segunda-feira, 15 de abril de 2013

Domingo com o Padre Otair!!!!

O Eco das palavras nas relações interpessoais

Todos nós reconhecemos que a palavra tem força e poder. Força para estabelecer comunicação e confundir, para construir e destruir, para subjugar e elevar, para ferir e curar etc...
Nas linhas seguintes, procuraremos evidenciar uma tríade de frases, construídas a partir de nosso vocabulário de uso cotidiano, com o objetivo de indicar o que tais verbalizações podem ocasionar.
É comum encontrarmos nos diálogos interpessoais, frases do tipo: “Você tem que fazer isso” ou” Você deve fazer...” e ainda “Você pode fazer...”. Se olharmos despretensiosamente para essas frases, diríamos que as três formas de expressão dizem a mesma coisa, o que não é verdade. O ponto de vista de quem verbaliza ou que por ela tenta se comunicar será sempre diferente daquele que recepciona a mensagem.
Desse modo, ao nos dirigirmos a uma pessoa, com o intuito de estabelecermos uma relação dialogal é preciso antes considerar o estado emocional dela, o modo como ela se encontra, posicionando-se frente às situações diárias.
Não é difícil identificarmos dentro de grupos disputas pelo poder, pelo lugar do comando, tendo em vista, via de regra, a reprodução de um sistema de hierarquia. Nele encontramos sempre pessoas que estão dispostas a aconselhar e a dizer o que os outros tem, devem ou podem fazer. Observamos que o indivíduo, ao ouvir a frase do tipo “você tem que fazer isso”, sente-se obrigado, pelo outro, a cumprir tal ordem. Assim, se esta palavra soar aos ouvidos dele como sendo uma postura arrogante e autoritária, certamente teremos instaurado, nessa circunstância, um embate pessoal. A frase pronunciada delimita o campo de ação do sujeito e desperta a resistência em relação ao outro.
Por conseguinte, percebemos que a frase do tipo “você deve fazer”, ao ser verbalizada, é recebida com menor relutância, isto porque nela está embutida a noção do dever, daquilo que todos nós precisamos fazer para conviver socialmente. Embora haja o reconhecimento, da parte de quem escuta a instrução, vale considerar que não é agradável ser chamado à responsabilidade pelo outro. Ao ser advertido quanto ao que se deve fazer, a pessoa estará admitindo que não está cumprindo com suas obrigações e suas responsabilidades perante o grupo. Certamente a situação vivida causará desconforto, mas aos poucos poderá ser internalizada pelo receptor.
A última expressão da tríade que nos propomos analisar possui um caráter motivador. Ao ouvir a expressão, “você pode fazer”, percebemos que aquele que recebe a mensagem não se vê obrigado a realizar o que o outro diz e tampouco fica numa situação de desconforto. Ao contrário, sentirá o respaldo e a confiança que emana do outro, que o motiva a desafiar seus próprios limites e seguir adiante. Dizer para o outro “você pode”, equivale a dizer: “você é capaz”. Dessa forma, coloca-se diante dele um campo imenso de possibilidades a ser explorada e a construção de uma nova experiência de vida.

Contudo, não podemos desconsiderar que a maneira ou modo que nos dirigimos ao outro, afeta diretamente a percepção e interpretação do mesmo e, é justamente o resultado dessa operação que deixará em evidencia o poder e a força da palavra, como elemento constituinte de uma relação saudável entre iguais ou o surgimento de grandes embates.
Em suma, é o respeito à alteridade, a consciência de que a forma de ver o mundo se difere entre um e outro, a noção de que o processo evolutivo de cada sujeito se dá num tempo específico, e também a abertura para o que de novidade surge do outro, que faz a vida acontecer na sua diversidade e multiplicidade...
     
 Padre Otair Cardoso.

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