Somos vítimas? Ou somos vítimas e vilões?
Viver e conviver é sempre um desafio. Somos
surpreendidos a todo instante com a novidade do outro, um universo a ser
descoberto, e é nesse encontro com o diferente que descobrimos e revelamos quem
somos.
Há algum
tempo tenho meditado sobre como nos comportamos frente aos embates da
convivência e percebi que, na maioria
das vezes, nos posicionamos na condição de vítimas, perante a ação implacável
de um outro. Examinei que esse papel
assumido nem sempre corresponde à experiência vivida.
Justifico.
Certamente
você, meu caro leitor, já observou que em um conflito entre pessoas nossa
tendência é de eleger a vítima e o vilão. A vítima será sempre aquele que
sofreu o duro golpe do vilão, e este será aquele, que de maneira perversa,
disparou sobre a vítima as piores infâmias.
Essa
eleição da vítima e do vilão vai gerar partidários que sustentam um e outra. No
entanto, a vítima agregará um volume maior de adeptos dada a fragilização em
que se encontra, desprovida de toda a sorte frente ao opressor. Não é estranho
que essa identificação com o que padece provoque comoção no grupo. Afinal, não
queremos ser vistos como bruxas nem lobo mau de qualquer história.
Para o bem
da verdade, e guardadas as devidas proporções, nenhuma pessoa é só vítima.
Somos vítimas e vilões, e nessa sucessão de papéis corremos o risco de
esquecer-se do vilão que também age em nós. Por exemplo: observa-se que ao
estar num papel de vítima o indivíduo ou a pessoa vitimada, ao perceber o apoio
e o resguardo social da maioria do grupo, pode usar mal esse respaldo,
procurando desmerecer, desmoralizar e desqualificar a imagem do outro frente ao
ocorrido. Ao agir assim, torna-se visível a inversão de papéis: aquele que na
ocasião era vítima assume agora o papel de vilão.
Na teia das
relações sociais, é preciso encontrar os fios que se entrelaçam entre vítimas e
vilões. Há um limite entre essas fronteiras que caracterizam nossas maldades ou
virtudes. É preciso, portanto, reconheçamos que não somos apenas vítimas dos
outros, mas vítimas e vilões e tenhamos a ousadia de admitirmos a verdade
dolorosa do espelho da vida refletir nossa feiura, e de posse do que é feio em
nós, permitamos que a beleza infinita nos transforme.
Padre Otair Cardoso.
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