sábado, 6 de maio de 2017

Mais que jogo da Baleia Azul, álcool provoca suicídio entre jovens


 


Jogo colocou assunto em pauta
Leia artigo do médico Arthur Guerra
Aumento do consumo de álcool está diretamente relacionado ao aumento de suicídios entre jovens Marcelo Camargo | Agência Brasil
ARTHUR GUERRA

A BALEIA AZUL, O SUICÍDIO E O ÁLCOOL ENTRE OS NOSSOS JOVENS

Há razões para que pais fiquem aflitos com o jogo da Baleia Azul, apesar de fake, e com a série “13 reasons why”, apesar de ficção. O suicídio cresce no mundo todo, principalmente entre os jovens na faixa etária de 15 a 29 anos. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio. São 800 mil pessoas, a cada ano, que tiram a própria vida no mundo. E para cada caso fatal há pelo menos outras 20 tentativas fracassadas.

A OMS reconhece o suicídio como uma prioridade de saúde pública. O primeiro relatório da organização sobre o assunto, “Prevenção do suicídio: um imperativo global”, publicado em 2014, incentiva os países a desenvolver ou reforçar estratégias de prevenção com abordagem multisetorial. Mas, segundo a organização, poucos países incluíram a prevenção ao suicídio entre suas prioridades de saúde e só 28 relatam possuir uma estratégia nacional para isso.

Um total de 1,3 milhão de pessoas de 15 a 29 anos morrem no mundo anualmente vítimas de causas evitáveis ou tratáveis, sendo a principal delas os acidentes de trânsito (11,6% do total). O suicídio fica em segundo lugar, responsável por 7,3% das mortes.

MORTES VIOLENTAS

A mortalidade é dividida em 2 grandes grupos: o das mortes naturais e o das violentas. Diferentemente das chamadas causas naturais, relacionadas à deterioração do organismo ou da saúde devido a doenças e/ou ao envelhecimento, as causas externas remetem a fatores independentes do organismo humano levando à morte do indivíduo.

As causas externas de mortalidade vêm crescendo de forma assustadora nas últimas décadas no Brasil: se, em 1980 representavam 6,7% do total de óbitos na faixa de 0 a 19 anos de idade, em 2013 a participação elevou-se de forma preocupante: atingiu o patamar de 29%. Tal é o peso das causas externas, que em 2013 foram responsáveis por 56,6%– acima da metade– do total de mortes na faixa de 1 a 19 anos de idade. No mesmo período, os acidentes de transporte passaram de 2% para 6,9% e os suicídios de 0,2% para 1,0%.

Na faixa dos 16 e 17 anos, segundo o Mapa da Violência 2015 – Adolescentes de 16 e 17 anos do Brasil, o crescimento dos acidentes de transporte no período 1980/2013 foi de 38,3%. A taxa de suicídios subiu de 2,8 por 100 mil para 4,1 nessa faixa etária: um aumento inquietante de 45,5%.

AÇÃO DE COMBATE

O suicídio é uma das condições prioritárias do mhGAP (Mental Health Gap Action Programme), programa de saúde mental da OMS, que fornece aos países orientação técnica baseada em evidências para ampliar a prestação de serviços e cuidados para transtornos mentais e de uso de substâncias. No Plano de Ação de Saúde Mental 2013-2020, os Estados-Membros da OMS se comprometeram a trabalhar o objetivo global de reduzir as taxas de suicídios dos países em 10% até 2020.

São duas as intervenções baseadas em evidências para abordar o suicídio, segundo o documento: restrição do acesso a métodos comuns de suicídio e prevenção e tratamento da depressão e dependência de álcool e drogas. Seja isoladamente ou em uma combinação de fatores, cerca de 2 terços de todas as pessoas que cometem suicídio sofrem de depressão ou alcoolismo.

O ÁLCOOL É O MAIOR PROMOTOR DO AUMENTO DE SUICÍDIOS E ACIDENTES DE TRÂNSITO

Será mera coincidência que o número de mortes violentas entre nossos jovens esteja subindo de forma assustadora enquanto a ingestão de álcool também se alastra entre eles? O uso de bebidas alcoólicas por menores de idade está relacionado ao maior número de óbitos de jovens do que todas as drogas ilegais somadas.

Mais de 40% das vítimas fatais de acidentes de trânsito ocorridos na cidade de São Paulo entre junho de 2014 e dezembro de 2015 haviam consumido álcool nas horas que antecederam a morte. Se considerados apenas os dados de motoristas e passageiros dos veículos –e excluídos, portanto, os dos pedestres atingidos– o índice chega a quase 60%, revela pesquisa realizada com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) na FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Os dados foram publicados esta semana na revista Addiction.

De acordo com o NIAAA (Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo), nos Estados Unidos a prevalência de acidentes automobilísticos fatais associados ao álcool entre jovens dos 16 aos 20 anos é mais do que o dobro da prevalência encontrada entre os maiores de 21 anos. O alcoolismo, particularmente na presença da depressão e de perturbações da personalidade, também pode aumentar o risco de suicídio. Em 90% dos casos de morte de crianças e adolescentes por suicídio, foi identificado como causa algum tipo de perturbação mental, sendo os diagnósticos mais comuns as perturbações do humor, perturbações da ansiedade, abuso de substâncias e perturbações comportamentais do funcionamento social.

Estudo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) em um pronto-socorro de Embu das Artes, na Grande São Paulo, constatou a ingestão de álcool até seis horas antes em 21% dos 80 casos de tentativa de suicídio atendidos.

O estudo “Uso Adolescente de Substância e Comportamento Suicida: Uma Revisão com Implicações para Pesquisa em Tratamento” explora a relação entre o uso de substâncias e o comportamento suicida em adolescentes, demonstrando que o uso de substâncias aumenta o risco de comportamentos suicidas, sendo que os adolescentes suicidas apresentavam elevadas taxas de uso de álcool e drogas ilícitas.

Entre os adolescentes de 16 anos e mais velhos, o álcool e o abuso de substâncias aumentam significativamente o risco de suicídio em tempos de sofrimento, segundo a cartilha anual de recomendação para a prevenção do suicídio da OMS. O álcool aumenta a impulsividade e, com isso, o risco de suicídio, de acordo com o manual de prevenção do suicídio para profissionais das equipes de saúde mental do Ministério da Saúde.

O consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes compromete o sistema nervoso central (SNC), que ainda se encontra em desenvolvimento. Desta maneira, suas vias neuronais podem se tornar mais suscetíveis aos danos causados pelo álcool, podendo levar ao comprometimento de várias funções. Sob os efeitos do álcool, os jovens ficam mais propensos a comportamentos de risco –incluindo brigas, sexo desprotegido ou não consensual, acidentes automobilísticos e suicídio.

Dados da PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar) de 2015 realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostram que, entre alunos de 13 a 15 anos, a experimentação de álcool subiu de 50,3% em 2012 para 55,5% em 2015. Além disso, 21,4% desses adolescentes relataram já terem sofrido algum episódio de embriaguez na vida. A pesquisa mostrou também que meninas dessa faixa etária estão bebendo mais que os meninos, sendo que a taxa de experimentação de álcool é maior entre elas (56,1% vs. 54,8%) e também o uso de álcool nos últimos 30 dias (25,1% vs. 22,5%).

Em 2016, o Erica (Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes) avaliou 74.589 adolescentes de 1.247 escolas em 124 municípios brasileiros. Cerca de 20% dos adolescentes consumiram bebidas alcoólicas pelo menos uma vez nos últimos 30 dias e, desses, aproximadamente 2/3 o fizeram em uma ou duas ocasiões no período. Entre os adolescentes que consumiam bebidas alcoólicas, 24,1% beberam pela primeira vez antes de 12 anos de idade.

Seja fake ou ficção, agradeço à baleia azul e à Hannah Baker por nos fazerem discutir o que realmente tem nos arrancado a vida de tantos jovens.
Fonte: Poder 360

Maconha: a diferença entre o remédio e o veneno


 


(imagem ilustração)
VEJA - Blog Letra de Médico
Ronaldo Laranjeira
A maconha possui mais de 500 elementos. Dentre eles, dois, o canabidiol e o THC têm efeitos terapêuticos e, na medida certa, podem beneficiar a saúde

Cannabis: Pesquisadores encontram possível ligação genética entre uso da droga e esquizofrenia (Reuters/VEJA/VEJA)

Você consumiria um produto com mais de 500 substâncias, muitas delas nocivas, para usufruir dos benefícios à saúde proporcionados por uma ou duas presentes em sua composição? Provavelmente não, afinal, faz sentido tratar um problema de saúde e ganhar tantos outros?

Mas, e se fosse possível extrair essas substâncias e sintetizá-las para fins medicinais? Você teria dúvidas? De novo, provavelmente não, afinal, esse consumo, de uma hora para outra, se tornou mais seguro.

Usei este exemplo para ilustrar, usando apenas a lógica, a questão de drogas como a maconha. Sempre afirmo que existe uma enorme diferença entre o ato de fumar a droga e o uso terapêutico de uma substância presente em sua composição. Realmente, a Cannabis sativa, planta que dá origem à maconha, possui mais de 500 elementos. Dentre eles podemos destacar dois – o canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol, o conhecido THC.

CBD e THC

Como inclusive já apontei aqui na coluna, várias pesquisas demonstraram os efeitos nocivos provocados ao nosso corpo pelo THC, uma substância que, apesar ter aspectos terapêuticos em pacientes com glaucoma, no tratamento de espasticidade e náuseas ocasionadas por quimioterapia, é viciante, afeta os sistemas nervoso central e vascular, e chega a dobrar o risco de desenvolvimento de doenças psíquicas, como esquizofrenia e até psicose.

Do outro lado, na mesma planta está presente uma substância que combate os efeitos do THC, o canabidiol. Ele atua justamente na diminuição de efeitos psicóticos, de ansiedade, dentre outros, provocados pelo THC. Tanto que os medicamentos aprovados até o momento para comercialização contendo THC, como para tratamento de esclerose múltipla, também têm em sua composição o canabidiol.

Diversas pesquisas realizadas a partir dos anos 1970 conseguiram demonstrar os efeitos positivos do CBD, como anticonvulsivo inclusive, sendo que, no Brasil (um país com pesquisadores pioneiros na área como Elisaldo Carlini, Antonio Waldo Zuardi e José Alexandre de Souza Crippa), os estudos continuam a ser realizados, na tentativa de provar sua eficácia no tratamento de doenças como esquizofrenia, epilepsia, Parkinson, Alzheimer e até autismo. Dados obtidos até então indicam que a substância não tem efeito alucinógeno, nem provoca dependência, ao contrário do tetrahidrocanabinol.

Inclusive, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já incluiu, em 2016, derivados de canabidiol na lista de substâncias psicotrópicas vendidas no Brasil, em medicamentos tarja preta, com a necessidade de receitas específicas. A Anvisa autoriza também, mediante certas condições, a importação de CBD para casos de epilepsia refratária, que apresentem resistência a medicamentos convencionais.

A maconha possui sim elementos com efeito medicinal. Porém, fumar a droga, pura e simplesmente, provoca mais um efeito alucinógeno e prejudicial do que terapêutico.

Pense no caso de medicamentos para a pressão ou para tratamento doenças cardíacas, elaborados a partir de substâncias provenientes de venenos de cobras (sim, eles existem). O veneno é receitado? Lógico que não, apenas um remédio criado a partir de substâncias presentes nele. E anestésicos que têm elementos extraídos do ópio? Se seguirmos o raciocínio dos que defendem a legalização da maconha para uso medicinal, teríamos então que legalizar também esta droga para consumo. Não faz sentido. Nenhum outro produto é usado in natura – existe uma ordem que precisa ser respeitada, para a segurança da população. O produto tem que ser sintetizado, passar por testes, enfim, até ser aprovado como um medicamento seguro.

Nesse contexto, é muito importante analisar também questões financeiras, de mercado, que influenciam decisões políticas. O canabidiol é um composto não patenteável, assim, o interesse de grandes empresas em realizar pesquisas que demonstrem seus efeitos é menor do que em outras situações, já que, após ser aprovado para produção e comercialização não será possível ter sua patente exclusiva. Resumindo – será um produto com grande concorrência no mercado. Inclusive, por isso que a maioria das pesquisas na área hoje é realizada em centros acadêmicos.

O exemplo americano

Porém, grandes investidores (com base no que acontece nos Estados Unidos principalmente) vêem a simples legalização da maconha como uma rápida e incrível oportunidade de lucro, bilionário por sinal. Por quê? O mercado americano nos fornece essa explicação, vendendo desde a droga para fumo até doces de maconha, que possuem grande apelo, inclusive para crianças.

Não à toa, ocorreu um forte investimento em lobby em estados e no congresso americano, visando a legalização da droga para comercialização, se aproveitando até de uma visão ingênua de parte da opinião pública, que ainda acredita na história de que o famoso “baseado” é leve, não faz mal. Tanto que o uso da “maconha medicinal” em diversos locais nos Estados Unidos não foi aprovado por médicos e sim por meio de plebiscito.

O que colaborou para a criação dessa imagem, e que poucos sabem, é o fato da concentração de THC na maconha ter sido de 0,5%, em média, na década de 1960, por exemplo. Com o tempo e modificação da droga, esses níveis foram subindo, podendo chegar a até 30% hoje. Na prática, estamos falando de outra droga, modificada, muito mais potente e perigosa, presente até em produtos comestíveis. Tendo em vista os altos riscos sociais e em termos de saúde pública que a medida apresenta, os Estados Unidos se mostram não como um exemplo a ser seguido, e sim evitado.

Com todo esse contexto em mente, pense bem nessa questão. O que é melhor para a saúde da população: a simples liberação do consumo de uma droga, que provoca dependência e diversos outros males, ou a pesquisa e extração de substâncias com poder terapêutico, para serem disponibilizadas como medicamentos? A medicina nos mostra que resposta é mais simples do que parece.
por Dr. Ronaldo Laranjeira 

terça-feira, 2 de maio de 2017

Os riscos da Maconha em grávidas


 


Jornal O Estado de S. Paulo
Índice alto de consumo de maconha no início da gravidez pode ser um indicador de que a droga está sendo usada pelas garotas para aliviar a náusea
Jairo Bouer
(imagem reprodução)

Garotas grávidas têm duas vezes mais chance de fumar maconha do que as demais adolescentes. Essa é uma das principais conclusões de um grande levantamento sobre consumo de drogas divulgado na última semana.

Pesquisadores do Instituto Nacional de Abuso de Drogas (NIDA), dos EUA, analisaram dados de 410 mil mulheres de 12 a 44 anos, de 2002 a 2015. Segundo eles, 14% das grávidas de 12 a 17 anos fumam maconha, enquanto entre as garotas que não engravidaram esse índice é de 6%. Em contrapartida, gestantes mais velhas têm metade da chance de fumar maconha do que as mulheres que não estão grávidas. As informações são do jornal inglês Daily Mail.

Entre as mulheres de 12 a 44 anos, 6% relataram ter usado maconha no primeiro trimestre de gravidez, 3% no segundo trimestre e 2% no trimestre final da gestação. Para os especialistas, no grupo das garotas grávidas, em que praticamente uma em cada sete consome maconha, há uma percepção peculiar dos efeitos da droga. Além de ter um perfil mais “inocente”, ela é considerada até benéfica para a saúde. Já entre as mulheres mais velhas esse fenômeno não aconteceria, o que faz com que elas tenham menos comportamentos de risco em relação à maconha, principalmente durante a gestação.

O índice mais alto de consumo de maconha no início da gravidez pode ser um indicador de que a droga está sendo usada pelas garotas para aliviar a náusea. Bom lembrar que o uso de qualquer droga, até mesmo a maconha, durante a gravidez, é um fator de risco para o desenvolvimento físico e neurológico da criança, principalmente quando esse uso acontece no primeiro trimestre da gestação.

O trabalho publicado no periódico Annals of Internal Medicineencontrou 14 mil mulheres grávidas no universo das mais de 400 mil avaliadas. Embora as taxas de gestação na adolescência estejam caindo nos Estados Unidos nos últimos anos, o consumo de maconha nessa fase da vida, além dos riscos para o feto, é preocupante porque pode trazer complicações e impactos para a saúde e o comportamento das jovens mães, que estão com suas redes de neurônios ainda em fase intensa de remodelamento e ajustes.

Para os especialistas, muitas dessas meninas fumam maconha porque ainda não sabem que estão grávidas. Uma vez informadas dos riscos para a gestação, a tendência é que consumam menos a droga. Por isso, é importante trabalhar esse tema durante o pré-natal.

Estudos anteriores já haviam ligado o consumo de álcool e outras drogas a um maior número de parceiros sexuais e maior risco de gravidez, mas esse trabalho trouxe novos dados, mais específicos, sobre o impacto da maconha.

Beber e guiar. Por falar em álcool, aqui no Brasil, dados divulgados na última semana pelo Ministério da Saúde revelam que o número de homens que dirigem depois de beber voltou a aumentar, alcançando quase 13%. Os dados fazem parte da pesquisa Vigitel de 2016 (inquérito sobre saúde realizado por telefone). Já entre as mulheres esse índice é de 2,5%. O valor indica um padrão de maior risco em relação ao álcool por parte da população masculina, o que não é exatamente uma novidade.

Em 2013, um ano depois da Lei Seca, os números do “beber e guiar” para os homens tinham caído para 9,4% e, para as mulheres, 1,6%. As informações são de Lígia Formenti, do Estado. Os dados das pesquisas indicam que é importante investir mais e melhor em prevenção.
Jairo Bouer - Psiquiatra

Os perigos da droga em forma de doce


 


Drogas em forma de doces são cada vez mais comuns, apesar de ilegais
Foto: Leo Motta/Folha de Pernambuco

Folha de Pernambuco
É cada vez mais comum a venda de brigadeiros, biscoitos e brownies feitos com maconha nas ruas do Recife. Especialistas alertam para o risco à saúde no consumo desses produtos, considerados ilegais pela polícia
Por: Folha de Pernambuco

Elas parecem deliciosas guloseimas. O recheio, porém, pode dar uma “onda” nada agradável ao organismo, além de sua posse e consumo serem considerados ilegais. Os riscos da ingestão de doces à base de maconha, alertam especialistas, vão desde problemas de digestão, descontrole das funções cerebrais a alucinações.

Nas ruas do Recife tem sido cada vez mais comum a venda de alimentos artesanais, como brownies e brigadeiros, tendo a droga como ingrediente principal. A comercialização dos chamados “brisadeiros” ou “brigajah”, feita ao ar livre, é frequente em bares, em portas de casas de show ou qualquer outro local com grande aglomeração de pessoas. A situação reflete, para a população, a necessidade de uma fiscalização para coibir a prática.

Na avaliação do mestre em Ciência e Tecnologia de Alimento pela UFRPE e especialista em gastronomia alternativa, Rodrigo Rossetti, a situação pode soar como uma brincadeira inocente, mas não é. Ele explicou que, ao ingerir a maconha, a pessoa expõe o organismo a altos níveis de THC (tetra-hidrocanabinol), componente da planta responsável por seus efeitos. “Dependendo do metabolismo, a intoxicação pode durar dias. E não é só isso. Problemas a longo prazo também podem ocorrer. Comendo ou fumando, o THC ataca os neurônios. Na fase adulta, eles não se renovam e, com o passar do tempo, a capacidade de resposta rápida é perdida”, diz.

O perigo é potencializado quando não se sabe a procedência da droga. “Muitas vêm misturadas com outras drogas, como o crack. Nem a pessoa que fabrica tem real conhecimento sobre o processo. As pessoas comem sem ter ideia do mal que estão fazendo a si mesmas”, alerta, acrescentando que, ao comprar, elas contribuem indiretamente com o tráfico.

A produtora musical M.B.L., de 26 anos, porém, contesta. Para ela, a liberação da erva enfraqueceria o tráfico. “Temos de ressaltar que o combate às drogas tem de ser inteligente. Você não vai acabar com tráfico só com repressão. Por isso, se você legalizar a maconha, certamente iria enfraquecer o tráfico e, consequentemente, reduzir o poder econômico dos traficantes. Não é preciso esse tabu ao falar da erva, se ela mesma é usada para fins medicinais”, pondera. O estudante D.M, 32, faz coro à versão. “É um tema tratado com repressão em vez de ser desmistificado. Outros países estão bem à frente”, critica.

Manteiga verde

A aparência dos doces de maconha é a mesma das guloseimas que as pessoas estão acostumadas a ver em balcões de padaria. A diferença está no sabor, afirmam os consumidores. A substância responsável pelos efeitos da droga é associada a algum tipo de gordura, como a manteiga. Durante o preparo, é essa mistura a responsável pelos efeitos. Procurada, a Polícia Militar informou por meio de nota que a “venda de maconha é crime e, como tal, está passível das punições previstas na lei. No entanto, não há uma linha de investigação específica para essa modalidade de tráfico. Em caso de flagrante, a PM detém o acusado e o encaminha à Polícia Civil”.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas 



segunda-feira, 24 de abril de 2017

Traficantes usavam viciados da cracolândia como ´laranjas` em troca de drogas


 


Flávio Costa Do UOL, em São Paulo
A PF (Polícia Federal) prendeu nesta terça-feira (28) 16 membros de uma quadrilha de tráfico internacional que fornecia drogas a usuários da região conhecida como cracolândia, no centro de São Paulo, em troca de seus documentos.

A documentação seria usada na compra de imóveis e aberturas de contas com o objetivo de ocultar o patrimônio ilegal obtido pela quadrilha, cuja maioria dos integrantes foi detida durante a deflagração da Operação All In, realizadapela PF. Desta maneira, os usuários se tornavam "laranjas" dos traficantes.

A investigação já identificou R$ 7,5 milhões em bens de suspeitos, que foram bloqueados por decisão da 3ª Vara Federal de Mato Grosso do Sul.

"Durante uma investigação constatamos ao menos que três usuários de São Paulo tiveram sua documentação falsificada e usada na ocultação de bens da quadrilha", afirma o delegado José Antonio Soares de Oliveira Franco, chefe do núcleo de combate às organizações criminosas da PF no Mato Grosso do Sul.

"Essas pessoas eram duplamente penalizadas: por receberem drogas que só agravavam a situação em que eles se encontravam e por terem seus documentos usados em um esquema de criminoso, sem que elas tivessem conhecimento", acrescenta o delegado.

Operação All In

A Operação All In visa desarticular uma organização criminosa responsável pelos crimes de tráfico internacional de drogas e de lavagem de dinheiro. "Conseguimos identificar que essa quadrilha, chefiada por um criminoso de larga experiência, obtinha na Bolívia grandes quantidades de cocaína, com um alto índice de pureza", afirma o delegado.

Entre os 16 traficantes presos nesta terça-feira (28) durante a deflagração da Operação All In, havia um que, entre outros crimes, já foi condenado por sequestrar um avião no ano 2000. Apontado como líder desta organização criminosa, o ex-piloto Gerson Palermo, 59, foi preso pela PF pela quarta vez - agora, sob acusação de tráfico de drogas.

"A maior parte da cocaína era destinada para consumo no Estado de São Paulo, mas suspeitamos que pelo menos uma parte tinha como destino o exterior porque fizemos apreensão de cocaína desta quadrilha em uma cidade próxima a Santos e por causa da alta qualidade do produto", acrescenta.

Ainda no decorrer das investigações, a PF apreendeu 800 quilos de cocaína que estavam de posse de três membros da quadrilha. A droga entrava no Brasil em aeronaves que pousavam em aeroportos particulares em cidades sul-mato-grossenses, a exemplo de Corumbá.

Mais de 150 policiais federais cumpriram 25 mandados de busca e apreensão em 14 cidades do Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais.Dois membros da quadrilha ainda estão foragidos.

A Justiça Federal do Mato Grosso do Sul decretou ainda o sequestro de "de seis aeronaves, cinco imóveis, incluindo um aeródromo, bloqueio de numerários em 68 contas correntes e a apreensão de mais de 35 veículos adquiridos por meio de práticas criminosas".

De acordo com a assessoria de comunicação da PF, a operação foi batizada de All In, jogada típica do pôquer em que o jogador aposta todas as suas fichas em uma mão de cartas, "em alusão à forma impetuosa com que a organização criminosa desenvolve suas atividades, arriscando-se no transporte de grandes carregamentos de entorpecentes".
Fonte: Uol

Cresce número de pessoas que dirigem após consumir álcool, diz governo




Jornal O Estado de S. Paulo
Duas a cada dez pessoas ouvidas por estudo também admitiram ingerir bebidas em quantidade excessiva
Lígia Formenti, O Estado de S.Paulo
Foto: Leonardo Soares/Estadão

A associação entre álcool e direção voltou a aumentar no País
BRASÍLIA - Depois de um breve período de queda, a associação entre álcool e direção voltou a aumentar no País. Pesquisa feita por telefone pelo Ministério da Saúde em capitais brasileiras mostra que 12,9% dos homens e 2,5% das mulheres admitem dirigir depois de consumir bebidas alcoólicas. Em 2013, um ano depois da criação da Lei Seca, os índices entre o público masculino haviam caído para 9,4% e das mulheres, para 1,6%. "É preciso verificar se a tendência de aumento se confirma. Mas talvez o número possa indicar a necessidade de maior monitoramento da lei", afirmou a coordenadora geral de alimentação e nutrição Michele Lessa.

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, observou que o brasileiro está bebendo mais. Um estudo do sistema de vigilância do ministério, Vigitel, revela que, ano passado, duas em cada 10 pessoas entrevistadas admitiram a ingestão excessiva de bebida alcoólica. Para mulheres, isso significa o consumo de quatro doses ou mais de bebidas por vez. No caso de homens, o excesso é caracterizado pelo consumo de 5 doses ou mais. Em 2006, o consumo excessivo era indicado por 15,7% dos entrevistados.

O aumento ocorre em ambos os sexos. O ministro da Saúde, Ricardo Barros, no entanto, chamou a atenção para a expansão do problema entre mulheres. Em 2006, 7,8% referiam consumo abusivo de bebida alcoólica. Esse porcentual agora é de 12,1%. "É um aumento de 50%. Não é desprezível. Mostra que as mulheres estão mais na cervejinha", disse Barros. Entre o público masculino, o consumo abusivo passou de 25% para 27,3%.

Barros afirmou ser necessário reforçar as campanhas de prevenção contra o que ele define como "vícios tolerados pela sociedade." "A gente precisa insistir nisso. A campanha contra o tabagismo foi muito eficiente ao longo do tempo, se reduziu muito o número de fumantes. A de álcool não", comparou.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Psiquiatra dá 10 dicas para família conversar com jovem sobre álcool


 


Por Arthur Guerra de Andrade

1. Mantenha-se informado sobre o assunto
Para conversar a respeito das consequências do consumo do álcool é importante estar informado sobre os efeitos fisiológicos e psicológicos das bebidas alcoólicas. Estar ciente da ação do álcool no corpo é essencial para explicar que os efeitos dessa substância dependem de fatores como a quantidade de bebida ingerida, velocidade com que a pessoa bebe, gênero, idade, peso, entre outros fatores.

2. Fortaleça o vínculo
A melhor maneira de apoiar seus filhos é estar atento, ser carinhoso e demonstrar afeto. Promova atividades em família, como por exemplo, ver filmes, fazer as refeições juntos, praticar esportes, ir ao parque, etc. Conheça os assuntos que eles têm interesse, assim vocês terão assuntos em comum. Jovens que recebem apoio familiar têm uma propensão menor para desenvolver o hábito de consumir álcool. A supervisão adequada é chave para uma boa educação, principalmente no que se refere ao consumo de álcool. Somente lembre-se de confiar em seus filhos. Eles sentem que os pais estão presentes, mesmo quando não estão por perto.

3. Converse com seus filhos sobre álcool
As crianças pensam sobre as coisas muito mais cedo do que imaginamos. Crianças de 6 anos já sabem quais são os comportamentos socialmente aceitos quando o assunto é o consumo de álcool. Portanto nunca é cedo demais para começar a falar sobre este tema. Não tenha medo de conversar com seus filhos com clareza e com franqueza. Certifique-se de que todos estão sendo ouvidos e que as opiniões dos dois lados estão sendo respeitadas. Converse também sobre as consequências de beber no trabalho, na escola, enquanto pratica esportes ou dirige.

4. Informe sobre as consequências do uso de álcool
Ao conversar com seus filhos sobre álcool, é importante mencionar as consequências do consumo nocivo, para que ele possa evitar:
• Fazer coisas das quais se arrependerá mais tarde,
• Perder o autocontrole;
• Tornar-se violento com as pessoas com quem convive;
• Sofrer violência;
• Esquecer-se do que aconteceu;
• Causar acidentes de trânsito;
• Contrair doenças graves;
• Faltar às aulas e/ou emprego.

5. Observe o comportamento de seus filhos
Mesmo que você seja uma mãe ou pai atento, muitas vezes não é fácil saber se seu filho tem um problema relacionado ao uso de álcool, ou se é um problema de comportamento típico da puberdade. É importante estar atento a alguns sinais:
• oscilações bruscas de comportamento sem razão aparente;
• ficar durante muito tempo sozinho ou fechado no quarto;
• falta de assiduidade na escola, notas baixas;
• relutância em apresentar novos amigos aos pais;
• aparência desleixada, falta de envolvimento em atividades que sempre o interessaram;

Apesar destes comportamentos serem muitas vezes próprios da adolescência, é preciso estar atento, principalmente se são observados muitos ao mesmo tempo em um curto espaço de tempo, e de curso progressivo.
Há outros sinais que são mais críticos:
• encontrar álcool no quarto ou na mochila do seu filho;
• sentir cheiro de álcool proveniente da sua respiração;
• lapsos de memória, dificuldade de concentração;
• olhos vermelhos, falta de coordenação motora e/ou fala arrastada.

6. Conheça os amigos dos seus filhos
Conheça os amigos dos seus filhos e os pais deles. Procure sempre saber onde seus filhos estão e com quem, o que estão fazendo e como estão se comportando. Mesmo que seja muito ocupado, arranje tempo para falar com seus filhos e diga que estará disponível caso necessitem de alguma coisa. Você deve garantir abertura e confiança entre vocês. Seja o que for, não faça comentários de desaprovação em relação aos amigos dos seus filhos e não os julgue antes de conhecê-los. Encoraje seus filhos a sair com pessoas cujos pais partilham da sua opinião em relação ao consumo de álcool.

7. Ouça seus filhos
Esteja aberto para ouvir seus filhos. A opinião deles também é importante. Isso estreita a relação entre vocês e aumenta o ambiente de proteção. Se deseja que eles respeitem seu ponto de vista, também escute e reflita sobre os deles. Mesmo em situações em que as regras estabelecidas forem desrespeitadas, como, por exemplo, se seus filhos consumirem álcool, ouça o que eles têm a dizer sobre isso. Tente perceber o que se passou e qual foi o contexto. Talvez tenham sido pressionados pelo grupo de amigos. Aproveite a oportunidade para conversar sobre as consequências do álcool e possíveis prejuízos associados ao seu uso. Seja firme, mas amável.

8. Evite sermões e tom autoritário
Mesmo que você esteja zangado, tente manter a calma quando falar com seus filhos. Lembre-se que, se você for muito autoritário e controlador, poderá provocar rebeldia e comportamento agressivo, e a conversa pode ter um efeito negativo. Levantar o tom de voz não ajuda, e dificulta a comunicação entre vocês.

9. Estabeleça regras e limites
É aconselhável que os pais se posicionem de maneira clara e firme em relação ao assunto, além de estabelecerem regras específicas e as possíveis punições, caso sejam desrespeitadas. Explicar as razões da sua decisão é uma forma de ajudar o seu filho a desenvolver a própria capacidade de tomar decisões com base em informações.

10. Dê o exemplo
Crianças e adolescentes imitam o comportamento daqueles que amam e admiram, especialmente os pais. Nesse sentido, é correto afirmar que seus filhos poderão imitar seus hábitos no futuro e consumir bebidas alcoólicas da mesma forma que você. Por isso, se você beber, faça-o moderadamente. A sua atitude servirá de exemplo, por isso, tenha atitudes condizentes com o que você fala.
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool