransmissores como a serotonina, alterando assim a forma como o álcool afeta o sistema nervoso.


Peopleimages/Istock

Segundo a pesquisa, os lagostins isolados demoraram 28 minutos para apresentarem sinais de que estavam bêbados, enquanto os animais que estavam em grupos levaram 20 minutos para demonstrarem o mesmo comportamento.

A descoberta pode ajudar a entender por que as pessoas têm reações tão diferentes ao consumo de álcool, por que algumas desenvolvem o alcoolismo e, consequentemente, encontrar tratamentos para quem sofre com o vício.
Escrito por Paulo Nobuo
Fonte: Vix


Estudo mostra aumento de locais usados para consumo de drogas


 


Cruzeiro do Sul - Sorocaba e Região
Larissa Pessoa

Fernanda*, 27 anos, bem vestida e usando uma correntinha de ouro no pescoço, deixa a filha de quatro anos na escola e segue para um ponto usado para o consumo de drogas na avenida Ulisses Guimarães. Junto de mais uma dezena de usuários, entre homens e mulheres, ela conta que vai até o local escondida da mãe que ainda não sabe da recaída da filha, usuária de crack desde os 17 anos. Para justificar o consumo de crack, ela resume: "É mais forte do que eu."

Para alimentar o vício, Fernanda, que está desempregada, chega a recorrer à prostituição. Conta que sente medo, mas o vício fala mais alto e diariamente ela vai até o local após deixar a filha na escola. A mulher conta que pensa em pedir ajuda para a mãe, que, segundo ela, nem imagina que as drogas voltaram a fazer parte de sua vida. "Meus pais me internaram algumas vezes e minha mãe acredita que eu parei mesmo", conta, chorando.

Fernanda é uma mulher bonita, casada com uma pessoa que também é usuária de crack, e teme começar a apresentar sintomas físicos causados pelo consumo da droga. "Não quero ficar parecendo uma caveira", confessa. Com algumas joias, ela conta que a gargantilha que usa é de ouro, mas que não tem coragem de trocar por crack pois o pingente simboliza sua filha.

Redutos para o consumo

A avenida Ulisses Guimarães é um dos 49 pontos utilizados por grupos para consumo e venda de drogas -- entre elas crack -- e bebidas alcoólicas existentes em Sorocaba. Os dados são baseados em um mapeamento realizado neste mês pela Comissão de Dependentes Químicos da Câmara Municipal de Sorocaba. Em 2013, em reportagem publicada pelo Cruzeiro do Sul, o mesmo estudo apontava dez locais usados por dependentes químicos.

O aumento de pontos de consumo de drogas apontado pelo mapeamento da Câmara Municipal tem diversos motivos, segundo o professor Marcos Roberto Vieira Garcia, do Departamento de Ciências Humanas e Educação do Campus Sorocaba da UFSCar e coordenador do Centro de Referência em Educação na Atenção ao Usuário de Drogas da Região de Sorocaba. Entre essas razões, o professor aponta a falta de políticas públicas voltadas aos dependentes químicos, o baixo custo dos entorpecentes e a força do crime organizado e do tráfico de drogas. "O crack é um derivado da cocaína e os dois são muito mais baratos hoje do que há 10 ou 15 anos."

O professor, porém, pondera sobre o estudo e afirma que é preciso avaliar os dados apresentados com cautela. "Tem que analisar como foi feito esse estudo e não tratar apenas dos números", afirma. Para o vereador Rodrigo Manga (DEM), autor do mapeamento e presidente da Comissão de Dependentes Químicos da Câmara de Sorocaba, o estudo evidencia a necessidade de oferecer um tratamento efetivo aos usuários, que não permita o retorno ao vício. "São necessárias ações pontuais para evitar o crescimento ainda maior do número de minicracolândias", defende o parlamentar.

Maconha, crack e cocaína

No mesmo ponto utilizado por Fernanda também estava Reginaldo*, 41, usuário de crack, cocaína, pinga e maconha. O vício surgiu aos 16 anos e, entre recuperações e recaídas, deixou a família para trás e hoje passa os dias sob efeito de drogas. Guilherme*, 37, também estava no terreno baldio na avenida Ulisses Guimarães e, sob efeito de maconha, relatou que a dependência do crack é muito forte. Para manter o vício já praticou assalto e por isso ficou preso por seis anos. Hoje, com a liberdade de volta, continua se sentindo em celas. "Quando vem a abstinência, a gente faz qualquer coisa. Hoje, para não roubar, eu vendo canetas."

Falta de perspectiva

A médica Vilma Carmona, afirma que os motivos que levam uma pessoa ao consumo de entorpecentes são diversos. "A gente entende que a droga é uma consequência de uma história de vida." Ela chama a atenção para a falta de entendimento da sociedade diante da dependência química, "pois as pessoas julgam o usuário como vagabundo e fraco, mas ninguém conhece a história de cada um e é isso que leva ao descontrole."

O professor Marcos Garcia destaca que a maioria dos usuários que fica nesses pontos de consumo são indivíduos em situação de alta vulnerabilidade social. "O desemprego, a falta de moradia, a falta de assistência de saúde, não ter acesso à educação de qualidade -- enfim, são todos agravantes que podem ter como destino o vício." Segundo o especialista, é preciso entender que não há uma solução rápida e 100% eficaz para o problema.

Pessoas de classes sociais mais abastadas, afirma Vilma, também podem se envolver com drogas e isso vem, igualmente, da vulnerabilidade causada por fatores como a falta de diálogo e atenção entre os familiares.

"Minicracolândias" 

Assim como a imprensa em geral, o vereador Manga intitula as áreas de tráfico e consumo de entorpecentes de "minicracolândias", em uma referência à área que concentra viciados na capital paulista. O uso desse termo, porém, é condenado por especialistas e pessoas que também trabalham com dependentes químicos. Para Garcia, coordenador do Centro de Referência em Educação na Atenção ao Usuário de Drogas da Região de Sorocaba, associar esses locais ao ponto de São Paulo soa de forma pejorativa e estereotipa o dependente. A psicóloga Marta Meirelles também destaca que o termo, que em tradução livre significa "minicidade do crack", desumaniza o usuário.

*Os nomes utilizados na reportagem são fictícios para que a identidade dos entrevistados seja preservada.

São 49 os pontos que concentram usuários

O estudo realizado pela Câmara Municipal aponta que Sorocaba tem pelo menos 49 pontos utilizados por grupos para consumo e venda de drogas, entre elas crack e bebidas alcoólicas. Atualmente, a zona norte é a região que concentra o maior número dessas áreas, com 18.

A região norte, que é a maior da cidade, conforme o levantamento, tem os locais mais críticos no Parque das Laranjeiras, com seis pontos de consumo e venda de entorpecentes. Na zona oeste foram diagnosticados dez locais utilizados para uso de substâncias ilícitas e álcool em vários bairros, entre eles o Jardim São Marcos e Júlio de Mesquita Filho, com quatro cada. A maior parte das áreas utilizadas pelos dependentes químicos se encontra próxima a escolas, parques e linhas férreas.

Conhecido ponto de concentração de pessoas em situação de rua, a região central também é uma localidade comum de consumo de drogas, principalmente nas imediações do terminal rodoviário da cidade. Na praça Castro Alves, conhecida com praça da Mãe Preta, assim como vários terrenos e calçadas ao longo da avenida Juscelino Kubistchek de Oliveira, é possível observar, mesmo durante o dia, pessoas se drogando. Há pontos também nas ruas Pandiá Calógeras, Santa Clara, Bernardo Guimarães e avenida Comendador Pereira Inácio, em frente à Etec Rubens de Faria e Souza. Nesta região, o total é de 11 locais.

As zonas leste e sul somam dez áreas de concentração de usuários de entorpecentes, entre eles, dois em Pinheiros, dois no Barcelona e dois na Vila Assis. Entre a Vila Zacarias e Vila Sabiá também há um ponto que já havia sido diagnosticado no levantamento feito em 2013 e segue sendo utilizado por dependentes e traficantes.

Abordagem

A Guarda Civil Municipal (GCM), de acordo com a Prefeitura de Sorocaba, desenvolve um trabalho de abordagem e prevenção ao tráfico e consumo de drogas. "Sempre que identificado um ponto ou concentração de usuários de drogas, a GCM, em conjunto com outros órgãos públicos, como a Polícia Militar, Secretaria de Igualdade e Assistência Social (Sias) e outros, realiza ações coercitivas e de orientação ao usuário, cabendo à Sias e ao serviço público de saúde o seu encaminhamento para tratamento e acompanhamento", informou o município. Em nota, a GCM se coloca à disposição da Câmara para avaliar cada área de consumo apontada e buscar soluções conjuntas.

Hoje Sorocaba conta com dois serviços especializados gratuitos. De acordo com a Secretaria de Saúde, os Caps AD III funcionam pelo sistema de porta aberta, ou seja, não é preciso agendar horário ou ter encaminhamento de outra unidade para ser atendido. Além dos Caps, o dependente químico também pode ser internado na clínica do Grupo de Apoio e Combate a Droga e Álcool Santo Antônio (Grasa), que conta com 30 vagas masculinas e 19 femininas, onde o tratamento dura até seis meses.

A coordenação de Saúde Mental do município informou que está sendo verificada a possibilidade de ampliar ações, com a tentativa de adesão do município ao Programa Recomeço, uma iniciativa do governo do Estado de São Paulo para ajudar os dependentes químicos.

Redução de danos é estratégia usada com dependentes que não aceitam tratamento

Marta Meirelles, que é psicóloga com especialização em dependência química, presidente e fundadora da Associação Pode Crer, destaca que a ONG trabalha com a chamada política de redução de danos, que é preconizada pelo Ministério da Saúde. De acordo com Marta, quando a pessoa não consegue ou não quer parar de usar drogas, é preciso tentar ao menos que o consumo do crack seja reduzido. "Não acreditamos na internação e sim na inclusão", diz.

A psicóloga trabalha com usuários de drogas há mais de 20 anos e destaca que é comum uma pessoa passar por muitas internações e voltar ao vício. Isso porque, afirma, após o tratamento, elas retomam a rotina que tinham antes e que dificilmente muda. A Associação Pode Crer também faz o trabalho de abordagem pelas ruas da região central visando a redução de danos, ou seja, oferecendo atividades e orientando os usuários.

Consultório na rua

Até 2015, Sorocaba contava com o programa Consultório na Rua, do governo federal, que consiste no atendimento móvel para dependentes químicos. Com o fim do contrato, porém, não houve renovação e o município deixou de oferecer o serviço. A médica Vilma Carmona coordenou o Consultório na Rua em Sorocaba e lembra que o tratamento ambulatorial tinha efetividade. A especialista avalia o suposto aumento no número de pontos de consumo de drogas como algo comportamental, pois, segundo ela, vícios sempre foram muito fortes, mas antes eram abafados e escondidos.

Marcos Roberto Vieira Garcia, da UFSCar, afirma que as abordagens até então realizadas pelo Consultório na Rua são essenciais para o dependente. Ele diz que, embora o Caps disponibilize atendimento para quem vai até a unidade, muitas pessoas não sabem ou não têm estímulo para ir até o local. "É preciso uma política de acompanhamento." Segundo Marcos, Sorocaba é um dos municípios que aderiram ao plano de enfrentamento ao crack, mas não coloca projetos voltados a esse assunto em prática.

O vereador Rodrigo Manga conta que levará ao prefeito José Crespo (DEM) a proposta de um Caps itinerante ou o retorno do Consultório na Rua, que convide o usuário em situação de rua a se tratar. "O grande problema é que quem está nas drogas precisa ser chamado para a cura. Dificilmente vai por conta própria buscar ajuda", diz o vereador. A Prefeitura de Sorocaba foi questionada sobre a implantação do programa e afirmou ter intenção de publicar um edital de chamamento no próximo semestre para a retomada do Consultório de Rua. 

sábado, 6 de maio de 2017

Mais que jogo da Baleia Azul, álcool provoca suicídio entre jovens


 


Jogo colocou assunto em pauta
Leia artigo do médico Arthur Guerra
Aumento do consumo de álcool está diretamente relacionado ao aumento de suicídios entre jovens Marcelo Camargo | Agência Brasil
ARTHUR GUERRA

A BALEIA AZUL, O SUICÍDIO E O ÁLCOOL ENTRE OS NOSSOS JOVENS

Há razões para que pais fiquem aflitos com o jogo da Baleia Azul, apesar de fake, e com a série “13 reasons why”, apesar de ficção. O suicídio cresce no mundo todo, principalmente entre os jovens na faixa etária de 15 a 29 anos. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio. São 800 mil pessoas, a cada ano, que tiram a própria vida no mundo. E para cada caso fatal há pelo menos outras 20 tentativas fracassadas.

A OMS reconhece o suicídio como uma prioridade de saúde pública. O primeiro relatório da organização sobre o assunto, “Prevenção do suicídio: um imperativo global”, publicado em 2014, incentiva os países a desenvolver ou reforçar estratégias de prevenção com abordagem multisetorial. Mas, segundo a organização, poucos países incluíram a prevenção ao suicídio entre suas prioridades de saúde e só 28 relatam possuir uma estratégia nacional para isso.

Um total de 1,3 milhão de pessoas de 15 a 29 anos morrem no mundo anualmente vítimas de causas evitáveis ou tratáveis, sendo a principal delas os acidentes de trânsito (11,6% do total). O suicídio fica em segundo lugar, responsável por 7,3% das mortes.

MORTES VIOLENTAS

A mortalidade é dividida em 2 grandes grupos: o das mortes naturais e o das violentas. Diferentemente das chamadas causas naturais, relacionadas à deterioração do organismo ou da saúde devido a doenças e/ou ao envelhecimento, as causas externas remetem a fatores independentes do organismo humano levando à morte do indivíduo.

As causas externas de mortalidade vêm crescendo de forma assustadora nas últimas décadas no Brasil: se, em 1980 representavam 6,7% do total de óbitos na faixa de 0 a 19 anos de idade, em 2013 a participação elevou-se de forma preocupante: atingiu o patamar de 29%. Tal é o peso das causas externas, que em 2013 foram responsáveis por 56,6%– acima da metade– do total de mortes na faixa de 1 a 19 anos de idade. No mesmo período, os acidentes de transporte passaram de 2% para 6,9% e os suicídios de 0,2% para 1,0%.

Na faixa dos 16 e 17 anos, segundo o Mapa da Violência 2015 – Adolescentes de 16 e 17 anos do Brasil, o crescimento dos acidentes de transporte no período 1980/2013 foi de 38,3%. A taxa de suicídios subiu de 2,8 por 100 mil para 4,1 nessa faixa etária: um aumento inquietante de 45,5%.

AÇÃO DE COMBATE

O suicídio é uma das condições prioritárias do mhGAP (Mental Health Gap Action Programme), programa de saúde mental da OMS, que fornece aos países orientação técnica baseada em evidências para ampliar a prestação de serviços e cuidados para transtornos mentais e de uso de substâncias. No Plano de Ação de Saúde Mental 2013-2020, os Estados-Membros da OMS se comprometeram a trabalhar o objetivo global de reduzir as taxas de suicídios dos países em 10% até 2020.

São duas as intervenções baseadas em evidências para abordar o suicídio, segundo o documento: restrição do acesso a métodos comuns de suicídio e prevenção e tratamento da depressão e dependência de álcool e drogas. Seja isoladamente ou em uma combinação de fatores, cerca de 2 terços de todas as pessoas que cometem suicídio sofrem de depressão ou alcoolismo.

O ÁLCOOL É O MAIOR PROMOTOR DO AUMENTO DE SUICÍDIOS E ACIDENTES DE TRÂNSITO

Será mera coincidência que o número de mortes violentas entre nossos jovens esteja subindo de forma assustadora enquanto a ingestão de álcool também se alastra entre eles? O uso de bebidas alcoólicas por menores de idade está relacionado ao maior número de óbitos de jovens do que todas as drogas ilegais somadas.

Mais de 40% das vítimas fatais de acidentes de trânsito ocorridos na cidade de São Paulo entre junho de 2014 e dezembro de 2015 haviam consumido álcool nas horas que antecederam a morte. Se considerados apenas os dados de motoristas e passageiros dos veículos –e excluídos, portanto, os dos pedestres atingidos– o índice chega a quase 60%, revela pesquisa realizada com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) na FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Os dados foram publicados esta semana na revista Addiction.

De acordo com o NIAAA (Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo), nos Estados Unidos a prevalência de acidentes automobilísticos fatais associados ao álcool entre jovens dos 16 aos 20 anos é mais do que o dobro da prevalência encontrada entre os maiores de 21 anos. O alcoolismo, particularmente na presença da depressão e de perturbações da personalidade, também pode aumentar o risco de suicídio. Em 90% dos casos de morte de crianças e adolescentes por suicídio, foi identificado como causa algum tipo de perturbação mental, sendo os diagnósticos mais comuns as perturbações do humor, perturbações da ansiedade, abuso de substâncias e perturbações comportamentais do funcionamento social.

Estudo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) em um pronto-socorro de Embu das Artes, na Grande São Paulo, constatou a ingestão de álcool até seis horas antes em 21% dos 80 casos de tentativa de suicídio atendidos.

O estudo “Uso Adolescente de Substância e Comportamento Suicida: Uma Revisão com Implicações para Pesquisa em Tratamento” explora a relação entre o uso de substâncias e o comportamento suicida em adolescentes, demonstrando que o uso de substâncias aumenta o risco de comportamentos suicidas, sendo que os adolescentes suicidas apresentavam elevadas taxas de uso de álcool e drogas ilícitas.

Entre os adolescentes de 16 anos e mais velhos, o álcool e o abuso de substâncias aumentam significativamente o risco de suicídio em tempos de sofrimento, segundo a cartilha anual de recomendação para a prevenção do suicídio da OMS. O álcool aumenta a impulsividade e, com isso, o risco de suicídio, de acordo com o manual de prevenção do suicídio para profissionais das equipes de saúde mental do Ministério da Saúde.

O consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes compromete o sistema nervoso central (SNC), que ainda se encontra em desenvolvimento. Desta maneira, suas vias neuronais podem se tornar mais suscetíveis aos danos causados pelo álcool, podendo levar ao comprometimento de várias funções. Sob os efeitos do álcool, os jovens ficam mais propensos a comportamentos de risco –incluindo brigas, sexo desprotegido ou não consensual, acidentes automobilísticos e suicídio.

Dados da PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar) de 2015 realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostram que, entre alunos de 13 a 15 anos, a experimentação de álcool subiu de 50,3% em 2012 para 55,5% em 2015. Além disso, 21,4% desses adolescentes relataram já terem sofrido algum episódio de embriaguez na vida. A pesquisa mostrou também que meninas dessa faixa etária estão bebendo mais que os meninos, sendo que a taxa de experimentação de álcool é maior entre elas (56,1% vs. 54,8%) e também o uso de álcool nos últimos 30 dias (25,1% vs. 22,5%).

Em 2016, o Erica (Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes) avaliou 74.589 adolescentes de 1.247 escolas em 124 municípios brasileiros. Cerca de 20% dos adolescentes consumiram bebidas alcoólicas pelo menos uma vez nos últimos 30 dias e, desses, aproximadamente 2/3 o fizeram em uma ou duas ocasiões no período. Entre os adolescentes que consumiam bebidas alcoólicas, 24,1% beberam pela primeira vez antes de 12 anos de idade.

Seja fake ou ficção, agradeço à baleia azul e à Hannah Baker por nos fazerem discutir o que realmente tem nos arrancado a vida de tantos jovens.
Fonte: Poder 360

Maconha: a diferença entre o remédio e o veneno


 


(imagem ilustração)
VEJA - Blog Letra de Médico
Ronaldo Laranjeira
A maconha possui mais de 500 elementos. Dentre eles, dois, o canabidiol e o THC têm efeitos terapêuticos e, na medida certa, podem beneficiar a saúde

Cannabis: Pesquisadores encontram possível ligação genética entre uso da droga e esquizofrenia (Reuters/VEJA/VEJA)

Você consumiria um produto com mais de 500 substâncias, muitas delas nocivas, para usufruir dos benefícios à saúde proporcionados por uma ou duas presentes em sua composição? Provavelmente não, afinal, faz sentido tratar um problema de saúde e ganhar tantos outros?

Mas, e se fosse possível extrair essas substâncias e sintetizá-las para fins medicinais? Você teria dúvidas? De novo, provavelmente não, afinal, esse consumo, de uma hora para outra, se tornou mais seguro.

Usei este exemplo para ilustrar, usando apenas a lógica, a questão de drogas como a maconha. Sempre afirmo que existe uma enorme diferença entre o ato de fumar a droga e o uso terapêutico de uma substância presente em sua composição. Realmente, a Cannabis sativa, planta que dá origem à maconha, possui mais de 500 elementos. Dentre eles podemos destacar dois – o canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol, o conhecido THC.

CBD e THC

Como inclusive já apontei aqui na coluna, várias pesquisas demonstraram os efeitos nocivos provocados ao nosso corpo pelo THC, uma substância que, apesar ter aspectos terapêuticos em pacientes com glaucoma, no tratamento de espasticidade e náuseas ocasionadas por quimioterapia, é viciante, afeta os sistemas nervoso central e vascular, e chega a dobrar o risco de desenvolvimento de doenças psíquicas, como esquizofrenia e até psicose.

Do outro lado, na mesma planta está presente uma substância que combate os efeitos do THC, o canabidiol. Ele atua justamente na diminuição de efeitos psicóticos, de ansiedade, dentre outros, provocados pelo THC. Tanto que os medicamentos aprovados até o momento para comercialização contendo THC, como para tratamento de esclerose múltipla, também têm em sua composição o canabidiol.

Diversas pesquisas realizadas a partir dos anos 1970 conseguiram demonstrar os efeitos positivos do CBD, como anticonvulsivo inclusive, sendo que, no Brasil (um país com pesquisadores pioneiros na área como Elisaldo Carlini, Antonio Waldo Zuardi e José Alexandre de Souza Crippa), os estudos continuam a ser realizados, na tentativa de provar sua eficácia no tratamento de doenças como esquizofrenia, epilepsia, Parkinson, Alzheimer e até autismo. Dados obtidos até então indicam que a substância não tem efeito alucinógeno, nem provoca dependência, ao contrário do tetrahidrocanabinol.

Inclusive, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já incluiu, em 2016, derivados de canabidiol na lista de substâncias psicotrópicas vendidas no Brasil, em medicamentos tarja preta, com a necessidade de receitas específicas. A Anvisa autoriza também, mediante certas condições, a importação de CBD para casos de epilepsia refratária, que apresentem resistência a medicamentos convencionais.

A maconha possui sim elementos com efeito medicinal. Porém, fumar a droga, pura e simplesmente, provoca mais um efeito alucinógeno e prejudicial do que terapêutico.

Pense no caso de medicamentos para a pressão ou para tratamento doenças cardíacas, elaborados a partir de substâncias provenientes de venenos de cobras (sim, eles existem). O veneno é receitado? Lógico que não, apenas um remédio criado a partir de substâncias presentes nele. E anestésicos que têm elementos extraídos do ópio? Se seguirmos o raciocínio dos que defendem a legalização da maconha para uso medicinal, teríamos então que legalizar também esta droga para consumo. Não faz sentido. Nenhum outro produto é usado in natura – existe uma ordem que precisa ser respeitada, para a segurança da população. O produto tem que ser sintetizado, passar por testes, enfim, até ser aprovado como um medicamento seguro.

Nesse contexto, é muito importante analisar também questões financeiras, de mercado, que influenciam decisões políticas. O canabidiol é um composto não patenteável, assim, o interesse de grandes empresas em realizar pesquisas que demonstrem seus efeitos é menor do que em outras situações, já que, após ser aprovado para produção e comercialização não será possível ter sua patente exclusiva. Resumindo – será um produto com grande concorrência no mercado. Inclusive, por isso que a maioria das pesquisas na área hoje é realizada em centros acadêmicos.

O exemplo americano

Porém, grandes investidores (com base no que acontece nos Estados Unidos principalmente) vêem a simples legalização da maconha como uma rápida e incrível oportunidade de lucro, bilionário por sinal. Por quê? O mercado americano nos fornece essa explicação, vendendo desde a droga para fumo até doces de maconha, que possuem grande apelo, inclusive para crianças.

Não à toa, ocorreu um forte investimento em lobby em estados e no congresso americano, visando a legalização da droga para comercialização, se aproveitando até de uma visão ingênua de parte da opinião pública, que ainda acredita na história de que o famoso “baseado” é leve, não faz mal. Tanto que o uso da “maconha medicinal” em diversos locais nos Estados Unidos não foi aprovado por médicos e sim por meio de plebiscito.

O que colaborou para a criação dessa imagem, e que poucos sabem, é o fato da concentração de THC na maconha ter sido de 0,5%, em média, na década de 1960, por exemplo. Com o tempo e modificação da droga, esses níveis foram subindo, podendo chegar a até 30% hoje. Na prática, estamos falando de outra droga, modificada, muito mais potente e perigosa, presente até em produtos comestíveis. Tendo em vista os altos riscos sociais e em termos de saúde pública que a medida apresenta, os Estados Unidos se mostram não como um exemplo a ser seguido, e sim evitado.

Com todo esse contexto em mente, pense bem nessa questão. O que é melhor para a saúde da população: a simples liberação do consumo de uma droga, que provoca dependência e diversos outros males, ou a pesquisa e extração de substâncias com poder terapêutico, para serem disponibilizadas como medicamentos? A medicina nos mostra que resposta é mais simples do que parece.
por Dr. Ronaldo Laranjeira 

terça-feira, 2 de maio de 2017

Os riscos da Maconha em grávidas


 


Jornal O Estado de S. Paulo
Índice alto de consumo de maconha no início da gravidez pode ser um indicador de que a droga está sendo usada pelas garotas para aliviar a náusea
Jairo Bouer
(imagem reprodução)

Garotas grávidas têm duas vezes mais chance de fumar maconha do que as demais adolescentes. Essa é uma das principais conclusões de um grande levantamento sobre consumo de drogas divulgado na última semana.

Pesquisadores do Instituto Nacional de Abuso de Drogas (NIDA), dos EUA, analisaram dados de 410 mil mulheres de 12 a 44 anos, de 2002 a 2015. Segundo eles, 14% das grávidas de 12 a 17 anos fumam maconha, enquanto entre as garotas que não engravidaram esse índice é de 6%. Em contrapartida, gestantes mais velhas têm metade da chance de fumar maconha do que as mulheres que não estão grávidas. As informações são do jornal inglês Daily Mail.

Entre as mulheres de 12 a 44 anos, 6% relataram ter usado maconha no primeiro trimestre de gravidez, 3% no segundo trimestre e 2% no trimestre final da gestação. Para os especialistas, no grupo das garotas grávidas, em que praticamente uma em cada sete consome maconha, há uma percepção peculiar dos efeitos da droga. Além de ter um perfil mais “inocente”, ela é considerada até benéfica para a saúde. Já entre as mulheres mais velhas esse fenômeno não aconteceria, o que faz com que elas tenham menos comportamentos de risco em relação à maconha, principalmente durante a gestação.

O índice mais alto de consumo de maconha no início da gravidez pode ser um indicador de que a droga está sendo usada pelas garotas para aliviar a náusea. Bom lembrar que o uso de qualquer droga, até mesmo a maconha, durante a gravidez, é um fator de risco para o desenvolvimento físico e neurológico da criança, principalmente quando esse uso acontece no primeiro trimestre da gestação.

O trabalho publicado no periódico Annals of Internal Medicineencontrou 14 mil mulheres grávidas no universo das mais de 400 mil avaliadas. Embora as taxas de gestação na adolescência estejam caindo nos Estados Unidos nos últimos anos, o consumo de maconha nessa fase da vida, além dos riscos para o feto, é preocupante porque pode trazer complicações e impactos para a saúde e o comportamento das jovens mães, que estão com suas redes de neurônios ainda em fase intensa de remodelamento e ajustes.

Para os especialistas, muitas dessas meninas fumam maconha porque ainda não sabem que estão grávidas. Uma vez informadas dos riscos para a gestação, a tendência é que consumam menos a droga. Por isso, é importante trabalhar esse tema durante o pré-natal.

Estudos anteriores já haviam ligado o consumo de álcool e outras drogas a um maior número de parceiros sexuais e maior risco de gravidez, mas esse trabalho trouxe novos dados, mais específicos, sobre o impacto da maconha.

Beber e guiar. Por falar em álcool, aqui no Brasil, dados divulgados na última semana pelo Ministério da Saúde revelam que o número de homens que dirigem depois de beber voltou a aumentar, alcançando quase 13%. Os dados fazem parte da pesquisa Vigitel de 2016 (inquérito sobre saúde realizado por telefone). Já entre as mulheres esse índice é de 2,5%. O valor indica um padrão de maior risco em relação ao álcool por parte da população masculina, o que não é exatamente uma novidade.

Em 2013, um ano depois da Lei Seca, os números do “beber e guiar” para os homens tinham caído para 9,4% e, para as mulheres, 1,6%. As informações são de Lígia Formenti, do Estado. Os dados das pesquisas indicam que é importante investir mais e melhor em prevenção.
Jairo Bouer - Psiquiatra

Os perigos da droga em forma de doce


 


Drogas em forma de doces são cada vez mais comuns, apesar de ilegais
Foto: Leo Motta/Folha de Pernambuco

Folha de Pernambuco
É cada vez mais comum a venda de brigadeiros, biscoitos e brownies feitos com maconha nas ruas do Recife. Especialistas alertam para o risco à saúde no consumo desses produtos, considerados ilegais pela polícia
Por: Folha de Pernambuco

Elas parecem deliciosas guloseimas. O recheio, porém, pode dar uma “onda” nada agradável ao organismo, além de sua posse e consumo serem considerados ilegais. Os riscos da ingestão de doces à base de maconha, alertam especialistas, vão desde problemas de digestão, descontrole das funções cerebrais a alucinações.

Nas ruas do Recife tem sido cada vez mais comum a venda de alimentos artesanais, como brownies e brigadeiros, tendo a droga como ingrediente principal. A comercialização dos chamados “brisadeiros” ou “brigajah”, feita ao ar livre, é frequente em bares, em portas de casas de show ou qualquer outro local com grande aglomeração de pessoas. A situação reflete, para a população, a necessidade de uma fiscalização para coibir a prática.

Na avaliação do mestre em Ciência e Tecnologia de Alimento pela UFRPE e especialista em gastronomia alternativa, Rodrigo Rossetti, a situação pode soar como uma brincadeira inocente, mas não é. Ele explicou que, ao ingerir a maconha, a pessoa expõe o organismo a altos níveis de THC (tetra-hidrocanabinol), componente da planta responsável por seus efeitos. “Dependendo do metabolismo, a intoxicação pode durar dias. E não é só isso. Problemas a longo prazo também podem ocorrer. Comendo ou fumando, o THC ataca os neurônios. Na fase adulta, eles não se renovam e, com o passar do tempo, a capacidade de resposta rápida é perdida”, diz.

O perigo é potencializado quando não se sabe a procedência da droga. “Muitas vêm misturadas com outras drogas, como o crack. Nem a pessoa que fabrica tem real conhecimento sobre o processo. As pessoas comem sem ter ideia do mal que estão fazendo a si mesmas”, alerta, acrescentando que, ao comprar, elas contribuem indiretamente com o tráfico.

A produtora musical M.B.L., de 26 anos, porém, contesta. Para ela, a liberação da erva enfraqueceria o tráfico. “Temos de ressaltar que o combate às drogas tem de ser inteligente. Você não vai acabar com tráfico só com repressão. Por isso, se você legalizar a maconha, certamente iria enfraquecer o tráfico e, consequentemente, reduzir o poder econômico dos traficantes. Não é preciso esse tabu ao falar da erva, se ela mesma é usada para fins medicinais”, pondera. O estudante D.M, 32, faz coro à versão. “É um tema tratado com repressão em vez de ser desmistificado. Outros países estão bem à frente”, critica.

Manteiga verde

A aparência dos doces de maconha é a mesma das guloseimas que as pessoas estão acostumadas a ver em balcões de padaria. A diferença está no sabor, afirmam os consumidores. A substância responsável pelos efeitos da droga é associada a algum tipo de gordura, como a manteiga. Durante o preparo, é essa mistura a responsável pelos efeitos. Procurada, a Polícia Militar informou por meio de nota que a “venda de maconha é crime e, como tal, está passível das punições previstas na lei. No entanto, não há uma linha de investigação específica para essa modalidade de tráfico. Em caso de flagrante, a PM detém o acusado e o encaminha à Polícia Civil”.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas