
Jornal o Estado de S. Paulo
Estudo indica aumento do uso e do abuso de álcool entre os mais jovens, particularmente entre as meninas
Jairo Bouer
Foto: Michaela Rehle/Reuters
Levantamentos recentes já haviam apontado o fenômeno do aumento proporcional do consumo e abuso de álcool entre mulheres mais jovens
Garotas que têm uma percepção distorcida da sua imagem corporal correm maior risco de abusar do álcool. Estudos divulgados na semana passada mostram avanços importantes na abordagem do uso e do abuso de álcool entre os mais jovens, particularmente entre as meninas.
Pesquisadores da Universidade de Tufts, nos Estados Unidos, investigaram 6,5 mil garotas entre 14 e 18 anos e concluíram que uma autoimagem negativa aumenta a chance de comportamentos de risco. Quase 68% das entrevistadas já tinham bebido pelo menos uma vez na vida, 38% tinham uma percepção distorcida de si mesmas e 18% abusaram de álcool nos 30 dias antes da pesquisa. O risco de abuso foi quase 20% maior entre aquelas inseguras com seu corpo. O consumo mais pesado do álcool foi mais comum entre as meninas mais velhas, nas de origem latina, nas que já fumavam e entre aquelas que tinham iniciado sua vida sexual.
Precocemente. Os resultados vão ser publicados na edição de janeiro do periódico médico Journal of Studies on Alcohol and Drugs e foram antecipados pelo jornal inglês Daily Mail.
O trabalho não investigou especificamente as causas desse abuso de álcool, mas é possível que esse seja um comportamento adotado na tentativa de elas relaxarem, ficarem mais confortáveis com seu corpo e se sentirem mais aceitas pelo grupo. Ainda existe uma relação possível do uso de bebida como um recurso para diminuir ou controlar a fome naquelas que se enxergam acima do peso.
Levantamentos recentes já haviam apontado o fenômeno do aumento proporcional do consumo e abuso de álcool entre as mulheres mais jovens, sendo que em alguns países elas já bebem mais do que os garotos. Interessante pensar que parte desse fenômeno, além das transformações sociais que deixaram o comportamento entre os dois gêneros cada vez mais parecido, pode ter relação com a insatisfação com questões físicas e corporais, que tendem a ser mais frequentes entre as mulheres.
Geração mais “limpa”. Novos dados também divulgados na última semana revelam que uma nova geração de 8 a 15 anos, que bebe e fuma menos, pode estar a caminho. Números do NHS(Sistema Nacional de Saúde, do Reino Unido), mostram que apenas um em cada seis jovens (17%) nessa faixa etária já bebeu. Em 2003, esse índice era de 45%. Em relação ao cigarro, 4% já fumaram. Em 2003, 19% já tinham experimentado o tabaco. A pesquisa avaliou 5.700 crianças.
Segundo os especialistas, o fenômeno se deve, em parte, ao fato de crianças e jovens ficarem cada vez mais tempo conectados na internet, dentro de suas casas. Eles têm frequentado menos festas, parques, ruas e pubs e, portanto, ficam menos expostos à influência dos pares para o consumo de álcool e cigarro.
Os alertas em relação aos riscos das substâncias podem ter chegado, também, com mais força a essa geração, sinalizando que a educação nas escolas para o consumo responsável e as campanhas de informação complementam as estratégias de prevenção. O maior controle nos pontos de venda também pode ter efeito na queda do consumo por menores de 18. Assim, os jovens têm hoje mais subsídios para fazer melhores escolhas.
Nos Estados Unidos, existe tendência semelhante. Um novo levantamento divulgado pela Universidade de Michigan,Monitoring the Future (Monitorando o Futuro), que contou com a participação de mais de 45 mil estudantes americanos de 14, 16 e 18 anos, mostra que apesar de o álcool continuar sendo a droga mais utilizada no país pelos jovens, seu consumo está em queda nos últimos anos. Os dados são da agência de notícia Efe e doDaily Mail.
Em 2016, pouco mais de um terço dos adolescentes de 18 anos já bebeu nos EUA (37%). Em 2001, esse valor era de 53%. O consumo de outras drogas também caiu no geral. A única exceção é a maconha, cujo consumo se manteve estável nos últimos anos.
Por aqui, além de um melhor controle da venda de álcool para menores, ações nas escolas, mais campanhas de prevenção e engajamento de jovens em projetos que focam no consumo responsável podem trazer resultados semelhantes em um futuro próximo.
Jairo Bouer é Psiquiatra
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

Cultivador mostra flor seca da planta
Jornal Folha de S. Paulo
Felix Lima/Folhapress
NATÁLIA CANCIAN DE BRASÍLIA
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou nesta terça-feira (22) critérios para permitir o registro, a venda e o uso de medicamentos à base de compostos da maconha no Brasil.
A medida ocorre diante do pedido feito pela empresa GWPharma para comercializar, no país, um medicamento composto por CBD (canabidiol) e THC (tetrahidrocanabinol), dois princípios ativos da maconha.
A aprovação dos novos critérios abre espaço para que a Anvisa conceda o registro do medicamento, que deve ser o primeiro à base de maconha a chegar às farmácias do país. O produto é indicado para tratamento de esclerose múltipla.
Atualmente, o pedido está em fase final de análise na agência, segundo a Folha apurou. "Fizemos isso de maneira que, quando houver o registro, ele já tenha o regulamento pronto para utilização", explica o diretor-presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa.
No exterior, o produto é chamado de Sativex. Por aqui, o remédio, composto por 25mg/ml de canabidiol e de 27 mg/ml de THC, deve chegar ao mercado com o nome de Mevatyl.
Com os novos critérios definidos nesta terça, a agência passará a autorizar o registro e comercialização de medicamentos com concentração de até 30 mg/ml de canabidiol e THC.
"Estamos nos antecipando e dizendo as normas em que ele pode ser utilizado. Será somente até essa concentração, que é considerada segura para uso, exclusivo para uso humano e com a prescrição exigida hoje para substâncias psicotrópicas, de controle especial", afirma Barbosa.
TARJA PRETA
A mudança atinge a portaria 344/1998 da Anvisa, que define quais substâncias são proibidas no país e quais liberadas para uso, e em quais casos.
Medicamentos com canabidiol e THC acima de 30 mg/ml continuam na lista de proscritos, ou seja, de utilização proibida no país.
Ainda segundo o diretor, os novos critérios seguem parâmetros semelhantes aos aplicados em países como Reino Unido e Bélgica, "que já tem medicamentos assim registrados".
"Será tratado como os demais de tarja preta, os medicamentos controlados, que precisam de receituário especial e têm um sistema de controle", explica.
Além do Mevatyl, a norma também abre caminho para novos pedidos de registro de outros medicamentos com concentração semelhante desses canabinóides.
OUTRAS MEDIDAS
Em outra decisão, diretores também aprovaram nesta terça uma simplificação nas regras para importação de produtos a base de canabidiol para uso medicinal no país.
Hoje, esses produtos precisam de autorização especial da Anvisa para serem importados e utilizados pelos pacientes. O pedido é feito mediante apresentação de laudo técnico que informa sobre a doença, receita médica e termo de responsabilidade.
A ideia, agora, é diminuir o tempo de análise dos pedidos para alguns produtos cuja autorização é solicitada com maior frequência. Ou seja: enquanto pedidos por produtos menos conhecidos demoram até cinco dias para serem analisados, esses teriam autorização quase imediata, desde que apresentados os demais documentos.
Entram nessa lista óleos e cápsulas à base de canabidiol, mas que também possuem traços ou menor concentração de THC, por exemplo.
"Fizemos uma formalização para simplificar esse processo e não precisar passar um por um com análise excepcional. Se já tem 1.500 [autorizações], já se tem uma certa regra", afirma o diretor-presidente, Jarbas Barbosa.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

(Global DrugSurvey - GDS)
O Levantamento Global de Drogas (GDS) é a maior pesquisa online, independente e neutra sobre consumo de substâncias (legais e ilegais) no mundo. Organizado por pesquisadores do Kings College London no Reino Unido, ele conta com a colaboração de pesquisadores experts em dependência química para a sua realização ao redor do mundo.
Sua coleta de dados é feita anualmente desde 2000, explorando, a cada ano, temas relacionados ao uso de drogas que requerem atenção imediata, como por exemplo, a penetração de novas drogas em cada país.
O GDS investiga de forma neutra e sigilosa os padrões de uso de drogas lícitas e ilícitas, seus efeitos, riscos e tendências em cada um dos 20 países participantes. Seus resultados são usados para a formulação de políticas públicas e estratégias de prevenção, redução de danos e tratamento.
Em 2015 o Brasil participou pela primeira vez, entrando na lista de 20 países integrantes do estudo. Nossos resultados surpreenderam a equipe internacional de experts, despontando no consumo acima da média mundial de cocaína, inibidores de apetite, anabolizantes e principalmente álcool. Em 2016 porém, perdemos a oportunidade de ter, gratuitamente, dados valiosos sobre o consumo de drogas no nosso país por falta de participantes.
Colabore para que esse ano o Brasil tenha uma participação representativa.
Todos indivíduos com 16 anos ou mais podem responder o inquérito, independente de ser ou não usuário de qualquer droga.
O questionário (em português) fica disponível no link abaixo até Janeiro.
Levantamento Global De Drogas 2017
Hoje, ao atender o telefone, o meu mundo desabou. Entre soluços e lamentos, a voz do outro lado da linha me informava que a minha melhor amiga, minha compaheira de turma na faculdade, havia sofrido um grave acidente e morrido instantaneamente.
Lembro de ter desligado o telefone e caminhado a passos lentos para o meu quarto.
As imagens de minha juventude vieram quase que de imediato à mente. A faculdade, as conversas até altas horas da noite, as confidências ao pé do ouvido, os sorrisos.
Lembrei da formatura, de um novo horizonte surgindo. Das lágrimas e despedidas e, principalmente, das promessas de novos encontros.
Lembro perfeitamente de cada feição da melhor amiga que já tive em toda a vida. Em seus olhos a promessa de que eu nunca seria esquecido.
E, realmente, nunca fui. Perdi a conta das vezes em que ela, carinhosamente, me ligava quando eu estava quase no fundo do poço. E das mensagens, que nunca respondi. As mensagens que ela enviava, cheias de esperanças e promessas de um futuro melhor.
Lembro que foi em seu ombro que chorei a morte de meu pai. Foi em seu ouvido que derramei as lamentações do noivado desfeito.
Apesar do esforço, não consegui me lembrar de uma só vez em que tivesse pego o telefone para ligar e dizer a ela o quanto era importante para mim a sua amizade.
Afinal, eu era um homem muito ocupado. Não tinha tempo.
Não lembro de uma só vez que me preocupei em procurar um texto edificante e enviar para ela. Ou mesmo para qualquer outro amigo, com o objetivo puro e simples de tornar o seu dia melhor. Não tinha tempo.
Não lembro de ter feito qualquer tipo de surpresa para ela, como por exemplo, aparecer disposto a ouvir. Eu não tinha tempo.
Acho que nunca imaginei que ela tivesse problemas. Talvez ela, que sempre encheu o meu mundo com sua iluminada presença, estivesse se sentindo sozinha.
Até mesmo as mensagens engraçadas que deixava em minha secretária eletrônica, poderiam ser seu jeito de pedir ajuda. Aquelas mesmas mensagens que apaguei, jamais se apagarão da minha consciência.
Todas as perguntas que agora me faço, foi a simples falta de tempo que me impediu de responder antes.
Agora, me preparo para o seu enterro. Aviso o meu chefe que não irei trabalhar hoje. Preciso ir ao enterro da minha amiga. Digo a ele que irei tirar o dia para homenagear uma das pessoas que mais amei nesta vida.
Neste instante, com surpresa eu vejo, entre lágrimas, que para isto, para acompanhar um dia inteiro o seu corpo sem vida, eu tive tempo.
* * *
Não permita que o tempo escravize você. Tome as rédeas de sua vida. Trabalhe durante o expediente normal, com muita disposição.
Mas não deixe de responder às mensagens da secretária eletrônica, nem que seja somente com um oi.
Escolha mensagens de amizade e otimismo e envie aos seus amigos e colegas.
Escreva cartas ou bilhetes, dizendo às pessoas como elas são importantes para você.
Abrace seus irmãos, sua família. Distribua sorrisos a todos os que o rodeiam.
Viver é a mais emocionante de todas as chances que nosso Pai nos oferece.
fonte: antidrogas.com.br
A convergência da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT) com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, propostos pela Organização das Nações Unidas até 2030, e a implementação de medidas para garantir que representantes das delegações dos países não tenham conflito de interesses com a indústria do tabaco foram destaque na 7° Sessão da Conferência das Partes sobre a CQCT (COP 7). O encontro aconteceu em Nova Délhi (Índia) entre os dias 7 e 12 de novembro.
“Mostramos na COP 7 o quanto o Brasil avançou na redução do tabagismo com a implementação da CQCT, especialmente devido ao aumento da tributação sobre cigarros e o progresso feito com a política de diversificação produtiva de áreas cultivadas com tabaco", revelou Tânia Cavalcante, secretária-executiva da Comissão Nacional para a Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (Conicq).
Lançado em 2005, o programa brasileiro de diversificação apoia a implantação de projetos que viabilizem alternativas economicamente viáveis à produção de fumo para gerar novas oportunidades de renda e melhorar a qualidade de vida dos agricultores e também protegê-los do impacto econômico da esperada redução global do tabagismo. Ticiana Imbroisi, consultora da Secretaria Especial de Agricultura Familiar da Presidência da República, ressaltou que 32 mil famílias deixaram a cadeia produtiva do tabaco entre 2009 e 2015, com redução de 17% da área plantada no País.
Uma das negociações mais complexas da COP7 foi sobre a regulação de produtos de tabaco, especialmente dos que não produzem fumaça, como narguilé e dispositivos eletrônicos que liberam nicotina (conhecidos como cigarros eletrônicos). Embora as negociações tenham acontecido de forma intensiva até o último dia do evento, alguns dos temas não alcançaram consenso e serão retomados na COP8 que acontecerá em 2018.
O Brasil também teve posição de destaque em outros temas da agenda, como a maximização da transparência com as organizações intergovernamentais e não governamentais e grupos da sociedade civil durante as sessões da COP (em conformidade com o artigo 5.3 da CQCT); debate sobre a distribuição dos recursos orçamentários do secretariado da OMS; e andamento do Protocolo para Eliminação do Comércio Ilícito de Produtos do Tabaco, cujo princípio básico é a cooperação entre os países que assumirem este compromisso. De acordo com a delegação brasileira, o Protocolo foi encaminhado para o Congresso para iniciar o processo de ratificação. O investimento pelos países em um sistema nacional de rastreamento, inclusive com as Partes que já possuem seus próprios sistemas, entre as quais o Brasil, e como esses sistemas poderiam interagir uns com os outros, fica sendo um ponto-chave na implementação do artigo 8 da CQCT.
Em atendimento aos princípios do artigo 4.7 da CQCT (a participação da sociedade civil é essencial para atingir o objetivo da Convenção e de seus protocolos), a delegação do Brasil estabeleceu contato permanente com os observadores cadastrados da sociedade civil que atuam em defesa dos temas de relevância para o País e promoveu seminários abertos aos seus representantes e imprensa sobre a posição brasileira em relação aos temas debatidos ao longo da Conferência.
A delegação brasileira foi composta por representantes do Ministério da Saúde, INCA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ministério da Fazenda, Secretaria Especial de Agricultura Familiar, Casa Civil, Advocacia Geral da União, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Ministério das Relações Exteriores.
Fonte:INCA - Instituto Nacional de Câncer, Ministério da Saúde

Maconha: ninguém sabia explicar exatamente o que causava esse curto-circuito (OpenRangeStock/Thinkstock)
Revista Exame
A ciência finalmente desvendou por que a maconha atrapalha tanto na hora de lembrar das coisas
Por Ana Carolina Leonardi, da Superinteressante
Um novo estudo publicado na Nature acredita que conseguiu explicar, pela primeira vez, por que é difícil lembrar das coisas para quem fuma maconha.
A cannabis afeta a memória de curto prazo, impedindo que essas lembranças sejam solidificadas no cérebro. O efeito é temporário: parando de usar, o processo de armazenamento de informações volta ao normal rapidamente. O problema é que ninguém sabia explicar exatamente o que causava esse curto-circuito.
A mais nova descoberta mostra que as mitocôndrias são as responsáveis por esse bug cerebral. Para quem precisa de um lembrete das aulas de biologia da escola, mitocôndrias são organelas que ficam dentro de todas as nossas células. Sua função é prover energia através da respiração celular.
Para conseguir causar a “brisa” e os demais efeitos da cannabis, o THC, princípio ativo da maconha, se “prende” aos receptores de canabinoides que temos nos nossos neurônios.
Essa ligação vai acontecendo em todo o sistema nervoso. O que os cientistas não sabiam é que as mitocôndrias também têm receptores de THC nas suas membranas. Ou seja: mitocôndrias também ficam chapadas e isso afeta a energia produzida nos seus neurônios.
O Instituto Neurocentre Magendie, na França, desenvolveu um estudo com ratinhos para analisar esse fenômeno. Os animais foram acostumados com um labirinto até saber percorrê-lo de cor.
Depois, os pesquisadores injetaram THC no hipocampo dos ratos, região responsável pela memória. Quando os ratos chapados voltaram ao labirinto, agiram como se nunca tivessem estado lá antes.
Depois, os cientistas repetiram o experimento com ratos geneticamente modificados para não ter receptores de THC em suas mitocôndrias – e o defeito na memória deles não ocorreu.
Levando essas mitocôndrias para as placas de Petri, eles notaram que o THC interrompia o sistema de transporte de elétrons, que é uma etapa essencial no processo de produção de energia que ocorre dentro das mitocôndrias.
Os neurônios do hipocampo, com as mitocôndrias prejudicadas, começavam a se comunicar menos entre si e, por isso, formavam menos memórias.
A mini-amnésia causada pela maconha é como se fosse, então, um regime de racionamento de energia que os neurônios adotam para conseguir manter sua atividade normal.
Então, se você for do tipo que tem certeza que descobriu o significado da vida, do Universo e tudo o mais, tenha papel e caneta em mãos – ou então nem do número 42 você vai lembrar.
*Esta matéria foi originalmente publicada na Superinteressante.

Revista Época
Os brasileiros bebem demais. Ao menos, é o que diz a Organização Mundial da Saúde (OMS). Num ranking de consumidores de álcool, divulgado pela OMS em 2014, o Brasil ocupava a 53ª posição em um universo de 195 países. Se todo o álcool consumido no Brasil fosse dividido pelos brasileiros com mais de 15 anos, cada um teria para si cerca de 8 litros para beber em um ano. A quantidade talvez não o assuste, mas está acima da média mundial, de 6,2 litros por pessoa.
Esses números preocupam porque o consumo excessivo de álcool é apontado como causa importante para o desenvolvimento de 200 enfermidades. Males que variam de cirrose a câncer de mama. Um levantamento organizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde tentou estimar qual o impacto financeiro de tratar essas doenças associadas ao alcoolismo pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Algo em torno de US$ 8,2 milhões por ano. O esforço foi coordenado pelo professor Denizar Vianna, da Uerj.
Há anos, Vianna e seus colegas tentam estimar os custos gerados pelo tratamento de doenças crônicas para o SUS. Problemas provocados por obesidade ou diabetes e que, em alguns casos, poderiam ter sido evitados por meio de ações de prevenção e mudança de hábitos. Nos últimos anos, Vianna diz ter começado a dar mais atenção para o alcoolismo: “Nós temos dois grandes problemas de saúde com os quais vamos ter de lidar neste século”, diz o professor. “Um deles é a obesidade, e todas as questões relacionadas a ela. O outro problema é o alcoolismo, cujo peso tende a aumentar.”
Tomado de maneira moderada, o álcool pode ser benéfico: “Ele confere uma coisa chamada proteção cardiovascular”, diz Vianna. Faz bem ao coração. É o argumento que ampara a recomendação de tomar uma taça de vinho por dia, por exemplo (além do álcool, o vinho reúne outras substâncias que, em quantidades modestas, podem fazer bem). O consumo seguro – embora esses limites possam variar de acordo com cada organismo – vai até os 25 gramas diários de álcool. É o que cabe em uma taça, diluído em meio aos outros componentes da bebida. Acima disso, o álcool deixa de ser benéfico para se tornar potencialmente deletério. Quantidades acima de 25 gramas por dia podem aumentar os riscos de a pessoa desenvolver certos tipos de câncer.
Para avaliar o impacto do alcoolismo no sistema de saúde, os pesquisadores primeiro selecionaram quais doenças, dentre as mais comuns na população brasileira, têm maiores chances de ser provocadas pelo consumo de álcool além da conta. Cirrose, por exemplo, foi a doença – dentre os males estudados – com maiores chances de ser provocada pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Oito doenças foram selecionadas: câncer de laringe, câncer de orofaringe, câncer de esôfago, câncer de fígado, câncer de mama, hipertensão, cirrose e pancreatite crônica. Tratar essas doenças custa aos cofres públicos brasileiros, anualmente, US$ 344 milhões. Deste total, 2,4% são atribuídos ao tratamento de casos que foram provocados pelo alcoolismo – US$ 8.262.762,00 por ano, na estimativa dos pesquisadores.
É difícil estabelecer se isso é muito ou pouco porque, segundo Vianna, não é possível comparar o gasto brasileiro com o investimento feito por outros países com o mesmo fim. Países diferentes têm estruturas de custo diferentes – os preços dos medicamentos e aparelhos usados em tratamentos variam. Mesmo assim, diz Vianna, é importante prestar atenção a esse valor: “Nós fizemos um recorte – esse é o custo de tratar somente oito doenças”, diz ele. O valor não inclui, ainda, os prejuízos provocados por motoristas alcoolizados nem o tratamento de pessoas que sofrem com dependência alcoólica.
Para Vianna, é importante prestar atenção para a questão porque cresce o número de brasileiros que bebem em excesso. Segundo dados do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, no período entre 2006 e 2012, cresceu em 31% o número de pessoas com mais de 15 anos que consomem mais de 4,5 doses de bebida alcoólica em duas horas – um comportamento que os pesquisadores chamam de “beber em binge”. Justamento o comportamento que pode trazer prejuízos – para a saúde individual e para as contas públicas. “Não se trata de condenar o consumo de álcool”, diz Vianna. “Mas é importante estar atento para os malefícios de beber demais.”
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas