segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Álcool: da prevenção ao tratamento


 

Por Arthur Guerra de Andrade
Psiquiatra e Presidente Executivo do CISA

O consumo de álcool faz parte da cultura humana há milhares de anos, muito atrelado a relações de socialização e não costuma causar problemas para a maioria dos consumidores. Inclusive, pode até levar a potenciais benefícios para o sistema cardiovascular, quando consumido de forma leve a moderada. Entretanto, não podemos relevar o fato de que uma minoria das pessoas desenvolve situações graves, cujos danos para a saúde individual, coletiva e econômica são expressivos. Portanto, é importante nos atentarmos a este tema, tanto em termos de prevenção como tratamento – e para isso a informação é ferramenta essencial.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não existe um limite considerado seguro para consumo de álcool. Os riscos de problemas de saúde aumentam especialmente se o indivíduo bebe mais de 2 doses* por dia e não deixa de beber ao menos 2 dias na semana. Alguns adultos, mesmo com consumo moderado, estarão mais vulneráveis aos problemas decorrentes do beber ao longo da vida, assim como algumas pessoas em situações nas quais o álcool pode ser prejudicial em qualquer quantidade – por exemplo, menores de 18 anos, gestantes, quem pretende dirigir ou quem faz uso de medicamentos que interagem com o álcool.

O Brasil tem avançado bastante em termos de prevenção – a exemplo da Lei nº 13.106/2015, que tornou crime vender ou entregar bebidas alcoólicas a crianças ou adolescentes, e as mudanças na legislação sobre álcool e direção somadas à fiscalização da chamada “Lei Seca” (Lei nº 12.760/2012). Além de estabelecer tolerância zero para o consumo de álcool por motoristas em todo país, aumentou a punição e ampliou as possibilidades de provas para a infração.

Em relação à dependência de álcool (alcoolismo), é importante esclarecer que é uma doença crônica e multifatorial; isso significa que diversos fatores contribuem para o seu desenvolvimento, incluindo a quantidade e frequência de uso do álcool, a condição de saúde do indivíduo e fatores genéticos, psicossociais e ambientais.

Dados divulgados pela OMS indicam que, em 2010, 5,6% da população brasileira apresentava algum transtorno relacionado ao uso de álcool e 2,8%, dependência. Alguns de seus sintomas podem ser: forte desejo de beber, perda do controle, uso continuado apesar das consequências negativas, maior prioridade dada ao uso da substância em detrimento de outras atividades e obrigações, tolerância (necessidade de doses maiores de álcool para atingir o mesmo efeito anterior) e abstinência (sudorese, tremores e ansiedade quando a pessoa para de beber).

A dependência do álcool causa grande impacto na vida do indivíduo e também daqueles que estão ao seu redor. A família, em especial, é peça-chave tanto na prevenção do uso nocivo, como nos casos em que o problema já está instalado. Inclusive, não são poucas as vezes em que o tratamento inicia-se pela família, principalmente porque o indivíduo não aceita seu problema, não reconhece que o uso de bebidas alcoólicas lhe traz prejuízos ou está desmotivado para buscar ajuda.

Felizmente, a maioria das pessoas com transtornos por uso de álcool que busca tratamento é capaz de reduzir ou até cessar seu consumo. Ainda, estima-se que um terço das pessoas não apresenta sintomas após um ano em tratamento. Entender as opções disponíveis, como terapias comportamentais e medicamentosas, é o primeiro passo e a adesão ao método de escolha será fundamental. No Brasil, os mais conhecidos tratamentos gratuitos especializados são os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD) e Hospitais públicos e conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

De maneira geral, estamos construindo ferramentas para prevenir o uso nocivo do álcool e temos linhas de tratamento cada vez mais eficazes. Contudo, é importante frisar que nenhuma ação isolada ou a implementação de novas leis poderá resolver este sério problema enquanto a população também não se envolver e apoiar. Somente com um trabalho em conjunto, que contemple governantes, pais e familiares, profissionais da saúde, academia, educadores, instituições privadas e a sociedade como um todo, poderemos nos aproximar de uma solução eficaz para este desafio que permeia o Brasil e o mundo.

* Uma dose padrão contém aproximadamente de 10 g a 12 g de álcool puro, o equivalente a uma lata de cerveja (330 ml) ou uma dose de destilados (30 ml) ou ainda a uma taça de vinho (100 ml).
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool 

Crack: Como acabar com essa epidemia que devasta o país


 


VEJA
Blog Letra de Médico - Por: Ronaldo Laranjeira
(Foto: Ivan Pacheco)
É seguro dizer que o problema do crack não está mais localizado apenas em grandes centros. Na verdade, o consumo crescente de drogas em municípios de todos os portes é um fenômeno registrado pelo mundo. Apesar de não ser uma exclusividade brasileira, há aproximadamente uma década o país vivencia um estrondoso aumento de pontos de vendas de drogas, sendo cada vez mais comuns as notícias de aumento do consumo, ou de apreensões, em seu território, inclusive no interior.

Recentemente, virou notícia o fato de o número de apreensões de crack ter aumentado 206% na região de Jundiaí, em São Paulo, nos sete primeiros meses de 2016, em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo a Delegacia Seccional local. No fim de agosto, um grupo de quatro pessoas foi preso em flagrante na cidade de Jaú, também em São Paulo, com 496 pedras de crack e até uma pedra bruta da droga, em um terminal rodoviário da cidade. Esses são apenas dois exemplos, de tantos que temos atualmente, que demonstram o alcance da enorme rede de distribuição de substâncias psicoativas existente no Brasil. Diversos fatores contribuem para isso, entre eles o fato de sermos vizinhos de países produtores de cocaína, além do baixo preço do crack traficado em terras brasileiras.

Dados como esses nos mostram que, apesar das apreensões, aparentemente a maioria dos governantes ainda não se deu conta da gravidade da situação que vivemos. Claramente existe uma dificuldade dos diversos níveis de governo em criar e adotar políticas públicas efetivas, que englobem enfrentamento, prevenção e tratamento contra as drogas.

O problema começa na produção e entrada de entorpecentes em território nacional. Como dito anteriormente, estamos ao lado de grandes produtores de cocaína, como Peru, Colômbia e Bolívia. Caso não seja criada uma rigorosa política, que culmine em ações que impeçam a importação e o abastecimento da rede distribuição atual, a epidemia do consumo de drogas continuará. Para evitar tal situação, é necessária uma interface entre os governos federal, estaduais e municipais, articulando ações conjuntas de saúde, na área social e de segurança.

Além disso, é necessário considerar abordagens realistas, baseadas nas melhores evidências científicas disponíveis, humanas, que ofereceram tratamento adequado e eficaz contra a dependência, resultando em um atendimento de qualidade para o dependente químico e sua família, muito afetada pelo problema.

Um exemplo de iniciativa que adota tais medidas com sucesso é o programa Recomeço, realizado no Estado de São Paulo. O programa tem estruturada uma linha de cuidados que adota ações de baixa até alta complexidade, contando com linhas na lógica de redução de danos e uma rede de clínicas e comunidades terapêuticas, com cerca de 3 000 vagas pelo estado, para desintoxicação ou prestação de apoio social aos usuários de drogas e familiares, combinando ações de prevenção, assistência social e tratamento. Tendo tal fato em mente, oferecer uma estrutura de tratamento adequada (inexistente em grande parte do país hoje) por meio do Sistema Único de Saúde a todos é de extrema urgência. Para isso é fundamental o financiamento adequado por meio do Ministério da Saúde e dos governos estaduais e municipais, assim como a adoção de políticas de tratamento eficazes e o abandono de técnicas ultrapassadas de atendimento.

O caminho é longo, mas, investindo em educação e esclarecimento da população sobre o uso de drogas e na criação de uma estrutura de atenção social e de saúde, é possível mudar positivamente o panorama no que diz respeito à epidemia do consumo de drogas no Brasil.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas 


domingo, 25 de setembro de 2016

Droga que matou Prince é nova aposta de cartéis mexicanos


 


The New York Times
Prince morreu de uma overdose acidental de fentanil, droga 40 vezes mais potente que a heroína (Jamie Squire/Getty Images)

CIDADE DO MÉXICO — A droga que matou o músico Prince se tornou a menina dos olhos dos cartéis mexicanos por ser extremamente potente, popular nos Estados Unidos e imensamente lucrativa, segundo as autoridades americanas.

As autoridades policiais e alfandegárias dos Estados Unidos alertam que cartéis mexicanos estão usando seus próprios laboratórios para produzir essa droga, o fentanil, além de receberem carregamentos da China. Os cartéis então distribuem a substância através das suas vastas redes de contrabando, atendendo assim à crescente demanda americana por opiáceos e produtos farmacêuticos.

“É a nova migração dos cartéis em termos de obtenção de lucros”, disse Jack Riley, funcionário da DEA (agência antidrogas dos EUA). “Eles anteciparam isso.”

Não se sabe ao certo como Prince obtinha a droga que, segundo as autoridades, causou a overdose fatal sofrida por ele em abril. Os médicos podem prescrever o fentanil, um opiáceo sintético, para pacientes com câncer e para cuidados paliativos. Mas a presença de fentanil ilícito está crescendo a níveis inéditos desde 2006, quando uma série de mortes por overdose nos EUA foi vinculada a um único laboratório no México.

Autoridades dizem que a popularidade do fentanil entre os cartéis mexicanos segue um roteiro bem conhecido: a repressão ao uso indiscriminado de remédios vendidos sob receita fez disparar o preço de medicamentos como oxicodona, e os cartéis apostaram que usuários optariam pela heroína — mais barata, mais abundante e relativamente mais fácil de se conseguir.

Agora, o fentanil se tornou versão mais lucrativa — e letal — desse fenômeno. Um quilo de heroína comprado na Colômbia por US$ 6.000 pode ser vendido no atacado nos EUA a US$ 80 mil, segundo a DEA. Já um quilo de fentanil puro, adquirido na China por menos de US$ 5.000, é tão potente que pode render de 16 a 24 kg depois de “batizado” com substâncias como talco e cafeína. Cada quilo é então vendido no atacado pelos mesmos US$ 80 mil da heroína – gerando um lucro total próximo de US$ 1,6 milhão (R$ 5,6 milhões).

As autoridades mexicanas temem que seus colegas americanos estejam culpando o México apesar de disporem apenas de dados limitados sobre o tráfico de fentanil entre os dois países. Já houve, no entanto, apreensões notáveis dessa droga no México. Alguns meses atrás, agentes mexicanos descobriram 27 kg de fentanil – dosagem equivalente a quase uma tonelada de heroína – numa remota pista de pouso no Estado de Sinaloa. Os policiais também encontraram cerca de 19 mil comprimidos de fentanil manipulados para terem o aspecto da oxicodona. Dois homens detidos no local eram membros do Cartel de Sinaloa.

“Depois da apreensão de 2015, intensificamos os esforços entre todos os órgãos públicos”, disse o general Inocente Fermín Hernández, chefe do Centro Nacional de Planejamento, Análise e Informação para o Combate à Delinquência (Cenapi) do México. “Percebemos que precisamos tomar as medidas apropriadas para saber e investigar se estamos lidando com o fentanil cada vez que encontramos um laboratório.”

Sua potência, cerca de 40 vezes maior que a da heroína, fez do fentanil uma opção popular e uma aposta rentável para os traficantes. Vendida em formas menos puras, a droga pode ser 20 vezes mais lucrativa que a heroína.

Agentes de fronteira dos EUA apreenderam no ano passado 90 kg de opioides sintéticos, como o fentanil, segundo R. Gil Kerlikowske, comissário de Alfândegas e Proteção de Fronteiras do país. A quantidade parece pequena, mas em 2014, por exemplo, apenas 4 kg foram apreendidos.

As mortes por overdose cresceram: entre o final de 2013 e o final de 2014, mais de 700 americanos perderam a vida por causa de overdoses associadas ao fentanil.

O fentanil muitas vezes é misturado à heroína para intensificar sua potência. Ele também pode ser diluído e ingerido diretamente, em doses muito pequenas, equivalentes a alguns grãos de sal. Cada vez mais, no entanto, essa droga é oferecida na forma de falsos comprimidos de oxicodona.

Alguns especialistas apontam uma falta de dados concretos que comprovem o envolvimento dos cartéis. A maioria das apreensões de narcóticos no México ainda consiste principalmente de heroína, cocaína e metanfetaminas.

Agentes antidrogas dizem que a distribuição do fentanil espelha os padrões usados pelos cartéis para outros produtos, como heroína. Segundo Riley, uma gangue de rua de Chicago, a Gangster Disciples, que distribui drogas para cartéis na cidade, espalha o fentanil no mercado, chegando a New Hampshire.

Mas Hernández disse que, até onde o governo mexicano sabe, houve apenas quatro episódios envolvendo o fentanil no país na última década. Segundo ele, porém, a procura por essa droga é nova, e sua prevalência provavelmente é pouco detectada.
O fentanil, geralmente apresentado na forma de um pó branco, pode ser introduzido por contato com a pele. Dada a sua potência, pode causar uma overdose apenas pelo toque, especialmente no caso de não usuários.

Hernández disse não haver registro de morte de mexicanos por overdose de fentanil. Mas ele observou que o México é mais frequentemente um fornecedor de drogas do que um usuário.
“O fentanil é muito difícil de detectar à primeira vista”, disse. “Nem todo mundo é capaz de reconhecê-lo.”
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas 

Crimes por drogas representam 64% das prisões de mulheres

   

 


O GLOBO
Crescimento do número de prisões entre elas é maior que entre homens
POR CAROLINA BRÍGIDO

Jovem presa no Talavera Bruce, em Bangu, tentou entrar com drogas na cadeia - Márcia Foletto / Agência O Globo

BRASÍLIA – No Brasil, a probabilidade de uma mulher presa ter ido para a cadeia por crime relacionado a drogas é 2,46 vezes maior do que entre os homens encarcerados. Em 2014, 64% das mulheres presas estavam nessa situação pela prática de crimes de drogas – como o tráfico ou o estoque de substâncias ilícitas. Entre os homens, a taxa era de 26%. Entre os presos dos dois gêneros, aumentou a ocorrência de crimes relacionados a drogas. Em 2005, 49% das condenações que resultaram em mulheres presas eram referentes a crimes de drogas. Para os homens, o índice era de 13% em 2005.

A conclusão está em uma pesquisa do Instituto Igarapé, que fez uma análise dos números do Sistema Integrado de Informação Penitenciária (Infopen), do Ministério da Justiça. Entre outras atividades, o instituto monitora o andamento na América Latina na introdução de políticas de drogas alternativas. Os dados serão divulgados em um evento em São Paulo na próxima semana.

O mesmo estudo mostra que, ao completar dez anos, a Lei de Drogas deixou de cumprir um de seus principais objetivos, que era o de diminuir a quantidade de prisões por esse tipo de crime. Em 2006, quando a lei passou a vigorar, 15% dos crimes cometidos no país e que resultaram em prisão eram referentes a drogas. Em 2014, esse índice saltou para 28%. Entre 2005 e 2014, a taxa de crescimento anual média da população carcerária que cometeu crime relacionado a drogas foi de 18,1%. Quando analisados os demais crimes, essa taxa é de 7,8%.

Para a pesquisadora Ana Paula Pellegrino, do Instituto Igarapé, a Lei de Drogas trouxe avanço ao mudar o tratamento dispensado a usuários, que antes podiam ser condenados à prisão e hoje são sentenciados a, no máximo, realizar serviços comunitários.

— Mas o que vimos nesses últimos 10 anos é que isto não foi o suficiente. Passada essa década, podemos identificar faltas importantes. A principal delas é o fato de o uso de drogas ainda ser considerado crime no Brasil. Isso tem funcionado como entrave ao acesso a serviços de saúde por quem deles precisa — avalia Ana Paula.

De um modo geral, o crescimento do número de prisões entre as mulheres é maior que entre homens, independente do tipo de crime cometido. Entre 2005 e 2014, a população carcerária aumentou 6,1% no Brasil. A taxa de aumento das mulheres é de 6,8% por ano, em média. A dos homens é de 6%. O aumento da população carcerária, em especial a feminina, incomoda a ministra Cármen Lúcia, que assumiu, na semana passada, a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). À frente dos órgãos, ela quer priorizar a atenção às mulheres presas.

PRESIDENTE DO STF PEDIU PRIORIDADE A GOVERNADORES

Na última terça-feira, em reunião com os 27 governadores, Cármen pediu a todos eles que priorizem a construção de centros de referência à mulher no sistema prisional de cada estado. Todos os governadores se comprometeram com a ministra. Os centros são uma forma diferenciada de abrigar as detentas grávidas ou com filhos pequenos, nos moldes da instituição que hoje funciona em Belo Horizonte.

A partir do sexto mês, as grávidas presas são transferidas para o local, que oferece tratamento médico adequado e celas sem grades. Elas podem ficar na instituição até a criança completar um ano, quando a mãe volta para a prisão tradicional e a guarda da criança é transferida para outros familiares.

Hoje, muitas prisões não têm área separada para essas pessoas, o que resulta na criação dos filhos das presas no ambiente prisional clássico brasileiro, com direito a todas as mazelas. Na reunião, a ministra chegou a comparar a situação das crianças nascidas na prisão à escravidão. Disse que era como se não tivesse sido sancionada no país a Lei do Ventre Livre.

Muitas prisões podem ser evitadas no futuro, a depender de um julgamento que foi suspenso no STF em setembro. Na ocasião, três dos onze ministros já tinham votado pela liberação do porte de maconha para uso pessoal: Gilmar Mendes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso. Os três declararam inconstitucional o artigo 28 da Lei de Drogas, que considera criminoso quem adquire, guarda, transporta ou leva consigo drogas para consumo pessoal.

O ministro Teori Zavascki pediu vista, adiando o fim do julgamento para data ainda sem previsão. Outros oito ministros ainda vão votar – portanto, há possibilidade de reviravolta na tendência atual do STF. No voto, Barroso sugeriu que o tribunal fixe 25 gramas do produto como quantia limítrofe para distinguir usuários de traficantes. Ele também afirmou que o usuário poderia cultivar, no máximo, seis plantas fêmeas de maconha. As quantidades foram inspiradas na legislação de Portugal e do Uruguai.

Barroso ressaltou que essas quantias são apenas parâmetros. Na análise de casos específicos, pode haver exceção, dependendo da situação da prisão ou do histórico da pessoa, por exemplo. A regra valeria até o Congresso Nacional aprovar norma sobre o assunto. Na avaliação de Barroso, a falta de regra objetiva para diferenciar usuários de traficantes tem efeito cruel, porque resulta na condenação massiva de pobres por tráfico, enquanto moradores de áreas nobres flagrados com droga são tratados como usuários.

A pesquisadora Ana Paula Pellegrino reclama da falta de critérios objetivos de distinção entre o porte para consumo pessoal e para tráfico, um dos maiores motores por trás do crescimento no encarceramento por crimes de drogas.

— A maioria desses presos foram flagrados portanto pequenas quantidades de drogas, desarmados, e falta ao policial, geralmente a única testemunha, essa orientação sobre como caracterizar o uso de drogas. Acabamos prendendo como traficantes quem poderia ser considerado usuário — diz Ana Paula.

Em junho, o STF tomou decisão que também pode mudar a quantidade de presos por crimes de drogas no país. Ficou fixado que não é hediondo o tráfico de drogas praticado por réu primário, com bons antecedentes e que não participe de organização criminosa. Em todos os outros casos, o tráfico de entorpecentes continua sendo crime hediondo. Se o condenado tiver os atenuantes, ele poderá ter tratamento privilegiado. Um exemplo é começar a cumprir a pena no regime semiaberto, em que o preso pode sair durante o dia para trabalhar e voltar à noite, para dormir na cadeia. Os condenados em crimes hediondos sempre iniciam a pena em regime fechado.

Para tomar a decisão, os ministros levaram em conta o tratamento individualizado da pena. Segundo a maioria do tribunal, iniciantes no mundo no crime, ou mesmo pessoas que foram levadas a cometer uma ilegalidade em um contexto isolado, não poderiam ser tratadas da mesma forma que criminosos experientes. Nas discussões, foi ressaltada a situação de mulheres condenadas por tráfico por servirem de “mulas” (transportadoras) da droga por ordem do cônjuge. Também foi considerada a superlotação das cadeias, que poderá ser aliviada com mais presos em regimes mais brandos.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

As consequências do álcool para a saúde


 


Correio do Estado
EXCESSOS

A embriaguez não é o único efeito do consumo excessivo de álcool. Descubra o que mais acontece com o seu corpo e as consequências desse hábito.

Um estranho no ninho

Quando consumimos bebidas alcoólicas, o conteúdo passa por nossa parede intestinal sem sofrer quaisquer modificações. Dessa maneira, o álcool chega muito rapidamente ao sangue (de 15 a 30 minutos quando a pessoa é muito jovem, podendo aumentar para 30 a 60 quando há presença de alimentos). É nessa hora que a alcoolemia (presença de álcool no sangue) chega aos seus níveis mais altos, diminuindo progressivamente a partir daí.

Através do sangue, o álcool é distribuído para todo o organismo, em particular pelos órgãos mais irrigados, como o fígado, coração e cérebro. O fígado transforma lentamente 95% do álcool, enquanto os outros 5% são eliminados pelos pulmões, rins, urina, pele e suor.

Hoje em dia, os efeitos nocivos do álcool já são bem conhecidos. O fígado, cérebro, sistema nervoso, coração e músculos podem ser afetados. O sistema digestivo também não está seguro: as mucosas, estômago e intestino ficam irritadas com uma sensação frequente de queimadura.

Essa substância psicoativa atua no cérebro de forma semelhante à maconha ou outras drogas. O cérebro fica saturado e perturbado. Problemas recentes envolvem reflexos, visão e equilíbrio debilitados, perda de memória, etc. O álcool age como uma droga e pode causar dependência, caso seja consumido regularmente.

Os efeitos do álcool podem aumentar a ingestão de medicamentos como calmantes e tranquilizantes.

Efeitos de curto prazo

Os efeitos imediatos são bem conhecidos. A embriaguez se manifesta em poucas horas, caso o consumo seja exagerado. Se a pessoa não estiver acostumada a beber, esses efeitos surgirão antes. O bom senso, equilíbrio, percepção e coordenação motora, serão todos alterados. Três fases ocorrem invariavelmente e elas vão da euforia à sonolência. O estado se desenvolve da seguinte maneira:

Fase de euforia: o teor de álcool no sangue é inferior a 0,7 g/l. É o estado de embriaguez, quando a pessoa se sente eufórica, desinibida e falante. As funções cognitivas (vigilância, percepção, memória, equilíbrio, bom senso) começam a ser afetadas.

Fase da embriaguez: o teor de álcool no sangue encontra-se entre 0,7 a 2 g/l. Distúrbios de equilíbrio, dificuldade para falar, etc. É uma fase caracterizada pela falta de julgamento e coordenação, bem como sonolência e imperícia.

Fase de sonolência: o teor de álcool no sangue é superior a 2 g/l. Após um período de agitação, a pessoa se sente anestesiada. Se a quantidade de álcool no sangue superar 3 g/l, há risco de coma profundo, que pode exigir acompanhamento em um hospital.

A redução da vigilância pode levar ao comportamento de risco. Depois de uma bebida, o risco de acidentes na estrada ou na vida cotidiana é multiplicado por 3. Depois de três bebidas, por dez. Assim, a embriaguez está relacionada com 40% das mortes nas estradas, com 25-35% dos acidentes não fatais, com 64% dos incêndios e queimaduras, com 48% dos casos de hipotermia, com 40% das quedas fatais, além de 50% dos homicídios.

O álcool também é um fator de agressividade, sendo responsável por 50% das brigas, por 60% dos atos criminosos e por 20% dos delitos.

Finalmente, o consumo do álcool aumenta o risco de relações sexuais desprotegidas. E sem camisinha, um único encontro é suficiente para se contaminar com o vírus da AIDS e outras infecções, bem como gravidezes indesejadas.

Os efeitos a longo prazo

A longo prazo, o álcool pode ser responsável por muitas doenças: câncer (boca, esôfago, garganta), doenças do fígado (cirrose) e do pâncreas, doenças do sistema nervoso, distúrbios mentais (ansiedade, depressão, irritabilidade), problemas cardiovasculares e outros. Devido a um consumo maior, os homens sofrem mais do que as mulheres. Uma em cada sete mortes de homens estão relacionadas ao álcool.

·Sistema nervoso: o consumo excessivo pode causar problemas de memória, ansiedade, depressão, insônia e até suicídio. Entre as mulheres grávidas, o risco de danos cerebrais é muito alto para o feto (atraso no desenvolvimento, colapso cerebral, etc).
Sistema cardiovascular: os benefícios de um consumo moderado (cerca de dois copos por dia) ainda estão em discussão. Mas nós sabemos que o álcool aumenta o risco de hipertensão e acidente vascular cerebral.

Sistema digestivo: o álcool pode causar câncer no trato aerodigestivo superior (boca, garganta, laringe e esôfago) e é um veneno para o fígado. Ele provoca a destruição do tecido hepático e pode causar cirrose (cerca de 5.000 mortes por ano) ou câncer de fígado (cerca de 6000 mortes).

Assim, o álcool provoca diretamente cerca de 23.000 mortes por câncer, cirrose ou dependência, além de 45.000 mortes como fator associado. É a segunda principal causa de morte evitável depois do cigarro.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Projeto obriga motorista alcoolizado a ressarcir SUS por gastos com vítima de acidente



Agência Câmara de Notícias
Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

Daniel Vilela: ao lado das tragédias humanas causadas por esses motoristas insensatos, ainda há os elevados gastos incorridos pelo Estado por via do Sistema Único de Saúde

O motorista que praticar crime de homicídio ou lesão corporal, em virtude de capacidade psicomotora alterada pela influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência, poderá ter de ressarcir o Sistema Único de Saúde (SUS) pelos gastos com socorro, atendimento e tratamento à saúde da vítima.

É o que prevê o Projeto de Lei 5298/16, do deputado Daniel Vilela (PMDB-GO), em tramitação na Câmara. A proposta inclui artigo no Código Civil (Lei10.406/02).

“Ao lado das tragédias humanas causadas por esses motoristas insensatos, ainda há os elevados gastos incorridos pelo Sistema Único de Saúde para socorro, atendimento e tratamento à saúde das vítimas e dos próprios condutores de veículos, em virtude dos acidentes de trânsito que provocam”, destacou o parlamentar.

Tramitação

A proposta tramita em caráter conclusivo e será analisada pelas comissões de Seguridade Social e Família; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania, inclusive quanto ao mérito.

ÍNTEGRA DA PROPOSTA:
PL-5298/2016
Reportagem - Lara Haje
Edição - Marcia Becker

174 overdoses em 6 dias: os estragos atribuídos a um poderoso tranquilizante de elefantes nos EUA


 


BBC Brasil
Quando a equipe de paramédicos do Estado americano de Indiana encontrou Michael Purvis, teve que aplicar quatro doses de naxolona para que ele conseguisse voltar a respirar.

É o dobro do que se costuma aplicar de naxolona - remédio que neutraliza os efeitos de opiáceos como a heroína -, mesmo em casos graves de overdose.

Histórias semelhantes foram reportadas em Ohio e Kentucky, onde, assim como em Indiana, houve um aumento no número de overdoses.

Em apenas seis dias da semana passada, os três Estados registraram 174 atendimentos médicos do tipo. Costumavam ser 25 casos semanais. Esse aumento se deve, segundo governos locais, ao fato de usuários estarem usando uma nova combinação de drogas.

Desde julho, as autoridades da cidade de Cincinnati, em Ohio, têm notado que a heroína está sendo misturada com carfentanil, um opiáceo sintético. Também suspeitam que os usuários estejam usando em conjunto outro opiácio semelhante, o fentanil, um poderoso analgésico.

A agência americana antidrogas (DEA) descreve o carfentanil como um entorpecente 10 mil vezes mais poderoso que a morfina e "usado na prática veterinária para imobilizar animais grandes". Por isso, é conhecido como "tranquilizante para elefantes".

Já o fentanil é cem vezes mais fraco que o carfentanil, mas uma overdose dele é potencialmente letal.

Os serviços de emergência registraram 174 casos de overdose em seis dias quando o normal em uma semana é o registro de 25 casos

Coincidências

A média de 25 casos de overdose por semana é "o normal", segundo Thomas Synan, da Coalizão para as Drogas do Condado de Hamilton, em Ohio.

E, embora não seja possível comprovar que em todos os 174 casos recentes houve a mistura com o carfentanil, as autoridades têm encontrado coincidências entre os que sofreram overdoses que as levam a crer que esse seja o caso.

Uma delas é que as intoxicações são bem mais fortes do que o normal.

Agora, os casos estão sendo analisados em busca de padrões em comum, incluindo nos lugares onde as vítimas de overdoses foram encontradas.

A naxolona é uma das ferramentas farmacêuticas mais importantes para reverter uma overdose, mas as que ocorrem depois do uso da mistura da heroína com outros opiáceos sintéticos são mais fortes e precisam de mais doses

Synan explicou à BBC que a maioria delas está na área de Cincinnati, no triângulo dos Estados entre Ohio, Kentucky e Indiana.

O porta-voz da Polícia do Estado de Indiana, Stephen Wheeles, acredita que se trate de uma "remessa" da droga que chegou a Cincinatti e, de lá, foi distribuída para outros lugares.

"Os consumidores esperam e, assim que ela chega, começam a usar (a droga)", disse Wheeles em entrevista coletiva, segundo o jornal local The Republic.

E os casos se multiplicam na região. No condado de Jennings, houve dez registros de overdose por volta das 18h da quinta-feira passada, incluindo os de três menores de 18 anos.

Na semana passada, foram registradas seis mortes em Ohio e uma em Indiana, mas pode haver mais óbitos não detectados.

A oxicodona, o fentanil e o carfentanil são algumas das drogas sintéticas que foram misturadas com a heroína para aumentar seus efeitos

Relatos do uso dessa combinação de drogas já apareceram na Pensilvânia, Virgínia Ocidental e Flórida.

Tráfico

Voltando ao caso de Michael Purvis, ele não apenas foi vítima de uma overdose.

Purvis também foi detido por suspeita de "comercializar uma substância controlada", disse à BBC o porta-voz da polícia da cidade de Seymour, Indiana.

Os usuários de heroína geralmente não sabem quais são as outras substâncias misturadas à droga e, alguns casos, os traficantes já usaram até veneno de rato

Ele admitiu ter fornecido heroína a duas mulheres, e acredita-se que Purvis possa estar envolvido com a distribuição da droga misturada com carfentanil ou fentanil.

Segundo Thomas Synan, os usuários nunca sabem com o que a heroína está adulterada e apenas sentem, após o consumo, os efeitos mais fortes e as consequências da mistura com o carfentanil.

"Divulguem essa informação (dos perigos do consumo)", advertiu a polícia de Seymour em sua página no Facebook. "Se você conhecer alguém que pode entrar em contato com essa heroína, por favor alerte-o. Você pode estar salvando a vida dele."
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas