segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Como o álcool atrapalha seu sono e o que fazer para evitar o problema


 


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5 maneiras de proteger seu sono daquela última taça de vinho antes de ir para a cama.

O álcool piora os distúrbios do sono.

Você pode mudar de ideia antes de tomar sua bebidinha no fim do dia caso seu objetivo seja uma sólida noite de sono. Vinho, cerveja, licor... todas essas bebidas podem ajudá-lo a adormecer mais rápido (ou "encurtar a latência do sono", para usar um termo mais técnico), mas especialistas concordam que, se você bebe antes de ir para a cama, é mais provável que acorde durante a noite e durma menos profundamente.

A verdade sobre o vinho antes de ir para a cama

Se você bebe pouco antes da hora de dormir, tanto a qualidade como a quantidade do sono — e sua capacidade intelectual no dia seguinte — serão prejudicadas.

"O álcool atrapalha os ciclos do sono, fazendo com que você desperte mais vezes e passe menos tempo nos importantes estágios de sono profundo", diz o médico Rajkumar Dasgupta, professor assistente da Escola de Medicina Keck da Universidade do Sul da Califórnia e porta-voz da Academia Americana de Medicina do Sono.

Isto significa que, mesmo se você cair no sono rapidamente, pagará o preço mais tarde à noite (sem falar na manhã seguinte).

Passamos pelos vários estágios do sono a cada 90 minutos mais ou menos e tendemos a dormir mais profundamente na segunda parte da noite, quando os efeitos do álcool realmente entram em cena, diz Dasgupta. Precisamos passar mais tempo nesses estágios mais avançados para que o sono seja restaurador. Além disso, o sono profundo é crucial para a cognição e a memória.

Assim funciona o sono com a bebida

O álcool é um depressor do sistema nervoso central, segundo a médica Patricia Carter, professora associada da Escola de Enfermagem de Austin da Universidade do Texas e integrante do comitê da Sociedade de Pesquisa do Sono.

"Quando alguém toma uma bebida alcóolica, acaba se sentindo ´mais calmo` e mais relaxado porque isso impacta diretamente o sistema que está causando a ansiedade ou a sensação de ´estresse`", diz Carter. Em outras palavras, a bebida alcóolica ajuda a adormecer —, mas não garante uma noite de repouso.

Depois de um curto período — cerca de duas horas, dependendo do metabolismo —, o corpo começa a tentar eliminar o álcool, que é visto como uma toxina, diz Carter. Este processo é conseguido retirando água das células e expulsando a toxina por meio dos rins e da bexiga (por isso você tem de levantar e urinar tão frequentemente).

Além disso, o álcool inibe o hormônio antidiurético no organismo, o que contribui para mais idas ao banheiro, segundo Dasgupta. E, quando você vai muito ao banheiro, está perdendo eletrólitos essenciais.

Todos esses fatores podem se somar a uma terrível noite de sono leve e com frequentes interrupções, e você se sentirá exausto e desidratado pela manhã. Mas não precisa ser assim!

Cinco dicas de especialistas para tomar uma bebida e conseguir dormir depois:

1. Espere de três a quatro horas depois de beber para mergulhar nos lençóis. Se você pretende ir para a cama às 22h, certifique-se de terminar a taça de vinho às 7h. (O corpo leva aproximadamente três horas para metabolizar cerca de 240 ml de vinho, diz Dasgupta.) Mas o tempo exato pode variar dependendo do tamanho, gênero e ingestão de álcool. A bebida alcóolica tende a afetar as mulheres de forma mais aguda, diz Carter, que sugere uma janela de quatro horas tanto para mulheres quanto para homens.

2. Use a regra "dois para um". Inebrie-se com dois copos de água para cada bebida alcóolica. Isso ajudará seu sistema a eliminar o álcool, diz Carter. (Beba ainda mais água se estiver ingerindo vinho ou uma bebida açucarada, já que seu corpo precisará eliminar o álcool e o açúcar.)

3. Pule a cava. As bolhas podem causar inchaço e gás, que distendem o estômago, proporcionando mais área de superfície para o álcool ser absorvido (e atrapalhar seu sono), segundo Dasgupta. Da mesma forma, pense duas vezes antes de ingerir bebidas frisantes e carbonatadas.

4. Beba comendo — e preste atenção à ingestão de álcool. Beber e comer ao mesmo tempo é uma boa ideia, porque normalmente comemos horas antes de ir para a cama, o que permite mais tempo para que o corpo metabolize a bebida e também mais tempo para ingerir aqueles cruciais copos de água. Mas há uma armadilha: a comida reduz o "golpe" do álcool, diz Carter, por isso, você pode acabar bebendo mais para se "sentir alegrinho".

5. Nunca beba caso esteja tomando comprimidos para dormir. Remédios como Ambien e outros medicamentos vendidos sem prescrição médica, como Benadryl, não devem ser ingeridos com álcool, diz Dasgupta. O álcool é um depressor respiratório (ou seja, torna a respiração difícil) e a maioria dos comprimidos para dormir atua sobre os mesmos receptores que o álcool no corpo, reduzindo ainda mais a capacidade de respirar. Portanto, o álcool aumenta os efeitos das pílulas para dormir, o que pode ser muito perigoso.

É importante destacar que o álcool piora os distúrbios do sono. Mais de 18 milhões de adultos sofrem de apneia, um problema que interrompe a respiração durante o sono, segundo a Fundação Nacional do Sono. Como o álcool dificulta ainda mais a respiração, é um duplo golpe para a saúde de qualquer pessoa com o distúrbio, diz Dasgupta. As bebidas alcóolicas também podem aumentar os sintomas ou efeitos da parasomnia (sonambulismo) e síndrome das pernas inquietas. Portanto, se você tiver qualquer um desses distúrbios, precisa tomar um cuidado extra com a ingestão de álcool.
*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e traduzido do inglês.
Fonte: Huff Post Brasil

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

omo as empresas lidam com o uso da maconha por empregados nos EUA


 


BBC Brasil
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Maconha é ilegal na legislação federal americana, mas 30 Estados e o distrito de Columbia permitem seu uso medicinal e recreacional

Um número cada vez maior de Estados americanos está legalizando ou descriminalizando o uso medicinal e recreativo de maconha - o que faz com que empresas tenham de lidar com a possibilidade de empregados irem ao trabalho ainda sob seus efeitos.

No entanto, diferentemente do álcool e de outras substâncias, traços da maconha permanecem por semanas ou meses no organismo, o que dificulta a aplicação de exames toxicológicos no ambiente de trabalho para detectar se uma pessoa a usou recentemente.

É possível que empregados façam isso em seu tempo livre ou nas férias e, depois, de volta ao trabalho, sejam demitidos porque seus exames em testes toxicológicos deram positivo. Além disso, a existência de leis e regulamentações conflitantes é especialmente complexa para empresas multinacionais ou mesmo as que operam em diferentes regiões dos Estados Unidos.

No país, a maconha é ilegal pela legislação federal, mas 30 Estados e o distrito de Columbia permitem seu uso medicinal e recreacional. Atualmente, 20% dos adultos usam a droga e 14% o fazem regularmente, de acordo com uma pesquisa do Yahoo News em parceria com a Faculdade Marista em Poughkeepsie, de Nova York.

Esses índices devem aumentar significativamente nos próximos anos na América do Norte. Na Califórnia, o Estado mais populoso, com quase 40 milhões de habitantes, o uso recreativo da droga é legal desde novembro do ano passado. O Canadá tem planos de fazer o mesmo e já permite o uso medicinal.

No entanto, a maconha continua ilegal em muitos países, entre eles Brasil, Reino Unido, França, Irlanda, Indonésia, China, Japão, Coreia do Sul e Arábia Saudita. Já em outros como Itália, México, Argentina, Áustria, Chile, Colômbia, Holanda, Espanha e Suíça o uso pessoal foi descriminalizado.

O Uruguai foi o primeiro país a legalizar totalmente a produção e a venda de maconha para fins recreativos. Farmácias passaram a vender a droga neste mês.

"Você precisa de auxílio em cada país em que opera para criar uma política corporativa sobre uso de entorpecentes que não viole as leis locais", diz o advogado Tony Fiore, do Estado de Ohio.

Colcha de retalhos

Algumas leis e a jurisprudência nos Estados Unidos permitem que empresas demitam empregados que tenham resultados positivos para maconha em exames toxicológicos.

Isso é possível mesmo em Estados onde hoje a droga é legal. O Tribunal Superior do Colorado decidiu, por exemplo, que os empregadores podem despedir funcionários mesmo que o uso de maconha seja para fins medicinais.

Como a droga continua sendo ilegal de acordo com leis federais, a corte manteve a demissão de Brandon Coats, que trabalhava no serviço de atendimento ao consumidor da Dish Network, uma empresa de TV por assinatura. Brandon é tetraplégico e usa a droga para aliviar a dor dos espasmos musculares causados pela deficiência. Em exame aleatório, seu resultado foi positivo.

De acordo com os registros do caso, ele nunca chegou a ser acusado de estar sob influência da droga no trabalho e afirmou nunca tê-la usado no escritório.

Brandon trabalhava na empresa há três anos e recebia ótimas avaliações antes de sua demissão, em 2010. Ele não lidava com nenhuma atividade de risco e nunca havia pedido nenhum tipo de mudança na rotina por conta do uso de maconha.

Por sua vez, outros Estados americanos criaram leis que determinam que empresas abram exceções para o consumo de maconha por motivos médicos — desde que a droga não afete o desempenho no local de trabalho.

Regulamentações sobre a realização de exames toxicológicos nas empresas variam ao redor do mundo. O Centro Europeu de Monitoramento de Drogas e Vício afirma que, no continente, apenas Finlândia, Irlanda e Noruega têm regras específicas que lidam com a questão dos exames.

Na Noruega, por exemplo, esse tipo de teste é considerado uma violação da privacidade de um funcionário ou candidato a vaga e só pode ser feito quando estritamente necessário, como para proteger a segurança do trabalhador ou de outras pessoas.

Os empregadores canadenses têm muito menos liberdade para fazer testes de drogas do que os americanos. "As empresas têm de corresponder às exigências de saúde e segurança, como em casos nos quais funcionários precisam dirigir. Ao mesmo tempo, precisam acomodar trabalhadores que fazem uso medicinal da droga", diz o advogado trabalhista Darryl Hiscocks, de Toronto.

Ele acredita que as companhias devem pedir para que os funcionário informem seus gerentes casos estejam usando maconha por indicação médica. "É uma questão de balancear os direitos humanos e o direito à privacidade do trabalhador com preocupações relativas à saúde e à segurança no ambiente de trabalho", diz.

Por causa dessa legislação que é uma "colcha de retalhos", trabalhadores que usam maconha por motivos de saúde ou de forma recreacional podem acabar precisando lidar com obstáculos na carreira. "Eles podem ser impossibilitados de viajar, por exemplo, caso tenham recebido uma prescrição para o uso de maconha e a droga não for permitida no país ou Estado de destino", diz o advogado Tony Fiore.

Um questão complexa

Não existem estatísticas sobre quantas pessoas já foram demitidas — ou deixaram de ser contratadas — por resultados positivos para maconha em testes toxicológicos, mas não há dúvidas de que isso é comum.

"A questão da maconha no ambiente de trabalho é complexa e vai precisar de mais atenção das empresas conforme mais Estados e países descriminalizem a droga", diz Todd Simo, diretor da HireRight, empresa que oferece serviços de pesquisa de antecedentes para empresas.

"Hoje, o uso de maconha é um sinal amarelo, não um sinal vermelho, como no passado."


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Leis sobre exames toxicológicos no ambiente de trabalho variam ao redor do mundo

Conforme o estigma associado ao uso da maconha tem diminuído nos EUA, algumas empresas vem permitindo que empregados façam isso até no trabalho — principalmente nos casos de fins medicinais.

Como se trata de uma substância psicotrópica, há uma série de efeitos identificados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que podem interferir na rotina de trabalho - como o fato de a maconha "comprometer o desempenho psicomotor em uma série de habilidades, como coordenação motora, capacidade de dividir a atenção entre várias tarefas".

Mas alguns empregadores entendem que os efeitos variam de indivíduo para indivíduo. "Menos de um terço dos estudos encontraram uma correlação entre uso de maconha e menor eficiência", diz Sarah Sullivan, coordenadora da área de controle de riscos da Lockton, uma corretora de seguros.

O empreendedor Altay Guvench diz que empregadores deveriam perceber que alguns funcionários podem até se beneficiar do uso. Guvench diz que, para ele, foi muito útil — das aulas em Harvard ao aumento da produtividade e criatividade no trabalho. "Maconha me ajudou a reduzir a depressão e a ansiedade e a manter minha mente focada em criar softwares ou em praticar música", diz ele.

O uso da droga normalmente não é permitido para pessoas que trabalhem em cargos em que haja riscos à segurança pessoal e de outras pessoas, como dirigir um ônibus ou operar máquinas pesadas. Além disso, empresas que têm contratos com o governo americano são obrigadas a seguir leis federais e demitir quem tenha um teste positivo para maconha e outras drogas.

No entanto, a falta de mão de obra especializada em algumas áreas leva empresas a pularem a etapa dos teste na contratação e a evitarem a realização de exames aleatórios. Simo, da HireRight, diz que algumas companhias do Vale do Silício normalmente não fazem, porque sabem que perderiam um grande número de candidatos qualificados. "Mas a decisão de pedir ou não os exames é delicada, principalmente em setores que lidam com segurança", afirma.

"Houve um pico nos testes de drogas por volta de 2014, depois que a maconha começou a ser vendida legalmente, porque as empresas temiam ser prejudicadas ou ter sua capacidade de produção diminuída por causa de uma febre na compra de baseados", diz Curtis Graves, gerente do Mountain States Employers Council, uma entidade que representa empregadores. "Dois anos depois, no entanto, essa tendência não se comprovou."

Embora algumas empresas tenham abandonado os exames surpresa, muitas ainda testam pessoas que mostram sinais de incapacidade ou produtividade reduzida. Nesses casos, alguns Estados exigem que os patrões tenham provas do comportamento errático, como mudanças na fala, problemas motores ou queda real no desempenho.

Esses problemas podem, no entanto, não estar relacionados ao uso da droga, mesmo que o resultado do exame seja positivo. A substância detectada é um subproduto da maconha, o tetraidrocanabinol (THC), que pode ser encontrado no sangue semanas ou até meses depois que uma pessoa parou de usar a droga.

Por causa da chance de haver erros e do fato de que um resultado positivo no teste pode ser um indicativo de que a pessoa está debilitada ou mesmo de que usou a droga recentemente, a Organização Nacional para a Reforma das Leis sobre Maconha diz que testes de urina, sangue ou fluídos são discriminatórios — e violam direitos individuais.

A ONG recomenda testes de capacidade de trabalho em vez de exames toxicológicos. Há, por exemplo, aplicativos que detectam mudanças no desempenho ao avaliar a memória, o tempo de reação e o equilíbrio de uma pessoa.

A maioria das empresas reluta em discutir publicamente suas políticas de realização de exames toxicológicos. Companhias multinacionais procuradas para comentar o assunto negaram os pedidos de entrevista. "É uma questão de percepção", diz Curtis Graves.

"Ninguém quer ficar conhecido por ser ´relaxado` com relação a drogas. Companhias têm receio de dizer que afrouxaram suas políticas, porque isso poderia comprometê-las legalmente se acontecer um acidente e o funcionário envolvido tiver substâncias derivadas da maconha no sangue. Mesmo que o uso tenha ocorrido semanas antes."
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas 


Ayahuasca chega à Europa como ´droga dos deuses`


 


Enquanto no Brasil a substância é liberada para uso religioso, na Espanha ela está sendo utilizada como alucinógeno
EL PAÍS
Carlos Doncel

Conhecido pelo sugestivo nome de “a molécula de Deus”, a ayahuasca vem conquistando adeptos em vários locais do mundo. No entanto, ao contrário do que ocorre no Brasil, onde tem seu uso liberado para rituais religiosos, a ayahuasca está se tornando famosa por suas propriedade entorpecentes na Europa.

Em lugares como Tarifa ou Ibiza, no litoral da Espanha, recentemente foram realizadas cerimônias para o consumo. Com a solenidade de um rito espiritual, vários grupos de pessoas se reuniram com o único objetivo de ingerir um alucinógeno que os xamãs da Amazônia já conhecem e utilizam. Esses feiticeiros elaboram a ayahuasca — uma bebida preparada à base de plantas como banisteriopsis caapi, psychotria viridis e diplopterys cabrerana —, para conseguir que os participantes de seus rituais cheguem ao êxtase. Um estado de delírio que alcançam mais pelo efeito da dimetiltriptamina (DMT) — nome químico da “molécula de Deus” — do que pelo misticismo ou pela magia do momento.

“A DMT pertence à família das triptaminas, ou seja, sua estrutura é análoga a neurotransmissores como a serotonina. Quando ingerida sob a forma de infusão ou fumada, provoca estados alterados da consciência”, comenta o médico José Ángel Moráles, um dos cientistas que mais pesquisas realizou sobre essa substância na Espanha. Esse psicotrópico é encontrado em pequenas proporções de forma natural em muitos seres vivos. Até mesmo o ser humano o produz por meio da glândula pineal em situações de estresse, razão pela qual algumas pessoas o relacionem com as visões imediatamente prévias à morte.

Embora essa substância seja mais intensa que muitas drogas ilícitas, o seu “barato” dura menos tempo. O psiquiatra norte-americano Rick Strassman já demonstrou isso em um teste com voluntários, que afirmaram que os efeitos começavam a ser sentidos em pouco segundos após a ingestão, durando, porém, apenas alguns minutos. Depois do teste, eles relataram que, durante esse curto período, viram extraterrestres, sentiram a cabeça se separar do corpo e até mesmo falaram com anjos, entre outras alucinações.

Hoje em dia existem na Espanha várias empresas e instituições dedicadas a organizar eventos onde a dimetiltriptamina é a protagonista. Sob a ideia de um “retiro”, o Inner Mastery SL realiza sessões com ayuhasca e bufo alvarius (uma espécie de sapo do qual também se extrai a substância em questão) com preços entre 195 euros (720 reais) por dia e 555 euros (2.000 reais) por três dias de elevação espiritual.

O uso da DMT, presente em preparados como a ayahuasca, não está regulamentado na Espanha. No Brasil, em 2006, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas retirou definitivamente a ayahuasca da lista de drogas alucinógenas, reconhecendo o seu uso religioso. Foram 18 anos de estudos, até que a substância foi considerada segura para o consumo. A exploração comercial do produto, no entanto, é proibida.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Redução do consumo nocivo do álcool: o que o Brasil tem feito a respeito?


 

O uso nocivo do álcool impacta de maneira importante a saúde do indivíduo e sua família, além de afetar seriamente a sociedade. De acordo com o “Relatório global sobre álcool e saúde” de 2014, da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 5,6% da população brasileira apresente transtornos relacionados ao uso do álcool (abuso e dependência).

Um comportamento preocupante, e mais comum entre os jovens, é o “Beber Pesado Episódico - BPE”, que significa consumir 5 ou mais doses, no caso dos homens e 4 ou mais, no caso das mulheres, em uma única ocasião. Uma dose corresponde a uma taça de vinho de 100 ml, ou uma lata de cerveja de 330 ml ou uma dose de destilado de 30 ml. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram que 13,7% da população revelou já ter tido esse comportamento. O impacto do BPE está diretamente relacionado ao maior risco para amnésia alcoólica, quedas, violência, acidentes de trânsito, sexo desprotegido ou sem consentimento, gravidez indesejada, entre outros.

Em 2010, a OMS apresentou a “Estratégia Global para reduzir o uso nocivo do álcool”, e em 2014 estabeleceu como meta mundial a redução de 10% no consumo do álcool até 2025. Para alcançar esse objetivo, medidas sociais e políticas vêm sendo implantadas mundialmente. O Brasil apresentou o “Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não-transmissíveis” na reunião da ONU, em 2011. A redução do consumo de álcool faz parte desse plano, e tem como principais medidas: fiscalizar a venda de bebidas alcoólicas a menores de idade; reforçar os programas de saúde escolar para a prevenção e redução do abuso de álcool; proibir o consumo de álcool antes de dirigir; monitorar anúncios de bebidas alcoólicas na televisão; aumentar o acesso de dependentes e seus familiares aos programas de reabilitação.

Dentre todas as medidas, uma das ações mais importantes do Governo Federal foi a implementação da Lei Seca (Lei nº 11.705/2008) pelo Ministério da Saúde, que instituiu a tolerância zero para o beber e dirigir. A penalidade consiste na suspensão do direito de dirigir, recolhimento da carteira de habilitação, retenção do veículo e multa. Situações em que o motorista apresenta 0,6 g de álcool por litro de sangue, são consideradas como crime. Nesses casos, o condutor fica sujeito à detenção de 6 meses a 3 anos, multa e suspensão ou proibição do direito de dirigir. A Lei Seca sofreu alterações em 2012 (Lei nº 12.760/2012), aumentando o valor da multa para R$1.915,00 e autorizando o uso de provas de embriaguez do motorista em processos penais. Em 2016, nova alteração foi feita (Lei 13.281/2016), e o valor da multa passou a ser de R$2.934,70.

Pesquisas revelaram que, após a implantação da Lei Seca, houve maior redução do número de mortes do que feridos em acidentes de trânsito, sugerindo que a Lei foi mais eficaz para indivíduos com consumo pesado que, geralmente, se envolvem em acidentes mais graves. Em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, as reduções foram mais acentuadas, provavelmente por causa da maior fiscalização policial. Estudos como esse reforçam a necessidade de ações de conscientização da população sobre o beber e dirigir. As leis já existem, porém, a fiscalização e a aplicação das penas ainda está muito aquém do necessário.
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool

Cerca de 100 crianças são abandonadas a cada ano por mães dependentes de crack em SP


 


Sem condições financeiras e psicológicas, mulheres deixam os filhos nos hospitais após o parto e os bebês são levados para abrigos da cidade.

Cerca de 100 crianças são abandonadas por mães dependentes químicas a cada ano em São Paulo, segundo aponta a juíza da Primeira Vara da Infância e Juventude do estado.

"Eu poderia dizer que nós temos em média umas duas crianças acolhidas nessa situação por semana. Há semanas que nós temos mais bebês, há semanas que nós temos menos. Mas há uma constância dessa situação, né? Que nem é tão recente uma situação que já vem de algum tempo. São mães que na maioria das vezes chegam já em trabalho de parto nos hospitais, muitas até sob efeitos de drogas ou que são atendidas na rua, que dão à luz na porta da maternidade, na praça, são levadas pela polícia militar, enfim”, revela Cristina Ribeiro Leite Balbone Costa.

As histórias se repetem. Cristina já atendeu casos de mulheres com mais de dez filhos. A juíza é responsável pelo serviço da região Central de São Paulo, que concentra a população em situação de rua da cidade. Entre elas, usuárias de drogas da Cracolândia, no bairro da Luz.

“Muitas chegam até nós e não é a primeira passagem. Nós temos a quinta, sétima gestação, décima. Chegamos a ter até uma décima sétima gestação. São mães que já são até conhecidas do nosso setor”, afirma.

É em situação precária que as mulheres engravidam e têm os filhos nos hospitais da região, que acionam o poder judiciário. Sem condições financeiras e psicológicas, com muita frequência elas abandonam os filhos nos hospitais e os bebês são levados para abrigos. Ao todo, são 18 na região central e 200 na capital paulista.

Quando nenhuma pessoa da família é localizada, as crianças ficam disponíveis para adoção. Uma espera que pode demorar meses, anos ou não acontecer.

Depois de dez meses a pediatra Mônica Bittencourt conseguiu adotar a filha que hoje tem pouco mais de dois anos. A concepção e a gestação da menina ocorreram nas ruas.

“A gente encontrou uma criança muito bem cuidada no abrigo, nutricionalmente bem, adequada, uma criança bem estimulada, que estava dentro do desenvolvimento normal. E ela é hoje uma criança de dois anos e cinco meses absolutamente normal”.

Mônica é voluntária no poder judiciário. Faz palestras para pais interessados em adotar e conhece muito bem a realidade desses bebês.

“Algumas crianças de fato são filhas de mãe soropositivas, mas não se tornam soropositivas. O maior problema de filhas de mãe usuárias de droga são a prematuridade, o baixo peso ao nascer, o que não quer dizer que para sempre vão ser desnutridas, vão estar abaixo. Isso com cuidado, alimentação adequada, cuidado pediátrico de rotina, se torna normal, fica dentro dos parâmetros de uma criança normal. ”

Com esse tipo de esclarecimento as restrições para crianças filhas de mães usuárias de drogas e alcoólatras é bem menor.
"O perfil dos pretendentes à adoção é de não encontrarmos esse preconceito. São casos isolados vamos dizer assim, porque eles já vem qdo vem fazer o curso já sabem a realidade, já tem essa informação, já sabem que a realidade dessa região central, que a maioria dos casos que vamos acolher e vamos poder colocar em adoção são crianças nesse sentido.”

Protegidos da vida nas ruas, recebendo alimento e afeto, os bebês se desenvolvem sem problemas mais graves, atesta Antônia Bello Todeschin, coordenadora de abrigo no Centro de SP, que atua há mais de dez anos no serviço.

"[São] Crianças tão fortes que já venceram a primeira batalha da vida ao nascer.” “Elas vêm de uma situação muito difícil, que a gente olha para ele, tão pequeno e pensa o que já aconteceu na vida deles. Então a gente procura amenizar um pouco isso. A gente dá muito carinho, muito colo, muito amor. E eles têm uma capacidade de se recuperar, eles são felizes.”


fonte www.antidrogas.com.br

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Maconha livre, a falsa noção do certo


 

Jornal do Comércio - Porto Alegre
César Augusto Trinta Weber
O artigo US Adult Illicit Cannabis Use, Cannabis Use Discorder, and Medical Marijuana Laws, recentemente publicado no JAMA Psychiatry, um dos mais respeitados periódicos científicos do mundo em psiquiatria reacende o polêmico tema da legalização da maconha. De acordo com o estudo, a liberação da maconha em alguns estados americanos colocou no mercado, para a alegria dos traficantes, mais de 1 milhão de usuários com base na comparação entre as prevalências de consumo de maconha e portadores de transtornos mentais devido a ela, em estados onde foram aprovadas leis autorizando o "uso medicinal" da maconha com os outros estados em que esta lei não existe.

Os argumentos contrários à legalização da maconha ganham força à medida que sustentam a tese de que, regularizada na forma da lei, poderia ter um efeito estimulador ao uso deliberado. A circunstância da legalização associado ao fato de que, em nosso meio, o uso da maconha vem se mostrando culturalmente aceito, representaria um efeito catalisador para o primeiro uso ou o uso esporádico. Amparado por lei, o usuário desfrutaria livremente dessa experiência, aumentando as chances do uso se tornar abuso, podendo-se ter consequências mais nefastas, entre elas o caminho para drogas mais pesadas ou ainda a indesejável dependência.

A maconha usada hoje possui cerca de 20 vezes maior teor de tetraidrocanabidiol (THC) se comparada com a maconha consumida nos anos 1960, fato que confere a esta droga neste século um potencial aditivo significativamente maior. O uso medicinal do canabidiol - substância química encontrada na maconha - ainda que se mostre promissor pelos resultados de estudos científicos que revelavam a boa resposta terapêutica quando em doses adequadas e para determinados quadros clínicos, especialmente, quadros neurológicos, como justificativa para a sua liberação merece cautela. A maconha alçada à condição de "remédio" adquire o status, no inconsciente coletivo, de fazer bem, pela falsa noção de que seja um produto inócuo.
Médico, professor e escritor 

Álcool pode ser mais prejudicial para as mulheres


 


Bebidas alcoólicas: segundo a OMS, deve-se evitar ingerir mais de 30 gramas de álcool por dia (Marcos Santos/USP Imagens/Agência USP)

Estudo sugere que, especificamente no sexo feminino, as bebidas alcoólicas estão associadas a maiores níveis de açúcar no sangue, indicativo do diabetes
Por Vand Vieira, da Saúde

O abuso de cerveja, vinho e afins não faz bem para ninguém — mas, pelo menos quando o assunto é diabetes, parece que a ala feminina sofre ainda mais.

O alerta veio da Universidade de Umeå, na Suécia, onde pesquisadores acompanharam 897 pessoas dos 16 aos 43 anos.

Ao final desse período, os voluntários tiveram a glicemia (açúcar circulante no sangue) medida e preencheram um questionário sobre a quantidade de álcool que costumavam tomar.

As mesmas perguntas foram respondidas aos 18, 21 e 30 anos.

De modo geral, constatou-se que os homens ingeriam mais bebidas alcoólicas e apresentaram uma glicemia maior em comparação às mulheres.

No entanto, foi somente nelas que os cientistas notaram a relação entre um consumo alto e uma quantidade maior de açúcar no sangue após os 40 anos.

Aqui, cabe lembrar que taxas dessa substância cronicamente elevadas definem a presença do diabetes.

Ainda não se sabe por que o organismo feminino reage de maneira diferente aos drinques.

“O etanol, porém, já foi ligado à resistência insulínica em outros trabalhos por favorecer o acúmulo de gordura no fígado”, destaca o endocrinologista João Eduardo Salles, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Nesse sentido, tão importante quanto a moderação nas doses é adotar bons hábitos, como seguir uma dieta saudável e praticar atividade física regularmente.

Uma noitada por mês regada a quatro ou mais latinhas de cerveja com 5 a 6% de teor alcoólico já extrapolaria o limite mensal observado, que fica na casa dos 48 gramas de etanol segundo o experimento em questão.

Mas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), as pessoas deveriam evitar ingerir mais de 30 gramas de álcool por dia.
Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Saúde.