quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Projeto leva esperança de recomeço a 100 dependentes

Projeto leva esperança de recomeço a 100 dependentes                                                                                                 

Uniad
O ano de 2014 começa para o barman F.C. com a esperança de uma vida melhor e longe do crack. Dependente químico desde os 16, o jovem conseguiu nesta segunda-feira (30) a centésima e última vaga para participar do programa do governo estadual que dá a comunidades terapêuticas R$ 1.350 mensais para tratamento de dependentes de crack.

Apelidado pela população de "bolsa crack" , o convênio se chama "Cartão Recomeço", pois oferece as entidades um cartão por usuário, com a quantia a ser gasta no tratamento do vício. O objetivo é conseguir outras 400 vagas para continuidade do programa em Campinas em 2014. O rapaz conta que começou a consumir maconha aos 16 anos, influenciado pelos amigos. "Ia para barzinho, via as pessoas e os meus amigos fumando e bebendo e quis experimentar também".

Ele diz que usava a droga em poucas quantidades no início, mas com o tempo o consumo passou a ser diário e maior. Aos 18 anos, F.C. passou a utilizar cocaína e três anos depois partiu para o crack.

"Com 18 anos, eu tinha emprego, tinha um carro, tinha uma namorada, mas logo fui perdendo tudo para o crack. Teve momentos que eu parecia um mendigo", relata. Ele conta que já passou por uma internação, mas alguns meses depois de sair da clínica teve uma recaída.

Família

As perdas não foram apenas para ele, como para toda a família. A mãe, M.A.D, de 51 anos, que driblou as dificuldades do final do ano para realizar os exames necessários para a aquisição do Cartão Recomeço e internação do filho, conta que a família adoeceu com ele.

"É uma batalha muito difícil porque a droga tira o caráter da pessoa. Ela perde a consciência do que faz. Hoje não temos nada em casa, moramos em uma casa simples e com poucos objetos, porque ele vendeu para sustentar o vício ou eu tive que vender para pagar dívidas dele com traficante" . Duas casas estão entre os bens que ela precisou se desfazer para pagar as dívidas.

Mas nem a mãe nem o filho pretendem desistir da batalha contra as drogas. F.C diz que deseja se livrar do vício definitivamente. "Quero parar de usar porque isso não é vida. Você sobrevive à base da droga. Esse tratamento vai ser um recomeço para mim. Quero começar o quanto antes", afirma. Em busca da recuperação do filho, M.A.D enfrentou muitos obstáculos e vê o cartão como um prêmio.

"Fui à Defensoria Pública, a todos os lugares onde havia possibilidade de tratamento para ele, mas sempre tinha um empecilho. O cartão é como um prêmio. Vou precisar estar sempre do lado dele e tenho fé que ele vai conseguir se recuperar", afirma.

O primeiro acesso ao programa foi no dia 9 de dezembro. Antes de conseguir a vaga, F.C passou por uma bateria de exames e avaliação médica. A internação será na instituição Padre Haroldo, única em Campinas que está apta a receber os pacientes pelo sistema até o momento, e está marcada para a primeira semana de janeiro. O tratamento deve durar seis meses.

"Estamos em um período onde alguns serviços não funcionam, mas essa mãe fez de tudo para conseguir a vaga do filho e a rede de saúde está começando a entender que o dependente não pode esperar", afirmou o coordenador do programa em Campinas, Nelson Hossri Neto.

Pioneira

Campinas foi a primeira cidade a participar do programa Cartão Recomeço, antes mesmo da Capital. Segundo Nelson Hossri Neto, coordenador de Prevenção às Drogas e responsável pelo programa em Campinas, o projeto piloto previa apenas 12 vagas, mas foi ampliado para 50 e depois para 100 vagas. Todas elas foram oferecidas entre 23 de setembro e 30 de dezembro. O último cartão foi entregue ontem para F.C. O objetivo e conseguir 400 vagas para o ano de 2014. "Fechamos o ano com 100 vagas garantidas para dependentes de álcool, cocaína crack e outras drogas" , afirma.

Entre as pessoas que já foram beneficiadas com o Cartão Recomeço, 14 delas tiveram alta terapêutica e não precisaram completar os seis meses de tratamento. "O cartão está vinculado a entidade. Se a pessoa recebe alta e tiver uma recaída, ela pode voltar dentro desse prazo de seis meses para continuar o tratamento", explica Hossri. Ele afirma ainda que outras 203 pessoas estão realizando exames. "Estamos aguardando a Secretaria de Desenvolvimento do Estado entregar os novos cartões, de 101 a 200", afirma.

Não necessariamente as pessoas que estão passando por exames receberão o cartão, algumas serão encaminhadas para grupos de amparo, onde receberão aconselhamento, apoio psicológico e de assistência social. "E a nossa expectativa é chegar a um total de 500 atendimentos com o Cartão Recomeço em Campinas até o final de 2014, que é um número considerável para atender a demanda da cidade, especialmente dos moradores de rua". Estima-se que Campinas têm 700 moradores de rua e cerca de 80% deles são dependentes de álcool ou crack, que são as duas drogas mais baratas.

O programa em Campinas também tem como objetivo ampliar o número de entidades cofinanciadas. "Mais uma entidade já foi aceita e está credenciada. A partir do ano que vem ela vai atender os dependentes por meio do programa. Vai disponibilizar 20 vagas" , completa.

SERVIÇO

A Coordenadoria de Prevenção às Drogas atende, das 9h às 12h e das 13h às 16h, na Rua Barreto Leme, 1.550, Centro. Entre os serviços oferecidos estão palestras preventivas, atendimento individual e em grupo, encaminhamento para outros serviços, orientação e aconselhamento, além de encaminhamento para o programa Cartão Recomeço. O telefone para contato é (19) 3282-9209.
Fonte:ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)

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