sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Tabaco e o câncer de pulmão


 


(imagem reprodução)
*Por Adriana Moraes
“Cada pacote de cigarro é como uma roleta-russa” Peter Campbell (especialista em genomas do câncer)

O tabagismo é considerado uma pandemia, ou seja, não há lugar no mundo onde não existam fumantes (Diehl & Figlie 2014). Estima-se que cerca de 1,3 bilhões de pessoas (cerca de 01 bilhão de homens e 250 milhões de mulheres) sejam fumantes de cigarro ou consumam outros produtos do tabaco (SENAD, 2011).

É oportuno destacar que o tabagismo tem relação com vários tipos de câncer, entre eles, pulmão, cavidade oral, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga, colo do útero, leucemias (INCA, 2015).

Dias (2011) enfatiza que o tabagismo é considerado uma das principais causas de óbito no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 30% da população adulta mundial são fumantes e cerca de 06 milhões de pessoas morrem anualmente por doenças tabaco-relacionadas. Deste total, 10% ou 600 mil pessoas são fumantes passivos.

Diehl e colaboradores (2011) lembram que cigarro industrializado é a forma de consumo prevalente em nossa sociedade. O tabaco é cultivado em todas as partes do mundo, sendo responsável por uma enorme atividade econômica. Apesar de seus danos é uma das drogas mais consumidas mundialmente (Medeiros, 2010).

Sardinha (2011) relata que a nicotina é um ingrediente psicoativo altamente indutor a dependência. O tabaco usado para produzir cigarros é ácido e, por isso, o fumante precisa tragar para que a nicotina seja absorvida nos pulmões.

A dependência é uma doença crônica caracterizada pela busca e uso compulsivo (inabilidade de resistir ao desejo) de determinada substância psicoativa, na qual um indivíduo despreza qualquer efeito ou evento adverso referente ao uso (SENAD, 2010).

É importante alertar que os danos causados à saúde pelo tabagismo, não são devidos somente à nicotina. Segundo Zanelatto & Laranjeira (2013), o cigarro contém mais de 4.700 substâncias, algumas cancerígenas e outras tóxicas para vários órgãos do corpo.

Rosemberg, (2003) explica que qualquer que seja a forma de consumir o cigarro, inclusive mascando-o, cria dependência, sendo o fumar mais intenso. As pessoas que fumam 20 cigarros (01 maço) por dia, tragando em média 10 vezes por cigarro, realizam 200 impactos de nicotina no cérebro, totalizando 73 mil por ano. Os consumidores que fumam apenas 01 cigarro por dia, pensam que isso nada representa para a saúde, porém recebem 3.650 impactos de nicotina nos centros nervosos em um ano.

Considerado uma doença crônica devido à dependência da nicotina, o tabagismo é reconhecido como uma dependência química que expõe os indivíduos a inúmeras substâncias tóxicas. Desde 1997, a dependência de nicotina está inserida na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), item F 17.2 (Transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de tabaco) no grupo de transtornos decorrentes do uso de substância psicoativa (Ribeiro & Laranjeira, 2012).

A dependência à nicotina chega a alcançar 70% a 90% dos fumantes, reforçando o tabagismo como uma doença e uma dependência que necessita de tratamento (Oyama, 2011).

Importante apresentar a definição de tabaco e de alguns termos relacionados ao tema:


Síndrome de abstinência

Conjunto de sinais e sintomas que surgem na suspensão do consumo de drogas geradoras de dependência física e psíquica. A cessação do uso da nicotina produz a síndrome de abstinência, a qual ocorre por falta de estimulação do sistema nervoso central causado pelo uso da nicotina (Fujita, 2013).

A síndrome de abstinência da nicotina é mediada pela noradrenalina e começa cerca de 8 horas após fumar o último cigarro, atingindo o auge no terceiro dia (Medeiros, 2010).

Ribeiro & Laranjeira (2012) alertam que embora o tabaco seja uma droga lícita (permitida por lei), não deve ser considerado leve. Medeiros (2010) destaca que a dependência de nicotina conta com 03 componentes, a dependência física; dependência psicológica; condicionamento:

Dependência física, responsável por sintomas da síndrome da abstinência;

Dependência psicológica, responsável pela sensação de ter no cigarro um apoio mecânico para lidar com sentimentos de solidão, frustração, pressões sociais;

Condicionamento, representado por hábitos associados ao fumar, presente na vida diária, muitas vezes durante anos.

O autor acrescenta que o grau de dependência à nicotina influência na maior ou menor dificuldade de abandonar o vício.

Pesquisa II LENAD - Tabaco

Pesquisa realizada sobre o tabaco em 2012 pelo INPAD (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas), o II LENAD (Levantamento Nacional de Álcool e Drogas São Paulo), informou que existem no Brasil cerca de 20 milhões de fumantes e cerca de 70 milhões de fumantes passivos. O estudo comparou o índice do primeiro levantamento, realizado em 2006 onde a média de cigarros consumidos diariamente era de 12.9 e em 2012 subiu para 14.1.


A nicotina parece ser uma das drogas psicoativas de maior acessibilidade, pois a mesma apresenta um baixo custo e é aceita na sociedade de maneira legal.

Tabagismo e adolescência

O tabagismo, bem como o uso de outras substâncias psicoativas, tende a se estabelecer durante a adolescência. Quanto mais precoce a idade do início, maior a probabilidade do indivíduo tornar-se dependente da nicotina.

Ribeiro & Laranjeira (2012) afirmam que a adolescência é uma fase de desenvolvimento integral na qual ocorrem inúmeras modificações no organismo especialmente, no sistema nervoso central (SNC). Frequentemente é na fase escolar que o adolescente tem o primeiro contato com o mundo das drogas. O problema é que o uso precoce de drogas pode afastar o adolescente de seu desenvolvimento normal, impedindo-o de experimentar outras atividades importantes nesta fase da vida (Diehl et. al., 2011).

A curiosidade dos adolescentes é um dos fatores de maior influência na experimentação de substâncias psicoativas, entre essas, o tabaco, fazendo com que o jovem busque novas sensações e prazeres (Sardinha, 2011).

O adolescente sente-se “livre” das complicações e dos prejuízos ocasionados pelo tabaco, ou seja, não avalia as consequências que esse comportamento pode lhe trazer em longo prazo (Oliveira, 2009).

O levantamento do II LENAD tabaco revelou a facilidade que os adolescentes têm acesso ao cigarro, mesmo com a lei brasileira proibindo a venda para menores de 18 anos, 62% dos menores disseram que a idade nunca os impediu de comprar cigarros.

Lei Nacional Antifumo


(imagem reprodução)
Foi criado um marco legislativo fundamental, com a Lei Nacional Antifumo, válida em território nacional, Lei n° 12.546/2011, sendo regulamentada em 2014, a qual prescreve medidas de prevenção ao uso do cigarro e/ou tabaco.

A Lei Antifumo trouxe mudanças significativas extinguindo os fumódromos (espaço separado permitido especialmente para fumantes) e as propagandas de cigarro, permitidas apenas em ponto de vendas. A publicidade e a propaganda contribuíram para a disseminação do cigarro pelo mundo, demonstrando que o ato de fumar era profundamente prazeroso e relaxante e que funcionaria como um regulador de humor (Lang, 2014).

A sanção da Lei que proíbe os fumódromos representa um avanço, uma vez que deve contribuir para frear o consumo de cigarros em todo o Brasil. Pelas novas regras, fica proibido o consumo de cigarros, cachimbos, charutos, cigarrilhas ou de qualquer outro produto fumígeno em ambientes fechados de uso coletivo, como bares, restaurantes, casas noturnas e ambientes de trabalho.

Efeitos do uso do tabaco

Zanelatto (2013) relata que embora o primeiro cigarro fumado seja preponderantemente marcado por efeitos desagradáveis, por exemplo, dor de cabeça, tonturas, nervosismo, insônia, tosse e náusea, a diminuição desses sintomas é rápida e dessa forma o consumo diário se estabelece.

De acordo com Urbano (2008) a nicotina é utilizada comumente para estimular o sistema nervoso central, obter prazer, aumentar a agilidade e o desempenho nas tarefas, reduzir a ansiedade e o apetite. Em longo prazo, os resultados são terríveis. Os efeitos do uso do tabaco, segundo Diehl & Figlie (2014), são: elevação leve no humor; diminuição do apetite; diminuição do tônus muscular; dificuldade respiratória; tosses e espirros; aumento dos batimentos cardíacos; aumento da pressão arterial; aumento da frequência respiratória; aumento da atividade motora; aumento da concentração; diminuição da necessidade de sono.

Tabagismo e o Sistema Nervoso Central (SNC)

Diehl & Figlie (2014) aponta que nicotina é a principal substância psicoativa do tabaco e apresenta ação estimulante no sistema nervoso central (SNC).

Esse efeito ocorre porque a nicotina pode agir em diversos neurotransmissores, como a dopamina (responsável pelo aumento do prazer), a noradrenalina (influência no humor e no sono), a serotonina (desempenha um papel no organismo é como um neurotransmissor no cérebro) e a acetilcolina (substância liberada pelos nervos parassimpáticos durante seu funcionamento) (Zanelatto & Laranjeira, 2013).

A nicotina é principalmente absorvida pelos pulmões, na forma de cigarros, charutos e cachimbos oferecem absorção tanto pelos pulmões quanto pela mucosa bucal. Depois de estabelecida a dependência ao tabaco, a dificuldade em cessar com o tabagismo é alta, e geralmente proporcional ao número de cigarros fumados por dia e ao tempo de consumo da droga (Oyama, 2011).

Essa dependência significa uma necessidade compulsiva do uso da substância, e o resultado disto, é que o cigarro passa a ser controlador do comportamento do indivíduo (Ismael, 2007).

Nicotina e o pulmão

A nicotina, substância psicoativa que causa dependência, presente no tabaco é rapidamente absorvida pelos pulmões, atingindo o cérebro num período curto de tempo de 9 a 10 segundos (Zanelatto & Laranjeira, 2013). O organismo reage à nova substância, acostumando-se, com o passar do tempo a receber cargas frequentes da droga, cada tragada chama a próxima e em um prazo de um a três meses, a dependência se instala. Nesta fase se instala a tolerância, ou seja, ocorre a necessidade de quantidade maior de nicotina para alcançar os mesmo efeitos no sistema nervoso central (Ismael, 2007).

As autoras Diehl & Figlie (2014) relatam que segundo a OMS, o tabaco mata cerca de 06 milhões de pessoas a cada ano, sendo que mais de 05 milhões dessas mortes são resultados do uso direto do cigarro, enquanto 600 mil, resultado do fumo passivo.

Os custos econômicos do uso do cigarro também são péssimos, além dos gastos para a saúde pública decorrente dos tratamentos das doenças causadas pelo tabaco, outro dado importante, é o fato do tabaco matar pessoas que estão em fases produtivas em suas vidas (Figlie et. al., 2010).

Fumar e o alívio dos problemas

O comportamento do dependente de substâncias, entre eles, o usuário de cigarro, tem como características a busca pelo alívio. De acordo com Ismael (2007), o fumar começa igualmente a ser associado a diversas situações pelas quais o individuo passa: se ele está nervoso, fuma; se está tenso, fuma; se está triste, fuma, se tem que pensar em uma solução, e assim por diante, para cada uma das situações mencionadas, a resposta será o fumo

Passado o desconforto provocado pelas primeiras tragadas do cigarro, entre eles, mal-estar, tontura, náuseas, o fumante passa a experimentar uma sensação de prazer. Dá se a impressão que ao fumar, os problemas ficam menores, diminuindo a angústia, a inquietação, o estresse, muitas vezes o dependente sente-se mais seguro em suas atividades com o uso do cigarro.

É comum o fumante relatar que fumando, ele consegue relaxar, e isso, realmente ocorre por 20 ou 30 minutos, porém, passando o efeito da nicotina, ele vai acender outro cigarro, dando continuidade ao processo. Fujita (2013) enfatiza que os efeitos reforçadores da nicotina, estímulos ambientais, o sabor e o cheiro, o ato de segurar o cigarro na mão, vão se convertendo em elementos agradáveis quando ocorrem conjuntamente por um longo período.

O fumo é responsável por 30% das mortes por câncer; 25% das mortes por infarto do coração; 85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica (bronquite e enfisema); e 90% das mortes por câncer de pulmão (Dias, 2011).
Neoplasia Maligna

A neoplasia maligna, denominado tumor maligno (câncer) é uma doença que causa desespero. Bortolon (2010) definiu o câncer como uma doença que se caracteriza pelo crescimento rápido e invasivo de células com alteração em seu material genético. Esse crescimento pode incidir em um órgão específico, formando tumores localizados, ou se espalhar por todo o corpo, constituindo as metástases (Ambrosio, 2010).

Metástase, segundo a definição do Dicionário Online de Português refere-se ao surgimento de um tumor secundário ou menor, proveniente de um tumor maligno. O grau de malignidade de um tumor depende de alguns fatores: em que órgão ou parte do corpo ocorre, se permanece restrito a uma região ou propaga-se na forma de metástases, da rapidez com que cresce e em que medida afeta funções importantes ou vitais do corpo (Weber, 2012).

Nicácio (2009), explica que os tumores são classificados como benignos (o que não invade tecidos em que se não originou e não produz metástase) ou malignos (o que tem capacidade de invadir tecidos em que se não originou e de produzir metástase. O câncer sempre esteve atribuído a questões negativas como dor, sofrimento, morte etc. Essa correlação câncer/morte é angustiante e terrível, tanto para o próprio doente como para os seus familiares. A ocorrência de dor e de metástases aumenta a prevalência de depressão e ansiedade em pacientes acometidos pela doença (Miranda, 2014).

O processo de formação do câncer, em geral, se dá lentamente, podendo levar vários anos para uma célula cancerosa prolifere e dê origem a um tumor visível (Barbosa, 2014). Os principais órgãos acometidos por câncer são: boca, laringe, seios, sangue, pulmão, estômago, pâncreas, rins, cólon, reto, ovário, útero, bexiga, próstata e pele (Nicácio, 2009).

INCA (2015) informa que os cânceres de pulmão e de bexiga estão entre os 10 mais incidentes no Brasil. O principal fator para o desenvolvimento do câncer de pulmão e bexiga é o tabagismo.O câncer sempre esteve atribuído a questões negativas como dor, sofrimento, morte etc. Essa correlação câncer/morte é angustiante e terrível, tanto para o próprio doente como para os seus familiares (Lang, 2014).

Ao longo da trajetória do câncer, pacientes podem normalmente ser acometidos pela angústia psicológica, ansiedade, depressão e problemas de adaptação, os quais se intensificam na presença de dor física, efeitos do tratamento oncológico, dificuldades familiares, preocupações financeiras.

Diagnóstico

O diagnóstico da neoplasia maligna tem o poder de transformar o cotidiano e em geral provoca reflexões e mudanças na vida do paciente. Mesmo com os avanços da medicina em relação à cura do câncer, sabe-se que seu diagnóstico ainda é vivido de forma temida e sendo um momento de crise do indivíduo em situação de adoecimento (Silva, 2008).

Lang (2014) esclarece que a realização do diagnóstico da enfermidade é feita para classificar cada caso, independente da fase em que o câncer é detectado. O nome para essa classificação é estadiamento; ele é responsável por avaliar o grau em que se encontra a disseminação da doença. Através dessa classificação, os médicos podem propor o tratamento mais adequado a cada pessoa.

Os médicos patologistas fazem o diagnóstico histopatológico por biópsia ou ressecção do tumor e acusam se há ou não malignidade, revela o perfil do tumor e o estadiamento (Polato, 2012).

Por ser uma doença grave e debilitante, o diagnóstico de câncer muitas vezes tem um efeito devastador na vida do paciente, uma vez que o diagnóstico é tido como sentença de morte. De acordo com Polato (2012), devido à dificuldade para o diagnóstico precoce, a maioria apresenta estádios avançados no momento do diagnóstico.

A necessidade de se classificar os casos de câncer em estádios baseia-se na constatação de que as taxas de sobrevida são diferentes quando a doença está restrita ao órgão de origem ou quando ela se estende a outros órgãos (Souza, 2012).

Polato (2012) salienta que somente um terço dos pacientes submete-se à retirada total cirúrgica do tumor e, portanto, a maioria não é candidato a tratamento curativo necessitando de tratamentos paliativos: quimioterapia, radioterapia ou ambos. Em decorrência disso, o câncer de pulmão permanece como uma doença altamente fatal.

A partir do diagnóstico a vida do paciente passa por uma reviravolta, os inúmeros exames por se fazer, muitos deles invasivos e dolorosos, rompimento de atividades rotineiras e hospitalização (Silva, 2008).

As formas de tratamento irão depender do diagnóstico realizado, o tipo de câncer, bem como, da maneira em que se encontra a saúde do doente no momento do tratamento (Lang, 2014).

Merece atenção o entendimento de Silva (2008), muitos pacientes antecipam o luto quando se deparam com o diagnóstico da doença, apesar do desenvolvimento de novas modalidades terapêuticas até mesmo da cura do câncer.

Estimativa do número de casos novos de câncer 2016 válidas para 2017

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) é o órgão auxiliar do Ministério da Saúde no desenvolvimento e coordenação das ações integradas para a prevenção e o controle do câncer no Brasil. As estimativas para o ano de 2016 válidas também para o ano de 2017 apontam a ocorrência de aproximadamente 596 mil casos novos de câncer, incluindo os casos de pele não melanoma. Entre os homens, são esperados 205.960 casos, e entre as mulheres, 214.350 (INCA, 2015).


Fonte: INCA/ Estimativa de câncer no Brasil, extraído do site: http://www.inca.gov.br/estimativa/2016/

No mundo, o número de pacientes oncológicos tem aumentado consideravelmente. Isso se deve a aspectos comportamentais como exposição ocupacional, dietas inadequadas e o tabagismo (Feitosa, 2012).

Tipos de câncer mais incidentes no mundo

Os tipos de câncer mais incidentes no mundo foram pulmão (1,8 milhão), mama (1,7 milhão), intestino (1,4 milhão) e próstata (1,1 milhão). Nos homens, os mais frequentes foram pulmão (16,7%), próstata (15,0%), intestino (10,0%), estômago (8,5%) e fígado (7,5%). Em mulheres, as maiores frequências encontradas foram mama (25,2%), intestino (9,2%), pulmão (8,7%), colo do útero (7,9%) e estômago (4,8%), (INCA, 2015).

É importante destacar que o tabagismo também representa o maior fator evitável de câncer e de outras doenças, como as cardiovasculares e pulmonares (Dias, 2011).

Pulmão o órgão mais atingido pelo tabaco



O câncer de pulmão é um dos tipos mais comuns de câncer, sendo ele responsável pelo maior número de neoplasias no mundo (Bortolon, 2010). Atualmente, o cigarro é visto como o “bode expiatório”, que deve ser combatido por ser considerado o principal causador do câncer de pulmão. Atualmente, de todas as neoplasias malignas, o câncer de pulmão é considerado a segunda causa de mortalidade no Brasil, sendo superado apenas pelas doenças cardiovasculares (Muller, 2011).

Estima-se que 80% a 90% da incidência de câncer de pulmão sejam atribuídas ao fumo (Polato, 2012). Trata-se de um problema de saúde pública global que tem uma elevada taxa de letalidade e poderia ser evitado em grande parte, com a redução do tabagismo (Souza, 2012).

O câncer de pulmão atinge milhões de pessoas, independentemente de classe social, cultural ou religiosa, sendo que o impacto do diagnóstico da enfermidade é na maioria dos casos angustiante tanto para o doente, como para seus familiares. Essa patologia é um dos tipos de câncer mais agressivos, possuindo uma razão mortalidade/incidência (M/I) de, aproximadamente, 90% (INCA, 2015).

Para a área médica, a referida neoplasia maligna apresenta-se como a enfermidade mais mortal em todo mundo, devido ao seu diagnóstico tardio (Lang, 2014). O autor relata ainda que o câncer de pulmão é uma doença que vem crescendo imensamente nas últimas décadas, sendo a principal causa de óbitos em homens e tendo um aumento relevante nos casos de mortalidade na população feminina, transformando-se em uma epidemia mundial.

A detecção do câncer de pulmão em estádios iniciais, por meio de ações de rastreamento, poderia aumentar a taxa de cura dos pacientes e consequentemente diminuírem as taxas de mortalidade, por esta neoplasia (Souza, 2012).

INCA (2015) informa que os cânceres de pulmão e de bexiga estão entre os 10 mais incidentes no Brasil. O principal fator para o desenvolvimento do câncer de pulmão e bexiga é o tabagismo (Lopes, 2015).

É bem documentado em estudos que a enfermidade câncer de pulmão origina-se a partir de uma única célula modificada nas vias aéreas traqueobrônquicas. Essa célula conecta-se ao DNA lesionando-o. Em consequência disso ocorrem alterações nas células, o desenvolvimento celular anormal e, logo em seguida, a transformação em uma célula maligna (Lang, 2014).

Um aspecto a ser destacado é o custo social do câncer de pulmão que pode ser classificado sob dois aspectos: os gastos com prevenção primária, diagnóstico, tratamento e acompanhamento e a diminuição da capacidade de produção causada pela redução do tempo potencial de trabalho, após o aparecimento da doença, devido à incapacidade ou morte (Souza, 2012)

Merece atenção o entendimento de Nicácio (2009), se um tumor for erradicado antes de produzir metástases, as chances de cura do indivíduo são muito grandes, mas existem ainda as metástases microscópicas de difícil diagnóstico que podem já existir no período da erradicação do tumor principal.

Sintomas

Os sintomas mais comuns do câncer de pulmão são a tosse e o sangramento pelas vias respiratórias. Nos fumantes, o ritmo habitual da tosse é alterado e aparecem crises em horários incomuns para o paciente (INCA, 2010).

Diagnóstico de Câncer de Pulmão

O câncer de pulmão é uma enfermidade altamente letal, haja vista que, quando detectado, já se encontra em estágio avançado, contendo uma alta taxa de incidência e mortalidade, as quais chegam a 86%.

Lang (2014) esclarece que em diversos casos, existe uma impressão de que há um maior e mais rápido desenvolvimento do tumor no câncer de pulmão do que em outras neoplasias, dificultando, dessa forma, um tratamento positivo. Após o diagnóstico desta enfermidade as chances de cura são pequenas e as probabilidades de sobrevida, muito baixas (Souza, 2012).

INCA (2011) independente da fase em que o câncer é detectado há necessidade de se classificar cada caso de acordo com a extensão do tumor. O diagnóstico do câncer de pulmão é realizado por meio de exames de imagem, como raios-X e tomografia computadorizada do tórax.

Uma vez obtida à confirmação da doença, é feito o estadiamento, que avalia o estágio de evolução, ou seja, estadiar um caso de neoplasia maligna significa avaliar o seu grau de disseminação, verificar se a doença está restrita ao pulmão ou disseminada por outros órgãos (INCA, 2011). O estadiamento é feito através de vários exames de sangue e radiológicos, como dosagens enzimáticas e ultrassonografia, respectivamente.

Em 85% dos casos o fumo é a causa da neoplasia, e o risco é associado à duração do hábito de fumar, ao número e tipo de cigarro fumado por dia (Uehara, 1998). Comparados aos não fumantes, os tabagistas têm cerca de 20 a 30 vezes mais risco de desenvolver câncer de pulmão (Mattos, 2009).

Em geral, o câncer de pulmão é tratado com cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou uma combinação destes. Estes tratamentos podem expor o paciente a níveis de toxicidade e a incapacidades relevantes (Souza, 2012).

Dor torácica está presente em 27 a 49% dos casos de neoplasia de pulmão. O tipo de dor é frequentemente intermitente do lado do tumor, tornando-se intensa e persistente devido à extensão para mediastino, pleura ou parede torácica (Uehara e colaboradores, 1998).

Estimativa de Novos Casos de Câncer de Pulmão 

Os números de casos novos de câncer de pulmão estimados para o nosso país em 2016 é de 17.330 para o sexo masculino e 10.890 para o sexo feminino (INCA, 2015).



As taxas elevadas de câncer de pulmão na população masculina como na feminina, refletem exposição anterior ao tabagismo, enfatizando a necessidade de seu contínuo monitoramento e controle (Zamboni, 2002).

Após o diagnóstico desta enfermidade as chances de cura são pequenas e as probabilidades de sobrevida, muito baixas. Lang (2014) informou que o câncer de pulmão é a doença que possui o maior índice de mortalidade no Brasil e no mundo, quando em comparação com outros tipos de cânceres, sendo responsável por 1,3 milhões de mortes em todo o mundo.

Segundo os dados do INCA (2010), mais de 85% dos pacientes com essa neoplasia morrem nos primeiros cinco anos após o diagnóstico. De acordo com a OMS, o tabaco sozinho causa 71% das mortes por câncer de pulmão no mundo (Diehl & Figlie, 2014).

Prevenção

Com relação ao câncer do pulmão, a meta é mostrar à população os males causados pelo tabagismo e assim buscar uma mudança de comportamento dos fumantes, que podem possibilitar a prevenção e o diagnóstico precoce, que são fundamentais no controle da doença. (Lang, 2014)

A melhor forma de evitar que mais pessoas sofram as consequências desta doença é incentivar a cessação do tabagismo entre os fumantes e evitar a iniciação desse comportamento entre os não fumantes (Souza, 2012).

Conclusão

O câncer é uma das doenças mais graves que existem, vimos em especial o câncer de pulmão, a trajetória dessa investigação mostrou que esta neoplasia maligna é uma patologia agressiva e permanece como uma doença altamente fatal. Hoje em dia, o câncer é visto como uma moléstia, em alguns casos tratáveis, podendo vir até mesmo a ser curado, caso seja diagnosticado precocemente (Lang, 2014).

O cigarro é visto como o grande “vilão” por trás do câncer de pulmão, já que é considerado responsável pelo surgimento da doença. Segundo os médicos especialistas, somente com o controle do tabagismo que se pode reprimir o número de casos de câncer de pulmão (INCA, 2012).

O controle do tabaco permanece sendo a principal forma de redução da ocorrência desse tipo de neoplasia.

Neste texto observou-se que o tabagismo tem relação com vários tipos de câncer, entre eles, pulmão, cavidade oral, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga, colo do útero, leucemias (INCA, 2015). Nos casos de câncer de pulmão o tabagismo aumenta o risco de desenvolvimento desta neoplasia de 10 a 30 vezes (Souza, 2012).

Segundo os médicos especialistas, somente com o controle do tabagismo que se pode reprimir o número de casos de câncer de pulmão (INCA, 2015).

Onde procurar ajuda para parar de fumar



O site da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) informou que hoje qualquer cidadão que queira parar de fumar pode se dirigir a uma Unidade Básica de Saúde (UBS) ou a um Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPS-AD), que será acolhido e imediatamente integrado a um grupo de tratamento para cessação de tabagismo.

No CRATOD (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas) http://www.saude.sp.gov.br/cratod-centro-de-referencia-de-alcool-tabaco-e-outras-drogas/tratamento/locais-para-tratamento-de-tabagismo

*Adriana Moraes - Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) - Especialista em Dependência Química – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).

Referências:
Barbosa, Antonieta. Câncer, direito e cidadania: como a lei pode beneficiar pacientes e familiares / Antonieta Maria Barbosa. – 15. Ed. São Paulo: Atlas, 2014.
Bertolote. J. M. Tradução e notas: J.M. Bertolote - Glossário de álcool e drogas/: Brasília: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2010.
Bortolon, Fernanda Selhane – Análise nutricional em pacientes com câncer de pulmão metastático através da avaliação subjetiva global produzida pelo paciente / Fernanda Selhane Bortolon (mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2010.
Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas http://www.saude.sp.gov.br/cratod-centro-de-referencia-de-alcool-tabaco-e-outras-drogas/tratamento/locais-para-tratamento-de-tabagismo
Dias, Hélia Maria. Programa de Controle do Tabagismo no município de Juiz de Fora: a especificidade do tratamento na atenção básica / Hélia Maria Dias. 2011. 124 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2011.
Dicionário Online de Português. Disponível em: http://www.dicio.com.br/metastase/
Diehl, Alessandra. Dependência Química: prevenção, tratamento e políticas públicas / Alessandra Diehl – Daniel Cruz Cordeiro – Ronaldo Laranjeira - Porto Alegre: Artmed, 2011.
Diehl, Alessandra. Prevenção ao uso de álcool e drogas: o que cada um de nós pode e deve fazer? Um guia para pais, professores e profissionais que buscam um desenvolvimento saudável para crianças e adolescentes. Organizadores, Alessandra Diehl, Neliana Buzi Figlie – Porto Alegre: Artmed, 2014. 372p.
Feitosa EB. Influência da técnica de derivação urinária na qualidade de vida dos pacientes com câncer invasivo de bexiga submetidos a cistectomia radical. (Dissertação de mestrado). São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2012.
Figlie, Neliana Buzi – Aconselhamento em dependência química / Neliana Buzi Figlie, Selma Bordin, Ronaldo Laranjeira. 2ª ed. São Paulo: Roca, 2010.
Fujita, Ângela Tamye Lopes. Características de personalidade e dependência nicotínica em universitários. 2013. 106p. Dissertação (Mestrado em Psicologia como Profissão e Ciência) – Pontifícia Universidade Católica de Campinas, centro de Ciências da Vida, Programa de Pós-Graduação em psicologia, Campinas, 2013.
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Integração de competências no desempenho da atividade judiciária com usuários e dependentes de drogas / organização de Paulina do Carmo A. Vieira e Arthur Guerra de Andrade. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2011.
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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Bomba-relógio` de suicídios: como uma mescla de agrotóxicos, depressão e dívidas abala grupo de agricultores gaúchos


 


Simone Rovadoski encontrou o corpo do marido na plantação de tabaco da família
Paula Sperb
De Porto Alegre

O Rio Grande do Sul tem 73.430 famílias (mais de 577 mil pessoas) que colhem 255 mil toneladas de tabaco anualmente, de acordo com a Afubra (Associação dos Fumicultores do Brasil).

A Afubra alega que as empresas fumageiras orientam os agricultores quanto à aplicação correta dos defensivos e o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs). Segundo o Sinditabaco, "alguns produtores ainda resistem à utilização correta do EPI".

Mas "o agrotóxico, para fazer efeito, tem que ser aplicado quando tem sol, naqueles calorões infernais de novembro. O suor embaça os óculos (do equipamento), a máscara sufoca, falta ar. A luva prejudica a coordenação motora fina", conta Mateus Rossato, 35 anos, que trabalhou na lavoura da família dos 12 aos 20 anos, em Nova Palma, a 224 km da capital gaúcha.

Rossato avalia a falta de ergonomia dos equipamentos de segurança porque hoje entende sobre o corpo humano: é professor de Educação Física na Universidade Federal do Amazonas. Para ele, os equipamentos não são adequados às necessidades reais dos agricultores. E, mesmo quando são usados, não impedem que o veneno, que é carregado nas costas, escorra pelo corpo no momento da aplicação.

Doença da folha verde

Os danos à saúde relatados pelos próprios agricultores, porém, não são somente psíquicos.

Do total de entrevistados no estudo da UFRGS, 67% apresentaram os sintomas da doença da folha verde do tabaco (DFVT), causada pela intoxicação por nicotina através do contato da planta úmida com a pele. Os principais sintomas são vômito, tontura, dor de cabeça e fraqueza, de acordo com o Ministério da Saúde.

Antes de se suicidar, Osbel chegou a ser internado para tratar a depressão. Mas antes foi diagnosticado por diferentes médicos com sinais da doença da folha verde.

"Ele ia para a roça e logo tinha que procurar atendimento porque desmaiava", relembra Simone.

Ela conta que, depressivo e intoxicado, Osbel também abusava do álcool.

"Os agricultores acabam tratando seus problemas com o álcool. É mais um fator de risco", afirma o médico psiquiatra Rafael Moreno de Araújo, coordenador do Comitê de Prevenção do Suicídio da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS).

O médico ressalta que o histórico familiar, influenciado tanto pela herança genética como pela cultura local, também colabora para o suicídio. Além de tudo, Osbel tinha um avô que havia se suicidado.

"É uma bomba-relógio", diz o psiquiatra ao enumerar os fatores de risco aos quais os fumicultores estão expostos: genética, baixa escolaridade, histórico familiar, estilo de vida estressante e intoxicação.

Dívidas com as fumageiras

A questão financeira é o principal gatilho para o estresse entre fumicultores. Eles precisam organizar o dinheiro que recebem apenas uma vez por ano para sustentar a família pelos 12 meses seguintes.

Além disso, a maioria deles tem dívidas com as próprias empresas que compram sua produção. Não é raro que os processos movidos pelas companhias terminem com a tomada das terras dos agricultores.

"A perda das terras é a perda da vida deles", analisa o advogado Mateus Ferrari, que atende diversos casos de agricultores endividados.

A dívida inicia quando o agricultor se compromete a entregar sua produção a uma empresa específica. A empresa fornece sementes, venenos e equipamentos de segurança e muitas vezes exige a construção de galpões. Mas tudo isso é descontado do valor a ser pago pela produção.

Quando esta é entregue, a empresa classifica as folhas através de uma amostra: quanto mais qualidade, mais será pago. Muitas vezes os agricultores recebem menos do que o planejado e ainda precisam pagar suas dívidas dos insumos.

"Eles não têm como argumentar, a maioria tem escolaridade baixa. É o tempo todo sob ameaça: ´vamos cancelar o pedido, colocar teu nome no SPC e acionar a Justiça`", relata Ferrari.
Sob ameaça de perderem suas terras e querendo receber os insumos da próxima safra, os agricultores acabam assinando sua confissão de dívida, não raro com juros sobre juros, sem estarem completamente cientes das consequências.

"A gente tenta salvar as terras, mas não há como combater os contratos. Então, tentamos um acordo para que os agricultores consigam pagar", explica Ferrari.

Depois que o marido se suicidou, Simone ficou um ano sem plantar porque, endividada, não conseguia adquirir insumos. Só retomou a lavoura porque fez novos créditos no nome "limpo" da filha, de 19 anos.

Falta de apoio

Alguns dos processos contra os agricultores são iniciados pela própria Afubra, em teoria representante deles. A entidade alega que só entra na Justiça contra os fumicultores "quando o individual se sobrepõe ao coletivo", mas não especificou os casos.

A entidade tampouco respondeu se ajuda os agricultores a entenderem seus contratos ou se atua de alguma maneira na prevenção de suicídios.

O Sinditabaco, questionado se auxilia os agricultores na prevenção do endividamento ou contabiliza o número de casos na Justiça, diz apenas que "trata dos assuntos comuns às empresas associadas e, portanto, não dispõe desse tipo de informação".

O pai de Júlio Selbach, 47 anos, do município de General Câmara, perdeu 22 hectares de suas terras na Justiça. "A causa está perdida, não conto mais com isso. Continuo lutando, mas vai ser muito difícil reverter", comenta Selbach.

Seu pai era seu fiador de uma dívida de R$ 150 mil que a família considera "inexplicável". "No final das contas tudo é legal. O orientador técnico da empresa traz um monte de folhas e manda tu assinar. Eles dizem ´não adianta nem tu ler que tu não vai entender. Se não quiser assinar o negócio termina aqui`", relata.

Por causa da dívida e da perda das terras do pai, Selbach largou a plantação de tabaco e agora produz leite. Ele conta que histórias como essa muitas vezes acabam em suicídio porque o "chefe" da família sente culpa por envolver a família em uma situação de conflito.

Diogo Zanatta

O Rio Grande do Sul tem 73.430 famílias (mais de 577 mil pessoas) que colhem 255 mil toneladas de tabaco anualmente

O psiquiatra coordenador da APRS corrobora a tese. "Nessa região o suicídio é um problema que atinge os homens, que têm essa responsabilidade de ser o provedor da família e acabam ficando com a culpa pela (má) safra, pela dívida", diz Araújo. Segundo ele, poucos desses homens procuram ajuda psicológica.

Há também, segundo ele, negligência no atendimento do sistema de saúde. "Às vezes o paciente chega (após ter tentado) suicídio, passa por uma lavagem no estômago e é liberado, sem avaliação psiquiátrica", relata.

Intoxicação infantil

O problema se torna ainda mais complexo porque a entrada de muitos agricultores na lavoura ocorre muito cedo. O marido de Simone, que se suicidou em 2013, trabalhou na lavoura de fumo por 34 anos, desde criança. Rossato, o professor de Educação Física, também trabalhou na roça quando era pequeno.

Por causa da presença constante das crianças no campo, casos de intoxicação e alergias são comuns.

O filho mais velho de Luciana Pereira da Rosa, 44 anos, de General Câmara, apresentou sinais de doença da folha verde quando tinha apenas 12 anos. "Ele ia para a roça colher fumo e vomitava direto", relembra a mãe.

O filho agora tem 28 anos e recentemente abandonou a atividade, junto com os pais. Todos se mudaram para Taquari, cidade próxima, por causa da alergia da irmã mais nova, hoje com sete anos. "A pele ficava vermelha, saía sangue e levantava uma casca. Era horrível", lembra Luciana.

Os médicos não davam um diagnóstico preciso sobre a causa, mas Luciana notava que as crises ocorriam logo depois que o glifosato era aplicado nos pés de fumo da família ou de vizinhos.

Com a mudança de cidade, a filha não ficou mais doente.

O Ministério Público do Trabalho do RS não dispõe de estatísticas sobre trabalho infantil nas lavouras. De acordo com a procuradora Erinéia Thomazini, de Santa Cruz do Sul, na região fumageira, "em muitos casos a denúncia de trabalho infantil sequer chega".

Uma pesquisa do IBGE aponta que 39.659 crianças de 10 a 13 anos trabalhavam no Rio Grande do Sul em 2010.

O Sinditabaco diz combater a prática, mas agrega que "temos ainda um caminho a percorrer para a completa erradicação do problema". A entidade aponta a necessidade de mais escolas rurais para auxiliar na prevenção.

Quem deixa a plantação de fumo diz que a sensação é de alívio. Mas notícias sobre suicídios de vizinhos e conhecidos sempre chegam.

"Lá na minha região tem uma expressão: ´só se vende corda com receita médica´. Isso porque é alta a incidência de suicídio dos agricultores. Você junta a depressão com a dívida, a frustração de perder uma safra. É o contexto perfeito para se suicidar", comenta Rossato sobre os conterrâneos.

Além disso, o silêncio dos agricultores sobre o tema agrava o quadro. " O suicídio parece que é tratado como um tabu, quase proibido ou até vergonhoso de falar. Claro que dói. Mas preciso falar porque quero que menos gente tire a própria vida, como meu marido fez", alerta Simone.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

É assim que o seu pulmão fica após fumar 20 cigarros


 


Exame.com - Nicolas Gunkel
Thinkstock
São Paulo – Você já parou para pensar quanto tempo de vida uma pessoa perde quando fuma um cigarro? Segundo um estudo publicado na U.S. National Institutes of Health’s National Library of Medicine (NIH/NLM), a resposta é aproximadamente 11 minutos.

Apesar de ser obviamente grosseira, a conta realizada pelos pesquisadores segue uma lógica interessante. Partindo do pressuposto de que o fumante médio consome cerca de 3 quartos de um maço por dia, ele comprará cerca de 5,7 mil cigarros por ano.

Como o usuário normalmente começa a fumar com 17 anos e a expectativa média de vida no planeta (à época da pesquisa) era de 71 anos, chega-se ao impressionante número de 311 mil cigarros fumados ao longo de 57 anos. Acompanhou até aqui?

Pois bem, assumindo que o fumante médio morre, em média, 6,5 anos mais cedo do que o não fumante, isso significa que sua vida será 3,4 milhões de minutos mais curta.

Agora, basta dividir esse tempo (3,4 mi) pela quantidade de cigarros fumados durante a vida (311 mil), o que nos leva aos 11 minutos citados anteriormente.

Para as pessoas que preferem visualizar a questão com mais clareza, um vídeo produzido recentemente pela organização anti-tabagista MEDInspiration mostra como um par de pulmões humanos fica após o consumo de 20 cigarros, isto é, aproximadamente um maço.

No começo da produção, os médicos mostram dois órgãos saudáveis dentro de uma caixa absorvendo a fumaça de um cigarro por meio de um tubo. O mesmo procedimento é, então, repetido 20 vezes.

Para dar algum parâmetro ao espectador, um médico mostra uma traqueia saudável, totalmente branca. Por último, ele recorta a traqueia dos pulmões que sofreram a exposição à fumaça para que elas possam ser comparadas. Como você pode ver, o resultado é impressionante.

A OMS estima que 5 milhões de pessoas morram por ano em decorrência de doenças causadas pelo cigarro, número que deve aumentar para 10 milhões até 2020. Segundo o Instituto do Câncer, o fumo faz 200 mil vítimas por ano apenas no Brasil.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

Cerveja e vinho tinto: alguns efeitos sobre a pressão arterial


 

Alguns consumidores de bebidas alcoólicas acreditam que os agentes antioxidantes presentes no vinho tinto podem agir contra as consequências do aumento da pressão sanguínea. A fim de estudar tal relação, Zilkens e colaboradores avaliaram uma amostra de 24 homens saudáveis, não tabagistas, com idade variando entre 30 e 65 anos e que faziam uso diário de bebidas alcoólicas. Vale ressaltar que todos os indivíduos apresentavam pressão sanguínea normal e não apresentavam histórico de problemas cardiovasculares.

O experimento começou com uma abstinência de duas semanas seguidas por um mês de abstinência, ou de ingestão diária de 375 ml de vinho tinto, ou 375 ml de vinho tinto sem álcool ou de 1125 ml de cerveja. Todos os sujeitos foram monitorados durante 4 meses de experimento.


O consumo de cerveja esteve associado a aumento da pressão arterial sistólica em 2,9 mmHg. Os indivíduos que ingeriram vinho tinto, apresentaram um aumento na ordem de 1,9mmHg na pressão sistólica. A cerveja aumentou o batimento cardíaco em cinco batimentos por minuto e o vinho em 4 batimentos cardíacos por minuto.

Os autores advertem que pessoas hipertensas ou com história familiar de hipertensão não devem consumir mais do que duas unidades de bebida alcoólica por dia independente do tipo de bebida (destilados ou fermentados).
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool 

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Pesquisa sobre estupro ignora bebida e outras drogas


 


O Estupro e as Drogas
Izilda Alves
Não entendi. Como uma pesquisa nacional sobre estupro não cita entre as causas bebida alcoólica, drogas como ecstasy e GHB , bailes funk, pankadões e cracolândias? Estou me referindo à pesquisa “Polícia precisa falar de estupro”, divulgada hoje pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e realizada com 3.625 entrevistas em 217 municípios pelo Datafolha.

Estupro representa pesadelo para as mulheres no Brasil. Não sei como foram os critérios para as perguntas desta pesquisa. Mas é inacreditável ignorar nesse estudo o maior problema de saúde pública hoje no Brasil, a dependência de drogas, a banalização do uso , facilitando portanto casos de estupro em todo o país. Segundo a polícia de São Paulo, uso do ecstasy aumentou o número de estupros de jovens em São Paulo. Segundo o Instituto Médico Legal, 70% do atendimento a pessoas vivas para exames são de mulheres que sofreram violências como agressões e estupros por companheiros ou parentes bêbados ou drogados.

Um catálogo cada vez mais amplo de drogas vêm sendo usadas para se cometer abusos sexuais. O objetivo é sempre o mesmo: anular a vontade da vítima e transformá-la em um "brinquedo" na mão no agressor. Drogas que apagam lembranças do ataque.
Como mostra a maioria das reportagens sobre estupro, as vítimas contam que:

-estavam bêbadas

-foram sedadas com drogas como ecstasy, GHB e em golpes como o Boa noite Cinderela

-foram violentadas por pais ou parentes bêbados

-nos bailes funk ,foram estupradas quando estavam sob efeito de bebida e outras drogas

-nos pankadões , estupradas nas ruas após beberem e consumirem drogas

-nas cracolândias, estupradas como pagamento da droga
Mas a pesquisa não perguntou e não cita estes preocupantes fatos que marcam todo o país.A pesquisa do Fórum cita dois fatos inacreditáveis como causas de estupro:

-“a mulher se comportou de forma inadequada” e aí fica a pergunta o que é se comportar de forma adequada?

-“a mulher anda sozinha na rua ou em certos locais considerados inapropriados”, quer dizer que há locais onde só homens podem andar nas cidades? Que são lugares inapropriados? Como prefeituras admitem lugares onde mulheres não podem andar no Brasil?

Estupro é crime violento. A vítima sofre lesões nos órgãos genitais, contusões e fraturas. Outras consequências são gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis. Causa também fobias, ansiedade e tentativas de suicídio. Não sei como foram os critérios para as perguntas desta pesquisa. Mas ao que tudo indica foi feita como se no Brasil houvesse rigoroso controle da bebida alcoólica e cumprimento das leis que proíbem tráfico de drogas em todo o país.
Izilda Alves
Jornalista da Rádio Jovem Pan
Consultora do Amor Exigente

Álcool: da prevenção ao tratamento


 

Por Arthur Guerra de Andrade
Psiquiatra e Presidente Executivo do CISA

O consumo de álcool faz parte da cultura humana há milhares de anos, muito atrelado a relações de socialização e não costuma causar problemas para a maioria dos consumidores. Inclusive, pode até levar a potenciais benefícios para o sistema cardiovascular, quando consumido de forma leve a moderada. Entretanto, não podemos relevar o fato de que uma minoria das pessoas desenvolve situações graves, cujos danos para a saúde individual, coletiva e econômica são expressivos. Portanto, é importante nos atentarmos a este tema, tanto em termos de prevenção como tratamento – e para isso a informação é ferramenta essencial.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não existe um limite considerado seguro para consumo de álcool. Os riscos de problemas de saúde aumentam especialmente se o indivíduo bebe mais de 2 doses* por dia e não deixa de beber ao menos 2 dias na semana. Alguns adultos, mesmo com consumo moderado, estarão mais vulneráveis aos problemas decorrentes do beber ao longo da vida, assim como algumas pessoas em situações nas quais o álcool pode ser prejudicial em qualquer quantidade – por exemplo, menores de 18 anos, gestantes, quem pretende dirigir ou quem faz uso de medicamentos que interagem com o álcool.

O Brasil tem avançado bastante em termos de prevenção – a exemplo da Lei nº 13.106/2015, que tornou crime vender ou entregar bebidas alcoólicas a crianças ou adolescentes, e as mudanças na legislação sobre álcool e direção somadas à fiscalização da chamada “Lei Seca” (Lei nº 12.760/2012). Além de estabelecer tolerância zero para o consumo de álcool por motoristas em todo país, aumentou a punição e ampliou as possibilidades de provas para a infração.

Em relação à dependência de álcool (alcoolismo), é importante esclarecer que é uma doença crônica e multifatorial; isso significa que diversos fatores contribuem para o seu desenvolvimento, incluindo a quantidade e frequência de uso do álcool, a condição de saúde do indivíduo e fatores genéticos, psicossociais e ambientais.

Dados divulgados pela OMS indicam que, em 2010, 5,6% da população brasileira apresentava algum transtorno relacionado ao uso de álcool e 2,8%, dependência. Alguns de seus sintomas podem ser: forte desejo de beber, perda do controle, uso continuado apesar das consequências negativas, maior prioridade dada ao uso da substância em detrimento de outras atividades e obrigações, tolerância (necessidade de doses maiores de álcool para atingir o mesmo efeito anterior) e abstinência (sudorese, tremores e ansiedade quando a pessoa para de beber).

A dependência do álcool causa grande impacto na vida do indivíduo e também daqueles que estão ao seu redor. A família, em especial, é peça-chave tanto na prevenção do uso nocivo, como nos casos em que o problema já está instalado. Inclusive, não são poucas as vezes em que o tratamento inicia-se pela família, principalmente porque o indivíduo não aceita seu problema, não reconhece que o uso de bebidas alcoólicas lhe traz prejuízos ou está desmotivado para buscar ajuda.

Felizmente, a maioria das pessoas com transtornos por uso de álcool que busca tratamento é capaz de reduzir ou até cessar seu consumo. Ainda, estima-se que um terço das pessoas não apresenta sintomas após um ano em tratamento. Entender as opções disponíveis, como terapias comportamentais e medicamentosas, é o primeiro passo e a adesão ao método de escolha será fundamental. No Brasil, os mais conhecidos tratamentos gratuitos especializados são os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD) e Hospitais públicos e conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

De maneira geral, estamos construindo ferramentas para prevenir o uso nocivo do álcool e temos linhas de tratamento cada vez mais eficazes. Contudo, é importante frisar que nenhuma ação isolada ou a implementação de novas leis poderá resolver este sério problema enquanto a população também não se envolver e apoiar. Somente com um trabalho em conjunto, que contemple governantes, pais e familiares, profissionais da saúde, academia, educadores, instituições privadas e a sociedade como um todo, poderemos nos aproximar de uma solução eficaz para este desafio que permeia o Brasil e o mundo.

* Uma dose padrão contém aproximadamente de 10 g a 12 g de álcool puro, o equivalente a uma lata de cerveja (330 ml) ou uma dose de destilados (30 ml) ou ainda a uma taça de vinho (100 ml).
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool 

Crack: Como acabar com essa epidemia que devasta o país


 


VEJA
Blog Letra de Médico - Por: Ronaldo Laranjeira
(Foto: Ivan Pacheco)
É seguro dizer que o problema do crack não está mais localizado apenas em grandes centros. Na verdade, o consumo crescente de drogas em municípios de todos os portes é um fenômeno registrado pelo mundo. Apesar de não ser uma exclusividade brasileira, há aproximadamente uma década o país vivencia um estrondoso aumento de pontos de vendas de drogas, sendo cada vez mais comuns as notícias de aumento do consumo, ou de apreensões, em seu território, inclusive no interior.

Recentemente, virou notícia o fato de o número de apreensões de crack ter aumentado 206% na região de Jundiaí, em São Paulo, nos sete primeiros meses de 2016, em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo a Delegacia Seccional local. No fim de agosto, um grupo de quatro pessoas foi preso em flagrante na cidade de Jaú, também em São Paulo, com 496 pedras de crack e até uma pedra bruta da droga, em um terminal rodoviário da cidade. Esses são apenas dois exemplos, de tantos que temos atualmente, que demonstram o alcance da enorme rede de distribuição de substâncias psicoativas existente no Brasil. Diversos fatores contribuem para isso, entre eles o fato de sermos vizinhos de países produtores de cocaína, além do baixo preço do crack traficado em terras brasileiras.

Dados como esses nos mostram que, apesar das apreensões, aparentemente a maioria dos governantes ainda não se deu conta da gravidade da situação que vivemos. Claramente existe uma dificuldade dos diversos níveis de governo em criar e adotar políticas públicas efetivas, que englobem enfrentamento, prevenção e tratamento contra as drogas.

O problema começa na produção e entrada de entorpecentes em território nacional. Como dito anteriormente, estamos ao lado de grandes produtores de cocaína, como Peru, Colômbia e Bolívia. Caso não seja criada uma rigorosa política, que culmine em ações que impeçam a importação e o abastecimento da rede distribuição atual, a epidemia do consumo de drogas continuará. Para evitar tal situação, é necessária uma interface entre os governos federal, estaduais e municipais, articulando ações conjuntas de saúde, na área social e de segurança.

Além disso, é necessário considerar abordagens realistas, baseadas nas melhores evidências científicas disponíveis, humanas, que ofereceram tratamento adequado e eficaz contra a dependência, resultando em um atendimento de qualidade para o dependente químico e sua família, muito afetada pelo problema.

Um exemplo de iniciativa que adota tais medidas com sucesso é o programa Recomeço, realizado no Estado de São Paulo. O programa tem estruturada uma linha de cuidados que adota ações de baixa até alta complexidade, contando com linhas na lógica de redução de danos e uma rede de clínicas e comunidades terapêuticas, com cerca de 3 000 vagas pelo estado, para desintoxicação ou prestação de apoio social aos usuários de drogas e familiares, combinando ações de prevenção, assistência social e tratamento. Tendo tal fato em mente, oferecer uma estrutura de tratamento adequada (inexistente em grande parte do país hoje) por meio do Sistema Único de Saúde a todos é de extrema urgência. Para isso é fundamental o financiamento adequado por meio do Ministério da Saúde e dos governos estaduais e municipais, assim como a adoção de políticas de tratamento eficazes e o abandono de técnicas ultrapassadas de atendimento.

O caminho é longo, mas, investindo em educação e esclarecimento da população sobre o uso de drogas e na criação de uma estrutura de atenção social e de saúde, é possível mudar positivamente o panorama no que diz respeito à epidemia do consumo de drogas no Brasil.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas