AMOR INCONDICIONAL
Tenho 38 anos de idade e sou uma mulher negra e
alcoólica.
Tenho escutado nas salas, pessoas relatarem que no momento em
que entraram na primeira reunião, sabiam que faziam parte dali, mas isto não
aconteceu comigo. Fui à primeira reunião de A.A. sozinha, após trinta dias num
centro de tratamento. Entrei, peguei uma xícara de café e me sentei. Estavam lá
três ou quatro homens brancos conversando em pé. Nenhum deles percebeu a minha
presença. Outro homem entrou e começou a relatar aos outros a respeito de seu
dia de trabalho. Não creio que ele tenha reparado em mim e começou a falar em um
colega de trabalho referindo-se a ele como um “crioulo”. Não é necessário dizer
como me senti. Agarrei-me na cadeira e li a Terceira Tradição, que estava na
parede, e nos diz que o único requisito para ser membro de A.A. é o desejo de
parar de beber. Ela não diz nada sobre sexo, raça, religião, idade, etc., e
senti que, acima de tudo, eu tinha o desejo de não beber.
Todos os tipos
de idéias malucas me vieram à mente. Sou da cidade de New York e desde criança
ouvia todo tipo de historias de horror sobre as pessoas do sul. Eu não sabia se
seria enforcada numa arvore ou coisa pior. O que realmente sabia, é que não
desejava me deter diante de nenhum obstáculo para permanecer sóbria. Portanto,
mesmo apavorada, fiquei naquela reunião. Ao final, todos se deram às mãos,
rezando o Pai Nosso e cantaram.
Algum tempo depois, um daqueles homens
que estavam presentes em minha primeira reunião, introduziu-me no serviço de
A.A. e eu consegui amar a todos eles, mesmo àquele que teve a atitude
discriminatória. Hoje sinto que faço parte de A.A. Fiz desse grupo a minha
família. Todos demonstraram um amor incondicional por mim e nenhum repara na
minha cor. Amadrinho diversas mulheres brancas e sou secretária do grupo.
Aprendi duas lições naquele primeiro dia: 1) Alguns de nós são mais doentes do
que os outros, mas somos todos filhos de Deus, com o direito de acertar e de
errar; 2) Irei sempre acolher um recém-chegado com amor e carinho, pois sei como
alguém se sente ao chegar à ultima casa do último quarteirão e não ser
bem-vindo.
Portanto, se você é um iniciante, tem problema de bebida e não
se sente fazendo parte, continue retornando, pois A.A. de fato
funciona.
N. Charleston Carolina (USA)
VIVÊNCIA N°. 27 JAN/FEV.
DE 1994
Força, fé e esperança,
Clayton Bernardes
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