terça-feira, 13 de junho de 2017

Crack avança em todo o país


 


Jornal O Estado de S. Paulo
(foto: reprodução)

A maior atenção ao que se passa em grandes cidades, porque nelas o problema é mais visível e por isso mais chocante – como a concentração de dependentes na Cracolândia, em São Paulo –, fez com que só mais recentemente começassem a surgir estudos mostrando a larga difusão do crack por todo o País. A tal ponto que já se pode dizer que ele tem tudo para se tornar um grave problema de âmbito nacional, que não poupa nenhuma região, das mais ricas às mais pobres, e, nelas, nem mesmo as pequenas cidades do interior.

Um exemplo disso é o que se passa em São Paulo, como mostra reportagem do Estado feita com base em estudo do Observatório do Crack, da Confederação Nacional de Municípios (CNM). Os números levantados são tão impressionantes e assustadores que, perto deles, a Cracolândia já não pode ser considerada o ponto alto do problema, como se pensou por muito tempo. Dos 645 municípios do Estado, nada menos que 558 – entre os quais se inclui a capital – estão às voltas com problemas acarretados pelo crack, embora com níveis diferentes de gravidade.

O nível é muito alto em 193 cidades do interior, médio em 259 e baixo em 105. Outro aspecto importante a considerar é que, dos 608 municípios ouvidos – descontados os que informaram não terem sido atingidos (apenas 20) e os que não enviaram informações –, 95% têm problemas com o consumo de crack. Entre as mais importantes cidades do interior onde eles são mais graves estão Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Bauru e Marília. Os serviços públicos mais afetados por eles são os de saúde (67,1%), de assistência social (57,5%) e segurança pública (49,1%).

Até agora, as medidas adotadas pelos governos municipais e estadual para tentar conter a expansão dessa droga ficaram muito aquém do necessário. A Secretaria Estadual da Saúde diz ter aumentado seis vezes o número de vagas destinadas ao tratamento de dependentes de drogas, que passaram de 500 em 2011 para 3,3 mil, sendo 2 mil para o interior. É muito pouco, porque a comparação dos dados atuais da pesquisa da CNM com os colhidos em 2014 por reportagem do Estado sobre o avanço das drogas no interior mostra que a situação só piorou desde então.

Tem razão, portanto, o consultor da CNM Ernesto Stranz quando afirma que, apesar do “grito de socorro” das prefeituras – que é como define a disposição delas de participar da pesquisa, expondo a difícil situação em que se encontram, nesse caso –, o governo estadual nada mudou em sua maneira de enfrentar o problema, não fazendo os investimentos necessários para conter o avanço do crack no interior.

Se no Estado mais rico a situação é essa, não é de admirar que ela se repita nos outros, especialmente nos mais carentes do Nordeste. Pesquisa da CNM, feita em 2013, mostrou que o consumo de crack estava presente em 90% dos municípios de Pernambuco. Segundo outra pesquisa de 2013, esta da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad), do Ministério da Justiça, só nas capitais havia 370 mil pessoas que consumiam crack regularmente, 80% em locais públicos. No Nordeste, estão 40% dos dependentes.

Tudo indica que, a exemplo do que aconteceu em São Paulo, a situação piorou em todo o País porque também nos demais Estados carentes não houve mudança significativa na forma de tratar o problema.

Está mais do que na hora de União, Estados e municípios acordarem para a gravidade do problema e colaborarem estreitamente na formulação e implementação de uma nova e mais ousada política de combate às drogas, em especial o crack, que ataque ao mesmo tempo e com igual empenho os seus dois aspectos fundamentais: a assistência social e médica para a recuperação dos dependentes e o combate sem trégua aos traficantes.

O crack deve merecer maior atenção por suas características, que o tornam particularmente perigoso: é uma droga barata – o que explica sua difusão –, que vicia rapidamente. Tem efeitos devastadores.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas 

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Vamos falar sobre alcoolismo na terceira idade?




Júlio César Menezes Vieira
A ciência busca o conhecimento por meio de ensaios clínicos sistematizados e analisados por ferramentas estatísticas. Porém, ela sabe que seus resultados são limitados devido a uma série de variáveis na vida real. Assim, a “verdade” de hoje talvez não será a de amanhã, desde que um ensaio clínico mais confiável diga o contrário.

Por muitos anos, o ovo foi considerado um alimento proscrito na dieta devido seus índices de calorias; hoje é considerado um dos alimentos mais saudáveis em razão de seu alto teor proteico. O escritor Luiz Fernando Veríssimo brinca maliciosamente que pretende processar os médicos que o proibiram de comer ovo durantes todos estes anos.

E, agora, nos vemos diante do dilema sobre o álcool, principalmente na senescência. Beber ou não beber? É saudável até determinada dose ou sempre danosa à saúde?

De acordo com uma projeção do IBGE, em 2025 o Brasil terá cerca de 216 milhões de habitantes, dos quais 32 milhões (14,8 %) serão idosos. Segundo o National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism – NIAAA e a Associação Americana de Geriatria, entre 2 e 3% das mulheres e 9 e 10% dos homens acima de 65 anos se envolvem em consumo alcoólico de risco.

No primeiro levantamento nacional sobre o consumo de álcool - LENAD, constatou-se que 7% da população brasileira acima dos 60 anos faz uso diário de álcool. Os efeitos do álcool são mais intensos nos idosos em razão das alterações fisiológicas do envelhecimento.

Na literatura recente, grandes estudos demonstram que doses de baixo risco de álcool teriam um efeito protetor contra o declínio da memória e outras funções cognitivas no idoso. Os trabalhos tendem a uma conclusão que a relação entre consumo e desempenho cognitivo é dose dependente, semelhante ao que ocorre com o risco cardiovascular versus consumo alcoólico. Portanto, os benefícios protetores do álcool diminuem conforme o aumento do consumo de álcool.

Devido a toda essa polêmica e debate sobre o uso do álcool na saúde do indivíduo, e pela falta de consenso entre os especialistas, não há nenhuma recomendação médica para utilizar o álcool para fins preventivos.

Então, ingerir ou não bebida alcoólica? Será que o envelhecimento traz maturidade para beber com sabedoria?Porém, outros estudos utilizando a mesma metodologia dos trabalhos anteriores não sustentaram o efeito protetor do consumo leve de álcool na cognição do idoso.

Desde janeiro de 2016, o departamento de saúde da Inglaterra divulgou, de forma taxativa, que nenhuma dose de álcool é segura e reduziu para 14 unidades de álcool por semana, no máximo, para homens e mulheres. E afirmou que nenhuma dose de álcool é segura na gravidez.

A resposta não é simples. Porém, o efeito do uso nocivo e crônico do álcool é unânime na literatura especializada e na mídia quanto aos riscos para doenças cardiovasculares, úlceras gástricas, neoplasias, anemia e doenças neuropsiquiátricas como depressão e demência.

Além disso, o álcool é uns dos principais fatores de risco para causas de mortes externas (homicídios, acidentes de transito e suicídios) e o aumento da violência doméstica, sexual e infantil.
*Dr. Júlio César Menezes Vieira – CRMMG 43926
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação de Medicina Molecular da UFMG. Médico Psiquiatra/Psicogeriatra Titulado pela ABP/AMP e Geriatra Titulado pela SBGG/AMP. Graduado em Medicina pela UFMG. Diretor Clinico do Hospital Espirita André Luiz - HEAL. Coordenador e professor dos cursos lato sensu de Psiquiatria e Geriatria da Faculdade IPEMED de Ciências Médicas.
Fonte:Hoje em Dia


Tabaco mata mais de 7 milhões por ano, diz OMS


 


Até o final do século, a OMS estima que o tabaco irá contabilizar mais de um bilhão de mortes no mundo. (iStock/Getty Images)

Revista Veja
Saúde - Tabaco mata mais de 7 milhões por ano, diz OMS
Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde, eliminar propagandas e apostar em políticas tributárias seriam formas de frear o consumo
Por Da Redação

O tabaco mata, por ano, mais de sete milhões de pessoas no mundo, de acordo com um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado nesta terça-feira, em razão do Dia Mundial Sem Tabaco. No documento, a instituição avaliou o impacto do consumo da substância na saúde, na economia e no meio ambiente e defendeu a proibição da propaganda e o aumento dos preços e impostos sobre o produto, como forma de reduzir seus males.

“O tabaco é uma ameaça para todos. Agrava a pobreza, reduz a produtividade econômica, afeta negativamente a escolha dos alimentos consumidos nas residências e polui o ar em ambientes fechados”, afirmou Margaret Chan, diretora geral da OMS, em um comunicado.

No início do século, o tabagismo beirava um índice de mortalidade de quatro milhões. Hoje, ele atinge mais de sete milhões de pessoas, matando metade dos fumantes e custando aos governos e populações cerca de 1,4 trilhão de dólares anuais em gastos com saúde e perda de produtividade.

Segundo a OMS, o cigarro e as doenças relacionadas afetam principalmente pessoas pobres. Até o final do século, a agência da ONU estima que o tabaco irá contabilizar mais de um bilhão de mortes no mundo.

Sustentabilidade

Este é o primeiro relatório da OMS que considera os efeitos do tabaco na natureza e revela dados alarmantes. Os resíduos de tabaco contêm mais de 7.000 substâncias químicas tóxicas. Só a fumaça do cigarro, por exemplo, libera milhares de toneladas de substâncias tóxicas cancerígenas e gases do efeito estufa para o meio ambiente.

Além da poluição pela fumaça, os resíduos das bitucas de cigarro são o tipo de lixo mais numeroso. Quase 10 bilhões dos 15 bilhões de cigarros vendidos diariamente pelo mundo não são devidamente descartados. De acordo com o relatório, as bitucas representam entre 30% e 40% dos objetos recolhidos pelos serviços de limpeza urbana.

Publicidade

O comunicado levanta a importância da proibição da propaganda, da venda e uso em locais fechados e ambientes de trabalho; e defende o aumento de preços e impostos sobre os produtos.

“Ao adotar medidas firmes de luta antitabagismo, os governos protegem o futuro de seus países porque protegem toda a população. Além disso, geram recursos para financiar os serviços de saúde e outros serviços de sociais e evitam os estragos que o tabaco provoca no meio ambiente”, disse Margaret.

Brasil

Recentemente, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) sugeriu novas propostas de alteração das embalagens de maços de cigarro com mensagens mais incisivas sobre os efeitos do tabaco.

“Muitos governos estão tomando medidas contra o tabaco, desde a proibição da publicidade e comercialização até a adoção do pacote neutro e a proibição de fumar nos espaços públicos e locais de trabalho. No entanto, uma medida de luta antitabagismo menos utilizada que resulta muito eficaz é a aplicação de políticas tributárias e de preços, que os países podem aplicar para satisfazer suas necessidades de desenvolvimento.”, explicou Oleg Chestnov, médico subdiretor da OMS para doenças não-transmissíveis e saúde mental.
(Com AFP)

domingo, 28 de maio de 2017

Robô no Facebook do Alcoólicos Anônimos faz ajuda crescer 1.300%


 


Alcoolismo: robô de bate-papo oferece ajuda (Marcos Santos/USP Imagens)

Revista Exame
Bot no Facebook conversa com pessoas que buscam ajuda para o alcoolismo e fornece informações preciosas sobre o AA
Por Guilherme Dearo

São Paulo – Um chatbot (sistema automático de mensagens que interage com usuários) no Facebook fez a busca pela entidade Alcoólicos Anônimos crescer 1.300%.

Em parceria com o Facebook e com criação da agência J. Walter Thompson e da Movile, o AA brasileiro lançou a campanha “Amigo Anônimo”, que usa o bot como canal extra de auxílio para interessados.

Através da página oficial, pessoas que buscam auxílio encontram o bot no Messenger, que interage com elas.

O bot, ao conversar com a pessoa, dá as primeiras orientações sobre como lidar com o alcoolismo e também incentiva a pessoa a buscar um grupo de atendimento de emergência pessoalmente.

O bot também auxilia pessoas em um momento de recaída.

Se a pessoa precisa de indicação de ajuda, o bot, por exemplo, mostra endereços próximos e horários de atendimento.

Resultados

O resultado inicial foi muito positivo.

Segundo o AA, nas primeiras 48 horas de vida do bot foram 70 mil acessos. Já a busca por ajuda via e-mail no AA cresceu 1.300%. Saltou de 3 ou 4 contatos diários para 40 contatos.

Já os acessos no site do AA cresceram 100%.

Além disso, os grupos registraram 20% novos membros.

Campanha lança alerta sobre Síndrome Alcoólica Fetal


 


Médicos condenam o uso de bebidas alcoólicas por gestantes.
Bebês podem sofrer danos irreversíveis
como retardo mental e anomalias congênitas
Ana Nascimento/MDS/Portal Brasil

Debora Brito - Repórter da Agência Brasil
O Brasil não tem estatísticas oficiais, nem programa de prevenção específico sobre a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), doença que atinge bebês de mulheres que ingeriram bebidas alcoólicas durante a gravidez.

O alerta é da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Ela está lançando este mês uma ferramenta para ampliar a conscientização das mães e profissionais da saúde sobre os danos da ingestão de álcool durante a gravidez para os bebês. Os pediatras destacam que a doença não tem cura e pode trazer danos irreversíveis para as crianças, como retardo mental e anomalias congênitas.

A plataforma pode ser acessada no site da SBP, onde estão informações gerais sobre a doença e orientações de prevenção e tratamento para mulheres e pediatras. O objetivo, segundo entidade, é aumentar a repercussão da campanha nacional #GravidezSemAlcool e reduzir a ocorrência de novos casos da Síndrome.

Segundo o Ministério da Saúde, a prevalência de Síndrome no Brasil já foi estimada em 1 a cada 1.000 nascidos vivos, índice menor que o registrado em termos mundias (3 em cada mil). Em nota, o ministério reconhece, no entanto, que a estimativa nacional pode estar subestimada, “considerando a dificuldade de diagnóstico, a não obrigatoriedade da notificação e a tendência crescente de consumo de bebidas alcoólicas pelas mulheres e seu consumo significativo pelas gestantes no Brasil”.

O ministério e a SBP destacam um estudo feito em 2008 em uma maternidade pública de São Paulo, em que duas mil mulheres no período pós-parto foram ouvidas. A pesquisa apontou que a incidência do risco de desordens de neurodesenvolvimento relacionados ao álcool chega a 34,1 bebês a cada mil nascidos vivos.

O estudo revela ainda que mais de 70% das mulheres pesquisadas relataram que a ingestão ocorreu sem o conhecimento do estado de gravidez. A nota traz também a informação de que outros estudos locais realizados em São Paulo e no Rio de Janeiro apontam que 33% a 40% das gestantes consomem bebida alcoólica em algum período da gestação, sendo que 10% a 21% o fazem durante toda a gravidez.

O Ministério da Saúde ressalta ainda que “diferentes levantamentos nacionais apontam uma preocupante tendência de aumento do consumo de álcool por mulheres em idade fértil (10 a 49 anos)”. Entre os dados está a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), que, nas últimas edições, mostrou que o consumo de bebida alcoólica entre adolescentes (13 a 17 anos) pode ser até 13% maior entre as meninas do que entre os meninos da mesma idade.

Para os pediatras, a ausência de dados afeta o conhecimento sobre o problema e na formulação de políticas públicas de prevenção ao problema.

“Não há qualquer programa oficial para prevenção dos efeitos do álcool no recém-nascido. No Brasil, as ações do governo focam na prevenção ao consumo das drogas e do álcool, mas, de forma geral, a Síndrome Alcoólica Fetal não é combatida. Nem sequer se sabe o número de afetados que existem no país. Há um déficit de comunicação sobre o assunto e a ausência de prevenção faz com que esse problema, que existe há décadas, se torne sem solução”, disse Luciana Silva, presidente da SBP.

Perfil das mães

Apesar da falta de dados oficiais, os médicos apontam, que o perfil das mães que dão à luz crianças com a síndrome segue um mesmo padrão. “Geralmente, a gestante alcoolista tem um baixo padrão socioeconômico e educacional, seu estado nutricional é comprometido, ela é afetivamente carente e deprimida, sua gravidez não é desejada e o companheiro também é dependente do álcool”, explicou Luciana Silva.

O obstetra Olímpio Moraes, que trabalha em uma das maiores maternidades públicas de Recife, explica que a subnutrição potencializa os efeitos do álcool e acrescenta que os casos são mais frequentes em mulheres alcoolistas e que fazem associação do álcool com outras drogas. O médico sugere que a síndrome pode ser melhor prevenida se houver fortalecimento das ações de planejamento familiar, que podem evitar a ocorrência de gestações indesejadas.

“A recomendação é que as mulheres que usam álcool procurem um método contraceptivo de longa duração, como o DIU (Dispositivo Intrauterino que, colocado no útero, evita a gravidez) ou a laqueadura para não acontecer uma gravidez indesejada. E quando ela quiser engravidar, tem que tratar o alcoolismo e utilizar o ácido fólico mais ou menos 12 semanas antes para prevenção de anomalias e doenças neurológicas, como anencefalia. Então, o ideal é só deixar de usar o método contraceptivo quando já não estiver bebendo e, quando grávida, fazer pré-natal adequado”, recomendou Moraes, que também é diretor da Federação Brasileira das Associações de Obstetrícia e Ginecologia (Febrasgo).

Nível de consumo

Os médicos alertam que um simples gole de bebida alcoólica pode atingir o bebê. Por outro lado, esclarecem que nem todos as crianças que foram expostas ao álcool durante a gestação desenvolvem a síndrome.

Segundo estudo citado pela campanha, estima-se que, das mulheres que usarem álcool na gravidez, de 30 a 50% delas terão filhos com alterações clínicas do desenvolvimento.

Para a SBP e outras entidades que estão envolvidas na campanha, diante do risco e do desconhecimento de níveis seguros de consumo de álcool durante a gestação, a recomendação é que a mulher interrompa imediatamente a ingestão de álcool assim que a gravidez é constatada.

“Não se conhece até hoje nenhum nível de álcool no sangue materno abaixo do qual as malformações deixem de ocorrer. Portanto, tolerância zero para ingestão de bebida alcoólica durante a gravidez é a principal recomendação dos médicos. E os profissionais de saúde devem procurar estudar o assunto para orientar as mães. Este é um alerta continuo e ilimitado”, afirmou a pediatra Conceição Segre, coordenadora da campanha nacional.

“O ideal é não beber, porque a gente não tem esse nível de segurança. Claro que, com uma pequena ingestão uma vez ou outra, a possibilidade de causar algum mal é muito pequena, mas a gente não tem um nível de segurança, então deve-se evitar ao máximo. Quem está amamentando não deve beber, porque o álcool passa para o leite”, reforçou o obstetra Olímpio Moraes.

Diagnóstico

A presidente da SBP, Luciana Silva, ressalta que os danos da doença não podem ser totalmente revertidos, apenas amenizados. O tratamento ocorre por meio de suporte médico, aliado a acompanhamento social e psicológico.

Segundo os especialistas, o bebê é atingido quando o álcool, presente na corrente sanguínea da mulher, atravessa a placenta e fica armazenado no líquido amniótico, que envolvem o feto na barriga da mãe. Uma vez em contato com o cérebro do bebê, que ainda está em formação, o álcool passa por um processo mais lento de metabolismo e não é eliminado facilmente, o que deixa o bebê mais exposto aos seus efeitos.

Os médicos explicam ainda que o diagnóstico da síndrome é feito com mais precisão depois do nascimento da criança, quando podem ser observadas malformações na face e outros defeitos físicos decorrentes da síndrome, como a microcefalia.

O retardo no crescimento (no útero e também depois do nascimento), problemas cardíacos, disfunções na memória e na capacidade de aprendizagem, além de dificuldades de relacionamento e outras alterações comportamentais também são apontados pelos especialistas como indícios tardios da doença.

“A certeza mesmo [do diagnóstico] só depois do nascimento. Quando o caso é grave, algumas malformações podem ser vistas no ultrassom, mas a maior parte [das sequelas] não é possível diagnosticar no ultrassom, só no nascimento e no desenvolvimento da criança, desenvolvimento cognitivo e motor”, explica o obstetra Olímpio Moraes.

O material da campanha alerta ainda que mais da metade das crianças que desenvolvem a doença, quando adultos, são confinadas em instituições de tratamento de doenças mentais, com problemas com a lei e mais chances de se tornarem dependentes de álcool e drogas. Mais de 80% não conseguem se manter no emprego, nem viver de forma independente.

Edição: Kleber Sampaio
Fonte: Agencia Brasil


O poder destrutivo da empresa do tráfico


 


As famílias no mundo inteiro e principalmente no Brasil estão cada vez mais preocupadas com o uso de drogas em suas casas e aquelas que vivem esse problema na sua realidade estão desesperadas e buscam diversos caminhos de ajuda.

O Relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), 2016, calcula no seu último relatório mundial de uso de drogas que cerca de 5% da população adulta, ou 250 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos, usou pelo menos algum tipo de droga em 2014, isso quer dizer que uma a cada 20 pessoas entre 15 e 64 anos fez uso de entorpecentes.

E ainda se perguntam por que seus filhos entram no caminho das drogas, com tantas informações, com melhor forma de diálogo e porque existem tantos adolescentes e jovens que as experimentam?

As drogas fazem parte de nossa história, sempre existe algo que nos distrai e nos torna mais relaxados para lidarmos com as situações do dia a dia. Adolescentes experimentam e usam drogas por curiosidade, além de se adequarem ao grupo com o qual convivem e do desafio de encarar o novo.

Culturalmente somos incentivados a beber muito cedo: nas festas de família, nos encontros de finais de semanas, no happy hour; as propagandas sempre nos motivam a consumir algo que nos dê conforto, que nos sintamos poderosos, homens lindos e mulheres maravilhosas, tudo em prol da venda e do consumo, mostrando um falso bem-estar das pessoas.

Temos poderosas empresas produtoras de bebidas alcoólicas e essas fazem, claro, o seu marketing para que seus lucros aumentem a cada ano que passa. Ainda temos poderosos laboratórios farmacêuticos que, em nome da saúde, vivem fazendo propagandas ofertando alívios imediatos para dores, para emagrecer, para deixar o corpo maravilhoso.

E não devemos nos esquecer dos cigarros que exibiam belas propagandas, do homem que cavalgava com as belas paisagens, que fumar gera prazer. No Brasil devido às preocupações com as consequências a Lei Anti-Fumo endureceu em vários sentidos, retirando propagandas e criando locais para fumar.

Todas essas formas de produtos são legalizados e disponíveis a todos que queiram consumir, com extensa oferta nas esquinas, nos grandes centros comerciais, no barzinho do lado de casa, fomentando aqueles que geraram dentro de si dependências e por muita das vezes por anos de consumo sem conseguir parar e provocando doenças físicas e até mesmos psicológicas.

E em escala estratosférica o aumento do consumo de drogas que não são legalizadas, conhecidas como ilícitas, no mundo e no Brasil traz consequências gigantescas para os usuários, para as suas famílias e para a sociedade. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, no Brasil, o índice seja de 3% de dependentes na população geral, ou seja, 6 milhões de brasileiros.

O vício em drogas ilícitas é uma doença que prejudica não só o dependente, mas pelo menos 10 pessoas em torno do usuário, sendo elas: pai, mãe, irmãos, parentes, amigos, colegas de trabalho, companheiros. Com um poder devastador das relações, da saúde e da construção de novos núcleos familiares.

E por muito tempo o dependente foi visto e podemos dizer que ainda é, como um safado, sem vergonha, que usa drogas e é um vagabundo que não quer saber de fazer nada. Mas deve-se deixar claro que o uso de drogas é sempre progressivo e a pessoa que se torna dependente desenvolve a chamada dependência química e que atinge 10% da população mundial, sendo escravizado pelas drogas.

Lembrando o que foi dito anteriormente, que os adolescentes e jovens continuam experimentando e curtindo as drogas apesar de todas as informações e das imagens de drásticas consequências causadas por quem usa. Na verdade a droga é “boa”, a sensação de prazer existe, o poder desligar do mundo, de se aliviar a tensão, de deixar pra trás o estresse, tudo faz aumentar a busca.

E a impressão que ela é “boa”, pois quem usa nunca conseguirá obter o mesmo prazer que sentiu na primeira vez que usou, nosso organismo se torna tolerante e cada mais precisa aumentar a quantidade para obter prazer, é uma busca interminável por migalhas de prazer.

Quem fomenta? Quem fornece? Quem vende? Quem produz tanta droga? Essas são questões que atormentam cada um de nós e as famílias que vivem o drama do filho ou filha, usuários de drogas.

Na verdade, o que existe são grandes empresas fornecedoras das drogas, com concorrências, mas sobretudo com grande oferta. Buscam a demanda de usuários do seu produto, através das escolas, das baladas, do trabalho, na cidade, na roça.

Essas empresas têm grandes empresários, aqueles que ficam curtindo sua grana no morro e também aqueles que viajam pelo mundo e ficam hospedados em grandes hotéis de luxo e esbanjam riqueza.

São empresas que pagam bem a plantação, aquisição, o transporte, a distribuição e por fim até chegar ao consumidor final. Estão sempre aprimorando as suas drogas, com novos lançamentos, com novas formas de fazer chegar a quem interessa. No mundo inteiro se gasta bilhões de dólares para combater a indústria de entorpecentes.

O poder da empresa do tráfico das drogas é comparado ao mesmo dos imensos holdings existentes no mundo. Que tem a cada década se fortalecido por terem suas redes de acesso, pessoas de todas as influências, como políticos, juízes, delegados, empresários, profissionais liberais e tantos outros.

Como lidar contra tudo isso? De que maneira lutar contra a dependência química? Como vencer esse mal que nos amedronta e nos faz ficar até mesmo desesperados? Pois famílias ficam desnorteadas, desestruturadas e doentes com a vivência de seu ente querido no uso das drogas.

E essas famílias ao descobrirem que tem um filho usuário experimentam o sentimento de culpa, de vergonha e de raiva, mas devem aprender a lidar com o problema com serenidade e entender que, como a doença da diabetes, a dependência química deve ser cuidada com muita atenção, persistência e dedicação, além de buscar ajuda e apoio para enfrentar essa situação.
Fonte: André Nunes - Psicólogo

terça-feira, 23 de maio de 2017

O que mais mata os jovens no Brasil e no mundo, segundo a OMS


 


BBC Brasil
Marina Wentzel De Basiléia (Suíça) para a BBC Brasil
A violência interpessoal é a principal razão pela qual jovens de 10 a 19 anos perdem a vida precocemente no Brasil, revelou a Organização Mundial da Saúde (OMS) à BBC Brasil.

A informação vem de um estudo global sobre óbito de adolescentes, publicado nesta terça-feira. A OMS estima que 1,2 milhão de adolescentes morrem por ano no mundo - três mil por dia.

De acordo com a entidade, as principais causas de mortes entre adolescentes brasileiros de 10 a 15 anos são, nesta ordem: violência interpessoal, acidentes de trânsito, afogamento, leucemia e infecções respiratórias.

Já jovens na faixa de 15 a 19 anos morrem em decorrência de violência interpessoal, acidentes de trânsito, suicídio, afogamento e infecções respiratórias.

A OMS repassou esse ranking estimado com exclusividade à BBC Brasil, mas não ofereceu números absolutos para ilustrar a lista, pois o estudo foi organizado por regiões.

Mortalidade de jovens no mundo

O que mostra o levantamento da OMS

* 1,2 milhão de óbitos precoces por ano
* 3 mil mortes por dia no ano de 2015
* 43% de mortes em países de baixa-média renda nas Américas (incluindo Brasil) são atribuídas à violência
Fonte: OMS

O Global Acceleration Action for the Health of Adolescents (Ação Global Acelerada para a Saúde de Adolescentes, em tradução livre) não avalia países individualmente, mas áreas econômicas do planeta. O Brasil está inserido na categoria "países de renda baixa-média das Américas".

A tendência observada dentro desse grupo também aponta a violência interpessoal como principal causa da morte, representando 43% dos óbitos.

"O Brasil se insere exatamente no perfil da região", disse à BBC Brasil, por email, Kate Strong, especialista da OMS para o monitoramento de crianças e jovens.

Violência interpessoal

O conceito de violência interpessoal explorado no documento é bastante amplo, pois engloba desde a preponderante agressão relacionada às gangues e ao narcotráfico até o feminicídio.

"Inclui assassinatos, agressão, brigas, bullying, violência entre parceiros sexuais e abuso emocional", descreve o documento.

De acordo com números da edição de 2016 do relatório, publicado pela iniciativa Mapadaviolência.org.br, a situação é preocupante. "A principal vítima da violência homicida no Brasil é a juventude", afirma o documento nacional.

Nesse levantamento, que compilou dados de 2014, foi observado que jovens de 15 a 29 anos de idade representavam aproximadamente 26% da população do país, mas a participação deles no total de homicídios por armas de fogo era desproporcionalmente superior. O peso demográfico dos jovens nos casos de mortes com armas correspondem a quase 60% dos crimes.

No resto do mundo, as cinco principais causas de morte entre jovens de ambos os sexos, de 10 e 19 anos são: acidentes de trânsito, infecções respiratórias (pneumonia), suicídio, infecções intestinais (diarreia) e afogamentos.

Mais de dois terços dessas mortes ocorrem em países em desenvolvimento, revelam os dados de 2015 da OMS.

Dividindo por sexo, a estimativa aponta que, no mundo todo, meninos de 10 a 19 anos morrem principalmente por acidentes de trânsito, violência interpessoal, afogamento, infecção do sistema respiratório e suicídio.

As meninas da mesma faixa-etária têm mortes atribuídas a infecções do sistema respiratório, suicídio, infecções intestinais, problemas relacionados à maternidade e acidentes de trânsito.

Direito de imagem iStock Image caption Acidentes de trânsito são a segunda maior causa da morte de jovens no Brasil
Essas tragédias poderiam ser evitadas se os países investissem mais em educação, serviços de saúde e apoio social, diz a OMS.

"O período da adolescência é um momento particularmente importante para a saúde, porque definirá hábitos que terão impacto na qualidade de vida pelas próximas décadas. É nessa época que a inatividade física, a má dieta e o comportamento sexual de risco têm início", disse a OMS.

A organização critica a falta de atenção dada a essa faixa-etária da população nas políticas públicas. "Adolescentes estiveram completamente ausentes dos planejamentos de saúde nacional por décadas", lamentou Flávia Bustreo, Diretora-Geral assistente da OMS.

Soluções

O documento aponta ainda soluções que podem ajudar a evitar essas mortes precoces. São sugestões de políticas públicas que podem ter grande impacto nas estatísticas. Um exemplo é a recomendações da implementação de leis e campanhas de conscientização pelo uso do cinto de segurança. Em 2015, acidentes de trânsito mataram 115 mil jovens de 10 a 19 anos no mundo todo.

O Brasil é citado no documento como caso bem sucedido no combate a mortes no trânsito. "Entre 1991 e 1997 o Ministério da Saúde do Brasil registrou aumento dramático na mortalidade de jovens em acidentes de trânsito", afirma o documento.

"Em resposta, legisladores introduziram um novo código de trânsito em 1998 que tornava mais severa as punições aos infratores". O novo código de trânsito teria ajudado a salvar 5 mil vidas no período entre 1998 e 2001 segundo a OMS.

Direito de imagem iStock Image caption Autoimolação e suicídios também preocupam autoridades

Apesar de o trânsito ser um problema universal, há marcantes diferenças entre as regiões quanto às causas de óbito. Nos países de renda baixa-média da África, doenças transmissíveis como HIV-AIDS, infecções do sistema respiratório, meningite e diarréia são os principais vilões.

A anemia, doença causada pela deficiência de ferro no sangue, também é um mal muito comum, que atinge milhares de jovens no mundo todo em países pobres e ricos.

O suicídio, ou a morte acidental causada por atitudes auto-destrutivas, foi a terceira causa de mortalidade de adolescentes em 2015, totalizando 67 mil mortes. Em sua maioria, as vítimas são adolescentes mais velhos.

Em regiões com boas condições econômicas como a Europa, o suicídio também aparece entre as principais causas. Cortar a si mesmo é o tipo de auto-violência mais comum observado no continente.

A estimativa global da OMS é de que até 10% da população adolescente mundial cometa algum ato de violência contra si.

Elevação da idade mínima para consumo de álcool é uma das medidas que OMS acredita serem necessárias para reduzir a violência.

O documento recomenda fazer mais investimentos e dar atenção especial às pessoas nessa fase da vida, onde grandes frustrações e incertezas despontam: "jovens normalmente tomam responsabilidades de adultos como cuidar de irmãos menores, trabalhar, ter de abandonar os estudos, casar cedo, praticar sexo por dinheiro, simplesmente porque precisam dar conta das necessidades básicas de sobrevivência.

Como resultado, eles sofrem de desnutrição, acidentes, gravidez indesejada, violência sexual, doenças sexualmente transmissíveis e transtornos mentais", resume o documento.

"Melhorar a forma como o sistema de saúde atende aos adolescentes é apenas uma parte da melhora da saúde deles", diz Anthony Costello, médico da OMS.

"Uma família e uma comunidade que apoia os seus jovens são extremamente importantes", completa.

Entre as políticas básicas que os países devem tentar implementar para diminuir o risco de mortes precoces estão: programas de orientação sexual na escola, aumento da idade mínima para consumo de álcool, obrigatoriedade do uso do cinto de segurança nos automóveis e de capacetes para ciclistas e motociclistas; redução do acesso a armas de fogo, aumento da qualidade da água e melhoria da infra-estrutura sanitária.