quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Bomba-relógio` de suicídios: como uma mescla de agrotóxicos, depressão e dívidas abala grupo de agricultores gaúchos


 


Simone Rovadoski encontrou o corpo do marido na plantação de tabaco da família
Paula Sperb
De Porto Alegre

O Rio Grande do Sul tem 73.430 famílias (mais de 577 mil pessoas) que colhem 255 mil toneladas de tabaco anualmente, de acordo com a Afubra (Associação dos Fumicultores do Brasil).

A Afubra alega que as empresas fumageiras orientam os agricultores quanto à aplicação correta dos defensivos e o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs). Segundo o Sinditabaco, "alguns produtores ainda resistem à utilização correta do EPI".

Mas "o agrotóxico, para fazer efeito, tem que ser aplicado quando tem sol, naqueles calorões infernais de novembro. O suor embaça os óculos (do equipamento), a máscara sufoca, falta ar. A luva prejudica a coordenação motora fina", conta Mateus Rossato, 35 anos, que trabalhou na lavoura da família dos 12 aos 20 anos, em Nova Palma, a 224 km da capital gaúcha.

Rossato avalia a falta de ergonomia dos equipamentos de segurança porque hoje entende sobre o corpo humano: é professor de Educação Física na Universidade Federal do Amazonas. Para ele, os equipamentos não são adequados às necessidades reais dos agricultores. E, mesmo quando são usados, não impedem que o veneno, que é carregado nas costas, escorra pelo corpo no momento da aplicação.

Doença da folha verde

Os danos à saúde relatados pelos próprios agricultores, porém, não são somente psíquicos.

Do total de entrevistados no estudo da UFRGS, 67% apresentaram os sintomas da doença da folha verde do tabaco (DFVT), causada pela intoxicação por nicotina através do contato da planta úmida com a pele. Os principais sintomas são vômito, tontura, dor de cabeça e fraqueza, de acordo com o Ministério da Saúde.

Antes de se suicidar, Osbel chegou a ser internado para tratar a depressão. Mas antes foi diagnosticado por diferentes médicos com sinais da doença da folha verde.

"Ele ia para a roça e logo tinha que procurar atendimento porque desmaiava", relembra Simone.

Ela conta que, depressivo e intoxicado, Osbel também abusava do álcool.

"Os agricultores acabam tratando seus problemas com o álcool. É mais um fator de risco", afirma o médico psiquiatra Rafael Moreno de Araújo, coordenador do Comitê de Prevenção do Suicídio da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS).

O médico ressalta que o histórico familiar, influenciado tanto pela herança genética como pela cultura local, também colabora para o suicídio. Além de tudo, Osbel tinha um avô que havia se suicidado.

"É uma bomba-relógio", diz o psiquiatra ao enumerar os fatores de risco aos quais os fumicultores estão expostos: genética, baixa escolaridade, histórico familiar, estilo de vida estressante e intoxicação.

Dívidas com as fumageiras

A questão financeira é o principal gatilho para o estresse entre fumicultores. Eles precisam organizar o dinheiro que recebem apenas uma vez por ano para sustentar a família pelos 12 meses seguintes.

Além disso, a maioria deles tem dívidas com as próprias empresas que compram sua produção. Não é raro que os processos movidos pelas companhias terminem com a tomada das terras dos agricultores.

"A perda das terras é a perda da vida deles", analisa o advogado Mateus Ferrari, que atende diversos casos de agricultores endividados.

A dívida inicia quando o agricultor se compromete a entregar sua produção a uma empresa específica. A empresa fornece sementes, venenos e equipamentos de segurança e muitas vezes exige a construção de galpões. Mas tudo isso é descontado do valor a ser pago pela produção.

Quando esta é entregue, a empresa classifica as folhas através de uma amostra: quanto mais qualidade, mais será pago. Muitas vezes os agricultores recebem menos do que o planejado e ainda precisam pagar suas dívidas dos insumos.

"Eles não têm como argumentar, a maioria tem escolaridade baixa. É o tempo todo sob ameaça: ´vamos cancelar o pedido, colocar teu nome no SPC e acionar a Justiça`", relata Ferrari.
Sob ameaça de perderem suas terras e querendo receber os insumos da próxima safra, os agricultores acabam assinando sua confissão de dívida, não raro com juros sobre juros, sem estarem completamente cientes das consequências.

"A gente tenta salvar as terras, mas não há como combater os contratos. Então, tentamos um acordo para que os agricultores consigam pagar", explica Ferrari.

Depois que o marido se suicidou, Simone ficou um ano sem plantar porque, endividada, não conseguia adquirir insumos. Só retomou a lavoura porque fez novos créditos no nome "limpo" da filha, de 19 anos.

Falta de apoio

Alguns dos processos contra os agricultores são iniciados pela própria Afubra, em teoria representante deles. A entidade alega que só entra na Justiça contra os fumicultores "quando o individual se sobrepõe ao coletivo", mas não especificou os casos.

A entidade tampouco respondeu se ajuda os agricultores a entenderem seus contratos ou se atua de alguma maneira na prevenção de suicídios.

O Sinditabaco, questionado se auxilia os agricultores na prevenção do endividamento ou contabiliza o número de casos na Justiça, diz apenas que "trata dos assuntos comuns às empresas associadas e, portanto, não dispõe desse tipo de informação".

O pai de Júlio Selbach, 47 anos, do município de General Câmara, perdeu 22 hectares de suas terras na Justiça. "A causa está perdida, não conto mais com isso. Continuo lutando, mas vai ser muito difícil reverter", comenta Selbach.

Seu pai era seu fiador de uma dívida de R$ 150 mil que a família considera "inexplicável". "No final das contas tudo é legal. O orientador técnico da empresa traz um monte de folhas e manda tu assinar. Eles dizem ´não adianta nem tu ler que tu não vai entender. Se não quiser assinar o negócio termina aqui`", relata.

Por causa da dívida e da perda das terras do pai, Selbach largou a plantação de tabaco e agora produz leite. Ele conta que histórias como essa muitas vezes acabam em suicídio porque o "chefe" da família sente culpa por envolver a família em uma situação de conflito.

Diogo Zanatta

O Rio Grande do Sul tem 73.430 famílias (mais de 577 mil pessoas) que colhem 255 mil toneladas de tabaco anualmente

O psiquiatra coordenador da APRS corrobora a tese. "Nessa região o suicídio é um problema que atinge os homens, que têm essa responsabilidade de ser o provedor da família e acabam ficando com a culpa pela (má) safra, pela dívida", diz Araújo. Segundo ele, poucos desses homens procuram ajuda psicológica.

Há também, segundo ele, negligência no atendimento do sistema de saúde. "Às vezes o paciente chega (após ter tentado) suicídio, passa por uma lavagem no estômago e é liberado, sem avaliação psiquiátrica", relata.

Intoxicação infantil

O problema se torna ainda mais complexo porque a entrada de muitos agricultores na lavoura ocorre muito cedo. O marido de Simone, que se suicidou em 2013, trabalhou na lavoura de fumo por 34 anos, desde criança. Rossato, o professor de Educação Física, também trabalhou na roça quando era pequeno.

Por causa da presença constante das crianças no campo, casos de intoxicação e alergias são comuns.

O filho mais velho de Luciana Pereira da Rosa, 44 anos, de General Câmara, apresentou sinais de doença da folha verde quando tinha apenas 12 anos. "Ele ia para a roça colher fumo e vomitava direto", relembra a mãe.

O filho agora tem 28 anos e recentemente abandonou a atividade, junto com os pais. Todos se mudaram para Taquari, cidade próxima, por causa da alergia da irmã mais nova, hoje com sete anos. "A pele ficava vermelha, saía sangue e levantava uma casca. Era horrível", lembra Luciana.

Os médicos não davam um diagnóstico preciso sobre a causa, mas Luciana notava que as crises ocorriam logo depois que o glifosato era aplicado nos pés de fumo da família ou de vizinhos.

Com a mudança de cidade, a filha não ficou mais doente.

O Ministério Público do Trabalho do RS não dispõe de estatísticas sobre trabalho infantil nas lavouras. De acordo com a procuradora Erinéia Thomazini, de Santa Cruz do Sul, na região fumageira, "em muitos casos a denúncia de trabalho infantil sequer chega".

Uma pesquisa do IBGE aponta que 39.659 crianças de 10 a 13 anos trabalhavam no Rio Grande do Sul em 2010.

O Sinditabaco diz combater a prática, mas agrega que "temos ainda um caminho a percorrer para a completa erradicação do problema". A entidade aponta a necessidade de mais escolas rurais para auxiliar na prevenção.

Quem deixa a plantação de fumo diz que a sensação é de alívio. Mas notícias sobre suicídios de vizinhos e conhecidos sempre chegam.

"Lá na minha região tem uma expressão: ´só se vende corda com receita médica´. Isso porque é alta a incidência de suicídio dos agricultores. Você junta a depressão com a dívida, a frustração de perder uma safra. É o contexto perfeito para se suicidar", comenta Rossato sobre os conterrâneos.

Além disso, o silêncio dos agricultores sobre o tema agrava o quadro. " O suicídio parece que é tratado como um tabu, quase proibido ou até vergonhoso de falar. Claro que dói. Mas preciso falar porque quero que menos gente tire a própria vida, como meu marido fez", alerta Simone.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

É assim que o seu pulmão fica após fumar 20 cigarros


 


Exame.com - Nicolas Gunkel
Thinkstock
São Paulo – Você já parou para pensar quanto tempo de vida uma pessoa perde quando fuma um cigarro? Segundo um estudo publicado na U.S. National Institutes of Health’s National Library of Medicine (NIH/NLM), a resposta é aproximadamente 11 minutos.

Apesar de ser obviamente grosseira, a conta realizada pelos pesquisadores segue uma lógica interessante. Partindo do pressuposto de que o fumante médio consome cerca de 3 quartos de um maço por dia, ele comprará cerca de 5,7 mil cigarros por ano.

Como o usuário normalmente começa a fumar com 17 anos e a expectativa média de vida no planeta (à época da pesquisa) era de 71 anos, chega-se ao impressionante número de 311 mil cigarros fumados ao longo de 57 anos. Acompanhou até aqui?

Pois bem, assumindo que o fumante médio morre, em média, 6,5 anos mais cedo do que o não fumante, isso significa que sua vida será 3,4 milhões de minutos mais curta.

Agora, basta dividir esse tempo (3,4 mi) pela quantidade de cigarros fumados durante a vida (311 mil), o que nos leva aos 11 minutos citados anteriormente.

Para as pessoas que preferem visualizar a questão com mais clareza, um vídeo produzido recentemente pela organização anti-tabagista MEDInspiration mostra como um par de pulmões humanos fica após o consumo de 20 cigarros, isto é, aproximadamente um maço.

No começo da produção, os médicos mostram dois órgãos saudáveis dentro de uma caixa absorvendo a fumaça de um cigarro por meio de um tubo. O mesmo procedimento é, então, repetido 20 vezes.

Para dar algum parâmetro ao espectador, um médico mostra uma traqueia saudável, totalmente branca. Por último, ele recorta a traqueia dos pulmões que sofreram a exposição à fumaça para que elas possam ser comparadas. Como você pode ver, o resultado é impressionante.

A OMS estima que 5 milhões de pessoas morram por ano em decorrência de doenças causadas pelo cigarro, número que deve aumentar para 10 milhões até 2020. Segundo o Instituto do Câncer, o fumo faz 200 mil vítimas por ano apenas no Brasil.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

Cerveja e vinho tinto: alguns efeitos sobre a pressão arterial


 

Alguns consumidores de bebidas alcoólicas acreditam que os agentes antioxidantes presentes no vinho tinto podem agir contra as consequências do aumento da pressão sanguínea. A fim de estudar tal relação, Zilkens e colaboradores avaliaram uma amostra de 24 homens saudáveis, não tabagistas, com idade variando entre 30 e 65 anos e que faziam uso diário de bebidas alcoólicas. Vale ressaltar que todos os indivíduos apresentavam pressão sanguínea normal e não apresentavam histórico de problemas cardiovasculares.

O experimento começou com uma abstinência de duas semanas seguidas por um mês de abstinência, ou de ingestão diária de 375 ml de vinho tinto, ou 375 ml de vinho tinto sem álcool ou de 1125 ml de cerveja. Todos os sujeitos foram monitorados durante 4 meses de experimento.


O consumo de cerveja esteve associado a aumento da pressão arterial sistólica em 2,9 mmHg. Os indivíduos que ingeriram vinho tinto, apresentaram um aumento na ordem de 1,9mmHg na pressão sistólica. A cerveja aumentou o batimento cardíaco em cinco batimentos por minuto e o vinho em 4 batimentos cardíacos por minuto.

Os autores advertem que pessoas hipertensas ou com história familiar de hipertensão não devem consumir mais do que duas unidades de bebida alcoólica por dia independente do tipo de bebida (destilados ou fermentados).
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool 

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Pesquisa sobre estupro ignora bebida e outras drogas


 


O Estupro e as Drogas
Izilda Alves
Não entendi. Como uma pesquisa nacional sobre estupro não cita entre as causas bebida alcoólica, drogas como ecstasy e GHB , bailes funk, pankadões e cracolândias? Estou me referindo à pesquisa “Polícia precisa falar de estupro”, divulgada hoje pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e realizada com 3.625 entrevistas em 217 municípios pelo Datafolha.

Estupro representa pesadelo para as mulheres no Brasil. Não sei como foram os critérios para as perguntas desta pesquisa. Mas é inacreditável ignorar nesse estudo o maior problema de saúde pública hoje no Brasil, a dependência de drogas, a banalização do uso , facilitando portanto casos de estupro em todo o país. Segundo a polícia de São Paulo, uso do ecstasy aumentou o número de estupros de jovens em São Paulo. Segundo o Instituto Médico Legal, 70% do atendimento a pessoas vivas para exames são de mulheres que sofreram violências como agressões e estupros por companheiros ou parentes bêbados ou drogados.

Um catálogo cada vez mais amplo de drogas vêm sendo usadas para se cometer abusos sexuais. O objetivo é sempre o mesmo: anular a vontade da vítima e transformá-la em um "brinquedo" na mão no agressor. Drogas que apagam lembranças do ataque.
Como mostra a maioria das reportagens sobre estupro, as vítimas contam que:

-estavam bêbadas

-foram sedadas com drogas como ecstasy, GHB e em golpes como o Boa noite Cinderela

-foram violentadas por pais ou parentes bêbados

-nos bailes funk ,foram estupradas quando estavam sob efeito de bebida e outras drogas

-nos pankadões , estupradas nas ruas após beberem e consumirem drogas

-nas cracolândias, estupradas como pagamento da droga
Mas a pesquisa não perguntou e não cita estes preocupantes fatos que marcam todo o país.A pesquisa do Fórum cita dois fatos inacreditáveis como causas de estupro:

-“a mulher se comportou de forma inadequada” e aí fica a pergunta o que é se comportar de forma adequada?

-“a mulher anda sozinha na rua ou em certos locais considerados inapropriados”, quer dizer que há locais onde só homens podem andar nas cidades? Que são lugares inapropriados? Como prefeituras admitem lugares onde mulheres não podem andar no Brasil?

Estupro é crime violento. A vítima sofre lesões nos órgãos genitais, contusões e fraturas. Outras consequências são gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis. Causa também fobias, ansiedade e tentativas de suicídio. Não sei como foram os critérios para as perguntas desta pesquisa. Mas ao que tudo indica foi feita como se no Brasil houvesse rigoroso controle da bebida alcoólica e cumprimento das leis que proíbem tráfico de drogas em todo o país.
Izilda Alves
Jornalista da Rádio Jovem Pan
Consultora do Amor Exigente

Álcool: da prevenção ao tratamento


 

Por Arthur Guerra de Andrade
Psiquiatra e Presidente Executivo do CISA

O consumo de álcool faz parte da cultura humana há milhares de anos, muito atrelado a relações de socialização e não costuma causar problemas para a maioria dos consumidores. Inclusive, pode até levar a potenciais benefícios para o sistema cardiovascular, quando consumido de forma leve a moderada. Entretanto, não podemos relevar o fato de que uma minoria das pessoas desenvolve situações graves, cujos danos para a saúde individual, coletiva e econômica são expressivos. Portanto, é importante nos atentarmos a este tema, tanto em termos de prevenção como tratamento – e para isso a informação é ferramenta essencial.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não existe um limite considerado seguro para consumo de álcool. Os riscos de problemas de saúde aumentam especialmente se o indivíduo bebe mais de 2 doses* por dia e não deixa de beber ao menos 2 dias na semana. Alguns adultos, mesmo com consumo moderado, estarão mais vulneráveis aos problemas decorrentes do beber ao longo da vida, assim como algumas pessoas em situações nas quais o álcool pode ser prejudicial em qualquer quantidade – por exemplo, menores de 18 anos, gestantes, quem pretende dirigir ou quem faz uso de medicamentos que interagem com o álcool.

O Brasil tem avançado bastante em termos de prevenção – a exemplo da Lei nº 13.106/2015, que tornou crime vender ou entregar bebidas alcoólicas a crianças ou adolescentes, e as mudanças na legislação sobre álcool e direção somadas à fiscalização da chamada “Lei Seca” (Lei nº 12.760/2012). Além de estabelecer tolerância zero para o consumo de álcool por motoristas em todo país, aumentou a punição e ampliou as possibilidades de provas para a infração.

Em relação à dependência de álcool (alcoolismo), é importante esclarecer que é uma doença crônica e multifatorial; isso significa que diversos fatores contribuem para o seu desenvolvimento, incluindo a quantidade e frequência de uso do álcool, a condição de saúde do indivíduo e fatores genéticos, psicossociais e ambientais.

Dados divulgados pela OMS indicam que, em 2010, 5,6% da população brasileira apresentava algum transtorno relacionado ao uso de álcool e 2,8%, dependência. Alguns de seus sintomas podem ser: forte desejo de beber, perda do controle, uso continuado apesar das consequências negativas, maior prioridade dada ao uso da substância em detrimento de outras atividades e obrigações, tolerância (necessidade de doses maiores de álcool para atingir o mesmo efeito anterior) e abstinência (sudorese, tremores e ansiedade quando a pessoa para de beber).

A dependência do álcool causa grande impacto na vida do indivíduo e também daqueles que estão ao seu redor. A família, em especial, é peça-chave tanto na prevenção do uso nocivo, como nos casos em que o problema já está instalado. Inclusive, não são poucas as vezes em que o tratamento inicia-se pela família, principalmente porque o indivíduo não aceita seu problema, não reconhece que o uso de bebidas alcoólicas lhe traz prejuízos ou está desmotivado para buscar ajuda.

Felizmente, a maioria das pessoas com transtornos por uso de álcool que busca tratamento é capaz de reduzir ou até cessar seu consumo. Ainda, estima-se que um terço das pessoas não apresenta sintomas após um ano em tratamento. Entender as opções disponíveis, como terapias comportamentais e medicamentosas, é o primeiro passo e a adesão ao método de escolha será fundamental. No Brasil, os mais conhecidos tratamentos gratuitos especializados são os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD) e Hospitais públicos e conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

De maneira geral, estamos construindo ferramentas para prevenir o uso nocivo do álcool e temos linhas de tratamento cada vez mais eficazes. Contudo, é importante frisar que nenhuma ação isolada ou a implementação de novas leis poderá resolver este sério problema enquanto a população também não se envolver e apoiar. Somente com um trabalho em conjunto, que contemple governantes, pais e familiares, profissionais da saúde, academia, educadores, instituições privadas e a sociedade como um todo, poderemos nos aproximar de uma solução eficaz para este desafio que permeia o Brasil e o mundo.

* Uma dose padrão contém aproximadamente de 10 g a 12 g de álcool puro, o equivalente a uma lata de cerveja (330 ml) ou uma dose de destilados (30 ml) ou ainda a uma taça de vinho (100 ml).
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool 

Crack: Como acabar com essa epidemia que devasta o país


 


VEJA
Blog Letra de Médico - Por: Ronaldo Laranjeira
(Foto: Ivan Pacheco)
É seguro dizer que o problema do crack não está mais localizado apenas em grandes centros. Na verdade, o consumo crescente de drogas em municípios de todos os portes é um fenômeno registrado pelo mundo. Apesar de não ser uma exclusividade brasileira, há aproximadamente uma década o país vivencia um estrondoso aumento de pontos de vendas de drogas, sendo cada vez mais comuns as notícias de aumento do consumo, ou de apreensões, em seu território, inclusive no interior.

Recentemente, virou notícia o fato de o número de apreensões de crack ter aumentado 206% na região de Jundiaí, em São Paulo, nos sete primeiros meses de 2016, em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo a Delegacia Seccional local. No fim de agosto, um grupo de quatro pessoas foi preso em flagrante na cidade de Jaú, também em São Paulo, com 496 pedras de crack e até uma pedra bruta da droga, em um terminal rodoviário da cidade. Esses são apenas dois exemplos, de tantos que temos atualmente, que demonstram o alcance da enorme rede de distribuição de substâncias psicoativas existente no Brasil. Diversos fatores contribuem para isso, entre eles o fato de sermos vizinhos de países produtores de cocaína, além do baixo preço do crack traficado em terras brasileiras.

Dados como esses nos mostram que, apesar das apreensões, aparentemente a maioria dos governantes ainda não se deu conta da gravidade da situação que vivemos. Claramente existe uma dificuldade dos diversos níveis de governo em criar e adotar políticas públicas efetivas, que englobem enfrentamento, prevenção e tratamento contra as drogas.

O problema começa na produção e entrada de entorpecentes em território nacional. Como dito anteriormente, estamos ao lado de grandes produtores de cocaína, como Peru, Colômbia e Bolívia. Caso não seja criada uma rigorosa política, que culmine em ações que impeçam a importação e o abastecimento da rede distribuição atual, a epidemia do consumo de drogas continuará. Para evitar tal situação, é necessária uma interface entre os governos federal, estaduais e municipais, articulando ações conjuntas de saúde, na área social e de segurança.

Além disso, é necessário considerar abordagens realistas, baseadas nas melhores evidências científicas disponíveis, humanas, que ofereceram tratamento adequado e eficaz contra a dependência, resultando em um atendimento de qualidade para o dependente químico e sua família, muito afetada pelo problema.

Um exemplo de iniciativa que adota tais medidas com sucesso é o programa Recomeço, realizado no Estado de São Paulo. O programa tem estruturada uma linha de cuidados que adota ações de baixa até alta complexidade, contando com linhas na lógica de redução de danos e uma rede de clínicas e comunidades terapêuticas, com cerca de 3 000 vagas pelo estado, para desintoxicação ou prestação de apoio social aos usuários de drogas e familiares, combinando ações de prevenção, assistência social e tratamento. Tendo tal fato em mente, oferecer uma estrutura de tratamento adequada (inexistente em grande parte do país hoje) por meio do Sistema Único de Saúde a todos é de extrema urgência. Para isso é fundamental o financiamento adequado por meio do Ministério da Saúde e dos governos estaduais e municipais, assim como a adoção de políticas de tratamento eficazes e o abandono de técnicas ultrapassadas de atendimento.

O caminho é longo, mas, investindo em educação e esclarecimento da população sobre o uso de drogas e na criação de uma estrutura de atenção social e de saúde, é possível mudar positivamente o panorama no que diz respeito à epidemia do consumo de drogas no Brasil.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas 


domingo, 25 de setembro de 2016

Droga que matou Prince é nova aposta de cartéis mexicanos


 


The New York Times
Prince morreu de uma overdose acidental de fentanil, droga 40 vezes mais potente que a heroína (Jamie Squire/Getty Images)

CIDADE DO MÉXICO — A droga que matou o músico Prince se tornou a menina dos olhos dos cartéis mexicanos por ser extremamente potente, popular nos Estados Unidos e imensamente lucrativa, segundo as autoridades americanas.

As autoridades policiais e alfandegárias dos Estados Unidos alertam que cartéis mexicanos estão usando seus próprios laboratórios para produzir essa droga, o fentanil, além de receberem carregamentos da China. Os cartéis então distribuem a substância através das suas vastas redes de contrabando, atendendo assim à crescente demanda americana por opiáceos e produtos farmacêuticos.

“É a nova migração dos cartéis em termos de obtenção de lucros”, disse Jack Riley, funcionário da DEA (agência antidrogas dos EUA). “Eles anteciparam isso.”

Não se sabe ao certo como Prince obtinha a droga que, segundo as autoridades, causou a overdose fatal sofrida por ele em abril. Os médicos podem prescrever o fentanil, um opiáceo sintético, para pacientes com câncer e para cuidados paliativos. Mas a presença de fentanil ilícito está crescendo a níveis inéditos desde 2006, quando uma série de mortes por overdose nos EUA foi vinculada a um único laboratório no México.

Autoridades dizem que a popularidade do fentanil entre os cartéis mexicanos segue um roteiro bem conhecido: a repressão ao uso indiscriminado de remédios vendidos sob receita fez disparar o preço de medicamentos como oxicodona, e os cartéis apostaram que usuários optariam pela heroína — mais barata, mais abundante e relativamente mais fácil de se conseguir.

Agora, o fentanil se tornou versão mais lucrativa — e letal — desse fenômeno. Um quilo de heroína comprado na Colômbia por US$ 6.000 pode ser vendido no atacado nos EUA a US$ 80 mil, segundo a DEA. Já um quilo de fentanil puro, adquirido na China por menos de US$ 5.000, é tão potente que pode render de 16 a 24 kg depois de “batizado” com substâncias como talco e cafeína. Cada quilo é então vendido no atacado pelos mesmos US$ 80 mil da heroína – gerando um lucro total próximo de US$ 1,6 milhão (R$ 5,6 milhões).

As autoridades mexicanas temem que seus colegas americanos estejam culpando o México apesar de disporem apenas de dados limitados sobre o tráfico de fentanil entre os dois países. Já houve, no entanto, apreensões notáveis dessa droga no México. Alguns meses atrás, agentes mexicanos descobriram 27 kg de fentanil – dosagem equivalente a quase uma tonelada de heroína – numa remota pista de pouso no Estado de Sinaloa. Os policiais também encontraram cerca de 19 mil comprimidos de fentanil manipulados para terem o aspecto da oxicodona. Dois homens detidos no local eram membros do Cartel de Sinaloa.

“Depois da apreensão de 2015, intensificamos os esforços entre todos os órgãos públicos”, disse o general Inocente Fermín Hernández, chefe do Centro Nacional de Planejamento, Análise e Informação para o Combate à Delinquência (Cenapi) do México. “Percebemos que precisamos tomar as medidas apropriadas para saber e investigar se estamos lidando com o fentanil cada vez que encontramos um laboratório.”

Sua potência, cerca de 40 vezes maior que a da heroína, fez do fentanil uma opção popular e uma aposta rentável para os traficantes. Vendida em formas menos puras, a droga pode ser 20 vezes mais lucrativa que a heroína.

Agentes de fronteira dos EUA apreenderam no ano passado 90 kg de opioides sintéticos, como o fentanil, segundo R. Gil Kerlikowske, comissário de Alfândegas e Proteção de Fronteiras do país. A quantidade parece pequena, mas em 2014, por exemplo, apenas 4 kg foram apreendidos.

As mortes por overdose cresceram: entre o final de 2013 e o final de 2014, mais de 700 americanos perderam a vida por causa de overdoses associadas ao fentanil.

O fentanil muitas vezes é misturado à heroína para intensificar sua potência. Ele também pode ser diluído e ingerido diretamente, em doses muito pequenas, equivalentes a alguns grãos de sal. Cada vez mais, no entanto, essa droga é oferecida na forma de falsos comprimidos de oxicodona.

Alguns especialistas apontam uma falta de dados concretos que comprovem o envolvimento dos cartéis. A maioria das apreensões de narcóticos no México ainda consiste principalmente de heroína, cocaína e metanfetaminas.

Agentes antidrogas dizem que a distribuição do fentanil espelha os padrões usados pelos cartéis para outros produtos, como heroína. Segundo Riley, uma gangue de rua de Chicago, a Gangster Disciples, que distribui drogas para cartéis na cidade, espalha o fentanil no mercado, chegando a New Hampshire.

Mas Hernández disse que, até onde o governo mexicano sabe, houve apenas quatro episódios envolvendo o fentanil no país na última década. Segundo ele, porém, a procura por essa droga é nova, e sua prevalência provavelmente é pouco detectada.
O fentanil, geralmente apresentado na forma de um pó branco, pode ser introduzido por contato com a pele. Dada a sua potência, pode causar uma overdose apenas pelo toque, especialmente no caso de não usuários.

Hernández disse não haver registro de morte de mexicanos por overdose de fentanil. Mas ele observou que o México é mais frequentemente um fornecedor de drogas do que um usuário.
“O fentanil é muito difícil de detectar à primeira vista”, disse. “Nem todo mundo é capaz de reconhecê-lo.”
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas 

Crimes por drogas representam 64% das prisões de mulheres

   

 


O GLOBO
Crescimento do número de prisões entre elas é maior que entre homens
POR CAROLINA BRÍGIDO

Jovem presa no Talavera Bruce, em Bangu, tentou entrar com drogas na cadeia - Márcia Foletto / Agência O Globo

BRASÍLIA – No Brasil, a probabilidade de uma mulher presa ter ido para a cadeia por crime relacionado a drogas é 2,46 vezes maior do que entre os homens encarcerados. Em 2014, 64% das mulheres presas estavam nessa situação pela prática de crimes de drogas – como o tráfico ou o estoque de substâncias ilícitas. Entre os homens, a taxa era de 26%. Entre os presos dos dois gêneros, aumentou a ocorrência de crimes relacionados a drogas. Em 2005, 49% das condenações que resultaram em mulheres presas eram referentes a crimes de drogas. Para os homens, o índice era de 13% em 2005.

A conclusão está em uma pesquisa do Instituto Igarapé, que fez uma análise dos números do Sistema Integrado de Informação Penitenciária (Infopen), do Ministério da Justiça. Entre outras atividades, o instituto monitora o andamento na América Latina na introdução de políticas de drogas alternativas. Os dados serão divulgados em um evento em São Paulo na próxima semana.

O mesmo estudo mostra que, ao completar dez anos, a Lei de Drogas deixou de cumprir um de seus principais objetivos, que era o de diminuir a quantidade de prisões por esse tipo de crime. Em 2006, quando a lei passou a vigorar, 15% dos crimes cometidos no país e que resultaram em prisão eram referentes a drogas. Em 2014, esse índice saltou para 28%. Entre 2005 e 2014, a taxa de crescimento anual média da população carcerária que cometeu crime relacionado a drogas foi de 18,1%. Quando analisados os demais crimes, essa taxa é de 7,8%.

Para a pesquisadora Ana Paula Pellegrino, do Instituto Igarapé, a Lei de Drogas trouxe avanço ao mudar o tratamento dispensado a usuários, que antes podiam ser condenados à prisão e hoje são sentenciados a, no máximo, realizar serviços comunitários.

— Mas o que vimos nesses últimos 10 anos é que isto não foi o suficiente. Passada essa década, podemos identificar faltas importantes. A principal delas é o fato de o uso de drogas ainda ser considerado crime no Brasil. Isso tem funcionado como entrave ao acesso a serviços de saúde por quem deles precisa — avalia Ana Paula.

De um modo geral, o crescimento do número de prisões entre as mulheres é maior que entre homens, independente do tipo de crime cometido. Entre 2005 e 2014, a população carcerária aumentou 6,1% no Brasil. A taxa de aumento das mulheres é de 6,8% por ano, em média. A dos homens é de 6%. O aumento da população carcerária, em especial a feminina, incomoda a ministra Cármen Lúcia, que assumiu, na semana passada, a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). À frente dos órgãos, ela quer priorizar a atenção às mulheres presas.

PRESIDENTE DO STF PEDIU PRIORIDADE A GOVERNADORES

Na última terça-feira, em reunião com os 27 governadores, Cármen pediu a todos eles que priorizem a construção de centros de referência à mulher no sistema prisional de cada estado. Todos os governadores se comprometeram com a ministra. Os centros são uma forma diferenciada de abrigar as detentas grávidas ou com filhos pequenos, nos moldes da instituição que hoje funciona em Belo Horizonte.

A partir do sexto mês, as grávidas presas são transferidas para o local, que oferece tratamento médico adequado e celas sem grades. Elas podem ficar na instituição até a criança completar um ano, quando a mãe volta para a prisão tradicional e a guarda da criança é transferida para outros familiares.

Hoje, muitas prisões não têm área separada para essas pessoas, o que resulta na criação dos filhos das presas no ambiente prisional clássico brasileiro, com direito a todas as mazelas. Na reunião, a ministra chegou a comparar a situação das crianças nascidas na prisão à escravidão. Disse que era como se não tivesse sido sancionada no país a Lei do Ventre Livre.

Muitas prisões podem ser evitadas no futuro, a depender de um julgamento que foi suspenso no STF em setembro. Na ocasião, três dos onze ministros já tinham votado pela liberação do porte de maconha para uso pessoal: Gilmar Mendes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso. Os três declararam inconstitucional o artigo 28 da Lei de Drogas, que considera criminoso quem adquire, guarda, transporta ou leva consigo drogas para consumo pessoal.

O ministro Teori Zavascki pediu vista, adiando o fim do julgamento para data ainda sem previsão. Outros oito ministros ainda vão votar – portanto, há possibilidade de reviravolta na tendência atual do STF. No voto, Barroso sugeriu que o tribunal fixe 25 gramas do produto como quantia limítrofe para distinguir usuários de traficantes. Ele também afirmou que o usuário poderia cultivar, no máximo, seis plantas fêmeas de maconha. As quantidades foram inspiradas na legislação de Portugal e do Uruguai.

Barroso ressaltou que essas quantias são apenas parâmetros. Na análise de casos específicos, pode haver exceção, dependendo da situação da prisão ou do histórico da pessoa, por exemplo. A regra valeria até o Congresso Nacional aprovar norma sobre o assunto. Na avaliação de Barroso, a falta de regra objetiva para diferenciar usuários de traficantes tem efeito cruel, porque resulta na condenação massiva de pobres por tráfico, enquanto moradores de áreas nobres flagrados com droga são tratados como usuários.

A pesquisadora Ana Paula Pellegrino reclama da falta de critérios objetivos de distinção entre o porte para consumo pessoal e para tráfico, um dos maiores motores por trás do crescimento no encarceramento por crimes de drogas.

— A maioria desses presos foram flagrados portanto pequenas quantidades de drogas, desarmados, e falta ao policial, geralmente a única testemunha, essa orientação sobre como caracterizar o uso de drogas. Acabamos prendendo como traficantes quem poderia ser considerado usuário — diz Ana Paula.

Em junho, o STF tomou decisão que também pode mudar a quantidade de presos por crimes de drogas no país. Ficou fixado que não é hediondo o tráfico de drogas praticado por réu primário, com bons antecedentes e que não participe de organização criminosa. Em todos os outros casos, o tráfico de entorpecentes continua sendo crime hediondo. Se o condenado tiver os atenuantes, ele poderá ter tratamento privilegiado. Um exemplo é começar a cumprir a pena no regime semiaberto, em que o preso pode sair durante o dia para trabalhar e voltar à noite, para dormir na cadeia. Os condenados em crimes hediondos sempre iniciam a pena em regime fechado.

Para tomar a decisão, os ministros levaram em conta o tratamento individualizado da pena. Segundo a maioria do tribunal, iniciantes no mundo no crime, ou mesmo pessoas que foram levadas a cometer uma ilegalidade em um contexto isolado, não poderiam ser tratadas da mesma forma que criminosos experientes. Nas discussões, foi ressaltada a situação de mulheres condenadas por tráfico por servirem de “mulas” (transportadoras) da droga por ordem do cônjuge. Também foi considerada a superlotação das cadeias, que poderá ser aliviada com mais presos em regimes mais brandos.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

As consequências do álcool para a saúde


 


Correio do Estado
EXCESSOS

A embriaguez não é o único efeito do consumo excessivo de álcool. Descubra o que mais acontece com o seu corpo e as consequências desse hábito.

Um estranho no ninho

Quando consumimos bebidas alcoólicas, o conteúdo passa por nossa parede intestinal sem sofrer quaisquer modificações. Dessa maneira, o álcool chega muito rapidamente ao sangue (de 15 a 30 minutos quando a pessoa é muito jovem, podendo aumentar para 30 a 60 quando há presença de alimentos). É nessa hora que a alcoolemia (presença de álcool no sangue) chega aos seus níveis mais altos, diminuindo progressivamente a partir daí.

Através do sangue, o álcool é distribuído para todo o organismo, em particular pelos órgãos mais irrigados, como o fígado, coração e cérebro. O fígado transforma lentamente 95% do álcool, enquanto os outros 5% são eliminados pelos pulmões, rins, urina, pele e suor.

Hoje em dia, os efeitos nocivos do álcool já são bem conhecidos. O fígado, cérebro, sistema nervoso, coração e músculos podem ser afetados. O sistema digestivo também não está seguro: as mucosas, estômago e intestino ficam irritadas com uma sensação frequente de queimadura.

Essa substância psicoativa atua no cérebro de forma semelhante à maconha ou outras drogas. O cérebro fica saturado e perturbado. Problemas recentes envolvem reflexos, visão e equilíbrio debilitados, perda de memória, etc. O álcool age como uma droga e pode causar dependência, caso seja consumido regularmente.

Os efeitos do álcool podem aumentar a ingestão de medicamentos como calmantes e tranquilizantes.

Efeitos de curto prazo

Os efeitos imediatos são bem conhecidos. A embriaguez se manifesta em poucas horas, caso o consumo seja exagerado. Se a pessoa não estiver acostumada a beber, esses efeitos surgirão antes. O bom senso, equilíbrio, percepção e coordenação motora, serão todos alterados. Três fases ocorrem invariavelmente e elas vão da euforia à sonolência. O estado se desenvolve da seguinte maneira:

Fase de euforia: o teor de álcool no sangue é inferior a 0,7 g/l. É o estado de embriaguez, quando a pessoa se sente eufórica, desinibida e falante. As funções cognitivas (vigilância, percepção, memória, equilíbrio, bom senso) começam a ser afetadas.

Fase da embriaguez: o teor de álcool no sangue encontra-se entre 0,7 a 2 g/l. Distúrbios de equilíbrio, dificuldade para falar, etc. É uma fase caracterizada pela falta de julgamento e coordenação, bem como sonolência e imperícia.

Fase de sonolência: o teor de álcool no sangue é superior a 2 g/l. Após um período de agitação, a pessoa se sente anestesiada. Se a quantidade de álcool no sangue superar 3 g/l, há risco de coma profundo, que pode exigir acompanhamento em um hospital.

A redução da vigilância pode levar ao comportamento de risco. Depois de uma bebida, o risco de acidentes na estrada ou na vida cotidiana é multiplicado por 3. Depois de três bebidas, por dez. Assim, a embriaguez está relacionada com 40% das mortes nas estradas, com 25-35% dos acidentes não fatais, com 64% dos incêndios e queimaduras, com 48% dos casos de hipotermia, com 40% das quedas fatais, além de 50% dos homicídios.

O álcool também é um fator de agressividade, sendo responsável por 50% das brigas, por 60% dos atos criminosos e por 20% dos delitos.

Finalmente, o consumo do álcool aumenta o risco de relações sexuais desprotegidas. E sem camisinha, um único encontro é suficiente para se contaminar com o vírus da AIDS e outras infecções, bem como gravidezes indesejadas.

Os efeitos a longo prazo

A longo prazo, o álcool pode ser responsável por muitas doenças: câncer (boca, esôfago, garganta), doenças do fígado (cirrose) e do pâncreas, doenças do sistema nervoso, distúrbios mentais (ansiedade, depressão, irritabilidade), problemas cardiovasculares e outros. Devido a um consumo maior, os homens sofrem mais do que as mulheres. Uma em cada sete mortes de homens estão relacionadas ao álcool.

·Sistema nervoso: o consumo excessivo pode causar problemas de memória, ansiedade, depressão, insônia e até suicídio. Entre as mulheres grávidas, o risco de danos cerebrais é muito alto para o feto (atraso no desenvolvimento, colapso cerebral, etc).
Sistema cardiovascular: os benefícios de um consumo moderado (cerca de dois copos por dia) ainda estão em discussão. Mas nós sabemos que o álcool aumenta o risco de hipertensão e acidente vascular cerebral.

Sistema digestivo: o álcool pode causar câncer no trato aerodigestivo superior (boca, garganta, laringe e esôfago) e é um veneno para o fígado. Ele provoca a destruição do tecido hepático e pode causar cirrose (cerca de 5.000 mortes por ano) ou câncer de fígado (cerca de 6000 mortes).

Assim, o álcool provoca diretamente cerca de 23.000 mortes por câncer, cirrose ou dependência, além de 45.000 mortes como fator associado. É a segunda principal causa de morte evitável depois do cigarro.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Projeto obriga motorista alcoolizado a ressarcir SUS por gastos com vítima de acidente



Agência Câmara de Notícias
Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

Daniel Vilela: ao lado das tragédias humanas causadas por esses motoristas insensatos, ainda há os elevados gastos incorridos pelo Estado por via do Sistema Único de Saúde

O motorista que praticar crime de homicídio ou lesão corporal, em virtude de capacidade psicomotora alterada pela influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência, poderá ter de ressarcir o Sistema Único de Saúde (SUS) pelos gastos com socorro, atendimento e tratamento à saúde da vítima.

É o que prevê o Projeto de Lei 5298/16, do deputado Daniel Vilela (PMDB-GO), em tramitação na Câmara. A proposta inclui artigo no Código Civil (Lei10.406/02).

“Ao lado das tragédias humanas causadas por esses motoristas insensatos, ainda há os elevados gastos incorridos pelo Sistema Único de Saúde para socorro, atendimento e tratamento à saúde das vítimas e dos próprios condutores de veículos, em virtude dos acidentes de trânsito que provocam”, destacou o parlamentar.

Tramitação

A proposta tramita em caráter conclusivo e será analisada pelas comissões de Seguridade Social e Família; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania, inclusive quanto ao mérito.

ÍNTEGRA DA PROPOSTA:
PL-5298/2016
Reportagem - Lara Haje
Edição - Marcia Becker

174 overdoses em 6 dias: os estragos atribuídos a um poderoso tranquilizante de elefantes nos EUA


 


BBC Brasil
Quando a equipe de paramédicos do Estado americano de Indiana encontrou Michael Purvis, teve que aplicar quatro doses de naxolona para que ele conseguisse voltar a respirar.

É o dobro do que se costuma aplicar de naxolona - remédio que neutraliza os efeitos de opiáceos como a heroína -, mesmo em casos graves de overdose.

Histórias semelhantes foram reportadas em Ohio e Kentucky, onde, assim como em Indiana, houve um aumento no número de overdoses.

Em apenas seis dias da semana passada, os três Estados registraram 174 atendimentos médicos do tipo. Costumavam ser 25 casos semanais. Esse aumento se deve, segundo governos locais, ao fato de usuários estarem usando uma nova combinação de drogas.

Desde julho, as autoridades da cidade de Cincinnati, em Ohio, têm notado que a heroína está sendo misturada com carfentanil, um opiáceo sintético. Também suspeitam que os usuários estejam usando em conjunto outro opiácio semelhante, o fentanil, um poderoso analgésico.

A agência americana antidrogas (DEA) descreve o carfentanil como um entorpecente 10 mil vezes mais poderoso que a morfina e "usado na prática veterinária para imobilizar animais grandes". Por isso, é conhecido como "tranquilizante para elefantes".

Já o fentanil é cem vezes mais fraco que o carfentanil, mas uma overdose dele é potencialmente letal.

Os serviços de emergência registraram 174 casos de overdose em seis dias quando o normal em uma semana é o registro de 25 casos

Coincidências

A média de 25 casos de overdose por semana é "o normal", segundo Thomas Synan, da Coalizão para as Drogas do Condado de Hamilton, em Ohio.

E, embora não seja possível comprovar que em todos os 174 casos recentes houve a mistura com o carfentanil, as autoridades têm encontrado coincidências entre os que sofreram overdoses que as levam a crer que esse seja o caso.

Uma delas é que as intoxicações são bem mais fortes do que o normal.

Agora, os casos estão sendo analisados em busca de padrões em comum, incluindo nos lugares onde as vítimas de overdoses foram encontradas.

A naxolona é uma das ferramentas farmacêuticas mais importantes para reverter uma overdose, mas as que ocorrem depois do uso da mistura da heroína com outros opiáceos sintéticos são mais fortes e precisam de mais doses

Synan explicou à BBC que a maioria delas está na área de Cincinnati, no triângulo dos Estados entre Ohio, Kentucky e Indiana.

O porta-voz da Polícia do Estado de Indiana, Stephen Wheeles, acredita que se trate de uma "remessa" da droga que chegou a Cincinatti e, de lá, foi distribuída para outros lugares.

"Os consumidores esperam e, assim que ela chega, começam a usar (a droga)", disse Wheeles em entrevista coletiva, segundo o jornal local The Republic.

E os casos se multiplicam na região. No condado de Jennings, houve dez registros de overdose por volta das 18h da quinta-feira passada, incluindo os de três menores de 18 anos.

Na semana passada, foram registradas seis mortes em Ohio e uma em Indiana, mas pode haver mais óbitos não detectados.

A oxicodona, o fentanil e o carfentanil são algumas das drogas sintéticas que foram misturadas com a heroína para aumentar seus efeitos

Relatos do uso dessa combinação de drogas já apareceram na Pensilvânia, Virgínia Ocidental e Flórida.

Tráfico

Voltando ao caso de Michael Purvis, ele não apenas foi vítima de uma overdose.

Purvis também foi detido por suspeita de "comercializar uma substância controlada", disse à BBC o porta-voz da polícia da cidade de Seymour, Indiana.

Os usuários de heroína geralmente não sabem quais são as outras substâncias misturadas à droga e, alguns casos, os traficantes já usaram até veneno de rato

Ele admitiu ter fornecido heroína a duas mulheres, e acredita-se que Purvis possa estar envolvido com a distribuição da droga misturada com carfentanil ou fentanil.

Segundo Thomas Synan, os usuários nunca sabem com o que a heroína está adulterada e apenas sentem, após o consumo, os efeitos mais fortes e as consequências da mistura com o carfentanil.

"Divulguem essa informação (dos perigos do consumo)", advertiu a polícia de Seymour em sua página no Facebook. "Se você conhecer alguém que pode entrar em contato com essa heroína, por favor alerte-o. Você pode estar salvando a vida dele."
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Brasileiros pesquisam vacina contra vício em cocaína



 


(Foto: AFP)
Jornal O Estado de S. Paulo
Cientistas do Departamento de Química Orgânica da Universidade Federal de Minas Gerais estudam há dois anos e meio molécula que estimula a produção de anticorpos contra a droga no sistema imunológico
AFP

Consumo de cocaína no Brasil é quatro vezes superior à média mundial

RIO - Pesquisadores brasileiros desenvolvem há dois anos e meio uma vacina com o objetivo de eliminar a dependência da cocaína, revelaram nesta segunda-feira, 5, participantes do projeto, que está em fase de testes com animais.

"Estamos desenvolvendo uma molécula que estimula a produção de anticorpos contra a cocaína no sistema imunológico", afirmou o professor Angelo de Fátima, do departamento de Química Orgânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "Esses anticorpos capturam a cocaína, impedindo que ela chegue ao cérebro, e reduzem os efeitos de euforia da droga, o que leva o usuário a perder o interesse em consumi-la."

Fátima destacou que nos Estados Unidos existem pesquisas com o mesmo objetivo, mas com moléculas diferentes. "Nossa molécula é diferente da norte-americana. Na nossa falta a parte proteica", afirmou o brasileiro, sem revelar o nome da molécula utilizada, pois ela "ainda não foi patenteada".

Segundo o Escritório das Nações Unidas Contra a Droga (UNODC, sigla em inglês), o consumo da cocaína no Brasil é quatro vezes superior à média mundial. A vacina aparece como uma possibilidade de tratamento.

Em princípio, ela será aplicada somente em pacientes com forte motivação para abandonar a droga, receitada preventivamente a crianças ou adolescentes ou ainda como parte da luta contra o crack, um derivado barato da cocaína.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas 

UNICAMP descobre novas drogas sintéticas que podem matar usuários


 


Substâncias vêm disfarçadas em outros tipos de droga, como LSD e bala.

Perita criminal alerta para o perigo das drogas, cujo uso pode ser fatal.
Do G1 Campinas e Região

O Laboratório de Toxicologia da Faculdade de Medicina (FCM) da Unicamp, em Campinas (SP), identificou novas drogas sintéticas após casos de intoxicação em jovens na região: o fentanil e a butilona. Em agosto deste ano, durante uma semana, seis pessoas de Campinas (SP), Sumaré (SP) e Indaiatuba (SP) deram entrada em pronto-socorros com suspeita de intoxicação por drogas.

Segundo o toxicologista do Centro de Intoxicação da Unicamp (CCI), Rafael Lanaro, apesar de terem consequências mais graves, as drogas aparecem disfarçadas em outras, como LSD e bala. Devido a isso, o jovem pode consumi-las sem saber.

(...) pode levar à depressão do centro respiratório e neurológico e, consequentemente, à parada cardiorrespiratória"
Rafael Lanaro, toxicologista da Unicamp

Pior que heroína

De acordo com a forma que o fentanil é utilizado, o efeito pode ser 50 vezes maior que o da heroína. "É preocupante porque pode levar à depressão do centro respiratório e neurológico e, consequentemente, à parada cardiorrespiratória", explica Lanaro.

Já a butilona, produzida em laboratório, tem efeito estimulante e alucinógeno.

"Pode levar a um quadro de aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, estimulação elevada, convulsão e surto psicótico, além da morte. A interação dessas substâncias é uma incógnita, mas isso pode levar a um desfecho fatal".


Fentanil e butilona podem vir disfarçados em outras drogas, como LSD e bala (Foto: Reprodução/EPTV)

Lucro

A perita criminal, Sílvia Cazenave, explica que a utilização das substâncias pode ser explicada por aumento de lucro.

"Elas podem ser substituídas por vários motivos, um deles pode ser para aumento de lucro, porque a aquisição de uma substância nova pode ser mais fácil. Às vezes o traficante encontra algo com volume menor no uso e muitas vezes ela não é proibida, o que é melhor para a comercialização (...) Isso pode levar a uma intoxicação aguda, problemas crônicos de algo que se desconhece", explica.

O CCI emitiu alertas para todos os pronto-socorros da região com os sintomas que o uso dessas drogas pode causar nos usuários.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

O risco de morrer em um acidente de carro relacionado ao uso de álcoo


 

Acidentes envolvendo veículos são a principal causa de morte nos Estados Unidos em pessoas de 1 a 34 anos de idade. Praticamente metade das fatalidades no trânsito (17.700 em 1992) tem relação com o consumo de álcool. Mais, 2 de cada 5 pessoas naquele país terão algum grau de envolvimento com acidentes de veículo motorizados em algum momento de suas vidas. O risco de um acidente fatal aumenta rapidamente à medida que a concentração de álcool no sangue de um motorista aumenta. Uma concentração de 100 mg/dL aumenta em 7 vezes a chance daquele envolver-se em um acidente fatal. Caso a concentração de álcool seja de 150 mg/dL, este risco será 25 vezes maior.

Relatos mostram que pessoas que dirigem intoxicadas por álcool o fazem repetidamente. Para confirmar esta hipótese e a de que tais motoristas estariam sujeitos a um risco maior de acidentes fatais, pesquisadores estudaram as mortes em acidentes de carros por 10 anos no estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Os estudiosos compararam indivíduos com concentrações de álcool no sangue de 20 mg/dL ou mais (casos) com indivíduos com concentrações de álcool no sangue abaixo daquele valor (controles).

Um total de 1646 casos e 1474 controles foi comparado (todos estes faleceram em acidentes de carro). Quando comparados, os indivíduos de 21 a 34 anos do grupo de casos (concentração de álcool no sangue de no mínimo 20 mg/dL), tiveram chance 4,3 vezes maior de serem presos enquanto dirigiam. No total, houve 26% de prisões no grupo dos casos e 3% no grupo dos controles.

Os autores concluíram que o fato de dirigir sob efeito do álcool aumenta o risco de eventual morte por acidente de carro. Intervenção agressiva nos casos de prisões de pessoas que dirigem embriagadas poderia diminuir a chance de um futuro acidente com fatalidade.
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool

sábado, 3 de setembro de 2016

Alcoolismo: 10 danos à saúde


 

O consumo excessivo e continuado de álcool aumenta o risco para complicações de saúde. Os efeitos do álcool sobre cada indivíduo são diferentes e dependem de uma série de fatores, mesmo quando consumido em quantidades iguais. Além disso, ainda que o consumo leve a moderado de álcool - até uma ou duas doses* por dia, respeitando ao menos dois dias de intervalo em uma semana e não ultrapassando este limite - possa contribuir na diminuição do risco de doenças cardiovasculares, maiores quantidades podem elevar esse risco.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), não existe um padrão de consumo de álcool seguro e livre de riscos. Quando o uso de álcool assume um papel de destaque na vida do indivíduo, ocorrendo com muita frequência e em quantidades maiores que planejado, pode-se estar diante de um quadro de alcoolismo (saiba mais em: http://www.cisa.org.br/artigo/4010/-que-alcoolismo.php).

Confira a seguir como o alcoolismo implica aumento do risco para várias complicações de saúde, como doenças do fígado, problemas gastrointestinais, pancreatite, neuropatias periféricas, problemas cardiovasculares, prejuízos cerebrais, imunolóicos, anemias, osteoporose e câncer. Vale lembrar que, para algumas pessoas, de acordo com idade, gênero e aspectos individuais de saúde, o consumo pesado e continuado de bebidas alcoólicas por muitos anos, mesmo que não seja diagnosticado como alcoolismo, pode estar relacionado às doenças mencionadas.

Doenças do fígado
O álcool consumido é metabolizado pelo fígado e, por isso, esse órgão tem grande potencial de ser lesionado. A doença alcoólica de fígado é diretamente influenciada pela quantidade consumida de álcool e pelo uso crônico, isto é, ao longo de vários anos. Estima-se que entre 90% e 100% dos bebedores pesados crônicos desenvolvam doença hepática gordurosa (acúmulo de gordura no fígado) como consequência precoce e ainda reversível. Com a manutenção do consumo, o álcool pode causar inflamação do órgão - hepatite alcóolica. Até 40% desses casos podem evoluir para cirrose - inflamação crônica irreversível do fígado que altera sua capacidade de funcionar adequadamente. Os sintomas da insuficiência hepática, ou seja, do mau funcionamento do fígado, como náuses e vômitos, redução de apetite, amarelamento da parte branca dos olhos e da pele, e maior propensão a sangramentos, só aparecem quando um grande e irreversível dano ao órgão já ocorreu. Já os sinais, que podem ser identificados com exames complementares, como alteração de enzimas hepáticas, e das frações de proteínas, são alterados anteriormente.

Problemas gastrointestinais
O consumo excessivo de álcool pode causar lesões e inflamação no aparelho digestivo, como esôfago e estômago, com sangramentos, vômitos e sintomas de refluxo, como azia e dor na porção superior do abdômen. Além disso, o álcool interfere na secreção do suco gástrico (secreção produzida pelo estômago) e no tempo de esvaziamento estomacal, interferindo na digestão e no risco para desenvolvimento de úlceras.

Pancreatite
A pancreatite (inflamação do pâncreas) aguda é um quadro grave e muitas vezes exige que o indivíduo se dirija a serviço de pronto-atendimento para controle dos sintomas, como dor abdominal intensa. A repetição de quadros de pancreatite aguda pode levar à pancreatite crônica, com mau funcionamento do pâncreas de forma irreversível, o que causa outros problemas para a saúde. O abuso de álcool é a principal causa de pancreatite. Em geral, ocorre com o passar de 5 a 10 anos de consumo pesado e mantido. Como consequência, sabe-se que a taxa de mortalidade de pacientes com pancreatite alcoólica é cerca de 36% mais elevada do que para a população geral.

Neuropatia periférica
Aproximadamente 10% dos indivíduos alcoolistas desenvolvem um quadro de deterioração do funcionamento dos nervos dos pés e das mãos, resultando em sintomas de dormência, formigamento e outras alterações de sensibilidade. Os sintomas podem melhorar com a abstinência do álcool.

Problemas cardíacos e vasculares
O uso pesado de álcool aumenta a liberação de hormônios relacionados ao estresse que atuam na contração de vasos sanguíneos e influenciam na pressão arterial, podendo causar hipertensão. Além disso, o consumo pesado por período prolongado de álcool também leva ao aumento da fração nociva do colesterol (conhecido como LDL), triglicerídeos, e à alteração no funcionamento de plaquetas. Assim sendo, eventos como arritmias, inflamação do músculo cardíaco (miocardiopatia) e infartos agudos são consequências possíveis do alcoolismo. A mesma lógica que funciona para o prejuízo das artérias do coração, chamadas de coronárias, também existe para artérias de outros órgãos do corpo, como o cérebro; portanto, o beber pesado e crônico também aumenta o risco para acidente vascular cerebral (AVC).

Prejuízos cerebrais 
O álcool atua como depressor do sistema nervoso central, interferindo diretamente em mecanismos cerebrais. Seu uso excessivo pode causar dificuldades no raciocínio, como resolução de problemas simples, além de alterar o senso de perigo e o comportamento. Problemas de insônia e má qualidade do sono, com sensação de um sono “fragmentado”, são queixas comumente associadas ao uso abusivo de bebidas alcoólicas. O uso pesado e crônico pode prejudicar ainda o equilíbrio e a coordenação motora, devido ao seu efeito tóxico no cerebelo, além da diminuição dos reflexos, aumentando as chances de acontecerem quedas. Ainda, em indivíduos alcoolistas existe o risco de quadros de demência. Deficiências vitamínicas, como a da vitamina B1 (tiamina), contribuem para o risco de demência alcoólica, um quadro grave e irreversível.

Disfunções imunológicas
Pode ocorrer enfraquecimento e prejuízo no funcionamento do sistema imunológico com o uso pesado crônico de álcool, aumentando o risco de infecções, como pneumonia e tuberculose. Tal padrão de consumo de álcool interfere na contagem de células brancas no sangue e altera a capacidade de combater infecções. Além disso, durante o período inicial de intoxicação alcoólica pode ocorrer um estado pró-inflamatório, o que aumenta a chance de complicações se houver algum acidente ou lesão, ou se o indivíduo apresentar alguma doença pré-existente.

Anemia
Quadros de desnutrição relacionados ao uso pesado de álcool (o uso crônico de 4 a 8 doses ao dia, em média), e por muito tempo, podem ocorrer tanto por adotarem dieta nutricionalmente pobre como pela diminuída absorção de nutrientes no trato gastrointestinal. A deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico, somada ao efeito tóxico do álcool, pode levar à anemia macrocítica ou megaloblástica. Neste quadro, a formação de glóbulos vermelhos (hemácias) fica alterada, levando a pior funcionamento e capacidade de levar o oxigênio às células do corpo.

Osteoporose
O consumo crônico de álcool ao longo da vida pode influenciar na saúde dos ossos, especialmente no processo de mineralização óssea, aumentando o risco de desenvolvimento de osteoporose em idades mais avançadas. O grande perigo da osteoporose é o maior risco de fraturas. Sabe-se ainda que o álcool pode interferir no equilíbrio metabólico do cálcio e na produção de vitamina D, o que pode contribuir para complicações ósseas. Para as mulheres, o consumo excessivo de álcool está relacionado ao maior aumento da perda óssea em todas idades.

Câncer
O consumo pesado de álcool está associado a vários tipos de câncer, como de boca, esôfago, laringe, estômago, fígado, colón, reto e de mama. Os agentes causadores não são todos conhecidos, mas sabe-se que especificamente o acetaldeído – um produto do metabolismo do álcool - pode ter efeitos cancerígenos (saiba mais em: http://www.cisa.org.br/artigo/6320/padroes-consumo-alcool-risco-para-desenvolvimento.php).
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool 

Metade dos alunos do 9º ano já provou álcool, aponta IBGE


 

Do total, 21,4% revelaram já ter sofrido algum episódio de embriaguez na vida
LeiaJá - Escrito em 27/08/2016
por Pernambuco Ig

Uma pesquisa divulgada nesta última sexta-feira (26), pelo Instituto Brasileiro de Geografias Estatísticas (IBGE), apontou que, mesmo sendo menores de idade, 55,5% dos estudantes brasileiros do último ano do ensino fundamental já experimentaram bebidas alcoólicas. Do total, 21,4% revelaram já ter sofrido algum episódio de embriaguez na vida.

Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar do Escolar (Pense), realizada em 2015, em parceria dos ministérios da Saúde e Educação. O estudo avaliou cerca de 102 mil questionários de alunos do país, de escolas públicas e privadas, com faixa etária entre 13 a 15 anos.

O levantamento apontou ainda que a alimentação dos estudantes também é preocupante, pois 41,6% dos entrevistados possuem o hábito de consumir em cinco dias ou mais, em uma semana normal, guloseimas (balas, confeitos, doces, chocolates, sorvetes e outros). O maior percentual foi registrado no Estado de São Paulo com 47,7%, que superou a média nacional. Por outro lado, Piauí apresentou o menor índice, com 31,2%.

Além disso, um número de 62,3% dos consultados não comiam legumes, nem tampouco consumiam frutas frescas com frequência durante a semana. O hábito de comer salgados fritos resultou em 31,3%, bem como beber refrigerantes semanalmente ou todos os dias, 26,7%.

Segundo o relatório, o resultado da pesquisa acende uma alerta sobre a falta de normas que estabeleçam a proibição desses tipos de alimentos dentro das escolas, resulta no comprometimento dos hábitos alimentares saudáveis para os estudantes.

Suicídio e uso de álcool entre adolescentes


 

O suicídio é a terceira causa de morte entre adolescentes na faixa etária dos 14 aos 18 anos. Estudos epidemiológicos identificaram alguns fatores que mostram associação estatisticamente significante com o suicídio. Entre eles estão a depressão, desesperança, impulsividade e o consumo de álcool e outras substâncias psicoativas.

Os modelos utilizados para a compreensão do suicídio, no geral, assumem que as relações entre este comportamento e seus fatores causais não variam de acordo com a idade. Como alternativa a esta compreensão, o modelo conceptual da psicopatologia do desenvolvimento permite a investigação de como e se a relação entre o suicídio e o consumo de álcool varia através das faixas etárias durante a vida das pessoas.

As informações utilizadas nesta pesquisa foram coletadas entre 1216 estudantes de segundo-grau de escolas públicas da cidade de Búfalo, estado de Nova York, EUA.

Os autores concluíram que a associação entre o consumo excessivo de álcool e o suicídio não é exclusiva e nem se constitui numa relação de causalidade linear e direta. Outros fatores, como dificuldades emocionais, beber para lidar com emoções desagradáveis e stress, fraco suporte familiar e porcentagem alta de amigos que usam álcool, também exercem influência importante nesta associação. A presença destes fatores influencia o desenvolvimento de depressão, experimentar situações estressantes e beber de maneira prejudicial, que por sua vez, são preditores do suicídio.

Os cientistas ponderam, ainda, que o consumo de álcool deve ser considerado um fator de risco geral para o suicídio, contrariamente ao beber até embriagar-se, que deve ser considerado um fator de risco específico, tanto para as tentativas de suicídio, quanto para as mortes por suicídio.
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool 

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Crise econômica provoca aumento do número de dependentes de álcoo


 


Jornal Folha de S. Paulo
LUCILENE OLIVEIRA
DO "AGORA"

A alta taxa de desemprego aliada aos graves problemas financeiros causados pela crise econômica do país são combinações perigosas, que têm levado cada vez mais pessoas à dependência do álcool. A situação é ainda mais crítica entre pessoas que tenham alguma doença associada, como depressão ou quadros de ansiedade, alertam especialistas.

Levantamento feito a pedido da reportagem pela Secretaria Municipal da Saúde, sob a gestão Fernando Haddad (PT), mostra que, no ano passado, o número de pessoas que procurou ajuda nos Caps AD (Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) aumentou 7%. A média diária de atendimento neste ano já é quase o dobro do que a do ano passado. Enquanto em 2015, cerca de 13 pessoas eram atendidas por dia nos Caps, até junho deste ano o número chegou a 25 pacientes diariamente.

O AA (Alcoólicos Anônimos) também disse ter verificado aumento no número de dependentes que buscaram ajuda nos grupos de apoio. As pessoas que dão prosseguimento ao tratamento, no entanto, continua o mesmo, em torno de 5%. "A perda de um emprego pode desencadear [o alcoolismo] de alguém que tenha algo associado, como uma depressão e a crise de ansiedade que não é tratada", explicou Liamar Ferreira, psiquiatra da equipe de Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde.

SEM SAÍDA

A taxa de desemprego do país do último trimestre é de 11,2%, o equivalente a 11,4 milhões de pessoas. É a maior taxa da série histórica do IBGE, iniciada em 2012.

Foi justamente a conta bancária no vermelho que levou o empresário J.B., 52 anos, a se entregar à bebida há cerca de 18 anos, período em que resolveu buscar ajuda no AA (Alcoólicos Anônimos).

"Eu não via saída e bebia para me livrar daquilo que não tinha como resolver", disse J.B. Por ser regra do AA, a sua identidade não pode ser divulgada. "Eu só fui buscar ajuda após sofrer dois graves acidentes de carro", conta.

´SEMPRE ESTAREI EM TRATAMENTO`

A primeira internação para dependentes químicos do professor V.C.S., 42 anos, ocorreu quando ele ainda tinha 36 anos e diante do risco de perder o emprego decidiu pedir ajuda na empresa em que trabalhava. "Apesar de ficar um mês internado na clínica sem colocar uma gota de álcool na boca, a primeira coisa que eu fiz quando saí foi beber e voltar à rotina de antes. Eu fui convidado a sair da empresa", disse.

Com a perda do emprego e o agravamento da doença, o professor se entregou ainda mais à bebida. A luz no fim do túnel só veio depois de voltar para a casa dos pais, já sem condições financeiras de se manter sozinho. "A minha mãe disse que eu teria que buscar tratamento. Só assim ela me ajudaria. Foi quando eu procurei o AA", disse o professor, que está há 1 ano e 4 meses em tratamento.

"O alcoolismo é uma doença da qual eu sempre estarei em tratamento. Se eu parar de frequentar as reuniões hoje, pode ser que amanhã eu já esteja na mesma situação em que eu estava há dois anos", disse.

FAMILIARES DEVEM BUSCAR AJUDA

Para cada alcoólatra, estima-se que outras quatro pessoas (parentes ou amigos) próximas sejam atingidas diretamente. É por isso que os familiares também devem buscar ajuda. O Al-Anon, braço do AA (Alcoólicos Anônimos) destinado a parentes de alcoólatras, também consiste em um tratamento de 12 passos para que a pessoa possa se livrar do trauma e auxiliar o dependente a se livrar do vício em bebida. "Eu fui buscar ajuda antes do meu marido. Só dois anos depois de eu começar a participar das reuniões é que ele se deu conta de que precisava de ajuda", disse a aposentada C.D., 69 anos.

Ela diz que o principal ponto desenvolvido no trabalho do grupo é a tolerância com os dependentes. "Antes de entrar para o grupo, ele chegava em casa e a gente só brigava. Foi a minha mudança de comportamento que o transformou", disse a idosa.

Há dez anos o seu marido faz tratamento no AA e ela continua frequentando os grupos de apoio.

POR SER MAIS BARATA, PINGA VIRA OPÇÃO

O diretor do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes) da Unifesp, Dartiu Xavier da Silveira, explica que uma das principais dificuldades para o combate ao alcoolismo é o fácil acesso à bebida. "É um vício muito tolerado pela sociedade, por isso é difícil que as pessoas reconheçam que estão doentes", disse.

Além do fácil acesso, o baixo custo da cachaça é um outro ponto que pode incentivar o uso. "Em qualquer esquina a pessoa pode comprar uma dose de cachaça com trocados", afirma Liamar Ferreira, psiquiatra da equipe de Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde. Um exemplo dado pelos profissionais é a cachaça conhecida como "barrigudinha" —meio litro custa cerca de R$ 5 e seu teor alcoólico é muito alto.

Pesquisa da Ibope Inteligência, com base em dados da Confederação Nacional da Indústria, mostra que quando a expectativa do consumidor em relação a situação econômica do país cai, aumenta o número de venda de garrafas de cachaça.
O psiquiatra Hewdy Lobo Ribeiro, diretor clínico do hospital Lacan, alerta para outro fenômeno neste momento de crise. "É muito comum as pessoas substituírem bebidas caras por opções mais baratas. Essa mudança faz com que a pessoa passe a ingerir uma quantidade de álcool ainda maior."
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas 

Dependências: ciúme patológico e o alcoolismo


 


*Por Adriana Moraes
(imagem reprodução)
Caros leitores, o que o ciúme doentio e o alcoolismo têm em comum? As duas patologias levam a dependência e o sofrimento. No ciúme patológico a dependência afetiva e no alcoolismo a dependência química, ambos trazem muito sofrimento.

O ciúme torna-se doentio quando quem o sente passa a ver tudo em todos uma ameaça ao relacionamento, perdendo a noção da realidade e tirando a liberdade do outro, apresentando sentimentos de inferioridade, insegurança, possessividade.

Em sua ampla e profunda complexidade o ciúme tem em sua formulação uma alta dose de medo. Entre esses, medo da perda, da traição, da competição, do outro, de si mesmo. [1]

Alguns especialistas acreditam que o ciúme que atormenta os adultos tem raízes na infância. Desde o início da vida psíquica, a pessoa sente necessidade de ser reconhecido, receber atenção, sentir-se incluído e amado.


(imagem reprodução)
Para entender o que ocorre na mente do ciumento, é necessário compreender o que aconteceu no seu passado, uma busca a procura de detalhes que ficaram na memória inconsciente e que hoje se apresentam de uma forma distorcida. O ciumento expressa o desejo de controlar e possuir unicamente para si a pessoa que se quer bem. Nasce uma demanda de exclusividade do desejo de ser tudo para alguém, da situação de não suportar dividir a atenção da pessoa amada com mais ninguém.

Quando uma pessoa aceita o sentimento de ódio, inerente ao ciúme, podemos dizer que está doente. Afinal, está vivendo para alimentar fantasias de vingança, aceitando trocar chumbo, desprezando pessoas, atropelando o sentimento dos outros, desconfiando de quem nunca deu motivos e, principalmente, cultivando estes sentimentos e comportamentos mesmo quando não está com ninguém. [2]

Ciúme doentio no local de trabalho

Muitas vezes a pessoa que sofre com o ciúme excessivo, parece normal, mas está distante da realidade em que vive e perdeu o autocontrole de suas emoções. Se seu gestor dá uma atenção ou mesmo parabeniza sua colega de trabalho, a pessoa ciumenta sofre com isso. Gostaria de ser a única parabenizada e sente raiva da outra e acredita que consumindo álcool irá aliviar um pouco do seu martírio.

Em sua imaginação a amiga se transformou em sua rival e sente vontade de prejudicá-la. Acredita que seu chefe gosta mais de sua amiga e que até tenham um relacionamento fora do local de trabalho, é tanto sofrimento e uma busca intensa por provas, que ela vai se sentindo cada vez mais angustiada. Passa horas investigando a vida dos dois, em busca de evidências ou mesmo pistas que confirmem o suposto caso. A pessoa ciumenta não suporta a satisfação do outro, sente-se a todo instante rejeitada.

O ciumento distorce tanto a realidade, confia tanto em suas fantasias, que acaba criando uma série de comportamentos que comprovem, dia a dia, para ele mesmo, a teoria de que está sendo jogado para fora do relacionamento. [2]

O que mata o ciumento é a dúvida. Ele vive atrás de detalhes, um simples vestido novo de sua amiga, já é um gatilho para o seu ciúme, imagina que irão sair no final do turno, ou que sua rival irá receber elogios. Seu dia se torna um tormento, a angustia e o copo de álcool, são suas companhias, tudo isso atrapalha seu comprometimento com o trabalho. Como se concentrar, se passa o tempo investigando a vida dos dois?

O ciumento sempre desconfia da outra pessoa. Por isso jamais acredita nela, mesmo que esta consiga provar que suas suspeitas são fantasiosas e infundadas. [1]

Faz questão de dizer a todos que ama seu gestor, mas não percebe que o sufoca e não compreende que ele é apenas seu chefe e devido seu problema com o alcoolismo, poderá afastá-la para se tratar (um direito do trabalhador segurado pelo INSS - Instituto Nacional do Seguro Social), colocando outra (o) profissional em seu lugar até estar em condições de retornar ao trabalhar.

Na matéria do site Agência Brasil, “Alcoolismo é a principal causa de afastamento por transtorno mental” o texto revelou que onúmero de pessoas que precisaram parar de trabalhar e pediram o auxílio devido ao consumo excessivo do álcool teve um aumento de 19% nos últimos quatro anos, ao passar de 12.055, em 2009, para 14.420, em 2013. A matéria informou ainda que a cidade de São Paulo obteve o maior número de pedidos em 2013 por consumo abusivo do álcool, com 4.375 auxílios-doença concedidos, seguido de Minas Gerais, com 2.333. [3]

Síndrome de Dependência de Álcool

A síndrome de dependência de álcool (SDA) é uma condição clínica caracterizada por sinais e sintomas comportamentais, fisiológicos e cognitivos na qual o uso de álcool alcança uma grande prioridade na vida do indivíduo, tendo as demais atividades um plano secundário.

O álcool é uma droga lícita (permita por lei, comercializada de forma legal, exceto para os menores de 18 anos). A dependência do álcool está inserida na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), item F 10 (Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool) no grupo de transtornos decorrentes do uso de substância psicoativa.

O consumo de álcool induz tolerância (necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para produzir o mesmo efeito desejado) e síndrome de abstinência (sintomas desagradáveis que ocorrem com a redução ou com a interrupção do uso da substância). [4]

Mulheres e o consumo de álcool

O consumo de substâncias psicoativas entre mulheres é um problema crescente na área da saúde pública. Nas ultimas décadas, as taxas de prevalência de consumo de álcool, tabaco e outras drogas têm aumentado de forma considerável nesse grupo. [5]

**Dr. Claudio Jerônimo da Silva, psiquiatra da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), nos explicou que:

“As mulheres ficam mais suscetíveis aos efeitos do álcool exatamente porque, fisiologicamente, têm mais gordura retida no organismo, o que acaba por repelir a absorção do álcool pelas células, fazendo com que ele permaneça por mais tempo na corrente sanguínea, o que chamamos de biodisponibilidade do álcool. Isso faz com que seus órgãos passem mais tempo expostos aos seus efeitos nocivos, principalmente os mais sensíveis, como cérebro, fígado e coração, por exemplo”. [6]


Dr. Claudio Jerônimo, explicou com riqueza de detalhes:

No cérebro, o álcool afeta o sistema nervoso central e pode causar perda de reflexo, problemas de atenção, perda de memória, sonolência e coma, que pode levar à morte.
No fígado, altera a produção de enzimas, mudando o ritmo do metabolismo do álcool consumido, ocasionando inflamação crônica, hepatite alcoólica e cirrose.

No coração, o álcool libera adrenalina, que acelera a atividade do sangue no coração, aumentando a frequência dos batimentos cardíacos.

O que acontece quando ingerimos álcool?

[6] Infográfico site da SPDM:


Possíveis efeitos do álcool de acordo com os níveis da substância no sangue:

Baixo

- Desinibição do comportamento;
- Diminuição da crítica;
- Hilaridade e labilidade afetiva (a pessoa ri ou chora por motivos pouco significativos);
- Certo grau de ataxia (perda ou irregularidade da coordenação muscular);
- Prejuízo de funções sensoriais.

Médio

- Maior ataxia;
- Fala pastosa, dificuldades de marcha e aumento importante do tempo de resposta (reflexos mais lentos);
- Aumento da sonolência, com prejuízos das capacidades de raciocínio e concentração;

Alto

- Náuseas e vômitos;
- Visão dupla (diplopia);
- Acentuação da ataxia e da sonolência (até a coma);
- Hipotermia (diminuição excessiva da temperatura normal do corpo) e morte por parada respiratória.

Pesquisas II LENAD e Universidade de Houston

Pesquisa realizada pelo II Lenad (Levantamento Nacional de Álcool e Drogas) entrevistou 4.607 pessoas em 149 municípios em todas as regiões do país. O estudo mostrou o aumento do consumo abusivo de álcool entre as mulheres, especialmente entre as mais jovens. [7]

O levantamento também revelou:

- 8% dos entrevistados admitem que o uso de álcool já teve efeito prejudicial no seu trabalho;
- 4.9% dos bebedores já perderam o emprego devido ao consumo de álcool;
- 9% admitem que o uso de álcool já teve efeito prejudicial na sua família e relacionamento.

O ciúme patológico pode coexistir com qualquer diagnóstico psiquiátrico. No entanto nos últimos anos tem havido crescente interesse nos aspectos forenses dessa patologia ligados ao uso, abuso e dependência de álcool, uma vez que muitos deles resultam em violência grave. Em pacientes dependentes de álcool, a prevalência do ciúme patológico pode estar em cerca de 27 a 34%. [5]

Um estudo realizado nos Estados Unidos, pela Universidade de Houston, mostrou que pessoas ciumentas tendem a abusar de bebidas alcoólicas com mais facilidade. De acordo com os pesquisadores, pessoas dependentes de um relacionamento amoroso e que imaginam serem vítimas de traição apresentam maior risco de recorrer ao álcool como forma de aliviar seus problemas. [8]

Foram entrevistadas 277 pessoas, sendo 87% mulheres. Os resultados mostraram que as pessoas que dependem de um relacionamento para a autoestima, tendem a beber por causa do ciúme que sentem.

Vimos nesse texto que o ciúme patológico é uma perturbação total, um transtorno afetivo gravíssimo, que pode levar a outro problema grave, o alcoolismo. Finalizo, alertando que é consenso entre os especialistas que não existe consumo de álcool isento de riscos.

*Adriana Moraes - Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) - Especialista em Dependência Química – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).
** Dr. Claudio Jerônimo da Silva - Psiquiatra da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) - Diretor da Unidade Recomeço Helvétia, Diretor da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).

Referências:
[1] Ciúme: o medo da perda. Eduardo Ferreira Santos. São Paulo: Claridade, 2003.
[2] Ciúme: entre o amor e a loucura. Wimer Bottura Júnior. São Paulo: República Literária, 2003.
[3] http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2014/02/alcoolismo-e-a-principal-causa-de-afastamento-do-trabalho-por-transtorno
[4] Integração de competências no desempenho da atividade judiciária com usuários e dependentes de drogas / organização de Paulina do Carmo A. Vieira e Arthur Guerra de Andrade. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2015.
[5] Dependência Química: prevenção, tratamento e políticas públicas / Alessandra Diehl – Daniel Cruz Cordeiro – Ronaldo Laranjeira - Porto Alegre: Artmed, 2011.
[6] Infográfico SPDM: https://www.spdm.org.br/saude/noticias/item/2266-o-que-acontece-no-seu-corpo-quando-voce-ingere-bebida-alcoolica?
[7] http://inpad.org.br/lenad/resultados/alcool/resultados-preliminares/
[8] http://www.uniad.org.br/interatividade/noticias/item/23323-%C3%A9-ciumento?-voc%C3%AA-pode-ter-problemas-com-abuso-de-bebidas-alco%C3%B3licas
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas